quarta-feira, 30 de janeiro de 2013



A CONDESSA BARRAL E A NOBREZA PALACIANA

A desenvoltura da Condessa na Corte era bastante saliente mostrando força e grande influencia junto aos subalternos, era o que diziam os cronistas palacianos. A sua presença era tão marcante que para mostrar desapego aos bens matérias doava suas próprias vestes e pertences valiosos que ornavam o seu corpo consumado pelo Imperador e desejado pela plebe rude dos arraiais palacianos.

Ademir Ramos (*)

Não se deve dar crédito aos cronistas da Corte. No entanto, como estamos na Folia de Momo, a loucura é tanta que voltamos ao Império com ar de nobreza sonhando ser o rei ou a rainha deste carnaval. O fato é que a história da vida privada tem se pautado em leituras documentais que vão da alcova aos diários de viagem, passando pelos relatos dos serviçais que ousaram contar a terceiros as manias comportamentais dos homens e mulheres da nobreza a quem serviam com resignação.  

Dom Pedro II (1825-1891) é um dos personagens mais citados nas narrativas referentes à história do Brasil, principalmente, quando os cartolas das escolas de samba resolvem fazer enredo com a vida dos “mitos fundadores” nacional, querendo exaltar na avenida do samba a vida e os amores desses personagens de nossa história.  Missão quase impossível valendo-se do reino da imaginação, onde se rompe a métrica para alcançar o coração do povo. Aí o bicho pega e o sambista “vareia” rimando alhos com bugalhos e outros trocadalhos.

E a Condessa Barral, personagem do primeiro plano, trata-se de Luísa Margarida de Barros Portugal (1818-1891), conhecida também como Condessa do Brasil por ser uma das concubinas do imperador Dom Pedro II. Esta linda mulher, segundo os recentes arquivos digitalizados do jornal Irlandês The Irish Times,   que registrou a passagem da comitiva do Imperador por Belfast, em 7 de julho de 1877, percorrendo os quatro continentes com jornada de 16 meses.

A desenvoltura da Condessa na Corte era bastante saliente mostrando força e grande influencia junto aos subalternos, era o que diziam os cronistas palacianos. A sua presença era tão marcante que para mostrar desapego aos bens matérias doava suas próprias vestes e pertences valiosos que ornavam o seu corpo consumado pelo Imperador e desejado pela plebe rude dos arraiais palacianos.

Em troca o seu benfeitor ofertava mais e muito mais lhe cobrindo de seda e ouro. E assim, a Condessa do Brasil ganhava a simpatia dos negros, mulatos e das próprias famílias religiosas, a quem cabia organizar e promover o Bazar ou Tenda da Caridade, valendo-se da sacristia das Igrejas com aval dos ordinários do lugar.

A nobreza palaciana da Condessa, por outro lado, era vista pelos caricaturistas da imprensa republicana como afronta ao povo, porque não aceitavam a perversa desigualdade social vivida pelos homens e mulheres da paróquia enquanto a nobreza e seus comparsas viviam no bem bom a comer e a vestir o do melhor. Arrogância desta gente é desmedida, naturalizando seus gestos como manifestação de piedade e de amor ao próximo, o que não passa de uma cínica conduta a merecer dos protagonistas uma sonora reprovação em favor da Justiça Social e da Solidariedade. Eis uma boa lição para os tempos modernos.

(*) É professor, antropólogo, coordenador dos projetos jaraqui e do NCPAM/UFAM.       

domingo, 27 de janeiro de 2013


“E O GATO COMEU...”

Além do roubo, estes salteadores do nosso povo deixam os municípios inadimplentes, impossibilitados de usufruir dos recursos dos programas federais e muito menos conveniar novas ações com os entes federados.

Ademir Ramos (*)

Andei circulando pelo interior do Amazonas e pude ver de perto o desencanto dos moradores com alguns prefeitos que meteram a mão no dinheiro do povo, deixando a conta das prefeituras zeradas, acelerando ainda mais o sofrimento do povo. Além do roubo, estes salteadores do nosso povo deixam os municípios inadimplentes, impossibilitados de usufruir dos recursos dos programas federais e muito menos conveniar novas ações com os entes federados.

O fato tem sido recorrente. O prefeito que ganha quando vai assumir é uma dor de cabeça porque o que está na prefeitura não comparece para passar as pastas ao seu sucessor. Tem prefeito que arrombou as portas da prefeitura para poder iniciar os trabalhos e assim cumprir com o seu dever. E depois de assumir começa a repetir os mesmo expedientes do anterior e tudo parece ser normal para aqueles que não conhecem outra prática a não ser a corrupção, o vício e apropriação indébita do patrimônio público.

E assim a Democracia se faz no chute e no grito sob o mandonismo dos caciques políticos que se fazem representar no parlamento estadual e no congresso nacional. Ainda mais quando contam com o apoio do poder executivo estadual passam a afrontar até mesmo os órgãos de controle externo.

Para se safar dessas tramoias esses “caciques dos beiradões” gastam os tubos junto à justiça, contanto que não percam a boquinha para continuar mordendo o recurso público. É um verdadeiro circulo vicioso, empobrecendo, sobretudo, o povo que além de excluído sente-se impotente frente às negociatas armadas por esses larápios.

Imediatamente não se tem a quem recorrer com ressalvas ao modus operandi da Controladoria-Geral da União (CGU), que junto com a polícia federal, tem agido firme em cumprimento a sua missão. O Ministério Público tem sido também um aliado importante, mas a médio e ao longo prazo. Da mesma forma o Tribunal de Contas, este por sua vez tem sofrido de toda forma de influencia, obliterando cada vez mais os seus objetivos, caindo no pagode.

O que pesa muito mais ainda é o voto de cabresto que ainda impera nos sertões do Brasil, não sendo tão diferente do nosso Amazonas. Esta prática é que legitima o poder desses corruptos que não se bastam apenas com o consentimento do povo, querem se perpetuar no poder direta ou indiretamente elegendo filhos, mulheres e outros parentes consanguíneos, deixando o povo desarticulado e cabisbaixo.

O poder legislativo, com ressalva, tem sido puxadinho da prefeitura. E o dinheiro do povo que deveria ser aplicado em políticas públicas é reduzido para satisfazer os apetites dos novos ricos, que passam a usufruir de carros importados, lanchas potentes, compras de terrenos e outras práticas ilícitas desenfreadas.

E no carnaval, os bacanas passam a cantar e dançar no ritmo de “mamãe eu quero... mama” e se por acaso alguém lhe perguntar cadê o dinheiro, então eles cantarão em coro que “o gato comeu...”, que o povo exploda. E assim caminha nossa pobre e inculta Democracia.

(*) É professor, antropólogo e coordenador dos projetos Jaraqui e do NCPAM/UFAM. 

O Realismo político, segundo Sarney: a política é cruel e o embate político não tem limites
  
O senador José Sarney (PMDB-AP) está prestes a deixar a Presidência do Senado, cargo que ocupou por quatro vezes nos últimos 17 anos. Em 2014, Sarney vai completar seu terceiro mandato como senador pelo estado do Amapá. Entre 1971 e 1984, esteve na Casa como representante do Maranhão. “Já são 35 anos dentro do Senado. Na história da República eu sou o senador que mais tempo passou aqui”, destaca Sarney, lembrando que Rui Barbosa teve 32 anos de Senado.

Em entrevista à Agência Senado, Sarney avaliou seus mandatos como senador, falou sobre as realizações de sua carreira política e a forma como lida com denúncias e revelou também sua compreensão da política desvelando como ninguém o jogo vivido no Congresso Nacional. Confira:

 Como o senhor avalia seus mandatos como senador?

Sempre tive a preocupação com a atualização, com a modernização e com o apoio científico aos trabalhos do Senado. Na década de 1970, fui presidente do Ipeac [Instituto de Pesquisa e Assessoria do Congresso], que visava oferecer assessorias competentes à atividade parlamentar. O Ipeac era o responsável pelos trabalhos da Casa, convocando a inteligência nacional para dar apoio ao Congresso. Assuntos como energia nuclear, hidrelétricas e abertura democrática estavam entre os trabalhos do instituto. Ainda como senador, em 1993, eu propus a informatização do Senado. Foi constituída uma comissão, da qual eu era membro, e o resultado foi a criação da Secretaria Especial de Informática do Senado Federal (Prodasen).

Qual a herança que o senhor deixa como presidente do Senado?

Durante todo o tempo que passei no Congresso, nunca gostei de participar das mesas de direção. Mas, em 1994, me rendi aos apelos para assumir a Presidência do Senado. Como presidente, minha preocupação com a modernização se redobrou. Depois de assumir a Presidência, acho que entramos na era da modernidade do Senado. Parecia que o Senado ainda estava no século 19, pois não havia o conhecimento das mudanças significativas que a sociedade da informação trouxe para o mundo.

Durante o tempo em que fui presidente, sempre houve a preocupação com a transparência, pois a modernidade traz um novo interlocutor, que é a opinião pública, que se manifesta por meio da mídia, das redes sociais ou pelas organizações civis. Com isso, nós achamos que o Senado devia se atualizar para ter sua presença diante da opinião pública. Daí, houve a criação da Secretaria Especial de Comunicação Social (Secs), com a TV, a Rádio, o Jornal e a Agência Senado. Serviços como o DataSenado, a Ouvidoria, o e-Cidadania e o Alô Senado vieram assegurar uma transparência cada vez maior da Casa. Também destaco a informatização das sessões e da frequência dos senadores, as notas taquigráficas em tempo real na internet e o [site de busca de legislação] LexML.

Na área administrativa, houve o incremento dos cursos do ILB [Instituto Legislativo 
Brasileiro] e a aquisição de livros raros para a Biblioteca, além dos programas Pró-Equidade e Senado Verde. Tudo isso mostra a revolução que ocorreu no Senado e como a Casa se modernizou. A modernização e a atualização têm sido a minha marca por onde tenho passado na administração publica.

A vida política do senhor é muito extensa. O senhor já foi deputado, governador, senador e presidente da República. Além disso, é empresário e membro da Academia Brasileira de Letras. O senhor se considera realizado ou falta algo a conquistar?

Todo homem chega ao fim da vida com uma certa frustração, não das coisas que fez, mas pelas coisas que deixou de fazer. Quando a gente entra na política, é pelo desejo de melhorar a sorte de seu município, de seu estado, de seu país, e até de melhorar a sorte da humanidade. Essa é a grande vocação da política. E sempre fica uma frustração por ainda não ter conseguido todas essas coisas.

Na realidade, eu fico meio decepcionado quando vejo que todas as ideias políticas difundidas no mundo prestaram menos serviço ao povo do que [Alexander] Flemming, com a penicilina, [Albert] Sabin, com a vacina contra a paralisia, ou as inovações de [Thomas] Edison ou [Steve] Jobs. Sempre fica a ideia de que ainda há alguma coisa por fazer. Quando Deus fez o mundo, não o fez com tudo perfeito, mas deixou o homem com a capacidade de cada dia melhorar um pouco. Eu sou um otimista com a humanidade, e acho que haverá um dia em que o homem vai conseguir aquilo que [Thomas] Jefferson chamava de “a busca da felicidade”. Isso será daqui a milênios, mas vai acontecer.

O exercício da política implica, naturalmente, controvérsia e antagonismo. Ao longo da sua trajetória política, o senhor teve de lidar com denúncias de irregularidades. De que forma o senhor convive com essas denúncias e as críticas?

A política é cruel, lida com a crueldade. O embate político não tem limites. A primeira coisa que muitos fazem [na política] é tentar desqualificar o adversário. Então se inventa tudo e se é submetido a todas as injustiças. Quanto mais responsabilidade, mais se é combatido. Isso faz parte da prática e da instrumentação política. Isso é terrível pra quem faz política e desmoraliza a atividade política. Por isso, o povo julga tão mal os políticos. São os próprios políticos que constroem esse julgamento.

Quanto a mim, como eu sei que são inverdades, eu lido como se fosse com uma terceira pessoa. Eu lido com absoluta tranquilidade. Eu sou cristão e Deus me deu essa graça. Deus já fez tanto por mim – como o país em que ele me fez nascer e a vida que ele me permitiu construir, tanto na literatura quanto na política – e ele me pede uma coisa apenas: “Perdoai os vossos inimigos”. Por que eu vou negar isso a ele? Então eu perdoo e fico tranquilo, numa boa.

Na história do Brasil, muitos sofreram muitos ataques. Rui Barbosa, Joaquim Nabuco, muitos presidentes. Mas eu vejo que tudo isso passa. Os excessos que a imprensa constrói, o tempo destrói.

O senhor completou 82 anos, em 2012, passando por um susto. Teve de ser internado, para tratar do coração. É natural que, neste momento da vida, a morte se torne um assunto delicado. O senhor tem receio da morte? De que forma lida com a ideia da morte?

O corpo começa a dar sinais, algumas peças começam a ficar com a validade vencida (risos). Eu até escrevi um poema, Homilia do juízo final, em que eu termino dizendo: “Tenho um encontro com Deus. / – José! onde estão tuas mãos que eu enchi de estrelas? / – Estão aqui, neste balde de juçaras e sofrimentos.” Juçara é outro nome para o açaí.

Nos vários cargos que o senhor exerceu, qual foi o momento mais difícil?

Foi quando me ligaram de madrugada, avisando que eu iria assumir a Presidência da República (Em março de 1985, Sarney assumiu a Presidência depois de Tancredo Neves ter sido internado com problemas de saúde. Tancredo viria a morrer em abril daquele ano, e Sarney seguiu como presidente até 1990). Não conhecia o ministério nem o programa de governo. Todos diziam que a democracia iria morrer nas minhas mãos. Mas não morreu. Pelo contrário, floresceu.

Eu convivi com grandes homens públicos. Cada um tem o seu tempo, e corro o risco de terminar fazendo alguma injustiça. Mas, se eu tivesse que apontar aquele de quem mais sinto falta, seria de Tancredo Neves.

Nos seus vários mandatos, há algo que o senhor considere que seja o seu legado político para o Brasil?

Eu destaco a transição democrática, pois depois a democracia se consolidou no país, e os programas sociais, que tanto bem fazem para o povo brasileiro. Depois de ser presidente, tive a felicidade de ver todas as classes sociais chegando à Presidência da República, colaborando com a vida do país. A República começou com os barões do café, passou pelos militares, pelos bacharéis e tivemos um operário como presidente. Hoje, temos uma mulher na Presidência. Há país mais democrático que o Brasil? Há exemplo maior do que esse? Isso foi fruto de um trabalho que passou pelas minhas mãos.

Quando fui presidente da República (1985-1990), houve uma mudança de foco. A prioridade era apenas econômica e eu coloquei a causa social na pauta da política brasileira. Todos esses programas que hoje foram ampliados começaram naquele tempo. Com o Plano Cruzado (1986), tive a coragem de colocar minha cabeça a prêmio, com o congelamento de preços. Procuramos outro caminho que levou ao Plano Cruzado, ao Plano Verão, ao Plano Collor e até ao Plano Real. O Plano Real, já naquele tempo, esteve em nossas mãos, mas não havia mais tempo para implementá-lo, pois estava deixando a Presidência da República. Essas conquistas me fazem muito orgulhoso de minha vida pública. Na minha vida, a orientação sempre foi procurar ajudar, construir, unir e buscar a paz.

Fonte: http://www12.senado.gov.br/noticias/materias/2013/01/22/sarney-afirma-a-politica-e-cruel-e-o-embate-politico-nao-tem-limites
VENHA PRA BICA E VIVA O CARNAVAL DE RUA DE MANAUS

A Banda Independente da Confraria do Armando (BICA) intima seus brincantes a participarem no sábado (02), a partir das 12h, até o sol raiar. Mas, antes, no dia 31/01, na quinta, às 18h, no Cine Guarany da Vila Ninita/Palácio Rio Negro, todos estão convidados a assistirem o Documentário “Nessa Cidade todo o Mundo já Bebeu na BICA” dirigido por Keila Serruya, com duração de 14 minutos, com entrevistas e falação  dos fundadores, que juntos com Armando definiram uma estratégia popular para gritar contra os corruptos,  que além de roubar o povo afrontam cinicamente destratando a história e a  cultura desta gente. Contra estes políticos  a BICA bota no toco cantando no carnaval as sandices da companheirada e assim a Loura bota ovo e o Caderudo leva fama. Venha entrar na Bica e sinta-se realizado.

sábado, 26 de janeiro de 2013


Sem poder e sem pudor

Vergonha nacional. O senador Renan Calheiros (PMDB), execrado pela conduta imoral em relação à coisa pública, com a força das oligarquias do partido, é o  cara  escolhido para a Presidência do Congresso Nacional se depender dos senadores do Amazonas.  Para a democracia a unanimidade não só é burra como também é comparsa da corrupção e do assalto à República.  Viva o contraditório se o povo brasileiro quiser passar a política a limpo.
A candidatura, que senadores descontentes chamam de "clandestina", mas na prática imbatível, do alagoano Renan Calheiros (PMDB) à sucessão de José Sarney na presidência do Senado põe em xeque o prestígio do Legislativo.
O desejo do senador de voltar ao lugar do qual saiu para não ser cassado está prestes a se realizar sem que sequer ele precise confessá-lo publicamente. Isso poderá ocorrer, apesar dos fatos relevantes que não o recomendam para o posto, cujo ocupante também preside o Congresso e entra em terceiro lugar na linha sucessória da Presidência da República. Os óbices contra sua pretensão são óbvios, mas nenhum é suficiente para impedi-lo de alcançar o objetivo.
O primeiro deles é que na vez anterior em que lá esteve teve de renunciar ao posto depois de ter sido alvo de seis meses de denúncias. Acusado de receber ajuda financeira de lobistas ligados à construtora Gautama para pagar o aluguel de um apartamento e pensão alimentícia para uma filha que teve fora do casamento com a jornalista Mônica Veloso, ele protagonizou um escândalo apelidado de Renangate, junção de seu sobrenome com a segunda metade da palavra inglesa Watergate, que batizou o caso que terminou com a renúncia do presidente dos Estados Unidos Richard Nixon. Substituído na presidência pelo petista Tião Viana (AC), o alagoano foi absolvido a portas fechadas pelo voto secreto de 40 colegas a favor, 35 contra e 6 abstenções.
Cinco anos depois, na escolha para a presidência para a próxima legislatura, a ser iniciada em 1.º de fevereiro, a volta tida como certa, embora ainda não anunciada oficialmente, do presidente que renunciou para não ter cassado o mandato de senador repete interesses e personagens do episódio que o afastou. A presidente Dilma Rousseff chegou a soltar balões de ensaio dando a entender que a solução não a agradava e que preferia alguém com um prontuário menos tisnado. Soluções alternativas com as quais ela simpatizava, casos do ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e do ex-governador de Santa Catarina Luiz Henrique, contudo, naufragaram. O Palácio do Planalto, o governo federal e o PT não resistiram ao assédio do presidente da Casa, José Sarney, e do vice-presidente da República, Michel Temer, em favor do candidato que parece inevitável: a poucos dias da eleição, sem ter pedido um voto nem sequer reconhecido interesse no pleito, Renan não tem opositores. A não ser Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), que dificilmente deixará de beneficiar o favorito com o argumento de que terá vencido uma disputa para valer.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) encaminhou uma carta a 43 colegas, expondo ideias do grupo que não se conforma com essa situação, convocando-os para debater ideias capazes de livrar a Casa do opróbrio total. Nenhum senador petista aceitou participar do debate, nem aqueles que mais fazem questão de exibir independência e correção. Isso parece dar razão a críticos da vitória do candidato "que foi sem nunca ter sido", como a viúva Porcina da telenovela Roque Santeiro, de Dias Gomes, na Globo. Pois tudo indica que a escolha do mesmo Tião Vianna, que substituiu Renan na crise do Renangate e presidiu a sessão que lhe manteve o mandato, para vice na chapa secreta de agora denota a esperança do partido governista de ascender à presidência na eventual repetição de algum descalabro similar ao de 2007. A hipótese não é implausível: o outro óbice óbvio se configura nos escândalos protagonizados pelo pretendente. Este jornal acaba de publicar em primeira página a notícia de que a construtora Uchôa, de propriedade de um irmão de Tito Uchôa, apontado como "laranja" de Renan, faturou mais de R$ 70 milhões no programa Minha Casa, Minha Vida, da Caixa, área de influência do senador e de seu partido em Alagoas.
Na sua coluna no jornal Valor, Rosângela Bittar resumiu a adesão muda da maioria dos senadores e a omissão do governo e seu partido diante do fato consumado num trocadilho cruel e amargo feito por Cristovam Buarque: "Primeiro, nós fomos perdendo o poder e depois fomos perdendo o pudor". E a colunista comentou sem dó: "Um escárnio". Mais precisava ser dito?
Fonte:  http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,sem-poder-e-sem-pudor-,989014,0.htm

Comissão fará audiências nos estados para discutir reforma do ensino médio

Para o presidente da Comissão de Educação e Cultura da Assembléia Legislativa do Amazonas, deputado Sidney Leite, a iniciativa é válida desde que a matéria contemple discussões de propostas. Para isso é importante conhecer de imediato a proposta do MEC e ouvir o parecer técnico dos acadêmicos e dos militantes da educação, estendendo os debates junto aos Fóruns de Educação, que trabalham em direção a realização das conferências municipal, estadual e nacional de educação, em sintonia com as metas e estratégias do novo Plano Nacional de Educação. Se for assim estamos pronto a contribuir para o melhor de nosso ensino.
A Comissão Especial de Reformulação do Ensino Médio fará audiências públicas nos estados em 2013. Os deputados que integram o colegiado querem ouvir representantes da sociedade civil sobre as demandas locais relacionadas a esse nível de ensino.
"Vamos começar a organizar as nossas audiências em março e abril. E vamos tentar encerrá-las em maio para a realização de um seminário nacional e, depois, fazer um seminário internacional para conhecer modelos vitoriosos", disse o presidente da comissão, deputado Reginaldo Lopes (PT-MG).
Segundo o deputado, a comissão especial já articula um fórum com os 27 secretários estaduais de educação. Lopes também vai pedir uma participação mais efetiva do Executivo federal na discussão da reforma do ensino médio.
Comissão especial vai propor um novo modelo para o ensino médio no País: "Na retomada do ano legislativo, nós vamos aprovar uma indicação à presidente Dilma para que, juntos, possamos construir um grupo interministerial para trabalhar o tema da reformulação e também o cumprimento do artigo 35 da Lei de Diretrizes da Educação [LDB], em especial a finalidade e o papel do segundo grau no sistema educacional brasileiro e no desenvolvimento da nossa nação", disse o parlamentar.
Currículo: Reginaldo Lopes afirmou que as audiências públicas realizadas na Câmara em 2012 já permitiram alguns diagnósticos. Entre os problemas apontados estão o modelo de currículo único de ensino médio em um país de dimensões continentais, a falta de estrutura nas escolas e a ausência de laboratórios.
“Há um conflito entre aqueles que acham que o segundo grau deve ser de conhecimento geral e aqueles que acham que deve ser tecnológico. O grande desafio é fazer a integração", declarou o parlamentar.
Para o deputado, o ensino médio brasileiro perdeu a identidade e não cumpre nem mesmo papel de intermediário entre a educação fundamental e a acadêmica.
"Nem esse papel o ensino médio cumpre bem hoje, porque, de fato, o menino que estuda no ensino médio não é despertado para o mundo acadêmico: não existe bolsa de iniciação à pesquisa júnior, não existe bolsa de monitoria. Na verdade, 56% não chegam ao segundo grau. Dos 44%, apenas 22% concluem o segundo grau. E, dos 22%, só 18% chegam à universidade”, disse Lopes.
O relatório final da comissão especial de reforma do ensino médio será apresentado no segundo semestre. Além de projetos de lei, os deputados vão sugerir novas ações ao Ministério da Educação.

Reportagem – José Carlos Oliveira/Rádio Câmara 
Edição – Pierre Triboli

Fonte: http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/434442-COMISSAO-FARA-AUDIENCIAS-NOS-ESTADOS-PARA-DISCUTIR-REFORMA-DO-ENSINO-MEDIO.html

MANAUS DO AVESSO

Descobri que em tão pouco tempo de nossa existência destruímos o que realmente interessa para a nossa sobrevivência como a água, as árvores, os bichos, a natureza, enfim. Descobri que nos falta educação, amor próprio, bons políticos para gerir os recursos, dignidade.

Ellza Souza (*)

Nem sei como falar do que tenho visto ultimamente. Com a demolição das casas de frente por parte do Prosamim na área da bacia hidrográfica de São Raimundo descobri andando por esses lugares muitas coisas incompreensíveis para uma cidade que se diz nos primeiros lugares em riqueza do país. Descobri minúsculos igarapés que escorrem do igarapé maior. Descobri um emaranhado de casas improvisadas por cima desses riozinhos. Descobri uma vegetação resistente a agressões. Descobri crianças vivendo amontoadas em cima de igarapés completamente poluídos em casas de tábuas caindo aos pedaços e que estudam mas não sabem a lição  maior de não jogar lixo no meio ambiente. Descobri histórias de vida e de desalento pela intervenção sofrida. Descobri histórias que não convencem de moradores que fizeram suas casas num local inadequado para suas famílias. Descobri alegria em crianças desprovidas de boa educação, de bens materiais, de boa alimentação, mas fazendo da tristeza uma festa de despedida pela saída do local. Descobri em alguns relatos a inevitável lembrança de que “o igarapé era limpinho”. Descobri sofá, fogão, geladeira, cadeira, jogada ao relento. E muita sacola plástica pra todo lado. Descobri não rios de sujeira mas um oceano de lixo  e ratos por entre moradias e moradores. Descobri que em tão pouco tempo de nossa existência destruímos o que realmente interessa para a nossa sobrevivência como a água, as árvores, os bichos, a natureza, enfim. Descobri que nos falta educação, amor próprio, bons políticos para gerir os recursos, dignidade. Descobri que não sabemos mais o que é um beija flor pois sem as plantas não temos flores e sem as flores não temos mais esses e outros passarinhos que nos tornam mais humanos.

 Descobri que a vida ficou feia, ficou triste, sem imaginação, sem arte, sem boas ideias. A vida fede ao nosso redor pois o lixo se mistura aos dejetos formando lama infectada pra todo lado. Descobri que matamos igarapés, peixes e paisagens que podiam ser outras, mais belas sem dúvida. Recomendo que façam um passeio nas áreas da bacia do São Raimundo em áreas como a rua Beira Mar, rua da Cachoeira, Beco Normando, Pico das Águas, Aparecida (ig. do Belchior). Apenas esses locais vão lhes dar uma visão do horror a que estou me referindo. Fora o que foi aterrado e levado pelas prefeituras ao longo do tempo e o que foi levado pelas enxurradas para os grandes rios e mares, fica ainda uma gigantesca amostra, com a quantidade de lixo jogada pra todo lado, do quanto fazemos mal a nós mesmos.

A cidade teve sorte ao ser criada entre os vales de suaves colinas, com rios, olhos d’águas, grandes castanheiras, pedras jacaré, areia fina e branca, numa região ainda em formação geológica. Mal sabemos a sua história, mal conhecemos os nossos ancestrais e parece que não chegaremos a conhecer. Pelo andar da canoa logo-logo talvez nos reste as lágrimas como únicas representantes do que teria sido um dia a água de um igarapé na cidade de Manaus.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

AMBULANTES OU CAMELÔS, EIS A QUESTÃO

Ellza Souza (*)

Manaus já teve muitos vendedores ambulantes. Sabemos disso, hoje, pelos desenhos do pintor amazonense Moacir Andrade que desde criança gostava de observar a rua e o rio próximos de sua casa no centro. Uma das coisas que o pintor  mais registrou, em prosa, verso e desenhos, foi esses vendedores que na época eram ambulantes de verdade que não criavam raízes num local e sim ofereciam pra lá e pra cá os seus produtos. Em suas lembranças aparecem o doceiro com sua caixa de doces envidraçada e de dois “andares” onde se comprava queijadinha, o “mata-fome”, o puxa-puxa, o bolo de milho, para degustar com o refresco de pura fruta regional. Aparece o padeiro ( o pão de meio quilo deu um flash na minha mente) com grandes cestos de vime que passavam nas ruas “atentando” todos os sentidos do freguês para a compra imediata de produto tão inesquecível mas eliminado do cenário moderno da cidade. Aparece o miudeiro que vinha “da margem direita do igarapé do São Raimundo nas catraias para vender na cidade os miúdos dos bois sacrificados no antigo Curro”. O pintor lembra das negras barbadianas que moravam na longínqua Praça 14 de Janeiro e que vendiam cheiro verde, bonecos de pano, rendas, doces no centro da cidade vestidas com roupas longas e chapéus.

Perfeitamente registrados nos primeiros anos da carreira de Moacir Andrade, quando ainda o lápis era o seu único material de trabalho junto com o seu olhar observador e curioso sobre a movimentação daquelas pessoas e seus tabuleiros ou reco-recos nas ruas da cidade.  Tinha até vendedor de santinho em frente da igreja matriz no centro,  e um deles era assim lembrado: “tinha uma longa barba branca e vestia-se com um velho gibão e uma cruz no peito. Uma outra cruz de madeira na mão era enfeitada com fitas coloridas para atrair os transeuntes e assim vender os seus produtos sagrados”. Outros vendedores circulavam pelas ruas dos bairros com os santinhos pendurados num quadro sobre o peito (uma espécie de mostruário).

Muitos outros vendedores de rua ofereciam seus produtos, a retalho, nas casas das pessoas como o geleiro, o leiteiro, o verdureiro, o carvoeiro. Segundo os relatos o espanhol Felipe Geleiro fez fortuna em Manaus vendendo gelo e fazendo agiotagem. mas vivia como um mendigo, sujo e sozinho. Os horteleiros levavam nas carroças para o “mercado grande”, o Adolfo Lisboa, palco de histórias de muitas vidas e hoje deixado de lado pelas autoridades, as hortaliças fartamente colhidas nas grandes hortas existentes nas proximidades do centro.

Era um tempo em que os ambulantes eram trabalhadores de verdade e mereciam o respeito da clientela. Iam e vinham pelas ruas sem emporcalhar a cidade e sem se apoderar do espaço público com a desculpa de que “é pai de família” e não tem emprego pra todos. Pode até ser essa uma parte da desculpa para a esculhambação no centro da cidade de Manaus. No entanto, a maior parte da culpa por esse caos é certamente das autoridades municipais que permitiram tal insanidade tirando a vontade dessas pessoas de procurar algo melhor pra fazer. Mas claro que a população, todos nós que reclamamos, também temos participação nessa culpa ao comprarmos qualquer coisa que seja nesse mercado negro de camelôs e que não tem nada parecido com os vendedores ambulantes que despertaram sentimentos e a arte do menino Moacir Andrade.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013


O Jaraqui volta no ritmo do Carnaval da Democracia

O que era bom ficou mais gostoso e a Comuna Jaraqui volta à praça no ritmo do Carnaval da Democracia, participando do cordão do Jangadeiro, sob a batuta do maestro Mário Lino e os “Amigos do Som”. E assim, dando por vencida as forças contrárias, o Jaraqui retoma ao trabalho na Praça Heliodoro Balbi, na República Livre do Pina, no sábado, dia 09 de fevereiro, das 10 às 12h, fazendo um tributo ao carnaval de rua de Manaus.

Nesta época, no reino de Momo, a irreverência impera, fazendo abacaxi virá uva e o Jaraqui virá Candiru pra ferrar com os larápios do povo, em defesa da economia e do patrimônio público. É o Carnaval da Democracia cantando o ostracismo dos corruptos e cadeia para os mensaleiros.

Gente olha o Jaraqui aí/ com muito samba no pé/fazendo o que pode/ Prá ver os corruptos fora daqui...

Fora os arrivistas e seus comparsas que na dança das cadeiras transformaram as eleições em jogatina, pegando só filé e deixando a ossada pra gente. Chega de armação, o Jaraqui é a tribuna popular que não se cala e como bússola busca nas redes sociais orientar os militantes pela limpeza na política, criminalizando os partidos e seus dirigentes.

Para 2013, a Comuna Jaraqui quer fortalecer as parcerias e ampliar força com os movimentos de luta pela resistência, lutando por moradia digna, pela qualidade das políticas públicas, mais cultura, educação e ciência. A grita é geral, no bloco da alegria, cantando a liberdade contra os picaretas que transformaram o governo em extensão se suas alcovas.

O esquenta do Jaraqui tem como combustível a paixão desenfreada por Manaus, monitorando as políticas públicas no sentido de influir nas determinações de governo, sendo favoráveis as condições materiais que possibilitem viver dignamente com segurança e respeito em nosso Amazonas.    

Nesta marcha homens e mulheres de bem se juntam a Comuna Jaraqui formando um bloco em defesa da Ética, fazendo valer o respeito, a transparência e a moralidade na política. Se assim for sintam-se convidados a participarem do Carnaval da Democracia, com o retorno do Jaraqui, no sábado, dia 9, das 10 às 12, na República do Pina, na Praça da Polícia, no Centro Histórico de Manaus, recordando o passado para as conquistas do presente.

domingo, 13 de janeiro de 2013


AÇÃO INDUTORA DE ARTUR NETO AO SECRETARIADO DA PMM

Ademir Ramos (*)

Parto do princípio que o senhor prefeito de Manaus Artur Neto (PSDB) quer o melhor para nossa cidade, disso tenho certeza. Contudo não basta querer é preciso definir as melhores ferramentas para operar, como também os agentes qualificados capazes de cuidar da cidade com competência e habilidade.

O seu esforço tem sido notado, servindo como ação indutora para todo o secretariado da Prefeitura Municipal de Manaus (PMM). No entanto, é preciso pensar o todo - a organização da cidade -, a partir da especificidade de cada secretaria.

Para esse fim é necessário dar resposta imediatas e mediatas, mostrando o que deve ser feito logo e o que se planeja a médio e ao longo prazo. É fazer fazendo na perspectiva de qualificar muito mais ainda a gestão municipal imprimindo uma marca ao seu governo.

Esta exigência deve ser seguida de novas atitudes, buscando formular políticas públicas, não mais como bombeiro ou mestre de obra, mas como planejamento municipal seguido de um cronograma de trabalho integrado em direção às garantias das qualidades do serviço prestado a população de Manaus.

Desse jeito é importante promover o diálogo com os senhores secretários, exigindo deles um planejamento de quatro anos acompanhado com os instrumentos de avaliação, com os cronogramas de execução e as parcerias.

Conforme foi anunciado é necessário se trabalhar em regime de colaboração entre os entes federativos, bem como com as corporações privadas, nos termos da Lei, sendo de forma transparente e participativa.

O meu recorte específico volta-se para a Cultura e Educação integrada nos processos das políticas municipais numa rede de trabalho que seja orgânica, crítica e eficiente. Dessa maneira, é preciso conhecer quais são os projetos e metas já definidas por essas secretarias e o que já estão fazendo para garantir o pleno funcionamento dos seus objetivos. Os entraves devem ser identificados e de pronto buscar superá-los em direção à boa gestão e o cumprimento dos valores republicanos.

Na Cultura concordo que era necessário repensar a estrutura de gestão, mas não estou convencido que a redução da Secretária numa Agência seja o melhor modelo para operacionalizar tanto a cultura como o turismo. Mas, o tempo dirá e espero que se tenha capacidade de avaliar os resultados e se for preciso em curto prazo refazer a natureza jurídica da instituição e com determinação articular com os artistas, produtores e agentes culturais o melhor para Manaus.

Na educação me parece que a coisa está travada. É bem verdade que o Secretário não é do ramo, mas isso não impede que domine tecnicamente a matéria e reúna um GT capaz de formular as políticas de educação e discutir imediatamente com a categoria numa perspectiva de Estado.

Esta conduta é tão importante para o prefeito Artur Neto se quiser se perpetuar na história como um Estadista, buscando se for necessário enviar equipe para conhecer em outras paragens no Brasil e no exterior novas práticas educacionais em articulação com as culturas, ciência, arte, centrada na área do ecodesenvolvimento como gradiente do desenvolvimento local.

Senhor prefeito acabo de ler a entrevista do secretário Pauderney Avelino (Diário do Amazonas, 13 de janeiro, p.6/política), afirmando categoricamente que “nossa meta é que os estudantes tirem média acima da exigência do Ideb”. Louvável manifestação, mas como o senhor é sabedor eu só posso conferir metas quando tenho definido o projeto político educacional como um todo.

Ainda mais, também não estou convencido que o cancelamento das licitações para a construção das 55 creches é o melhor caminho. Como se sabe este processo é cheio de catimba e de múltiplos interesses. Será que não seria melhor o prefeito chamar para si esta discussão e conhecer os reais motivos que orientam esta conduta tanto em atenção às famílias como pela transparência que o processo exige, refutando qualquer especulação leviana e maldosa que venha ser feita.

Digo isso, sem nenhuma pretensão de ensinar “padre nosso a vigário”. Penso unicamente na eficiência do processo movido pela ética da responsabilidade e no exercício do controle social que tenho feito.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.

Marina bate martelo sobre nova sigla, que terá tucano e petista


BRASÍLIA - A um ano e oito meses da eleição presidencial, a ex-senadora Marina Silva decidiu criar um partido para lançar sua candidatura à sucessão da presidente Dilma Rousseff. O embrião da futura legenda será o Movimento Social Nova Política, movimento suprapartidário lançado no ano passado pela ex-ministra do Meio Ambiente no governo Lula.
Inicialmente, Marina pretendia anunciar a intenção de recolher as quase 500 mil assinaturas necessárias para formar a nova legenda na semana que vem, mas foi aconselhada a adiar para fevereiro, na reabertura dos trabalhos do Congresso Nacional. A ideia é que o novo partido seja formado com políticos oriundos de várias legendas.
Desde meados do ano passado, Marina tem intensificado os contatos com lideranças políticas que vão desde integrantes do PSOL até o PSDB. Uma dessas lideranças é a ex-senadora e atual vereadora por Maceió Heloísa Helena, do PSOL, que já sinalizou sua adesão à nova sigla. O senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP), também sondado, declinou do convite: seu projeto é ser, igualmente, candidato à presidência em 2014.
Nomes como o do deputado Walter Feldman (SP), que ameaçou deixar o PSDB e admitia a possibilidade de aderir ao PSD do ex-prefeito Gilberto Kassab, são dados como certos no novo partido. Sem espaço no PT do Rio de Janeiro, o deputado Alessandro Molon é outro alvo de Marina Silva. Ele quer ser candidato a prefeito, em 2016, e teme mais uma vez ser alijado do processo, com ocorreu no ano passado.
O deputado Reguffe (PDT-DF) também estaria em conversa com a ex-senadora para migrar para a nova sigla, assim como o deputado Domingos Dutra (PT-MA).
A interlocutores, Marina tem repetido que quer montar um "partido diferente". Já está certo que a nova sigla não vai aceitar doações de pessoas jurídicas - serão aceitas apenas as oferecidas por pessoas físicas. Ela também defende que a legenda reserve cota de 50% das vagas para os filiados que tenham "ativismo autoral", deixando-os livres para empunhar as bandeiras e teses que quiserem.
Corrupção. O combate à corrupção será outro tema. "Me preocupa uma certa aproximação dela com a extrema esquerda. A campanha de 2010 foi feliz porque ela conseguiu ocupar um espaço de centro esquerda", observa o deputado Alfredo Sirkis (PV-RJ), cuja relação com Marina ficou estremecida desde a saída dela do PV.
Há dois anos Marina conquistou 20 milhões de votos na corrida pela Presidência da República, chegando em terceiro lugar, atrás de Dilma Rousseff e do tucano José Serra. Ela está confiante nesse capital político, que considera suficiente para viabilizar a nova legenda. Está certa ainda de que, em 2014, tem mais chances do que o senador tucano Aécio Neves de ir para um embate com Dilma Rousseff, num eventual segundo turno. Sua avaliação, sobre o caso, é que o PSDB está enfraquecido, o que pode abrir espaço para a sua candidatura.
Depois de passar pelo PT e, em seguida, pelo PV, Marina decidiu criar um novo partido por ter críticas severas às legendas existentes. Por isso não aceitou o convite do presidente nacional do PPS, deputado Roberto Freire (SP), para ingressar no partido.
A ex-senadora terá, no entanto, de correr contra o tempo para viabilizar a nova sigla até o final setembro, prazo fatal para que possa se candidatar nas eleições de outubro de 2014. Além disso, ela terá de superar obstáculos como o projeto de lei em tramitação no Congresso que impede que novos partidos tenham acesso pleno ao dinheiro do fundo partidário e ao tempo na propaganda eleitoral de rádio e TV, antes de disputarem uma eleição.


EM ENTREVISTA, MARINA FALA DE UM NOVO PARTIDO, DA FORÇA DOS ATIVISTAS, DA REFORMA POLÍTICA E O NOVO PARA 2014

Daniela Chiaretti (*)

Para Marina, "O grande ideal integrador da sociedade hoje é o desconforto das pessoas com o processo estagnado na política e na economia. Há algo maior, oceânico"

Fundar ou não um partido? No início de fevereiro, possivelmente em Brasília, jovens, empresários, intelectuais, políticos, líderes religiosos e ambientalistas se reunirão para decidir o desdobramento institucional do Movimento por uma Nova Política, a frente suprapartidária lançada em 2011 pela ex-ministra de Meio Ambiente do governo Lula e ex-senadora Marina Silva. Trata-se do coroamento de dois anos de discussões deste grupo. A maioria é a favor de uma nova sigla, mas há resistência à ideia, principalmente entre os jovens. Se a decisão for por um partido puro-sangue, que dispute as eleições em 2014, terá que ser diferente.

É esta ideia que fez Marina Silva mudar de opinião. Quando saiu do Partido Verde, ela se opôs à criação de algo feito às pressas, para disputar as eleições em 2012. Agora diz que viu o movimento amadurecer, decantar, estar em sintonia com um ativismo moderno e espontâneo, que reconhece no mundo todo e batiza de "ativismo autoral". É formado por pessoas descontentes com a estagnação política, econômica e de valores e que não consegue fazer frente à profunda e complexa "crise civilizatória" atual.
Este novo partido, se confirmado, pode ter novidades em seu estatuto e a sustentabilidade como vértice. Poderá abrigar candidaturas livres, ter presidência de curto prazo e rotatória e até um pacto de não agressão a rivais nas disputas eleitorais. A seguir, os principais trechos da entrevista ao Valor:

Valor: A senhora irá formar um novo partido?

Marina Silva: É importante antes resgatar o processo político daquele grupo que viveu a experiência das eleições presidenciais de 2010, nestes últimos dois anos, desde que saímos do PV. Uma parte do grupo achava que se deveria criar imediatamente um partido. Eu era contra esta proposta.

Valor: Por quê?

Marina: Argumentava que não se cria partido por causa de eleição. Naquela época a avaliação era de se fazer um partido já para concorrer em 2012. Dizíamos que deveríamos apostar em uma articulação mais ampla, transpartidária, com a proposta da sustentabilidade e de uma nova forma de fazer política. E se, no futuro, uma parte deste movimento - que é muito maior do que a dos que querem fazer um partido -, quisesse decantar um grupo para ver se havia profundidade e identidade política para criar algo que não seja apenas mais um partido, com foco apenas em mais uma eleição, que era legítimo que estas pessoas fizessem isso. Eu só iria fazer esta discussão depois das eleições de 2012.

Valor: Como a senhora participou das eleições de 2012?

Marina: Apoiando candidaturas de forma exclusivamente programática. Engraçado como as pessoas se esquecem disso. Se fosse uma perspectiva puramente eleitoreira, eu teria me envolvido com muitas campanhas e com aquelas que poderiam estar comigo no futuro. Eu me envolvi com candidaturas que nunca vão se descolar dos seus partidos de origem.

Valor: Quais, por exemplo?

Marina: Apoiei a candidatura de Durval Ângelo [candidato derrotado à Prefeitura de Contagem], que é uma pessoa orgânica do PT de Minas, não vai sair do PT, mas tem compromisso com esta agenda. O próprio Serafim [Corrêa, candidato derrotado à Prefeitura de Manaus], ligado ao PSB. O Edmilson [Rodrigues, candidato derrotado à Prefeitura de Belém], que nunca vi questionar sair do PSOL. O Heitor [Ferrer, candidato à Prefeitura em Fortaleza], que não está cogitando sair do PDT. São mais do que indícios de que se está discutindo uma proposta de visão de mundo e de país. Aquela ideia de que o importante é formar uma comunidade de pensamento que pode ser de pessoas de diferentes partidos ou que não são de partidos, da academia, de movimento sociais, mas todos refletindo sobre a crise do modelo que estamos vivendo. Esta crise civilizatória que se expressa na política, na questão ambiental, na economia, em valores, em graves problemas sociais. É apostar em um movimento oceânico.

Valor: Como assim, oceânico?

Marina: Hoje uma parte da sociedade se movimenta de uma forma meio oceânica, integrada pelo forte questionamento do que está acontecendo no Brasil e no mundo, em relação à crise civilizatória. Me impressiona muito o reducionismo que se faz da discussão de tudo isso. A eleição faz parte de um processo, dá uma forte contribuição para a mudança da cultura política, mas não é um fim em si mesmo e não é a única forma de dar essa contribuição. Tem que existir um caldo de cultura transformador. Nestes dois anos tenho participado do processo político, mas não nesta agenda do poder pelo poder. Não fiquei na cadeira cativa de candidata à Presidência da República, mas no lugar de militante socioambiental. Queremos discutir a partir de novos patamares.

Valor: Há quem fale na falta de visibilidade sua nestes dois anos.

Marina: Continuei fazendo o que sempre fiz. Tive uma agenda intensa, para mim política é um processo vivo. E agora estou diante de um movimento que, pode ter certeza, não partiu de mim. Existem inúmeras pessoas, parlamentares, lideranças, grupos sociais que têm cobrado de mim uma posição. E eu, que segurei este processo até o fim das eleições de 2012, por uma questão de respeito ao legado que eu e Guilherme Leal [empresário da Natura e vice na chapa em 2010] suscitamos, tenho que me colocar. Não poderia me omitir diante do legado consistente que temos e que está propondo algo que, se não é um novo caminho, pelo menos é uma nova maneira de caminhar na política.
No Brasil, como não há candidaturas avulsas, ou você está dentro das estruturas, ou não existe

Valor: Mas a maneira de interferir na política é através de um partido. A senhora está considerando...

Marina: É também através de um partido. O problema é que os partidos começaram a ter o monopólio da ação política. No Brasil, infelizmente, como não existem candidaturas livres, avulsas, como há nos Estados Unidos e na Itália, ou você está dentro destas estruturas, em seus moldes tradicionais, ou você não existe. Mas não tivemos a reforma política e é preciso cumprir os processos legais se quisermos participar da política tradicional.

Valor: O que está sendo feito?

Marina: Lideranças políticas da sociedade, que querem partido ou não, mas que querem participar da política e não ser espectadoras mas protagonistas, têm me procurado para conversar. Tenho sugerido que, no início de fevereiro, se faça uma reunião para que este movimento tome a decisão. Vai continuar como movimento da sociedade? Vai ter uma participação na política institucional?

Valor: Já tem data e lugar?

Marina: A ideia é que aconteça antes do Carnaval, possivelmente em Brasília. Estes movimentos estão antecipando discussões, fazendo manifestos, propostas de estatuto. Isso está sendo feito independentemente da minha vontade, mas acho legítimo. Durante estes dois anos houve, de fato, um adensamento, uma decantação para evitar que fosse apenas mais um partido com apenas uma perspectiva eleitoral.

Valor: A militância política está mudando?

Marina: Acho que está mudando significativamente no mundo e no Brasil também. Hoje não é mais aquele ativismo dirigido pelos partidos, pelos sindicatos, pelas organizações clássicas que tínhamos. É um ativismo diferente, que chamo de ativismo autoral. Boa parte das pessoas que integram as causas do século 21 fazem isso porque estão alinhadas com os mesmos princípios mas também pelo prazer de experimentar uma ação política produtiva, criativa e livre. Muitos sentem desconforto com a política separada da ética, a economia separada da ecologia.

Valor: Quais são estes canais?

Marina: Pode-se identificá-lo, por exemplo, nas manifestações recentes contra a corrupção, que não foram convocadas por nenhum partido político. A menina que fez aquele movimento para melhorar a escola dela é caso típico deste ativismo autoral. Os movimentos "Ocupem Wall Street". A própria campanha de 2010 foi assim, porque o PV não tinha estrutura, não tinha tempo de televisão, as pesquisas diziam que eu estava estagnada em 8%. E mesmo assim, as pessoas, autoralmente, fizeram um processo político. Isto é uma tendência no mundo. Eu estou dialogando com isso. Talvez esteja mesmo no ostracismo para o velho ativismo, de movimentos a serviço de um partido.

Valor: Pode explicar melhor?

Marina: É como se tivéssemos uma grelha com brasas: as brasas juntas produzem calor para aquecer uma pessoa, mas se estiverem separadas, irão se apagar. O que agrega as pessoas são os ideais e um dos fortes ideais hoje é a sustentabilidade. Mas entendendo a sustentabilidade não só como uma maneira de fazer, mas como uma maneira de ser, uma visão de mundo, um ideal de vida que deve perpassar a economia, a ciência, a tecnologia, a relação do homem com a natureza e consigo mesmo.

Valor: E como poderia se traduzir isso na realidade de um partido?

Marina: Se a decisão for por um partido, no meu entendimento tem que ser com esta visão antecipatória. Não dá para ser a favor da reforma política e não agregar neste novo instrumento institucional os elementos da reforma política que queremos que aconteça.

Valor: Como o quê, por exemplo?

Marina: O PT foi capaz de antecipar várias coisas no seu tempo. Naquela época os partidos se constituíam e as decisões eram tomadas pelas convenções com os delegados oficiais. O PT colocou em seu estatuto que as decisões seriam pelo pleno do partido e a convenção oficial referendaria a decisão tomada pelo pleno do partido. Foi assim até que se transformou em um partido convencional como qualquer outro, mas isso é recente. É possível, mesmo na atual legislação, ter uma política mais aberta, democratizar a democracia. E os partidos políticos têm que dar a sua contribuição.

Valor: Se o movimento decidir pela criação de um partido, como ele seria diferente dos outros?

Marina: Sou a favor, e boa parte do grupo também, das candidaturas livres. No Brasil, sem reforma política, não se consegue isso, mas dá para antecipar. O partido tem um programa e princípios, e quem está vinculado a eles poderia, mesmo não sendo orgânico do partido, ter uma legenda. Do mesmo jeito que se tem 30% para mulheres, se poderia ter, também, 30% para candidaturas respaldadas pela sociedade desde que coerentes com princípios e valores. É possível antecipar a ideia das candidaturas livres resguardando 30% de vagas para personalidades, ou pessoas de movimentos sociais, que queiram articular programaticamente uma lista de apoio e ser homologado pelo partido. Porque, para concorrer, é preciso ter uma homologação institucional.
O ativismo autoral está em manifestações apartidárias contra a corrupção ou como a "ocupe Wall Street"

Valor: E no financiamento?

Marina: O financiamento público de campanha hoje não é possível. Mas é possível um financiamento popular de campanha? Em vez de poucos contribuindo com muito ter muitos contribuindo com pouco? Há duas propostas sendo debatidas. Uma, que seria só pessoa física, sem limite de contribuição. Advogo a ideia de que poderia ser empresas e pessoas físicas, com teto de contribuição. Teríamos que discutir este teto.

Valor: Defenderia a reeleição?
Marina: Sou contra a reeleição para cargos executivos, que no meu entendimento é um atraso na realidade do Brasil. Poderia até ter mandato de cinco anos, mas sem direito à reeleição, porque as pessoas não fazem o que é necessário e estratégico para o interesse do país, mas fazem o que é estratégico para o interesse da sua própria reeleição. Esta é uma visão minha, não do grupo.

Valor: A legislação permite todas estas mudanças?

Marina: Com certeza. Se você estabelecer que o financiamento da campanha vai ser só de pessoa física, isso está no estatuto do partido. Se disser pessoa física e empresa, com um teto, se está no estatuto do partido, não há problema. Se alguém consegue uma lista de assinaturas o endossando, proporcional à realidade de seu município ou sua região eleitoral, por exemplo, e se essa sua plataforma é coerente com os valores do partido, pode-se homologar a filiação sabendo que esta pessoa não quer ser um militante orgânico do partido, mas é alguém que representa a sua causa. E que a sua filiação é puramente uma exigência da atual legislação, que não permite candidaturas livres.

Valor: A sustentabilidade seria o eixo do partido?

Marina: A questão da ficha limpa seria algo a priori e o compromisso com a sustentabilidade seria algo no vértice de tudo. A ética na política teria que ser condição "sine qua non", não pode ser uma bandeira. Mas, por exemplo, poderia ser um partido que tenha uma presidência por um tempo, que não seja por um tempo eterno. A cada ano, teríamos outro presidente para evitar cristalizações. O PV na Alemanha, por exemplo, tem um homem e uma mulher como presidentes. Tem coisas que já dá para fazer. Pessoas como o economista José Eli da Veiga, o cineasta Fernando Meirelles, o antropólogo Eduardo Viveiros de Castro, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca não sei se vão se filiar, mas são pessoas que têm o direito de participar, de votar, de apresentar propostas. São protagonistas do processo político. Tem que ter mecanismos novos porque senão vai ser mais do mesmo. O que está se discutindo é outra coisa, é uma visão de país, de mundo, do que o século 21 exige de nós. É um esforço, ninguém tem a resposta. As coisas estão sendo produzidas nos espaços da polarização, que é estagnante.

Valor: Outra novidade?

Marina: Um partido político hoje tem que ter um pacto de não agressão. Eu posso fazer uma critica à presidente Dilma [Rousseff] ou ao [ex-]governador [José] Serra e não precisa ser no diapasão destrutivo que virou a política. Viramos a cultura da acusação e da queixa.

Valor: Há quanto tempo esta discussão vem acontecendo?

Marina: Estou repensando a ideia do partido. Não poderíamos fazer de forma só para participar da eleição de 2012. Isso aconteceu, o amadurecimento desta ideia, ao longo de dois anos. Há muitos que querem mais do que um partido, algo que seja um projeto de país. Isso não é uma decisão que será tomada agora, isso está em discussão desde que nos separamos do PV.

Valor: Mas dá tempo de participar da eleição de 2014?

Marina: Não sei se dá tempo. Me perguntaram se poderia ser mais fácil ir para um partido já existente ou fazer uma fusão. Poderia ser mais fácil, mas não o mais coerente. É preferível correr o risco de tentar manter a coerência. Se não for possível, paciência. Tentou se fazer algo que faça diferença e não um processo puramente eleitoral.

Valor: Como a senhora vê o Brasil hoje? A crise energética, por exemplo?

Marina: Infelizmente o Brasil não foi capaz de criar uma agenda do século 21. O Brasil tem condições de dar energia diversificada e distribuída, mas não tem levado isso a cabo, e aposta em modelos que estão falidos, centralizados, dos grandes empreendimentos. Ser o país detentor da maior área de insolação do planeta e não apostar em energia solar, dá uma tristeza. Temos um modelo que não se abre aos diversos segmentos da economia.

Valor: Como a senhora vê a discussão do PIB, do quanto o Brasil cresceu. Poderia ter sido mais?

Marina: A gente não pode tratar o Brasil como se fosse uma ilha separada do mundo. O Brasil faz parte desta velha economia e está em crise junto com ela. Uma crítica que eu faço é que não se aproveita a crise para ir rumo à nova economia, mas não posso imaginar que o Brasil é uma bolha de prosperidade separada do mundo. Tanto estão errados os que estão dentro do governo e venderam a ideia de que o Brasil está imune à crise, como se a presidente Dilma pudesse fazer uma mágica e nos colocar em uma ilha de prosperidade separada do mundo. Poderíamos fazer investimentos em outra direção. Mas a presidente Dilma não tem uma varinha de condão para fazer essa mágica.

Valor: E quais são os próximos passos do movimento?

Marina: As pessoas estão conversando entre si. Parlamentares, ex-PV, ex-PT, pessoal da academia, da juventude, gente que quer partido, gente que não quer. Todos estão conversando. No início de fevereiro a ideia é ter este encontro, como uma preliminar. Feito isso, os grupos podem criar um instrumento para a política institucional. E aí há grupos se antecipando para levar propostas para a segunda parte da reunião, por causa do calendário eleitoral.

Valor: Qual é a sua posição?

Marina: Acho que amadurecemos sim. A própria forma como as coisas estão acontecendo fez uma boa decantação daquelas ideias de que se tratava de só mais um partido e que precisávamos ter alguma coisa para estar nas eleições de 2012 de qualquer forma. Agora está claro que se trata de algo maior do que um partido. É um movimento.

Valor: Se o partido sair, será de esquerda?

Marina: Na campanha, quando me perguntavam e ao Alfredo Sirkis [deputado federal do PV do Rio] se estávamos à esquerda ou à direita, dizíamos que estávamos à frente. Uma frente da sustentabilidade na política, na economia, nas instituições. É importante criar um caldo de cultura política para terminar com esta estagnação da política.

Valor: E os líderes evangélicos, como estão nesta discussão?

Marina: Ninguém está participando como líder religioso, mas como cidadão. Ninguém vem em nome de sua ONG, mas como cidadão. Estamos vendo a política como um processo novo e vivo, 2010 não tem como ser repetido. É um novo processo.

(*)http://www.valor.com.br/politica/2966146/marina-diz-que-propora-novo-partido