quarta-feira, 26 de maio de 2010

DIA DE CAMPO DO MOVIMENTO S.O.S ENCONTRO DAS ÁGUAS



"Ainda que os braços do teu inimigo pareçam tão fortes como as asas de moinhos, resiste companheiro! Ainda que a noite seja tão tensa de escuridão, resiste companheiro! E tu verás a claridão da madrugada chegar." – Thiago de Melo

A V Caravana promovida pelo Movimento S.O.S Encontro das Águas na terça-feira (25), como trabalho de campo, mereceu dos meios de comunicação do Amazonas ampla cobertura, difundindo ainda mais, a luta de seus aguerridos participantes em favor do Tombamento Definitivo do Encontro das Águas pelo Instituto do Patrimônio Histórico E Artístico Nacional (IPHAN), respeitando a integridade desse patrimônio que para os Amazonenses não tem preço só tem valor. Adesão do poeta Thiago de Mello fortaleceu o combate contra a construção do Porto das Lajes, obra pretendida pela Mineradora Vale do Rio Doce através da Log-In Logística Intermodal S/A embargada por ordem da Justiça Federal do Amazonas. O Ato de Reconhecimento do Encontro das Águas como Patrimônio Natural e Cultural da Humanidade deve ser seguido da criação de uma Unidade de Conservação de Uso Sustentável como Área de Relevante Interesse Ecológico (AREI) sob o controle das comunidades que há muito tempo se beneficiam dos recursos gerados por esse patrimônio. Da mesma forma, deve-se criar também um Comitê de Bacia Hidrográfica do Encontro das Águas e Lago do Aleixo dando ênfase aos projetos que promovam efetivamente o respeito ao meio ambiente e a qualidade de vida dos comunitários inseridos diretamente nessa economia sustentável.

Contra o Porto das Lajes

A V Caravana do Encontro das Águas com a participação de Thiago de Mello, Tenório Telles, pesquisadores, estudantes, lideranças comunitárias e cientistas sociais iniciou com uma vistoria no antigo Porto da SIDERAMA, onde constantemente fala-se em construir um Porto Público para desatar o "rolo" da logística do Amazonas, prejudicando sensivelmente a economia local. O projeto inicial concebido pela Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) definia-se como um complexo modal, compreendendo até mesmo a redefinição do Aeroporto militar de Ponta Pelada. Atualmente esta área está toda povoada pelo oficialato da Marinha e da Aeronáutica, que depende diretamente do Aeroporto de Ponte Pelada para o cumprimento de sua missão na Amazônia além de registrar o intenso povoamento em seu em torno.

Em seguida a V Caravana passa a vistoria à margem esquerda do Rio Negro até, especificamente o Encontro das Águas, quando seus participantes passam o observar todos os empreendimentos construídos, que contrariam o bom senso e a racionalidade da lógica da sustentabilidade. Na oportunidade, se deparam com o monstrengo da construção de uma Adutora de Água, que avança sobre o Rio Negro por mais de 500 metros, violentando o paisagismo e obliterando a visão do nosso Encontro das Águas. A obra é do PAC do Governo Federal, contando com a contrapartida do governo do Estado e, até hoje não foi concluída para atender as populações da zona leste e norte de Manaus, que são penalizadass pelo governo por falta d'água.

Nas proximidades dessa Adutora é que a Log-In Logística Intermodal pretende construir o Porto das Lajes. Trata-se, na verdade, de uma área que nesse momento de cheia serve de refúgio para os peixes se procriarem e se alimentarem, integrando diretamente a toda cadeia natural desse ecossistema. O mais grave ainda é que nessas imediações do pretendido projeto fica a "boca" do fabuloso Lago do Aleixo que nutre os comunitários do populoso Bairro Colônia Antonio Aleixo. O hilário é que a Mineradora Vale do Rio Doce pretende destruir a floresta e em seu lugar, segundo os seus mentores, construir um Jardim Botânico em homenagem ao arquiteto Severiano Mario Porto. Se esta sanha continuar chegará o dia que esses predadores e irresponsáveis dirão, afirma o poeta Thiago de Mello, que o nosso Encontro das Águas é o estorvo para o desenvolvimento do Amazonas e farão acreditar os incautos que podem construir um outro para satisfazer a volúpia da acumulação do lucro desenfreado associado à corrupção política e depredação ambiental.

No entanto, para o renomado poeta Thiago de Mello, chamado por um dos coordenadores da V Caravana, como Curador do Projeto S.O.S Encontro das Águas, a construção de um Porto é importante para o Estado, mas este em questão deve ser construído em outro lugar porque "esse local (Encontro das Águas) é sagrado. Desde menino vejo essa paisagem e minha professora sempre usava como exemplo de beleza e encantamento. Temos que resistir e lutar pela preservação desse bem natural e cultural que é dos Amazonenses e também da humanidade". Por isso, somos contra a construção do Porto das Lajes.

A Voz do Povo

Abordo da embarcação adesivada com o grito do S.O.S Encontro das Águas, os participantes discutiam e definiam estratégias de resistência contra o Porto das Lajes e os empreendimento que venham ameaçar o nosso Patrimônio Amazônico e Humanitário. Nesse hora, ouvimos o depoimentos do senhor Raimundo Barreto, líder comunitário da Colônia Antonio Aleixo que luta contra o preconceito que fere as pessoas atingidas pela hanseníase. Disse ele, em voz embargada:

Moro nesse bairro desde 1950 e conheço tudo isso mais do que a mim mesmo. Estou feliz porque os moradores da Colônia, que serão afetados com a construção do Porto, foram os primeiros a lutar pela preservação do local. Conseguimos apoio da Universidade para aumentar a nossa luta. Buscamos forças de onde não tínhamos para lutar contra uma empresa poderosa, contra essa construção que pode causar impactos irreversíveis ao meio ambiente. Estamos preocupados com nossos peixes, que podem morrer e não aparecer mais por aqui. Somos um povo muito carente e estamos aflitos também porque sabemos que problemas como prostituição, tráfico e uso de droga irão piorar no nosso bairro. Essas questões devem ser consideradas.

Seguimos viajem pelo Lago do Aleixo e feito as devidas observações retornamos às 12hs ao Porto do CEASA, de onde partimos. Um dos coordenadores da Caravana lembrava constantemente, que pela tarde o trabalho iria se concentrar no entendimento junto às comunidades do em torno do Encontro das Águas, o que foi feito. No entanto, ainda pela manhã, antes de chegarmos em terra firme, o poeta Thiago de Mello usou da palavra para agradecer a todos (as) e pedir que juntos recitassem um poema que ele o fez naquele momento de rara beleza. E assim o poeta e a Caravana das Águas cantaram em forma de mantra o louvor perpétuo ao nosso Encontro das Águas na esperança que seja preservado para o bem da presente e futura gerações. E todos continuam no mesmo barco discutindo e tecendo um novo projeto de desenvolvimento para Amazônia.

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