Na sexta-feira (7), o entrevistado do programa Na Terra de Ajuricaba foi o renomado escritor amazonense, Márcio Gonçalves Bentes de Souza, autor de diversas obras inseridas no ambiente sociocultural da Amazônia, tais como Expressão Amazonense, Mad Maria, Galvez, Imperador do Acre, Zona Franca, meu amor, Silvino Santos: o cineasta do ciclo da borracha, entre outras. O nosso entrevistado destaca-se ainda como cineasta e ensaísta (A selva; A expressão amazonense do neolítico à sociedade de consumo) e, mais recentemente, tem-se dedicado a uma tetralogia sobre os anos em que a antiga Província do Grão-Pará, no período colonial era um Estado separado do Brasil. Márcio Souza, considerado maldito pela ditadura militar na década de 70, pela originalidade de suas obras, ganhou reconhecimento internacional, sendo traduzidos pelo mundo afora. É sem dúvida, um dos maiores escritores brasileiros de nossa geração.
Em debate, Na Terra de Ajuricaba, Márcio Souza falou do seu ofício literário, sua relação com o cinema e o teatro, bem como sua formação em ciências sociais pela USP (Universidade de São Paulo), na década de 60, quando foi perseguido pelos agentes da ditadura. A arte de escrever requer técnica e muito trabalho para a consecução de uma obra. O que o escritor lamenta é que as fontes documentais da história da Amazônia, quando não são queimadas e destruídas pelos seus feitores, encontram-se em total abandono, sendo corrompidas pelos burocratas que pouco fazem para proteger a história e a memória do povo. O caso específico, citado pelo autor, é da estrada madeira-mamoré, que foi seu objeto de estudo resultando em sua densa obra Mad-Maria com traduções em diversas línguas. Para esse fim o autor recorreu aos arquivos internacionais tanto na Europa como nos Estados Unidos da América, "escrever é trabalhar", conclui.
Mas, o pique do programa se levarmos em conta a vibração da platéia que se encontrava na sala de vídeo do studio da TVUFAM, foi quando o debate voltou-se para análise de conjuntura sobre a política local. Nesse momento, Márcio Souza falou com indignação contra os governantes oportunistas que, em sua maioria no Estado não respeita esse território, a cidade de Manaus e muito menos a historia do nosso povo. Agem como se fossem um rei, centralizando tudo em favor dos interesses particulares até mesmo a tal Universidade Estadual, que passou a ser vítima desse mandonismo medieval, contando com o aval de agentes que no passado propugnavam por uma outra prática e que hoje participam do partido da "boquinha".
"Eu que fui um dos fundadores do PT não consigo entender[...]" e tudo indica que vai continuar se permanecer esse quadro político que vem se apresentando. O populismo tomou conta da prática política do Estado, todos buscam ser igual ou superar o Gigi (Gilberto Mestriho), promovendo a miséria e subordinação desse povo, que em sua maioria, assim como os formuladores de políticas públicas e seus governantes, é migrante sem vínculo histórico com esse território, podendo até mesmo propor a transformação do Teatro Amazonas num grande super mercado, pode parecer absurdo, mas não é, veja o caso do Encontro das Águas ameaçado pela construção de um porto em sua imediações.
O debate prolongou-se por uma hora, com a mesma indignação e crítica social que caracteriza a prática do autor de "Expressão Amazonense" e outros textos corrosivos amedrontando a cleptocracia governante local. No momento, a discussão centrou fogo no projeto de construção da Arena do estádio de futebol para a copa de 2014, assim como também as obras do Monotrilho. Todos os projetos, segundo o nosso entrevistado, são de péssimo gosto. Alias, no amazonas o valor estético anda muito distante das obras públicas. Vejam a arquitetura que estão propondo para os Centros de Cultura na periferia da cidade, se fosse na China imperial, a cabeça desses arquitetos seriam cortadas e colocadas em evidencia no patamar da Muralha para que todos soubesse de sua incompetência e que nunca mais o mal gosto imperasse, podendo valer também para os governantes, que por aqui parecem que já perderam a cabeça, quando se deixam corromper pelas propinas dos projetos megalomaníacos.
Por fim, as análises apresentadas demonstraram um profundo respeito pelas instituições democráticas, ponderando a imaturidade dos partidos políticos e o desafio que todos têm, em particular a sociedade civil organizada, para assegurar o controle social desse processo, primando pela transparência, participação e, sobretudo, a exigência legal da responsabilidade ética dos formuladores de políticas públicas, bem como seus governantes.
As eleições que se aproximam é, sem dúvida, uma grande oportunidade para o povo brasileiro e, especificamente, os Amazonenses, eleitores cidadãos, manifestarem, assim como Márcio Souza e o âncora do programa Na Terra de Ajuricaba, Ademir Ramos, sua indignação, votando contra os candidatos "ficha suja", corruptos e populistas, que tanto mal já fizeram ao povo do Amazonas, depredando suas riquezas e empobrecendo cada vez mais a população por não oferecer serviço público de qualidade que resulte na educação, saúde, segurança e empregabiliade em beneficio da maioria.
O Programa Na Terra de Ajuricaba é ao vivo, sendo reprisado durante a semana pelo Canal 7 e/ou 27 da TVUFAM NET Manaus. Leiam também nesse domingo (9) em a Crítica a crônica de Márcio Souza sobre a façanha da construção do Monotrilho no Centro Histórico de Manaus.
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