segunda-feira, 31 de maio de 2010

PLANO "TIMIDO" PARA MANAUS

Márcio Souza*

A prefeitura acabou de apresentar um plano urbanístico para a cidade, estabelecendo novas regras de transito, embelezamento de vias e intensa intervenção no centro histórico da cidade. Observando pela imprensa, o plano é tímido, sequer imediatista na resolução dos problemas urbanos que pretende enfrentar. É uma pena que a capital amazonense ainda não tenha encontrado uma administração publica com visão para além do horizonte imediato e do rasteiro provincianismo.

A vocação de Manaus é maior que sua natureza de capital de estado, e de estado gigante. Manaus deveria ser pensada como uma cidade única na América do Sul. Encravada no coração do subcontinente, no centro da região mais fantástica do planeta, a capital amazonense reúne todas as características para ser o grande hub ao ocidente do hemisfério sul. Nenhuma cidade sul americana reúne privilégio geográfico, bagagem histórica e belezas naturais.

São Paulo, que atualmente concentra os vôos em nosso país, monopolizando o acesso aéreo para a Europa, América do Norte e Ásia, está nas proximidades do trópico de Capricórnio, ou seja, muito ao sul do continente, exigindo um gasto extra de combustível e custos operacionais das companhias aéreas, além de aumentar as horas de vôos e o desconforto aos passageiros. Ao contrário da capital paulista, Manaus agregaria todas essas vantagens, caso fosse pensada como hub das linhas aéreas para a América do Sul. Um vôo de Manaus para qualquer capital européia economiza quase duas horas, além de reduzir os trechos no interior do continente para capitais como Caiena, Paramaribo, Georgetown, Caracas, Bogotá, Quito, Lima e La Paz. Isto sem falar as linhas secundárias para as diversas cidades importantes dos países amazônicos.

Para os passageiros do norte e nordeste brasileiros a economia de tempo e dinheiro seria incalculável. Mas os benefícios ainda seriam maiores para a própria cidade, que culturalmente já tem vocação de centro internacional. Evidentemente que o problema é político, problema pesado, diria. Os poderosos estados do sul não aceitariam de bom grado perder o monopólio das rotas aéreas e demais benesses. Para isso a nossa política federal deveria ser menos subserviente, menos preocupada com minúcias. Uma capital centralizando tantos cruzamentos intercontinentais não precisa que as reivindicações de seus políticos federais se esgotem na prorrogação de um parque industrial de maquiagem de produto, que só deixa míseros salários aqui.

O futuro de Manaus não pode estar atado à maldição da Zona Franca, um dos entulhos autoritários que herdamos da megalomania da Ditadura Militar, que parece ter aprisionado as inteligências locais, incapazes de criar condições de superação.

Não vai ser com o mito do crédito de carbono que vamos sair do conto da carochinha da Suframa, órgão desprestigiado pelo poder federal, que só funciona para autorizar mais projetos de maquiagem, ou apoiar nos bastidores absurdos como a agressão ao Encontro das Águas pelo tal do Porto das Lajes, em boa hora interditado pelo poder judiciário. Não é mais possível que a capital do estado nortista que se considere economicamente mais moderno, continue refém de políticas medíocres, acanhadas, de modernização de palmeirinhas, de invasões de terras, de privatização dos espaços públicos pelos miseráveis.

Manaus tem futuro, desde que seja possível varrer do seu presente o pensamento pequeno, a grosseria simplória do assistencialismo, motor da política que aqui se pratica e que não quer o bem público, mas beneficiar apenas os políticos que querem se dar bem. E quando digo que Manaus tem um futuro mais brilhante do que ser lugar de transito para capitalistas japoneses, coreanos, europeus ou paulistas, é que a cidade pode fazer melhor o seu futuro se tiver clareza e coragem política no presente. Se não, isto aqui continuará Porto de Lenha.

* É escritor, dramaturgo e articulista de a Crítica.

domingo, 30 de maio de 2010

UNIDOS PARA VENCER: ARTICULAÇÃO DOS INDÍGENAS DO PANTANAL


Programação da Preparatória do Acampamento Terra Livre (ATL)
Aldeia Urbana Marçal de Souza (MS), 04 e 05 de junho de 2010


O Acampamento Terra Livre (ATL) promovida pelas Organizações Indígenas Regionais (Apoinme, Arpipan, Arpinsudeste, Arpinsul, Atyguassú e Coiab). Esse evento que é realizado uma vez a cada ano, receberá mais de mil indígenas e em conseqüência da sua importância legitimou-se como um fórum nacional interétnico e apropriado para discussões do Movimento Indígena Nacional.

Dessa forma, dado a sua legitimidade, todos os assuntos de interesse de cada região, povo ou organização tem sido submetido a essa plenária nacional e o descaso das autoridades para com os direitos indígenas em Mato Grosso do Sul tem sido ao longo dos últimos anos, objeto sistemático de denuncias junto à esse Fórum Nacional Indígena.

As condições de vida degradantes a que estão submetidos os povos indígenas deste Estado, resultantes do confinamento, dos territórios fragmentados, das altas taxas de homicídio e suicídio, a criminalização de lideranças, alcoolismo, subemprego e desnutrição. No fórum também se define novas estratégias para fazer valer aos povos indígenas o reconhecimento de seus Direitos Fundamentais e Humanos.

Razão porque a Articulação dos Povos Indígenas do Pantanal (Arpipan), organização regional desse Estado com apoio da Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) propõe abaixo a presente programação, a ser realizado entre os dias 04 e 05 de junho, em Campo Grande, capital do Estado de Mato Grosso do Sul.

PROGRAMAÇÃO
Dia 03/06 – Chegada das Delegações;
19:00 horas – Jantar
As 20:00 horas – Solenidade de Abertura com Autoridades presente.

Dia 04/06 – Inicio das Atividades;
07:00 horas – Café da Manhã;
08:00 horas – Recepção, apresentação e orientações aos representações indígenas presentes na preparatória do ATL – ARPIPAN;
09:00 horas – Cerimônia de Abertura do evento pelas Organizações Indígenas – Arpipan, Atyguassú, Arpinsul, Arpin-Sudeste, Apoinme e Coiab;
10 horas – Primeira plenária – o que são direitos humanos? Se índios são humanos que direitos humanos não estão sendo garantidos em MS? – Comissão Especial de Direitos Indígenas/OAB/MS – Dra. Samia Jordy Barbieri;
12:30 Horas – Almoço;
14:00 horas - Segunda plenária – Direito a Terra! Os casuísmos em pratica no MS que impedem a retomada dos territórios tradicionais – Prof. Antonio Brand - NEPPI;
15:30 horas – Café
16:00 horas – Terceira plenária – Cenário da retomada das Terras Indígenas Kaiowá-Guarani e Terena – CIMI;
18:30 – Jantar
20:00 Horas – Momento Cultural;

Dia 05/06
07:00 horas – Café da Manhã;
08:00 horas – Quarta plenária – Demarcação, desintrusão e proteção das Terras Indígenas, Rejeição de iniciativas legislativas antiindigenas (PL e PEC), Criação da Secretaria Especial de Saúde Indígena no Brasil, Aprovação do Projeto de Lei que cria o CNPI, Aplicação da Convenção 169, GEF Indígena e PNGATI - APIB e Organizações Indígenas;
09:30 horas – Café;
10:00 horas – Quinta plenária – Encaminhamentos quanto a presença das delegações indígenas no VIIº Acampamento Terra Livre - APIB
12:30 horas – Almoço e Encerramento
Parentes e aliados da Causas indigenas para mais informações : 067 - 9959-5961 / 9676-7236 / 9218-4501 E-mail: arpipanms@gmail.com ou ramaovieiraterena@hotmail.com

DEPUTADOS QUEREM LEGALIZAR O CRIME CONTRA AS FLORESTAS

Você acredita que os ruralistas depois de um pernada política se tornaram "responsáveis" para revisar o Código Florestal Brasileiro? - Por mais absurdo que pareça é o que vem acontecendo no Congresso Nacional.

Um grupo de parlamentares ruralistas está tentando manipular a legislação ambiental, reduzindo dramaticamente o tamanho das reservas ambientais. Isto lhes permitiria cortar 30% mais de árvores na Amazônia e daria anistia a crimes ambientais promovendo a impunidade. Nós precisamos mostrar nossa indignação e dizer a eles que o Brasil precisa de mais preservação e não de desmatamento!

Assine a petiçåo para salvar o Código no link abaixo:http://www.avaaz.org/po/salve_codigo_florestal/98.php?cl_taf_sign=6bR3EzJSObrigado! Para mais informações leia o alerta completo abaixo:

Caros amigos,

A próxima terça-feira, dia 1 de junho, nossas florestas irão sofrer um ataque perigoso – deputados da “bancada ruralista” irão introduzir uma proposta para destruir o nosso Código Florestal, tentando reduzir dramaticamente as áreas protegidas, incentivando o desmatamento e crimes ambientais. O que é mais revoltante, é que os responsáveis por revisar essa importante lei são justamente os ruralistas, representantes do grande agronegócio. É como deixar a raposa cuidando do galinheiro!

Há um verdadeiro risco da Câmara aprovar a proposta ruralista – mas existem também alguns deputados que defendem o Código e outros estão indecisos. Nos próximos dias, uma mobilização massiva contra tentativas de alterar o Código, pode ganhar o apoio dos indecisos.

Vamos deixar claro para os deputados predadores que nós brasileiros estamos comprometidos com a proteção dos nossos recursos naturais – clique abaixo para assinar a petição em defesa do Códig o Florestal e depois encaminhe esta mensagem para os amigos do meio ambiente :http://www.avaaz.org/po/salve_codigo_florestal/98.php?cl_taf_sign=6bR3EzJS
Enquanto o mundo todo está discutindo como preservar nossas florestas para futuras gerações, um grupo de deputados está fazendo exatamente o contrário: estão tentando entregar as nossas florestas para os responsáveis pela devastação e desmatamento do Centro-Oeste e da Amazônia.
As alterações beneficiam diretamente os latifunidiários, enquanto deveriam ser para fortalecer proteções ao meio ambiente e apoiar pequenos produtores e não promover unicamente a industrialização do campo e das florestas.

As propostas absurdas incluem:
* Reduzir a Reserva Legal na Amazônia de 80% para 50%;

* Reduzir as Áreas de Preservação Permanente como margens de rios e lagos, costas e topos de morro;

* Anistia aos crimes ambientais sem tornar o reflorestamento como prática obrigatória;

* Transferir a legislação ambiental para o nível estatal, removendo o controle federal.

Essa não é uma escolha entre ambientalismo e desenvolvimento, um estudo recente mostra que o Brasil ainda tem 100 milhões de hectares de terra disponíveis para a agricultura, sem ter que desmatar um único hectare da Amazônia. A proteção das floretas e comunidades rurais depende do Código Florestal, assim como a prevenção das mudanças climáticas e a luta contra a desigualdade do campo.

Assine a petição para salvar o Código Florestal e depois divulgue!http://www.avaaz.org/po/salve_codigo_florestal/98.php?cl_taf_sign=6bR3EzJS Juntos nós aprovamos a Ficha Limpa na Câmara e no Senado. Se agirmos juntos novamente pelas nossas florestas nós podemos fazer do Brasil um modelo internacional de desenvolvimento aliado à preservação.

O País tem 100 mi hectares sem proteção - Estado de São Paulo: http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100505/not_imp547054,0.php Estudos ressaltam importância ambiental do Código Florestal - WWF:http://www.wwf.org.br/informacoes/noticias_meio_ambiente_e_natureza/?24940/Estudos-ressaltam-importancia-ambiental-do-Codigo-Florestal

CRISE ECOLÓGICA, CAPITALISMO, ALTERMUNDIALISMO: UM PONTO DE VISTA ECOSSOCIALISTA

Os ecologistas se enganam se crêem poder abrir mão da crítica de Marx ao capitalismo: uma ecologia que não leve em conta a relação entre “produtivismo” e lógica do lucro está destinada ao fracasso – ou pior, à sua recuperação pelo sistema. Os exemplos não faltam... A ausência de uma postura anticapitalista coerente levou a maior parte dos partidos verde europeus – França, Alemanha, Itália, Bélgica – a tornar-se simples parceiro “ecoreformista” da gestão social-liberal do capitalismo pelos governos de centro-esquerda. O artigo de Michael Löwy e outros analistas da questão pode ser lido na integra no n° 14 da revista Margem Esquerda.

Michael Löwy
Apresentação e sumário da revista Margem Esquerda, n° 14.

A grande contribuição da ecologia foi e continua sendo nos fazer tomar consciência dos perigos que ameaçam o planeta como consequência do atual modelo de produção e consumo. O crescimento exponencial das agressões ao meio ambiente e a ameaça crescente de uma ruptura do equilíbrio ecológico configuram um quadro catastrófico que coloca em questão a própria sobrevivência da vida humana. Estamos diante de uma crise de civilização que exige mudanças radicais.

Os ecologistas se enganam se crêem poder abrir mão da crítica marxiana do capitalismo: uma ecologia que não leve em conta a relação entre “produtivismo” e lógica do lucro está destinada ao fracasso – ou pior, à sua recuperação pelo sistema. Os exemplos não faltam... A ausência de uma postura anticapitalista coerente levou a maior parte dos partidos verde europeus – França, Alemanha, Itália, Bélgica – a tornar-se simples parceiro “ecoreformista” da gestão social-liberal do capitalismo pelos governos de centro-esquerda.

Considerando os trabalhadores irremediavelmente destinados ao produtivismo, alguns ecologistas ignoram/descartam o movimento operário e inscrevem em suas bandeiras: “nem esquerda, nem direita”. Ex-marxistas convertidos à ecologia declaram apressadamente “adeus à classe operária” (André Gorz), enquanto outros autores (Alain Lipietz) insistem na necessidade de abandonar o “vermelho” – isto é, o marxismo ou o socialismo – para aderir ao “verde”, novo paradigma que trará uma resposta a todos os problemas econômicos e sociais.

O que é então o ecossocialismo? Trata-se de uma corrente de pensamento e ação ecológicos que toma como suas as aquisições fundamentais do marxismo – ao mesmo tempo que se livra de seus entulhos produtivistas. Para os ecossocialistas a lógica do mercado e do lucro – bem como aquela do defunto do autoritarismo burocrático, o “socialismo real” – são incompatíveis com as exigências de preservação do meio ambiente. Ao mesmo tempo que criticam a ideologia das correntes dominantes do movimento operário, eles sabem que os trabalhadores e suas organizações são uma força essencial para uma transformação radical do sistema e para a construção de uma nova sociedade socialista e ecológica.

Essa corrente está longe de ser politicamente homogênea, mas a maior parte de seus representantes compartilha alguns temas. Rompendo com a ideologia produtivista do progresso – em sua forma capitalista e/ou burocrática – e oposta à expansão ao infinito de um modo de produção e consumo destruidor da natureza, o ecossocialismo representa uma tentativa original de articular as ideias fundamentais do socialismo marxista com as contribuições da crítica ecológica.

O raciocínio ecossocialista se apoia em dois argumentos essenciais: 1) o modo de produção e consumo atual dos países capitalistas avançados, fundado sobre uma lógica de acumulação ilimitada (do capital, dos lucros, das mercadorias), desperdício de recursos, consumo ostentatório e destruição acelerada do meio ambiente, não pode de forma alguma ser estendido para o conjunto do planeta, sob pena de uma crise ecológica maior.

Segundo cálculos recentes, se o consumo médio de energia dos EUA fosse generalizado para o conjunto da população mundial, as reservas conhecidas de petróleo seriam esgotadas em 19 dias. Esse sistema está, portanto, necessariamente fundado na manutenção e agravamento da desigualdade entre o Norte e o Sul; 2) de qualquer maneira, a continuidade do “progresso” capitalista e a expansão da civilização fundada na economia de mercado – até mesmo sob esta forma brutalmente desigual – ameaça diretamente, a médio prazo (toda previsão seria arriscada), a própria sobrevivência da espécie humana, em especial por causa das consequências catastróficas da mudança climática.

A racionalidade limitada do mercado capitalista, com seu cálculo imediatista das perdas e lucros, é intrinsecamente contraditória com uma racionalidade ecológica, que leve em conta a temporalidade longa dos ciclos naturais. Não se trata de opor os “maus” capitalistas ecocidas aos “bons” capitalistas verdes: é o próprio sistema, fundado na competição impiedosa, nas exigências de rentabilidade, na corrida pelo lucro rápido, que é destruidor dos equilíbrios naturais.

O pretenso capitalismo verde não passa de uma manobra publicitária, uma etiqueta buscando vender uma mercadoria, ou, no melhor dos casos, uma iniciativa local equivalente a uma gota-d’água sobre o solo árido do deserto capitalista. Contra o fetichismo da mercadoria e a autonomização reificada da economia pelo neoliberalismo, o que está em jogo no futuro para os ecossocialistas é pôr em prática uma “economia moral” no sentido dado por Edward P. Thompson a este termo, isto é, uma política econômica fundada em critérios não monetários e extraeconômicos: em outras palavras, a reconciliação do econômico no ecológico, no social e no político.

As reformas parciais são totalmente insuficientes: é preciso substituir a microrracionalidade do lucro pela macrorracionalidade social e ecológica, algo que exige uma verdadeira mudança de civilização . Isso é impossível sem uma profunda reorientação tecnológica, visando a substituição das fontes atuais de energia por outras não poluentes e renováveis, como a eólica ou solar.

A primeira questão colocada é, portanto, a do controle sobre os meios de produção e, principalmente, sobre as decisões de investimento e transformação tecnológica, que devem ser arrancados dos bancos e empresas capitalistas para tornarem-se um bem comum da sociedade.

Certamente, a mudança radical se relaciona não só com a produção, mas também com o consumo. Entretanto, o problema da civilização burguês-industrial não é – como muitas vezes os ecologistas argumentam – “o consumo excessivo” pela população e a solução não é uma “limitação” geral do consumo, sobretudo nos países capitalistas avançados. É o tipo de consumo atual, fundado na ostentação, no desperdício, na alienação mercantil, na obsessão acumuladora, que deve ser colocado em questão.

Ecologia e altermundialismo Sim, nos responderão, é simpática essa utopia, mas por enquanto é preciso ficar de braços cruzados? Certamente não! É preciso lutar por cada avanço, cada medida de regulamentação, cada ação de defesa do meio ambiente. Cada quilômetro de estrada bloqueado, cada medida favorável aos transportes coletivos é importante; não somente porque retarda a corrida em direção ao abismo, mas porque permite às pessoas, aos trabalhadores, aos indivíduos se organizar, lutar e tomar consciência do que está em jogo nesse combate, de compreender, por sua experiência coletiva, a falência do sistema capitalista e a necessidade de uma mudança de civilização.

É nesse espírito que as forças mais ativas da ecologia estão engajadas, desde o início, no movimento altermundialista. Tal engajamento corresponde à tomada de consciência de que os grandes embates da crise ecológica são planetários e, portanto, só podem ser enfrentados por uma démarche resolutamente cosmopolítica, supranacional, mundial.

O movimento altermundialista é sem dúvida o mais importante fenômeno de resistência antisistêmica do início do século XXI. Essa vasta nebulosa, espécie de “movimento dos movimentos” que se manifesta de forma visível nos Fóruns Sociais – regionais e mundiais – e nas grandes manifestações de protesto – contra a Organização Mundial do Comércio (OMC), o G8 ou a guerra imperial no Iraque – não corresponde às formas habituais de ação social ou política. Ampla rede descentralizada, ele é múltiplo, diverso e heterogêneo, associando sindicatos operários e movimentos camponeses, ONGs e organizações indígenas, movimentos de mulheres e associações ecológicas, intelectuais e jovens ativistas. Longe de ser uma fraqueza, essa pluralidade é uma das fontes da força, crescente e expansiva, do movimento.

Pode-se afirmar que o ato de nascimento do altermundialismo foi a grande manifestação popular que fez fracassar a reunião da OMC em Seattle, em 1999. A cabeça visível desse combate era a convergência surpreendente de duas forças: turtles and teamsters, ecologistas vestidos de tartarugas (espécie ameaçada de extinção) e sindicalistas do setor de transportes.

Portanto, a questão ecológica estava presente, desde o início, no coração das mobilizações contra a globalização capitalista neoliberal. A palavra de ordem central desse movimento, o mundo não é uma mercadoria, visa também, evidentemente, o ar, a água, a terra, isto é, o ambiente natural, cada vez mais submetido aos ditames do capital.

Podemos afirmar que o altermundialismo comporta três momentos: 1) o protesto radical contra a ordem existente e suas sinistras instituições: o FMI, o Banco Mundial, a OMC, o G8; 2) um conjunto de medidas concretas, propostas passíveis de serem imediatamente realizadas: a taxação dos capitais financeiros, a supressão da dívida do Terceiro Mundo, o fim das guerras imperialistas; 3) a utopia de um “outro mundo possível”, fundado sobre valores comuns como liberdade, democracia participativa, justiça social e defesa do meio ambiente.

A dimensão ecológica está presente nesses três momentos: ela inspira tanto a revolta contra um sistema que conduz a humanidade a um trágico impasse, quanto um conjunto de propostas precisas – moratória sobre os OGMs (Organismos Geneticamente Modificados), desenvolvimento de transportes coletivos gratuitos –, bem como a utopia de uma sociedade vivendo em harmonia com os ecossistemas, esboçada pelos documentos do movimento. Isso não quer dizer que não existam contradições, fruto tanto da resistência de setores do sindicalismo às reivindicações ecológicas, percebidas como uma “ameaça ao emprego”, quanto da natureza míope e pouco social de algumas organizações ecológicas.

Mas uma das características mais positivas dos Fóruns Sociais, e do altermundialismo em seu conjunto, é a possibilidade do encontro, debate, diálogo e da aprendizagem recíproca de diferentes tipos de movimentos. É preciso acrescentar que o próprio movimento ecológico está longe de ser homogêneo: é muito diverso e contem um espectro que vai desde ONGs moderadas habituadas ao lobby como forma de pressão, até os movimentos combativos inseridos num trabalho de base militante; da gestão “realista” do Estado (no nível local ou nacional) às lutas que colocam em questão a lógica do sistema; da correção dos “excessos” da economia de mercado às iniciativas de orientação ecossocialista.

Essa heterogeneidade caracteriza, diga-se de passagem, todo o movimento altermundialista, mesmo com a predominância de uma sensibilidade anticapitalista, sobretudo na América Latina. É a razão pela qual o Fórum Social Mundial, precioso lugar de encontro – como explica tão bem nosso amigo Chico Whitaker – onde diferentes iniciativas podem fincar raízes, não pode se tornar um movimento sociopolítico estruturado, com uma “linha” comum, resoluções adotadas por maioria etc.

É importante sublinhar que a presença da ecologia no “movimento dos movimentos” não se limita às organizações ecológicas – Greenpeace, WWF, entre outras. Ela se torna cada vez mais uma dimensão levada em conta, na ação e reflexão, por diferentes movimentos sociais, camponeses, indígenas, feministas, religiosos (Teologia da Libertação).

Um exemplo impressionante dessa integração “orgânica” das questões ecológicas por outros movimentos é o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que, com seus camaradas da rede internacional Via Campesina, é um dos pilares do Fórum Social Mundial e do movimento altermundialista.

Hostil desde sua origem ao capitalismo e sua expressão rural, o agronegócio, o MST integrou cada vez mais a dimensão ecológica no seu combate por uma reforma agrária radical e um outro modelo de agricultura. Durante a celebração do vigésimo aniversário do movimento, no Rio de Janeiro em 2005, o documento dos organizadores declarava: nosso sonho de “um mundo igualitário, que socialize as riquezas materiais e culturais”, um novo caminho para a sociedade, “fundado na igualdade entre os seres humanos e nos princípios ecológicos”.

Isto se traduziu nas ações – por diversas vezes à margem da “legalidade” – do MST contra os OGMs, o que é tanto um combate contra a tentativa das multinacionais – Monsanto, Syngenta – de controlar totalmente as sementes, submetendo os camponeses à sua dominação, como uma luta contra um fator de poluição e contaminação incontrolável do campo. Assim, graças a uma ocupação “selvagem”, o MST obteve em 2006 a expropriação do campo de milho e soja transgênicos da Syngenta Seeds no Estado do Paraná, que se tornou o assentamento camponês Terra Livre.

É preciso mencionar também seu enfrentamento às multinacionais de celulose que multiplicam, sobre centenas de milhares de hectares, verdadeiros “desertos verdes”, florestas de eucaliptos (monocultura) que secam todas as fontes d’água e destroem toda a biodiversidade. Esses combates são inseparáveis, para os quadros e ativistas do MST, de uma perspectiva anticapitalista radical.

As cooperativas agrícolas do MST desenvolvem, cada vez mais, uma agricultura biologicamente preocupada com a biodiversidade e com o meio ambiente em geral, constituindo assim exemplos concretos de uma forma de produção alternativa. Em julho de 2007, o MST e seus parceiros do movimento Via Campesina organizaram em Curitiba uma Jornada de Agroecologia, com a presença de centenas de delegados, engenheiros agrônomos, universitários e teólogos da libertação (Leonardo Boff, Frei Betto).

Naturalmente, essas experiências de luta não se limitam ao Brasil, sendo encontradas sob formas diferentes em muitos outros países, não apenas no Terceiro Mundo, constituindo-se numa parte significativa do arsenal combativo do altermundialismo e da nova cultura cosmopolítica da qual ele é um dos portadores.

* * *

O fracasso retumbante da Conferência das Nações Unidas sobre a Mudança Climática, de dezembro de 2009, confirma mais uma vez, para quem ainda tinha dúvidas, a incapacidade de governos à serviço dos interesses do capital em enfrentar o problema. Em vez de um acordo internacional obrigatório, com reduções substanciais de emissões de gazes com efeito estufa nos países industrializados – um mínimo de 40% seria necessário – seguida de medidas mais modestas nos países emergentes (China, Índia, Brasil), os Estados Unidos impuseram, com o apoio da Europa e a cumplicidade da China, uma “declaração” completamente vazia, que faz senão reiterar o óbvio : precisamos impedir que a temperatura do planeta suba mais de 2°C.A única esperança é o movimento social, altermundialista e ecológico, que se expressou em Copenhagen numa grande manifestação de rua – 100 mil pessoas – com o apoio de Evo Morales, cujas declarações anticapitalistas sem ambiguidades foram uma das poucas expressões criticas na conferencia “oficial”.

Os manifestantes, assim como o Fórum alternativo KlimaForum, levantaram a palavra de ordem Mudemos o sistema, não o clima! Evo Morales convocou um encontro de governos progressistas e movimentos sociais em Cochabamba (abril de 2010) com o objetivo de organizar a luta para salvar a Mãe-Terra, a Pacha-Mama, da destruição capitalista.

Fonte: http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=16632

sábado, 29 de maio de 2010

RACIONALIDADE E O FOGO DA PAIXÃO NA POLÍTICA

Ademir Ramos (*)

A vida pública se transformou num espetáculo das multidões projetando seus atores nos céus da comunicação ou no inferno familiar da vida privada. O tema é recorrente, fragilizando os homens e os deuses do Olimpo, que há muito disputam o poder de mando dos territórios conquistados, na perspectiva de assegurar domínio político sobre o lugar e as nações.

A cultura cristã tentou minimizar esse impacto quando imputa a Deus a competência dos ungidos para o exercício do poder secular. No entanto, a tese do livre arbítrio aristotélico fez o homem responsável pela opção de seus atos, respondendo perante o povo pela corrupção dos valores objetivos e subjetivos sob a luz do Direito.

O pecado na política é de natureza dos homens bem ao feitio da cultura grecoromana. Na escolástica cristã, ao contrário, os santos não disputam o poder e comparados aos eunucos projetam no Absoluto os seus desejos com eterna obediência. Contudo, o realismo político converteu os homens em “lobo do homem” matando e mentindo em nome da propriedade e domínio do Estado.

Este desencantamento fez com que a política se tornasse um campo minado, permitindo aos homens recorrerem aos instrumentos variados para afirmação e reconhecimento do seu poderio. Nessa guerra por território centrada na luta pelo poder, o vale tudo tem sido usual mesmo nos Estados Democráticos de Direito.

Na circunstância, é o fim que determina o comportamento e a estratégia instituída pelos concorrentes no certame das eleições. Para o fim esperado, os atores dessa tragédia, em seu melhor estilo, transitam do doméstico familiar ao público, apostando unicamente na hegemonia do poder.

No passado recente, na cultura oligárquica nacional, os senhores proprietários dos “sertões do Brasil” destinavam filhos e filhas para os internatos religiosos para não oferecerem dotes e muito menos repartirem herança com seus agregados afins.

Na política partidária não tem sido diferente. O patronato tudo tem feito para se apoderar dos instrumentos de Estado e dominar seus meios em favor dos interesses particulares, minimizando dessa feita, o interesses público da Sociedade Civil.

A oligarquia inaugura o controle patriarcal reduzindo a família ao seu interesse bélico. No entanto, nas páginas da história a tal racionalidade política tem sido vítima da paixão, dando tombo aos guerreiros – em sua maioria – que, como mortais nada mais são do que objeto de seus impulsos, traídos nas alcovas ou no cenário eleitoral pelo fogo da sedução, capaz de queimar e destruir o castelo edificante da hegemonia política.

Nessa fricção da paixão de corpos e almas, o fogo pode servir de postulado para novas formas de organização, possibilitando aos homens e mulheres inaugurarem processos criativos, reinventando a prática política e o fazer democrático sob a matriz de novos valores republicanos promotores também da felicidade pública.

(*) É Professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

O AMAZONAS NO RELATÓRIO DA ANISTIA INTERNACIONAL


A CRÍTICA de Manaus (28/05) - Urgente: A Anistia Internacional, organização não-governamental que denuncia violação contra direitos humanos em todo o mundo, incluiu em seu relatório anual, divulgado esta semana, as ameaças sofridas por três lideres comunitários do bairro Colônia Antonio Aleixo, em Manaus: padre Orlando Barbosa, o ex-presidente do Centro Social e Educacional do Lago do Aleixo (CSELA), Isaque Dantas, e o presidente da Sindicato dos Pescadores do bairro, Pedro Hamilton Prado.

Os três militantes foram os primeiros a se manifestar contra o projeto de construção do Porto das Lajes, ainda em 2008. Tanto na época em que ambos sofreram as ameaças mais violentas (agosto de 2009) quanto meses seguintes à transferência do padre de Manaus e a mudança de Isaque para outra cidade a empresa Lajes Logística, dona do projeto do Porto, sempre negou que tivesse participação nas ameaças.

O pesquisador sobre o Brasil da Anistia Internacional, Tim Cahill, disse que ao saber das ameaças contras os três líderes comunitários, a ONG (que tem por princípio investigar a veracidade da denúncia) comunicou a violação à Secretaria Especial de Direitos Humanos pedindo que eles fossem incluídos no Programa Nacional de Proteção de Direitos Huanos.

O pedido, segundo Cahill, não foi atendido. "Não houve ação nenhuma por parte do governo federal. A consequência foi que eles tiveram que sair de Manaus para se proteger", disse Tim Cahill, em entrevista por telefone, de Londres, Inglaterra, referindo-se ao padre Orlando Barbosa e Isaque Dantas. Prado, o sindicalista, continua morando em Manaus.

Para Cahill, projetos de grande impacto social e ambiental tem deixado as comunidades tradicionais mais vulneráveis e o Governo Federal não está fazendo seu papel de dialogar com as populações.

No relatório da Anistia Internacional, ONG que não possui escritório no Brasil, equivocadamente as ameaças de morte sofridas pelos líderes comunitários foram associadas a um projeto de Porto financiado pelo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), Cahill esclareceu que "houve um mal-entendido", mas que a Anistia Internacional continuava respaldando as denúncias contra violações de direitos humanos referente aos três lideres comunitários de Manaus.

ONG dará guarida aos moradores

O antropólogo Ademir Ramos, do Movimento S.O.S Encontro das Águas, que formulou a denuncia contra as ameaças aos líderes comunitários, diz que a ONG continuará acompanhando a situação e dará guarida aos moradores da Colônia Antonio Aleixo. "A Anistia se comprometeu em se manifestar novamente junto ao Governo Federal e também estadual", disse Ramos.

POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO

Gilson Gil (*)

No dia 25, terça, participei de uma visita ao encontro das águas e à comunidade do lago do Aleixo, com vários estudantes, professores, jornalistas, comunitários e interessados, como Thiago de Melo e Tenório Telles. O objetivo foi mostrar a importância da luta pela preservação daquela área e incentivar seu tombamento, a fim de se evitar a construção de um porto naquele lugar. Sem desdenhar do crescimento econômico, que é vital à região, considero vital que as gerações futuras tenham o direito de visitar e contemplar aquela paisagem natural, sem monstrengos arquitetônicos.

É importante destacar, sem tocar no mérito da questão, para a qual remeto ao blog do Núcleo de Cultura Política do Amazonas (ncpam.com.br) da UFAM, o papel da sociedade civil na vida política da sociedade amazonense. É próprio de a cultura local crer que só se faz política dentro da máquina estatal. Somente a partir do aparelho de estado é que se faria ativismo político.

Nessa linha de pensamento, até a cooptação fica justificada. Quando a distribuição de recursos públicos, através de benesses orçamentárias e da formação de clientelas eleitorais, é a única maneira de fazer política, pouco resta à sociedade. Talvez por isso nos encontremos nesse grande silêncio pré-eleitoral. Os debates passam a ser insignificantes, nessa visão “chapa branca”. Ter ideias vira algo “chato”, pois o importante é dispor do poder distributivo e mobilizatório do aparato público.

A pobreza de nossa agenda pode ser explicada, entre outras razões, por esse “estatismo” em nossa concepção de política. Há tantos temas essenciais a serem discutidos, que espanta a nossa mobilização. É de se louvar, dessa forma, atitudes como a do NCPAM, que procuram levantar questões e mobilizar o governo e o Judiciário. Para sacudir esse “comodismo” das elites políticas locais, a promoção de ações politizadas pode estimular jovens, sindicalistas e intelectuais a promoverem debates, palestras, seminários e movimentações que dêem mais “sangue” à corrida eleitoral deste ano.

Torço para que a eleição não vire apenas um momento burocrático de nossa agenda pós-copa. Espero que tudo não se resuma ao horário eleitoral gratuito, no qual os marqueteiros exibem sua genialidade e o povo assiste passivo, ansioso para chegar a hora da novela.

Enfim, que esse ato, pequeno no concreto, mas enorme na dimensão simbólica, seja o pontapé inicial de uma campanha realmente política, com ideias, propostas e metas bem definidas.

(*) É Professor, pesquisador do Depto. de Ciências Sociais da UFAM e articulista do Jornal Amazonas em Tempo.
Foto: Valter Calheiros

quinta-feira, 27 de maio de 2010

A REALIDADE E O DEVIR SUSTENTÁVEL DO ENCONTRO DAS ÁGUAS

Ademir Ramos (*)

O grito do Movimento S.O.S Encontro das Águas contra a construção do Terminal Portuário das Lajes vem tendo ressonância na sociedade Amazonense. Há mais de dois anos os comunitários da Colônia Antonio Aleixo e demais lideranças do Lago do Aleixo resolveram levantar a bandeira contra este empreendimento privado por avaliarem os danos causados a toda economia sustentável do local e, em particular, ao Encontro das Águas.

O Encontro é um fenômeno original de valor inestimável que traduz beleza e admiração reclamando do poder público responsável investimento para garantir a perpetuação de sua beleza em consonância com a floresta circundante. Este ecossistema é um verdadeiro berçário onde se reproduzem peixes, aves, mamíferos e outras espécies da fauna aquática inseridas na extensa cadeia alimentar da natureza e cultura desta microregião situada na Zona Leste de Manaus.

Com a expansão do Pólo Industrial sob o patrocínio da Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) os danos ambientais multiplicaram-se ameaçando diretamente a biodiversidade do lugar e inviabilizando os investimento no campo do turismo e entretenimento. Urge, portanto, que os Agentes Públicos (Município, Estado e União) em articulação com a sociedade civil organizada se encontrem e repensem de imediato as formas de intervenção que fizeram e pretendem fazer no em torno do nosso Encontro das Águas que, economicamente encerra um valor agregado tanto quantitativo quanto qualitativo podendo gerar trabalho e renda.

Não se trata de investimento pontual relativo à construção de um Mirante aqui ou um Aquário ali é necessário que o Poder público, as Corporações privadas e Organizações sociais juntos celebrem um Termo de Responsabilidade Éticoambiental visando à conservação dos recursos ambientais que integram o complexo Encontro das Águas.

Os especialistas, por sua vez, afirmam constantemente que é muito mais sensato conservar do que danificar o meio ambiente. Esta afirmativa é um sentença verdadeira nos fóruns internacionais, principalmente, em se tratando de investimento do Poder Público neste campo ambiental. Sabe-se também da responsabilidade desse Poder para formular políticas que promovam o respeito ao meio ambiente com ressonância aos direitos humanos, sendo conceitualmente definidas como práticas sustentáveis socialmente justas.

Nessa perspectiva, o NCPAM que integra o Movimento S.O.S Encontro das Águas gostaria de discutir e formular a médio prazo a criação do Comitê da Bacia Hidrográfica do Encontro das Águas e do Lago do Aleixo para juntos com o Poder Público e Privado se formular uma política de desenvolvimento humano fundamentada na conservação dos recursos naturais, na biodiversidade e no saber local traduzido na sociobiodiversidade sob a tutela das comunidades ribeirinhas e tradicionais inseridas no sistema hídrico florestal do Encontro das Águas no coração da Amazônia brasileira.

(*) É Antropólogo, Professor e Coordenador do NCPAM/UFAM.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

A V CARAVANA NA FOLHA DE S.PAULO

KÁTIA BRASIL (*)

Sobre as águas, o poeta amazonense Thiago de Mello, 84, fez ontem um protesto diferente: em prosa e verso, ele defendeu o tombamento do encontro dos rios Negro e Solimões. O objetivo é denunciar os impactos paisagístico e ambiental de obras públicas e privadas construídas na região da Amazônia."Ainda que os braços do teu inimigo pareçam tão fortes como as asas de moinhos, resiste companheiro! Ainda que a noite seja tão tensa de escuridão, resiste companheiro! E tu verás a claridão da madrugada chegar." Organizado pelo Movimento S.O.S Encontro das Águas, o protesto ocorreu de manhã. Autor de "Os Estatutos do Homem", escrito nos anos 70, o poeta foi preso durante o regime militar (1964-1985) e se exilou no Chile. Foi ameaçado, na Amazônia, de morte por madeireiros. "Eu sou filho da floresta, a árvore e a madeira viajam nos meus sonhos e explicam esta maneira de estar sempre ao lado do amor e da justiça, e de carregar nos meus ombros a esperança." Mello criticou obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) - citou uma delas: uma adutora, construída com recursos do programa. Ele disse que, com elas, o governo não está se preocupando com as questões ambientais.

O poeta amazonense faz parte do grupo de intelectuais que apoia a campanha da senadora Marina Silva (PT-AC) a Presidência da República.

Ao final do protesto, Thiago de Mello fez uma prece: Querido Encontro das Águas/ Tua beleza é sagrada/ Pela tua vida eterna te prometemos trabalhar/ Com toda perseverança/ Pela necessária mudança/ De tudo que é preciso mudar/ Cada um na sua vez e cada qual no seu lugar.

(*) É jornalista e correspondente da Folha de S. Paulo no Amazonas.
Foto do militante do Movimento S.O.S Encontro das Águas: Valter Calheiros.

DIA DE CAMPO DO MOVIMENTO S.O.S ENCONTRO DAS ÁGUAS



"Ainda que os braços do teu inimigo pareçam tão fortes como as asas de moinhos, resiste companheiro! Ainda que a noite seja tão tensa de escuridão, resiste companheiro! E tu verás a claridão da madrugada chegar." – Thiago de Melo

A V Caravana promovida pelo Movimento S.O.S Encontro das Águas na terça-feira (25), como trabalho de campo, mereceu dos meios de comunicação do Amazonas ampla cobertura, difundindo ainda mais, a luta de seus aguerridos participantes em favor do Tombamento Definitivo do Encontro das Águas pelo Instituto do Patrimônio Histórico E Artístico Nacional (IPHAN), respeitando a integridade desse patrimônio que para os Amazonenses não tem preço só tem valor. Adesão do poeta Thiago de Mello fortaleceu o combate contra a construção do Porto das Lajes, obra pretendida pela Mineradora Vale do Rio Doce através da Log-In Logística Intermodal S/A embargada por ordem da Justiça Federal do Amazonas. O Ato de Reconhecimento do Encontro das Águas como Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade deve ser seguido da criação de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável como Área de Relevante Interesse Ecológico (AREI) sob o controle das comunidades que há muito tempo se beneficiam dos recursos gerados por esse patrimônio. Da mesma forma, deve-se criar também um Comitê de Bacia Hidrográfica do Encontro das Águas e Lago do Aleixo dando ênfase aos projetos que promovam efetivamente o respeito ao meio ambiente e a qualidade de vida dos comunitários inseridos diretamente nessa economia sustentável.

Contra o Porto das Lajes

A V Caravana do Encontro das Águas com a participação de Thiago de Mello, Tenório Telles, pesquisadores, estudantes, lideranças comunitárias e cientistas sociais iniciou com uma vistoria no antigo Porto da SIDERAMA, onde constantemente fala-se em construir um Porto Público para desatar o "rolo" da logística do Amazonas, prejudicando sensivelmente a economia local. O projeto inicial concebido pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) definia-se como um complexo modal, compreendendo até mesmo a redefinição do Aeroporto militar de Ponta Pelada. Atualmente esta área está toda povoada pelo oficialato da Marinha e da Aeronáutica, que depende diretamente do Aeroporto de Ponte Pelada para o cumprimento de sua missão na Amazônia além de registrar o intenso povoamento em seu em torno.

Em seguida a V Caravana passa a vistoria à margem esquerda do Rio Negro até, especificamente o Encontro das Águas, quando seus participantes passam o observar todos os empreendimentos construídos, que contrariam o bom senso e a racionalidade da lógica da sustentabilidade. Na oportunidade, se deparam com o monstrengo da construção de uma Adutora de Água, que avança sobre o Rio Negro por mais de 500 metros, violentando o paisagismo e obliterando a visão do nosso Encontro das Águas. A obra é do PAC do Governo Federal, contando com a contrapartida do governo do Estado e, até hoje não foi concluída para atender as populações da zona leste e norte de Manaus, que são penalizadass pelo governo por falta d'água.

Nas proximidades dessa Adutora é que a Log-In Logística Intermodal pretende construir o Porto das Lajes. Trata-se, na verdade, de uma área que nesse momento de cheia serve de refúgio para os peixes se procriarem e se alimentarem, integrando diretamente a toda cadeia natural desse ecossistema. O mais grave ainda é que nessas imediações do pretendido projeto fica a "boca" do fabuloso Lago do Aleixo que nutre os comunitários do populoso Bairro Colônia Antonio Aleixo. O hilário é que a Mineradora Vale do Rio Doce pretende destruir a floresta e em seu lugar, segundo os seus mentores, construir um Jardim Botânico em homenagem ao arquiteto Severiano Mario Porto. Se esta sanha continuar chegará o dia que esses predadores e irresponsáveis dirão, afirma o poeta Thiago de Mello, que o nosso Encontro das Águas é o estorvo para o desenvolvimento do Amazonas e farão acreditar os incautos que podem construir um outro para satisfazer a volúpia da acumulação do lucro desenfreado associado à corrupção política e depredação ambiental.

No entanto, para o renomado poeta Thiago de Mello, chamado por um dos coordenadores da V Caravana, como Curador do Projeto S.O.S Encontro das Águas, a construção de um Porto é importante para o Estado, mas este em questão deve ser construído em outro lugar porque "esse local (Encontro das Águas) é sagrado. Desde menino vejo essa paisagem e minha professora sempre usava como exemplo de beleza e encantamento. Temos que resistir e lutar pela preservação desse bem natural e cultural que é dos Amazonenses e também da humanidade". Por isso, somos contra a construção do Porto das Lajes.

A Voz do Povo

Abordo da embarcação adesivada com o grito do S.O.S Encontro das Águas, os participantes discutiam e definiam estratégias de resistência contra o Porto das Lajes e os empreendimento que venham ameaçar o nosso Patrimônio Amazônico e Humanitário. Nesse hora, ouvimos o depoimentos do senhor Raimundo Barreto, líder comunitário da Colônia Antonio Aleixo que luta contra o preconceito que fere as pessoas atingidas pela hanseníase. Disse ele, em voz embargada:

Moro nesse bairro desde 1950 e conheço tudo isso mais do que a mim mesmo. Estou feliz porque os moradores da Colônia, que serão afetados com a construção do Porto, foram os primeiros a lutar pela preservação do local. Conseguimos apoio da Universidade para aumentar a nossa luta. Buscamos forças de onde não tínhamos para lutar contra uma empresa poderosa, contra essa construção que pode causar impactos irreversíveis ao meio ambiente. Estamos preocupados com nossos peixes, que podem morrer e não aparecer mais por aqui. Somos um povo muito carente e estamos aflitos também porque sabemos que problemas como prostituição, tráfico e uso de droga irão piorar no nosso bairro. Essas questões devem ser consideradas.

Seguimos viajem pelo Lago do Aleixo e feito as devidas observações retornamos às 12hs ao Porto do CEASA, de onde partimos. Um dos coordenadores da Caravana lembrava constantemente, que pela tarde o trabalho iria se concentrar no entendimento junto às comunidades do em torno do Encontro das Águas, o que foi feito. No entanto, ainda pela manhã, antes de chegarmos em terra firme, o poeta Thiago de Mello usou da palavra para agradecer a todos (as) e pedir que juntos recitassem um poema que ele o fez naquele momento de rara beleza. E assim o poeta e a Caravana das Águas cantaram em forma de mantra o louvor perpétuo ao nosso Encontro das Águas na esperança que seja preservado para o bem da presente e futura gerações. E todos continuam no mesmo barco discutindo e tecendo um novo projeto de desenvolvimento para Amazônia.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

PARA O MUNDO VER E SABER O VALOR DO ENCONTRO DAS ÁGUAS


A V Caravana do Encontro das águas realizada em Manaus (AM), no dia 25 de maio, neste Ano Internacional da Biodiversidade, fundamenta-se nos ensinamentos do renomado professor Aziz Ab'Sáber, que define a nossa Amazônia como um conjunto de paisagens e ecologias da América do Sul setentrional.

O Brasil, por sua vez, possui a maior parcela territorial dentro da Amazônia panamericana, o que aumenta ainda mais a responsabilidade dos governantes quanto à proteção de seus recursos ambientais.

O Encontro das Águas é um desses fenômenos magníficos a se apresentar ao mundo, catalisando sentimento de espanto, admiração e identidade traduzidos em valores culturais, potencializando não só a história do povo do Amazonas, mas a sua própria sustentabilidade. O Encontro dos Rios Negro com o Solimões é extensivo conectando-se com outros tributários formadores do riquíssimo e majestoso Rio Amazonas.

A iniciativa do Movimento S.O.S Encontro das Águas é alertar os governantes brasileiros, assim como as empresas privadas quanto à responsabilidade social e ambiental referente ao Encontro das Águas e todo o manancial dessa bacia formadora deste fenômeno, promovendo pesquisas que possam inventariar este ícone, na perspectiva de garantir o Tombamento definitivo desse bem público enquanto Patrimônio da Humanidade e como Unidade de Conservação de Uso Sustentável sob controle das comunidades tradicionais, que há muito se beneficiam diretamente desse complexo ecossistema.

A V Caravana das Águas com a participação do poeta Thiago de Mello, pesquisadores, estudantes, políticos, líderes comunitários, extensionistas do PACE/UFAM, professores e ambientalistas do Grupo de Trabalho Amazônico (GTA) objetiva conhecer a biodiversidade que povoa esse ambiente para salvaguardá-la dos danos perpetrados pela empresa mineradora Vale do Rio Doce controladora da Log-In Logística Intermodal S/A., que insiste em construir o Terminal Portuário das Lajes, alterando o paisagismo da região, como também todo ritmo das formas de vida deste ecossistema, causando também dano à população tradicional que se beneficia diretamente desse patrimônio para sua subsistência, bem como ao imaginário representativo de nossa identidade cultural.

Releva-se ainda, a importância do conhecimento das liderenças comunitárias quanto à geografia, à cultura e o saber local sobre o Encontro das Águas, possibilitando aos pesquisadores compreender com objetividade a construção desse fenômeno que muito significa para a história e economia do Amazonas no campo da ciência. Por esta razão faz-se necessário esta interlocução direta com os comunitários para que se promova também um diálogo, visando à efetiva garantia do Tombamento desse bem público contra a construção do Porto das Lajes, com a participação e legitimidade das lideranças comunitárias titulares desse conhecimento tradicional.

domingo, 23 de maio de 2010

DEMOCRACIA, RIQUEZA E MEIO AMBIENTE NO FÓRUM DAS NAÇÕES

Ao mesmo tempo, os piores desmatamentos do mundo hoje acontecem no Brasil. O desmatamento altera o ciclo hidrológico, reduzindo as chuvas, o que aumenta as secas e a erosão do solo. Digamos que, se eu fosse argentino e tivesse razões para detestar o Brasil, criaria uma entidade de defesa do desmatamento da Amazônia. Seria um desastre econômico para o país, e os maiores prejudicados seriam os próprios brasileiros. E eu, como argentino, ficaria feliz. Estou falando de argentino apenas como alegoria, por favor.
Jared Diamond

O professor Jared Diamond, da Universidade da Califórnia, vive numa bela casa, quase no meio do mato, numa rua sem saída nos arredores de Los Angeles. De manhã, passa até duas horas caminhando pela região, observando e ouvindo os pássaros. De volta para casa, cuja sala é carregada de enfeites de Papua-Nova Guiné, trabalha no seu próximo livro. Duas vezes por semana, estuda italiano. Biólogo, geógrafo e historiador, ele é autor de Armas, Germes e Aço,em que explica por que a sociedade europeia deu certo, e Colapso, no qual mostra como civilizações se exauriram ao devastar o meio ambiente. Seu novo livro, a ser publicado em 2012, tratará da vida nas sociedades tradicionais, como tribos indígenas, em oposição à vida nas sociedades com estado. Com tamanho leque de interesses – de passarinhos à língua italiana, de Papua-Nova Guiné à biologia –, o professor, de 72 anos, é um dos mais brilhantes explicadores do sucesso e do fracasso de países e civilizações.

André Petry (*)

Brasil e Estados Unidos são países novos, continentais, colonizados por europeus e que começaram com agricultura sob regime de escravidão. Com tantas semelhanças, por que os EUA são tão mais ricos que o Brasil?
Há vários fatores, e um deles é a geografia. As pessoas tendem a imaginar que os países tropicais deveriam ser mais ricos que os de clima temperado, já que nos trópicos se planta o ano inteiro, não é preciso trabalhar tão duro e, com inverno ameno, gasta-se menos com aquecimento. Mas os países de clima temperado são, em média, duas vezes mais ricos que os tropicais. Uma razão é que, nos trópicos, a produtividade agrícola é mais baixa. Há pestes, insetos, doenças, e os solos tropicais tendem a ser menos produtivos. Na América do Sul, os países mais ricos em agricultura são os de clima temperado: Argentina, Uruguai, Chile e a metade sul do Brasil. O poder econômico no Brasil não fica na zona tropical, nas regiões Norte ou Nordeste. Fica mais ao sul, onde o clima é mais temperado. Obviamente, isso não quer dizer que as pessoas no Rio ou em São Paulo sejam mais inteligentes. É pura geografia.

Os EUA então, favorecidos pela geografia, tiveram mais sorte que o Brasil?Tiveram mais sorte, mas a geografia não é tudo. Questões históricas e culturais também explicam a diferença entre os dois países. A América Latina foi colonizada pelos espanhóis e pelos portugueses, e a América do Norte teve a vantagem de ser colonizada pelos ingleses e, em parte, pelos franceses. É uma vantagem porque Nova York fica mais perto de Londres do que o Rio de Janeiro de Lisboa. Isso permitiu uma troca maior entre metrópole e colônia. A Revolução Industrial começou na Inglaterra, não em Portugal ou na Espanha. Os espanhóis, aliás, temendo deixar de lucrar com suas terras imensas, resistiram à Revolução Industrial. A Inglaterra se tornou uma democracia efetiva, fazendo investimento pesado em educação, muito antes de Portugal e Espanha, que até recentemente nem eram democracias. Essas circunstâncias todas, aliadas à geografia, fizeram a diferença.

Como não se mudam a geografia nem a herança cultural e histórica, estamos condenados ao atraso?
Um país tropical que queira enriquecer precisa, em primeiro lugar, pensar em saúde pública, para evitar doenças tropicais. Se as pessoas adoecem durante metade do ano, com malária, febre amarela ou dengue, elas morrem mais cedo. Pegue-se o exemplo de um engenheiro que se forme aos 28 anos. Na África, pela expectativa de vida em alguns lugares, esse engenheiro morrerá aos 36 anos. Terá oito anos de vida profissional. No Japão, o engenheiro morrerá aos 81. São 53 anos de exercício de profissão. É indiscutível a vantagem. Malásia e Singapura são países tropicais do Sudeste Asiático. Há meio século, eram paupérrimos. Hoje, Singapura tem nível de Primeiro Mundo, e a Malásia está perto. Uma das primeiras coisas que os dois fizeram foi combater doenças tropicais. Depois, perceberam que sua vocação econômica não era plantar nem criar gado e viraram países de comércio e manufatura.

O autoritarismo pode favorecer o desenvolvimento?
Numa ditadura, pode-se fazer tudo rapidamente. Numa democracia, não. Os Estados Unidos levaram dez anos discutindo os males provocados pelo chumbo na gasolina até conseguir eliminá-lo. Na China, a ditadura mandou, e o problema se resolveu em um ano. É um exemplo da força positiva desse tipo de governo. Mas nas ditaduras as decisões podem ser rápidas, porém nem sempre são positivas. Há décadas, os ditadores chineses fizeram a estupidez de abolir o sistema educacional e despacharam os professores para a zona rural, onde aprenderiam coisas supostamente valiosíssimas cortando arroz ao lado dos camponeses. Foi o caos. A educação na China regrediu décadas. Nos EUA, nem no governo de George W. Bush seria possível fechar as escolas por dois anos. Nem no Brasil. Se o presidente brasileiro quisesse abolir as universidades e mandar professores cortar cana-de-açúcar, não conseguiria. É a força da democracia. Se tudo o que se faz numa ditadura fosse bom, ela seria melhor que a democracia. O problema é que não é. A ditadura reduz o mercado das ideias, a competição de ideias. A democracia tem vantagens a longo prazo.

Por ser uma democracia, a Índia tem vantagem sobre a China?
A democracia é uma vantagem da Índia sobre a China, sim. A economia chinesa, hoje, corresponde a 30% da americana. Será fácil para a China chegar ao dobro, mas será muito difícil chegar aos 120%, passando a economia americana, como preveem por aí. Será difícil por causa da ditadura, que não tem competição de ideias. Agora, entre a China e a Índia, há outras diferenças além de democracia e ditadura. A Índia fica mais ao sul que a China, seu clima é mais seco, há desvantagens ambientais. A China tem 2 000 anos de unidade nacional. Na Índia, há muitos que se consideram sikhs ou punjabis antes de se considerar indianos.

Entre os países do Bric (Brasil, Rússia, Índia e China), o Brasil, embora seja o mais jovem, é o único que conjuga unidade nacional e democracia. Isso significa que poderá saltar à frente?
As quatro nações têm vantagens e desvantagens. O Brasil tem feito coisas boas. A democracia brasileira é funcional. O candidato que perde a eleição não faz uma revolução. Cai fora e se prepara para a próxima eleição. É um avanço enorme. Nas últimas décadas, o progresso industrial também foi imenso. A melhor metáfora é quando tomo um avião da Embraer. Se há cinquenta anos alguém tivesse me dito que os aviões nos EUA um dia seriam brasileiros, eu teria dado risada da piada. Com os biocombustíveis e os automóveis flex, o Brasil trilha outro bom caminho. Nesse assunto, vocês estão anos-luz à frente dos EUA.

O senhor diz que um país pode definir seu futuro pelo modo como trata o meio ambiente. O Brasil cuida bem da Amazônia?
É um quadro ambíguo. O Brasil tem tido um comportamento responsável quando evita o desmatamento para a produção de biocombustíveis ou para a criação de gado. São bons sinais. Ao mesmo tempo, os piores desmatamentos do mundo hoje acontecem no Brasil. O desmatamento altera o ciclo hidrológico, reduzindo as chuvas, o que aumenta as secas e a erosão do solo. Digamos que, se eu fosse argentino e tivesse razões para detestar o Brasil, criaria uma entidade de defesa do desmatamento da Amazônia. Seria um desastre econômico para o país, e os maiores prejudicados seriam os próprios brasileiros. E eu, como argentino, ficaria feliz. Estou falando de argentino apenas como alegoria, por favor.

É válido aceitar um pouco de desmatamento em troca de um pouco de desenvolvimento econômico?
O erro é supor que o meio ambiente e a economia estão em oposição um ao outro. A verdade é o inverso. A razão mais forte para cuidar do meio ambiente é que não fazê-lo sai caríssimo. Conter a degradação ambiental nas fases iniciais é barato e fácil. Nos estágios avançados, é caro e, muitas vezes, impossível. Por dez anos, a prefeitura de Nova Orleans, o governo de Louisiana e a Casa Branca se recusaram a gastar 300 milhões de dólares para arrumar os diques da cidade a fim de evitar inundações. Diziam que era muito caro. Veio o Katrina, e a conta subiu para perto de 200 bilhões de dólares, sem contar as mais de 1 000 mortes de americanos. As corporações empresariais, como Coca-Cola e Walmart, estão descobrindo que a ecologia pode ser um bom negócio. O Walmart é um dos maiores varejistas de frutos do mar do mundo, e é do seu interesse combater a pesca predatória, o que tem sido feito.

O Walmart tem interesse em frutos do mar hoje como tinha há dez anos. Por que só agora essas providências de proteção ao meio ambiente estão sendo tomadas?
É uma questão de cultura empresarial, que leva tempo para mudar. Conheço Rob Walton, filho do fundador do Walmart e hoje dirigente da empresa. Somos membros do conselho de uma entidade ecológica, a Conservação Internacional. Até alguns anos atrás, Rob não tinha interesse especial em questões ambientais. Um dia, o executivo da Conservação Internacional o convidou para uma viagem aos riquíssimos corais da Indonésia e Nova Guiné. Em duas semanas de barco nessa região remota, Rob viu três tubarões. É ridículo. Deveria ter visto três a cada cinco minutos, mas a pesca predatória dos japoneses vem dizimando a região. Rob acordou para o assunto. Hoje, o Walmart só compra frutos do mar de área com pesca sustentável. É uma cultura nova.

Os EUA são um império no começo do declínio?
A dianteira americana está diminuindo, não tanto pelo declínio americano, mas pela ascensão dos demais países. Nos anos 70, visitei a Espanha, sob a ditadura franquista. Antes, visitei Portugal, sob o regime de Salazar, país então muito pobre. Os dois hoje são nações de Primeiro Mundo. Na Ásia, além de Malásia e Singapura, há a Coreia do Sul, a Tailândia, Taiwan, sem falar na própria China, que está chegando lá. Isso reduz a vantagem da liderança americana, mas existem coisas preocupantes nos EUA. A Universidade da Califórnia foi o motor do salto tecnológico. As pessoas se mudavam para o Vale do Silício, em parte porque podiam mandar seus filhos a escolas de primeira linha e estudar na Universidade da Califórnia. Hoje, o governo está reduzindo as verbas da instituição. Por um ou dois anos, dá para aceitar. Mas, se isso se prolongar, será um desastre.

Por que isso está acontecendo?
Em parte, isso decorre do anti-intelectualismo americano e do fundamentalismo evangélico. O fundamentalismo evangélico é muito forte, tem ampla influência, inclusive sobre o conteúdo dos livros escolares. A base da biologia é a teoria da evolução de Darwin. Ela ensina que as coisas vivas evoluem. Não é possível ser biólogo, nem um bom médico, se você não acredita na evolução. É o mesmo que um físico não acreditar nas leis de Newton. Ou um químico duvidar da tabela periódica de Mendeleiev. Não dá para ser astrônomo se você acha que o mundo é plano. Mesmo assim, o fundamentalismo evangélico de direita se opõe ao ensino da evolução nas aulas de biologia. Isso acontece no Texas, para dar um exemplo. É um absurdo. É o fundamentalismo evangélico associado ao anti-intelectualismo.

Mas não estão aqui as melhores universidades do mundo?
Somos um país complexo. Nunca tivemos um presidente com Ph.D. E, se algum deles o tivesse, esconderia do eleitorado. Nenhum candidato ao Senado ou a um governo estadual exibe publicamente um título de Ph.D. Por quê? Porque pega mal. Na Alemanha, onde morei por alguns anos, a propaganda de um candidato anuncia "doutor em economia e ciência política". A chanceler da Alemanha é a "doutora Angela Merkel", acho que tem Ph.D. em física. Os alemães preferem votar em alguém com alta escolaridade. Nos EUA, não. A melhor prova é o sucesso de Sarah Palin. Ela tem orgulho de mostrar que é tola, meio imbecil. E sua popularidade decorre exatamente disso.

(*) É articulista da Veja - entrevista feita em Los Angeles in Veja edição 2166.

ENCONTRO DAS ÁGUAS RECEBE APOIO INTERNACIONAL

Concienci-Acción
"Piensa globalmente y actúa localmente"

Caro hermano,


Le escribía para comentarle que le estamos dando difusión a su página web y que contáis con nuestro apoyo. Le dejo el enlace de mi blog en el que he hablado del problema.http://concienci-accion.blogspot.com/
Un cordial saludo y suerte.

Pablo Escribano.


Hace ya un tiempo en nuestro programa de radio Sonidos de la Tierra tuvimos el honor de entrevistar a una profesora de la Universidad Federal de Amazonas. Entre las muchas historias que nos contó hay una que me gustaría recalcar en mi blog y darle difusión.

Ella es de Manaos, una ciudad que se encuentra al norte de Brasil y que es la capital del estado Amazonas. Allí se produce uno de los fenómenos naturales más bellos de Brasil, el Encuentro de las Aguas.

Este fenómeno es la confluencia de dos ríos, el río Negro y el río Solimones, este último de un color marrón claro ya que son aguas arcillosas. Lo impresionante de esto es que el agua de estos dos ríos corren juntas 6 kilómetros sin mezclarse, debido a las diferencias de temperatura y densidad del agua de los dos ríos, convirtiéndose en una de las principales actividades turísticas de Manaos.

A los lados del río viven los Ribeirinhos, la población más humilde y pobre de Brasil que cuentan con este río como medio para sobrevivir día a día.

Uno de los problemas más graves que sufre esta población es el proyecto que quiere llevar a cabo la compañía "Valle del río dulce", con la construcción de un puerto deportivo justo en la confluencia de ambos ríos.

Con esta construcción la vida de los Ribeirinhos se vería muy afectada ya que quien se llevaría los beneficios del turismo de el Encuentro de las aguas serían estos empresarios y no estas personas como ha ocurrido siempre.

Os dejo la página web para que podáis informaros y estar al día de lo que ocurre. El problema es que está en Portugués pero creo que algo se puede entender.

Desde meu blog quero mandar meu apoio para todas as pessoas que lutam contra a contrução deste porto. Iremos conseguir "vence-los".

O BRASIL EM MISSÃO DE PAZ

O acordo é uma lição para muita gente. Não seria petulante afirmar que o episódio constitui grande recado para o presidente dos EUA, Barack Obama. Afinal, não deveria ser dele, Prêmio Nobel da Paz, a iniciativa principal de promover o diálogo, insistir em saídas pacíficas, apostar em soluções cooperativas, ao invés de falar precipitadamente na lógica das sanções que, obviamente, são muito interessantes para as encomendas da indústria bélica?

Beto Almeida (*)

Após o anúncio do acordo construído entre Brasil, Irã e Turquia para evitar que a nação persa sofra novas sanções ou que tenha que renunciar ao seu direito de desenvolver a tecnologia nuclear para fins pacíficos, já se nota em certos segmentos políticos e midiáticos brasileiros uma tentativa de desmerecer a importância da iniciativa do presidente Lula que conseguiu apoio também da Rússia e da China.

Por isso mesmo vale colocar em realce - como já tem feito a imprensa internacional - os desdobramentos políticos que o Acordo Nuclear Brasil-Irã-Turquia poderá promover. A viagem de Lula à Teerã foi cercada de imenso ceticismo, silencioso ou declarado, como o da Secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton que disse que o presidente brasileiro iria ter que enfrentar uma montanha de problemas, desacreditando do êxito de sua empreitada. É como se não soubesse que Lula, desde que nasceu, enfrentou os mais montanhosos e espinhosos problemas que seres humanos pobres, nascidos no Nordeste, foram obrigados a enfrentar, a começar por vencer a pena de morte a céu aberto que executava crianças nordestinas pela fome dia-a-dia, fenômeno político denunciado com franqueza e precisão por outro nordestino mundialmente respeitado, Josué de Castro. Na mesma linha, o chanceler francês - que não acredita que o fim da tarde é lilás - chegou a afirmar de modo deselegante e desrespeitoso, que Lula seria embromado pelos iranianos, sendo obrigado a corrigir-se e a desculpar-se por orientação do presidente Sarkozy, este talvez mais pragmático e interessado na bilionária venda dos aviões Rafale para o Brasil.

O acordo é uma lição para muita gente. Não seria petulante afirmar que o episódio constitui grande recado para o presidente dos EUA, Barack Obama. Afinal, não deveria ser dele, Prêmio Nobel da Paz, a iniciativa principal de promover o diálogo, insistir em saídas pacíficas, apostar em soluções cooperativas, ao invés de falar precipitadamente na lógica das sanções que, obviamente, são muito interessantes para as encomendas da indústria bélica? Talvez por ser prisioneiro do Complexo-Militar-Industrial, denunciado por um ex-presidente dos EUA, Obama ainda não demonstrou claramente estar o Prêmio nas mãos mais adequadas....

O acordo firmado entre Lula, Ahmadinejad e o chanceler turco Ebergan manda recados também para o Conselho de Segurança da ONU, que, antes mesmo de explorar as possibilidades de uma saída pelo diálogo e que não implicasse no veto aos países que - como o Irã e o Brasil, entre outros - estão desenvolvendo tecnologias nucleares para finalidades pacíficas, deu péssimo exemplo de intolerância e prepotência ao mundo. O Conselho só tem falado em sanções, em ameaças, sem sequer referir-se ao fato que a via das sanções aplicadas por ele até hoje tem resultado, fundamentalmente, em castigos militares de gigantescos sofrimentos, perdas de vidas, destruição e rigorosamente nenhuma solução, como se observa no Afeganistão e no Iraque.

Embora o impacto internacional positivo seja inegável, o acordo traz ingredientes novos para o debate político brasileiro já que o candidato oposicionista, José Serra, manifestou-se de maneira negativa à viagem de Lula ao Irã, afirmando que nem iria lá, nem convidaria o presidente iraniano a vir ao Brasil. Se o objetivo é buscar soluções negociadas, por meio de conversações complexas e delicadas, como podem Obama, o chanceler francês, o Conselho da ONU e José Serra não privilegiarem o diálogo direto com a parte envolvida, o Irã, para se alcançar a paz? Sintonia entre tucanos e falcões....

Para a mídia sobram muitas lições, sobretudo para grande parte da mídia brasileira que, desde o anúncio da viagem de mandatário brasileiro à antiga Pérsia encontrou inúmeras qualificações negativas e pessimistas para a iniciativa, algumas de escassa qualificação, como aquelas que davam a entender que o “Lula não se enxerga”, ou que “isto é apenas uma bravata”. Ou, então, que seria pretensioso acreditar que o Brasil poderia ter alguma importância na solução de um problema de tão grande porte e tão distante. Uma por uma estas conceituações midiáticas, provavelmente eivadas de uma certa dose de preconceito, foram, pouco a pouco, desmanchando-se no ar. Agora, até mesmo os mais pessimistas admitem que o acordo reveste-se de importância altamente relevante e que é uma vitória de Lula e da política externa brasileira independente e soberana. O mundo inteiro está discutindo o gesto brasileiro e rejeitá-lo será altamente desgastante para eles, sobretudo para o Prêmio Nobel da Paz.

O curioso é que esta mesma mídia reconhece e destaca o protagonismo de outro brasileiro, Oswaldo Aranha, quando das gestões feitas para a criação de Israel, há décadas. Mas, agora, quando Lula insiste em ter voz ativa, convocando ou até mesmo desafiando as grandes potências a empenharem-se na via pacífica seja para o Irã, para o Iraque, como também, por desdobramento, para a Questão Palestina, nenhum reconhecimento. O difícil mesmo é acreditar que tanto o Prêmio Nobel da Paz, como os demais dirigentes dos países ricos, tenham coragem em apostar em caminhos que contrariem a indústria bélica. Coragem, que Lula, em sua dialética de retirante, tem demonstrado ter de sobra.

(*) Beto Almeida é jornalista, membro da Junta Diretiva da Telesur e articulista do Caros Amigos.

TERRA, VIDA E IDENTIDADE PARA OS TERENA


MARCOS TERENA (*)

Da terra indigena de ontem e de hoje que o homem branco invasor insiste em tomar a luz de um novo tempo onde o índio exige respeito pela história como sementes do novo amanhã de paz, de respeito mútuo e de cumprimento dos acordos para o bem comum.

A Nação Terena sempre respeitou os códigos da natureza e o grande espírito da Terra, o Ituko-Óviti. São tradições, culturas e princípios que aprendemos com a força da oralidade e a capacidade e visão estratégica de nossas mulheres que com sabedoria, pacientemente e corajosamente nos ensinaram a força desses valores.

A Terra tradicional que é parte da nossa vida, nunca foi considerada como moeda de troca mas como fonte de vida e do bem viver.

Por isso nos anos de 1800, cansado de ver soldados brasileiros vindos dos centros urbanos que nada conheciam daquele ecossistema, a solidariedade Terena mais uma vez se manifestou ensinando, adestrando e mostrando a fonte de vida que é o Pantanal.

Assim o exército brasileiro e o governo brasileiro receberam uma força de luta baseada em conhecimentos tradicionais indígenas, como estimulo para avançar sobre os paraguaios, ao aprender como caminhar entre as trilhas dessa região de dificil acesso e assim, "ganhar" uma guerra miserável e inconsequentemente que feriu principalmente a própria Mãe Terra e empobreceu até hoje toda essa regiao do ponto de vista espiritual, exceto onde há comunidades indígenas.

Os Terena em nome da paz e da organização politica e territorial de um novo tempo e diante de novas promessas, de repente junto com o Pantanal, passaram a ser parte do territorio brasileiro onde antes, tudo era regiao indigena.

Com essa nova situação, acreditaram que assim, poderiam reconstruir a autonomia em que feliz viviam social, ecologica, economica e politicamente, mas agora junto com aqueles que chegavam em nome do desenvolvimento como os colonizadores politicos, religiosos e militares.

E então, tiveram que aceitar uma acomodação chamada "reserva indigena" de novo, em nome do bem estar, que eram terras diminutas e controladas pelo Estado Brasileiro em nome da proteção e do humanismo, para cuja missão foram delegados homens brancos especialistas em índios, geralmente paternalistas ou opressores.

Com isso chegaram os fazendeiros que nada sabiam e que tiveram que aprender com os cavaleiros Terena a construir aquilo que hoje se chama: carne verde.

Por isso, a agressão sofrida pelos irmãos da reserva de Bokóti em Miranda que requeriam apenas a obediencia da lei moral e historica de reconhecer o direito básico a terra diante da existencia de familias distintas e valorosas, foi considerada uma traição do homem branco e principalmente das autoridades judiciarias, politicas que no uso de uma força militar, feriram os principais e originários guardioes do principal valor do pantanal para a modernidade: água e água como fonte de vida.

A guerra estampada na face e no olhar de ódio daquelas pessoas, jamais amedrontaram gente acostumada a domar cavalos e bois bravos e a caçar onça em suas terras originais e a lei, que vagueia entre um balcao e outro, encontrará a verdade no olhar da familia Terena, como ja ocorre com diversos sulmatogrossenses e pantaneiros, vizinhos, compadres, irmãos de Igreja que se alimentam da mesma fonte: da terra indigena de ontem e de hoje que o homem branco invasor insiste em tomar a luz de um novo tempo onde o índio exige respeito pela história como sementes do novo amanhã de paz, de respeito mútuo e de cumprimento dos acordos para o bem comum.

(*) É um dos líderes indígenas com reconhecido valor internacional e membro escolhido da Cátedra Indigena - CII.

sábado, 22 de maio de 2010

CANTO DOS FILHOS DA MÃE TERRA


Verônica Manauara (*)

Oh Meu Deus!
Meu Deus, meu Alá, meu Tupã
Estou com medo dos invasores!
Invasores extra-terrestres
Invasores europeus
Invasores políticos
Estou com muito medo!
Invasores invisíveis
Na calada da noite, ou ao romper do dia
A céu aberto ou nas coxias
Sob os olhos dos Santos ou da Virgem Maria
Ninguém faz nada!
Estou com medo ou apreensiva?

Oh Meu Deus!, Oh Nhanderu!, Itwkov´ti! Deus de Abraão e de todos os mundos!
Tem invasores na Terra, invasores na água, invasores no ar, invasores no corpo,
Corpos estranhos, invasores epidêmicos, agentes multiplicadores
Invasores econômicos e economistas
Politiqueiros, vigários e vigaristas
Estou com medo!
Não sei se é medo ou repugnância
Consultas médicas, consultas fiscais, consultas públicas e mais generais
Procuro a minha sombra, procuro a minha perna que perdi na guerra
Procuro o meu chão
Procuro minha casa... procuro o meu nome certo.
Procuro minha terra – Dizem que só Deus quem sabe
Não sei que idade tenho.

Corro e me escondo. Porque invadiram o espaço aéreo, vejo pássaros cintilantes com olhos de fogo estrondando na natureza – invadindo meu teto aberto.
Corro e me escondo apavorada como peixes que fogem da invasão motorizada içando a rede para cobertura mortal.
Corro porque os invasores querem me agarrar, me descobrir dentro do meu corpo, invadir meu interior para violar e mutilar o sagrado berço do futuro

Quero correr, mas não posso, não consigo sair da rede, meus ossos estão fracos, minha voz está cansada, minhas idéias lacrimejam.
Que idade eu tenho? Qual é a idade da Terra? qual a idade sua Oh Meu Deus!
Deus da Força, Deus do Trovão, do Tufão e do Vulcão.

Grande Espírito, Criador de Tudo e de Todos
Ajude os invasores, eles perderam tudo – Eles perderam a origem, eles perderam a alma,
Perderam a cabeça, perderam a vergonha
Eles perderam o amor – ou foi perda congênita?

Hananim, Jeová, Javé, Yepá, Olorum!
Invadiram as casas vazias
Invadiram as casas cheias
Invasores na cabeça e bicho de pé na areia
Invasores na plantação, invasores na colméia
E minas diferentes por todo o chão
Invasores dos sonhos, invasores na floresta, invasores cibernéticos.

Oh Deus meu! – Meu Deus de tantos nomes!
Coloque em extinção os que extinguem nosso tudo
Os que extinguem a todos nós.
Eles, os invasores de tantos nomes, de tantos lugares, de tantos boicotes, de tantos anos...

E agora Javé?
A festa ainda não começou, o voto não adiantou, a promessa não ficou
E agora Javé?
É por toda a parte,
Na parte íntima e parte íntegra
Invasores de esquerda, invasores de direita
É de todo lado
São de todos os partidos... eles são tantos...
De uniforme ou de toga, de carteira ou de diploma, eles são tantos...

Oh meu Deus! Oh Aúra-Mazda, Ó Omama, O´ Zambi
Sujos ou perfumados, de gravata ou mascarados eles invadem
Invasores armados, borrados, robotizados.
Por que tenho medo e não tenho medo de nada?

Só tenho um trunfo, o trunfo para o Triunfo. Tenho a palavra tradicional guardada, Guardada desde o berço do ventre.
Sabemos quem somos. Conhecemos a tua promessa. Sabemos que somos donos. Sabemos que a última batalha nos legitimará como autônomos e livres, Filhos do Grande Espírito e da Mãe Terra. Seremos vitoriosos.

(*) É militante das causas socioculturais e esposa do lider Tukano Manoel Moura.

CIÊNCIAS SOCIAS DISCUTE A SITUAÇÃO DOS ATINGIDOS PELAS BARRAGENS

Assim como o Movimento S.O.S Encontro das Águas se mobiliza no Amazonas para barrar a sanha de se construir um Porto no Encontro das Águas, realizando a V Caravana no dia 25 próximo, com objetivo de fazer o inventário da região em foco; também os militantes e estudiosos da causa socioambiental ou hidroambiental se encontram em Porto Velho para analisar os danos sofridos pelas comunidades ribeirinhas, urbanas e rurais quanto às ações impactantes decorrentes da construção das Barragens do Jirau e Santo Antônio, no Rio Madeira naquela região. O destaque se faz para o professor Luis Fernando Novoa Garzon, do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Rondônia, que responde a demanda dos militantes promovendo discussão com a chancela da Universidade como fórum privilegiado da matéria. Do mesmo modo, o NCPAM tem agido na Universidade Federal do Amazonas por meio dos estudante inseridos no projeto PACE/Extensão e demais pesquisadores comprometidos com as políticas de sustentabilidades das comunidades Amazônicas. Confira abaixo a Programação em pauta para o dia 25 a se realizar em Porto Velho.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE RONDÔNIA
DEPTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS


Projeto de Pesquisa e extensão: “Desestruturação Social e Ambiental das Comunidades Ribeirinhas, Urbanas e Rurais no Município de Porto Velho”.

Grupo de Pesquisa:

Poder Político e Políticas nas Bordas da Amazônia

Data: 25/05/2010.
LOCAL: Auditório do Núcleo de Ciências Sociais Aplicadas (prédio espelhado)
Horário: 18:30 às 22:00.

Orientador:

Professor: Luis Fernando Novoa Garzon.

PROGRAMAÇÃO

18:30 Abertura e composição da mesa
18:45 Apresentação e desdobramentos:
19:00 Painel sobre os resultados parciais do projeto com os integrantes do Grupo de Pesquisa
20:30 Depoimentos de lideranças ribeirinhas das comunidades envolvidas no projeto e do Movimento de Atingidos por Barragens(MAB)
21: 00 Discussão aberta com o público
21:30 Encerramento.

Porto Velho(RO)

O AMAZONAS DE COSTA PARA MUNDO DA CULTURA E DA CIÊNCIA

No Amazonas parece que vivemos desconectados dos tratados internacionais. Por aqui, os Agentes Públicos que deveriam cumprir as agendas promotoras da cultura, do meio ambiente e de outros campos da ciência e do saber, ignoram as datas, o ano e as diretrizes políticas acordadas nos fóruns multilaterais relativos aos valores humanitários. Por aqui, o pão e o circo impera para agradar a corte palaciana, convertendo, dessa feita, o povo e seus intérpretes no mero coadjuvante de uma comédia intestina provinciana. Na agenda internacional do mundo das culturas e das ciências, maio está consagrado como o mês das celebrações da Diversidade seja cultural e/ou da biodiversidade. A proclamação foi feita pela Organização das Nações Unidas (ONU), mobilizando mais de 100 países do mundo para conscientização desses valores e direitos humunitários. No entanto, no Amazonas, o ano passa em branco, as datas esquecidas, quando não, são reduzidas a um ato de salão, simplesmente, para dizer que algo foi feito nesse terreiro do abandono e do oportunismo. É o caso do Ano Internacional da Biodiversidade e, em particular a data do 21 de maio, que é consagrado a Diversidade Cultural, bem como o dia 22 de maio também dedicado a Biodiversidade. O poder público local que deveria ser o primeiro a incentivar e promover ações nessa direção é omisso, transformando o descaso em crime porque favorece o avanço do preconceito e do racismo cultural e ambiental. E assim o Amazonas oficial caminha de costa para o mundo do saber, da ciência e da cultura. No entanto, alguns combativos resistentes insistem em se conectar criando condições de enfrentamento contra o que está posto, tecendo novas estratégias para o mundo possível, tendo como prática a responsabilidade social e ambiental.

A DIVERSIDADE CULTURAL SEGUNDO O MinC

Na sexta-feira (21) celebrou-se em mais de 100 países signatários, o Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e o Desenvolvimento, que foi criada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) em 2001, mesmo ano em que foi feita a Declaração Universal da Unesco sobre a Diversidade Cultural. Em 2005, a Assembléia Geral da Organização adotou a Convenção sobre a Proteção e a Promoção da Diversidade das Expressões Culturais. A convenção foi promulgada no Brasil em 2007 e, até agora, 109 países já ratificaram o documento.

Para comemorar a data a UNESCO criou em 2008, o Festival Internacional da Diversidade. O evento, que começou no dia 17 e vai até o dia 27 de maio, está sendo realizado na sede da UNESCO, em Paris, com atrações musicais e artísticas que têm como característica a diversidade cultural. O Festival, que acontece simultaneamente em vários países membros, busca dar voz e visibilidade à riqueza da diversidade cultural em todo o mundo.

No Brasil, o Ministério da Cultura criou no dia 7 de abril de 2004, por meio do Decreto n.º 5.036, a Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural (SID) com o objetivo de promover e proteger a diversidade das expressões culturais. Em 2007 foi lançado, no âmbito da SID, o Programa Identidade e Diversidade Cultural - Brasil Plural, para garantir o acesso dos grupos e redes de agentes culturais, responsáveis pela diversidade das expressões culturais brasileiras, aos recursos públicos para o desenvolvimento de suas ações.

Para o secretário da Identidade e Diversidade Cultural/MinC, Américo Córdula, o reconhecimento e a valorização da diversidade cultural estão ligados à busca da solidariedade entre os povos, à consciência da unidade do gênero humano e ao desenvolvimento dos intercâmbios. “A luta pela promoção da diversidade e dos intercâmbios culturais é a nossa forma de mostrar que outro mundo é possível”, afirma Córdula.

Segundo ele, orientada pelo princípio da dimensão cidadã da cultura, a SID desenvolve suas políticas em parceria com a sociedade civil, articulando lideranças e entidades representativas, por meio da constituição de grupos de trabalho, colegiados, fóruns, oficinas temáticas, seminários e congressos. “A atuação da Secretaria consiste na promoção de diálogos com segmentos da comunidade cultural que têm pouco acesso aos mecanismos de incentivo”, esclarece o secretário.

Estímulo à diversidade cultural com premiação

A Secretaria busca ainda fomentar as várias manifestações da diversidade cultural por meio da publicação de editais de premiação de iniciativas e projetos culturais desenvolvidos por segmentos como os indígenas, os mestres da cultura popular, os ciganos, os idosos, a juventude, os integrantes do movimento LGBT (Lésbicas, Gays, Bissexuais, travestis, transexuais e transgêneros), as crianças, os deficientes e as pessoas em sofrimento psíquico.

Entre 2005 e 2009 foram realizados 15 concursos públicos que receberam 7.595 inscrições. Do total de inscritos, 1.380 projetos foram premiados pela Secretaria da Identidade e da Diversidade Cultural. Cerca de R$ 20 milhões foram investidos nesses editais no período de 2005 a 2009 e, em 2010, mais de R$ 5 milhões serão aplicados na realização de 5 editais.
Três deles, o Prêmio Cultura Hip Hop 2010 - Edição Preto Ghóez, o Prêmio Culturas Ciganas 2010 e o Prêmio Inclusão Cultural da Pessoa Idosa - Edição Inezita Barroso já estão com as inscrições abertas (www.cultura.gov.br/diversidade).

A SID realizará, ainda neste ano, os concursos: Prêmio Arte e Cultura Inclusivas 2010 - Edição Albertina Brasil - Nada sobre Nós sem Nós, e Prêmio Culturas Indígenas - Edição Marçal Tupã-y.

UNESCO acredita que a diversidade pode abrir canal de diálogo entre os povos

A diretora geral da UNESCO, Irina Bokova, lembrou, em manifesto oficial, “que, no Dia Mundial da Diversidade Cultural para o Diálogo e Desenvovimento, devemos refletir sobre as formas de participar, humana e concretamente, da construção da tolerância para com as diversas manifestações culturais de todos os países”.

Bokova cita ainda a Declaração Universal da UNESCO para a Diversidade Cultural elaborada em 2001: “Ela postula, com firmeza, que a diversidade cultural é tão necessária para o ser humano, como a biodiversidade é para a natureza. Nesse sentido, constitui patrimônio comum da humanidade e deve ser reconhecida e consolidada em benefício das gerações do presente e do futuro”, informa a diretora da Unesco.

Para Bokova, apesar de vivermos num mundo interconectado, ainda temos dificuldades de comunicação e, para tanto, devemos intensificar o diálogo entre as culturas com o objetivo de estreitar os laços entre os povos de todo o planeta e facilitar o progresso das civilizações. “Temos que ter consciência de que todas as culturas são iguais em dignidade e direitos”, observa ela.

A diretora geral da Unesco aproveita a data para conclamar os governantes, as comunidades e a sociedade civil, de todos os países, para que adotem medidas concretas em defesa da diversidade cultural, colocando-a na vanguarda do diálogo. “Todos nós devemos avançar com o objetivo de construir um mundo solidário, cuja riqueza e força estejam no coração de sua diversidade”, reivindica Bokova.

Trabalho pioneiro do MinC

A coordenadora cultural da Unesco no Brasil, Jurema Machado, acredita que a diversidade cultural brasileira, seja no campo da culturas, dos conhecimentos tradicionais, da arte e da criatividade, tem um enorme significado no contexto mundial . “O país atravessa um dos períodos mais marcantes da sua história tendo em vista que a gestão dessa diversidade, ou seja, a capacidade do Brasil de manejar esse acervo de forma a, não apenas garantir a sua manutenção, mas também assegurar a sua incorporação ao processo de desenvolvimento, interessa não apenas aos brasileiros, mas também ao resto do mundo”, reflete Machado.

Para a coordenadora da UNESCO, o Ministério da Cultura, por meio da Secretaria da Identidade e Diversidade Cultural, tem desenvolvido um trabalho pioneiro, em suas ações de políticas culturais, no que se refere à introdução sistemática desse tema, em toda a sua amplitude. “Além disso, desconheço, em outros países do mundo, um trabalho tão dedicado, amplo e contínuo de difusão e divulgação da Convenção da Unesco para a Proteção e Promoção da Diversidade das Expressões Culturais como o que tem sido feito no Brasil”, assegura ela.

Fonte: MinC/SID: Heli Espíndola