segunda-feira, 31 de maio de 2010

PLANO "TIMIDO" PARA MANAUS

Márcio Souza*

A prefeitura acabou de apresentar um plano urbanístico para a cidade, estabelecendo novas regras de transito, embelezamento de vias e intensa intervenção no centro histórico da cidade. Observando pela imprensa, o plano é tímido, sequer imediatista na resolução dos problemas urbanos que pretende enfrentar. É uma pena que a capital amazonense ainda não tenha encontrado uma administração publica com visão para além do horizonte imediato e do rasteiro provincianismo.

A vocação de Manaus é maior que sua natureza de capital de estado, e de estado gigante. Manaus deveria ser pensada como uma cidade única na América do Sul. Encravada no coração do subcontinente, no centro da região mais fantástica do planeta, a capital amazonense reúne todas as características para ser o grande hub ao ocidente do hemisfério sul. Nenhuma cidade sul americana reúne privilégio geográfico, bagagem histórica e belezas naturais.

São Paulo, que atualmente concentra os vôos em nosso país, monopolizando o acesso aéreo para a Europa, América do Norte e Ásia, está nas proximidades do trópico de Capricórnio, ou seja, muito ao sul do continente, exigindo um gasto extra de combustível e custos operacionais das companhias aéreas, além de aumentar as horas de vôos e o desconforto aos passageiros. Ao contrário da capital paulista, Manaus agregaria todas essas vantagens, caso fosse pensada como hub das linhas aéreas para a América do Sul. Um vôo de Manaus para qualquer capital européia economiza quase duas horas, além de reduzir os trechos no interior do continente para capitais como Caiena, Paramaribo, Georgetown, Caracas, Bogotá, Quito, Lima e La Paz. Isto sem falar as linhas secundárias para as diversas cidades importantes dos países amazônicos.

Para os passageiros do norte e nordeste brasileiros a economia de tempo e dinheiro seria incalculável. Mas os benefícios ainda seriam maiores para a própria cidade, que culturalmente já tem vocação de centro internacional. Evidentemente que o problema é político, problema pesado, diria. Os poderosos estados do sul não aceitariam de bom grado perder o monopólio das rotas aéreas e demais benesses. Para isso a nossa política federal deveria ser menos subserviente, menos preocupada com minúcias. Uma capital centralizando tantos cruzamentos intercontinentais não precisa que as reivindicações de seus políticos federais se esgotem na prorrogação de um parque industrial de maquiagem de produto, que só deixa míseros salários aqui.

O futuro de Manaus não pode estar atado à maldição da Zona Franca, um dos entulhos autoritários que herdamos da megalomania da Ditadura Militar, que parece ter aprisionado as inteligências locais, incapazes de criar condições de superação.

Não vai ser com o mito do crédito de carbono que vamos sair do conto da carochinha da Suframa, órgão desprestigiado pelo poder federal, que só funciona para autorizar mais projetos de maquiagem, ou apoiar nos bastidores absurdos como a agressão ao Encontro das Águas pelo tal do Porto das Lajes, em boa hora interditado pelo poder judiciário. Não é mais possível que a capital do estado nortista que se considere economicamente mais moderno, continue refém de políticas medíocres, acanhadas, de modernização de palmeirinhas, de invasões de terras, de privatização dos espaços públicos pelos miseráveis.

Manaus tem futuro, desde que seja possível varrer do seu presente o pensamento pequeno, a grosseria simplória do assistencialismo, motor da política que aqui se pratica e que não quer o bem público, mas beneficiar apenas os políticos que querem se dar bem. E quando digo que Manaus tem um futuro mais brilhante do que ser lugar de transito para capitalistas japoneses, coreanos, europeus ou paulistas, é que a cidade pode fazer melhor o seu futuro se tiver clareza e coragem política no presente. Se não, isto aqui continuará Porto de Lenha.

* É escritor, dramaturgo e articulista de a Crítica.

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