domingo, 27 de julho de 2014

A BAIXARIA ISRAELENSE


O mínimo que Israel deve ao Brasil é um pedido formal de desculpas por ter o porta-voz da sua chancelaria, Yigal Palmor, cometido a grosseria de chamar o País de "anão diplomático" e "parceiro diplomático irrelevante" - além de fazer uma alusão que imaginava ferina à goleada de 7 a 1 sofrida pela seleção brasileira na Copa. A baixaria se seguiu à decisão de Brasília de chamar "para consultas" o embaixador em Tel-Aviv, Henrique Pinto, para marcar seu protesto pelos indiscriminados ataques israelenses à Faixa de Gaza, que já deixaram cerca de 800 mortos e mais de 4.700 feridos, a grande maioria civis. Nem uma escola da ONU que servia de abrigo escapou.

Além da convocação do embaixador, um gesto de forte repercussão em relações bilaterais, superado apenas pela retirada do representante, o Itamaraty externou ao chefe da representação israelense, Rafael Eldad, sua condenação à "desproporção" dos revides ao disparo de mísseis do movimento radical Hamas, que controla o território. Os lançamentos já passam de 2 mil. Um deles caiu a pouca distância do aeroporto de Tel-Aviv, levando companhias estrangeiras a suspender os voos para o país. Além dos intensos bombardeios a Gaza, as forças israelenses invadiram a área, alegadamente para localizar e destruir os túneis utilizados pelo Hamas para transportar munições. Mais de 30 soldados foram mortos. A macabra contabilidade, porém, é de que, para cada vida israelense perdida, os palestinos perdem 25.

Na sua primeira manifestação sobre o conflito, semana passada, uma nota convencional do governo brasileiro instou as partes a cessar as hostilidades e buscar o caminho do diálogo. No mesmo dia, a presidente Dilma Rousseff considerou "lamentável" o acirramento da violência, sem distinguir seus causadores. Já na quarta-feira, além de chamar o embaixador do Brasil e reclamar com o seu colega israelense, o Planalto emitiu outra nota - dessa vez de dura condenação a Israel, sem citar as ações do Hamas. Pouco antes, a delegação brasileira no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas votou a favor da abertura de uma investigação sobre eventuais "crimes de guerra" e violação do direito internacional durante a ofensiva israelense. A resolução foi aprovada. Por fim, o desastrado assessor de Relações Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, equiparou os "massacres" israelenses a um "genocídio".

Pode-se especular até o fim das matanças no Oriente Médio o que terá levado um governo praticamente quedo e mudo nos últimos quatro anos diante de crises internacionais a se manifestar de forma tão estridente no caso de Gaza. A rigor, pouco importa: a guinada brasileira, que surpreendeu os próprios protagonistas de mais este ciclo de agressões e revides - cuja origem, descontados os incidentes que os precederam, parece ser a reconciliação da Autoridade Palestina do moderado Mahmoud Abbas com o Hamas do intratável Kaled Meshal -, mereceria de Israel um silêncio glacial ou uma resposta diplomática, nunca um destampatório que deixa à mostra sua prepotência. Deu a impressão de que o caudilho Hugo Chávez reencarnou em Jerusalém.

A política externa brasileira raramente é criticada - muito menos nesses termos - por autoridades estrangeiras, ainda quando a considerem um despropósito, como a tentativa do então presidente Lula de se intrometer na pendenga entre Washington e Teerã sobre o programa nuclear iraniano. A última vez que um país com o qual se mantinha relações destratou o Brasil foi em 1947, no começo da guerra fria, quando o jornal oficial do regime soviético, o Pravda, afirmou que os generais brasileiros, entre eles o à época presidente Eurico Gaspar Dutra, conquistaram as suas medalhas não nos campos de batalha, mas nos cafezais. A reação imediata do governo foi romper todos os vínculos com a URSS.

É inconcebível, obviamente, repetir a dose. Basta a elegância do chanceler Luiz Alberto Figueiredo ao lembrar que o "anão" é um dos 11 países que se relacionam com todos os membros da ONU - e "não usa termos que desqualifiquem governos de países amigos".


Fonte: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-baixaria-israelense-imp-,1534349

Um comentário:

Anônimo disse...

Entenda o tempo que a MÍDIA quer que você gaste com o conflito (PETROLEIRO) ISRAEL X NAÇÕES MUÇULMANAS... https://www.youtube.com/watch?v=_6kQIDbK-JY