quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

QUE PAÍS QUEREMOS?

O questionamento formulado pelo representante da FIESP deveria contagiar a todos (as) e dessa feita promover uma ampla discussão tanto na academia como nos fóruns empresariais com propósito de se construir um projeto de nação fundamentado em bases sólidas, contemplando a diversidade dos investimentos em relação à dinâmica do mercado nacional e internacional. Tal discussão deveria ter por referência os projetos e programas que estão em andamento nos Estados e a partir deles redimensionar suas ações no sentido de fortalecer e ampliar novos investimentos, gerando emprego e renda a população local. No Amazonas abriga-se um dos maiores projetos de desenvolvimento regional sob a tutela do Estado por meio dos incentivos fiscais, que deveria ser devidamente fiscalizado a e realinhado imediatamente nessa perspectiva da pesquisa, educação, ciência, inovação e tecnologia. O Amazonas, por representar um dos maiores PIB do norte e nordeste brasileiro bem que poderia capitanear esta função, transformando em referência para todo o Brasil e ao mesmo tempo criando condições materiais para novos investimentos de forma sustentável. Para isso ocorrer é necessário que a direção política e moral do Estado - governo, empresários, cientistas e os titulares dos conhecimentos tradicionais - encontrem-se inseridos em projetos e programas sob a proteção de uma políticas públicas capazes de criar os meios necessários para consolidar e ampliar novos investimentos ancorados nas práticas das responsabilidades social, ambiental alinhados com as regras do desenvolvimento sustentável.

Rubens Barbosa (*)

Um novo governo estará dando seus primeiros passos a partir de 1.ºde janeiro, com novos desafios e novas esperanças. O Brasil transformou-se profundamente nos últimos 16 anos. Se pudéssemos sintetizar em poucas palavras o ocorrido, o País modernizou-se com FHC e foi iniciado o processo de redução das desigualdades regionais e individuais com Lula.

O mundo igualmente passa por grandes mudanças. A Ásia emerge como o centro dinâmico das atividades econômicas e comerciais. O Pacífico substitui o Atlântico como polo dinâmico de crescimento e os países emergentes, nos próximos cinco anos, serão responsáveis por mais de 50% do PIB global.

Dados os positivos indicadores econômicos, políticos e sociais, a presidente Dilma Rousseff assumirá o comando do País em situação relativamente confortável. Essa condição, contudo, esconde problemas sérios, que vão requerer ações rápidas e enérgicas para serem corrigidos. A maior presença do Estado, base da visão nacional-desenvolvimentista, poderá facilitar a mudança de atitude, o fortalecimento das empresas e a expansão do emprego.

Em recente estudo, o National Intelligence Council, vinculado ao governo dos EUA, coloca o Brasil como uma das superpotências econômicas globais em 2025. A percepção externa é de que nosso país reúne as condições básicas de território, população e produção interna agrícola, industrial e de serviços (PIB) para desempenhar papel de realce no concerto internacional. O Brasil, durante o próximo governo, deve ultrapassar Itália, Espanha, Franca e Inglaterra, para assumir a posição de quinta economia mundial.

Apesar das consequências desses grandes avanços internos, com as exceções de praxe, nem os líderes políticos de todos os partidos, nem a burocracia estatal, nem os sindicatos, nem mesmo o setor privado se dão conta de que será necessária uma urgente e drástica mudança de atitude para enfrentar os desafios criados por essas transformações internas e externas.

O processo decisório governamental não está levando em conta que a agenda dos anos 90, que tornou possível o País que temos hoje, está esgotada e devemos partir para responder aos desafios do futuro.

Qual é a nossa visão do futuro? Vamos continuar como estamos ou vamos querer transformar o País para alcançar o lugar de destaque que o mundo espera que o Brasil ocupe?

Para atingir esse estágio de desenvolvimento e influência mundial, além de contar com condições externas positivas, o Brasil terá de fazer seu dever de casa para manter a estabilidade econômica, tornar o governo mais eficiente e crescer de maneira sustentável a taxas significativamente mais elevadas.

Com esse pano de fundo, chegou a hora de os partidos políticos, os sindicatos e o setor empresarial, sob a liderança da presidente Dilma, somarem esforços, numa parceria real, para pensar mais no Brasil e menos nos interesses pessoais e partidários. Essa mudança de atitude passa pelo incentivo à inovação e pelo aumento da competitividade, a fim de gerar mais de 150 milhões de empregos em 2030.

Conhecimento, inovação, educação, ciência e tecnologia, competitividade, rumos da globalização e inserção externa deveriam ser discutidos em profundidade, da mesma forma que se dá destaque a assuntos como violência, crime, MST, juros, câmbio e dança de cadeiras para o Ministério. O Ministério do Desenvolvimento deveria ser tão importante quanto o da Fazenda nesse desenho de nosso futuro.

Devemos estar conscientes da necessidade de olhar para a frente e estar atentos às tendências para os próximos anos, sobretudo com o aparecimento da China e da Índia como potências globais econômicas, comerciais e políticas que vão competir com o Brasil.

A dura realidade é que as mudanças, sendo tão rápidas e constantes, fazem o mundo avançar célere e sem esperar que consigamos entender o que está acontecendo ou nos ajustemos aos novos tempos e às transformações em curso.

Sem ameaçar a estabilidade econômica e política, novas políticas terão de ser aprovadas, com o objetivo de criar incentivos para aumentar a poupança e o investimento, reverter a tendência das taxas de câmbio e de juros, promover a redução dos gastos públicos e reduzir a carga tributária. A geração de empregos dependerá do aumento da competitividade do setor produtivo, com medidas concretas para reduzir ou eliminar o custo Brasil, responsável por mais de 35% nos preços finais da produção nacional. O comércio exterior deveria ser colocado num nível decisório mais elevado para que seja tratado com a prioridade que merece, eis que é uma das variáveis mais importantes do crescimento econômico.

Estamos de acordo em transformar o Brasil num país exportador de matérias-primas e produtos agrícolas? Com a perda de espaço dos manufaturados, mais de 50% de nossas exportações são de produtos primários, situação que poderá agravar-se com a entrada, nos próximos anos, da produção dos campos de petróleo do pré-sal.

Vamos deixar o setor industrial desaparecer, a exemplo do que ocorreu na Argentina? A indústria, que já representou mais de 20% do PIB, viu sua participação reduzir-se a 15%. O consumo doméstico, que era atendido pela produção nacional, hoje depende em mais de20% das importações. As empresas brasileiras, sem capacidade de competir nem interna nem externamente, ou estão fechando suas portas, transformando-se em montadoras e importadoras, ou passaram a produzir no exterior. As importadoras representam o dobro das exportadoras. É isso que queremos?

Chegou a hora de focalizar os temas que possam colocar o Brasil em bases sólidas, e não ilusórias, entre os países de relevo na economia e na política mundiais.

(*) Articulista do Estadão e Presidente do Conselho de Comércio Exterior da FIESP.

domingo, 26 de dezembro de 2010

QUE NÃO NOS FALTE A ESPERANÇA

A viaje, seja ela qual for, exige dos passageiros paciência, tolerância, compreensão e, sobretudo, destino certo para que todos possam vislumbrar onde se pretende chegar. Por aqui, nesta época, os caminhos têm sido tortuosos tanto nos palácios como nos aeroportos, deixando os viajantes enfadados, sem alternativas de opção, quando se trata do exercício do pleno Direito de mobilidade tanto nas cidades como nos céus do Brasil.

Dos aeroportos temos notícias do descaso das companhias aéreas e da falta de infraestrutura que causam o sacrifício dos passageiros. Nas cidades, especialmente em Manaus, o transporte coletivo se transformou numa praga social que perturba a todos somado com a indiferença dos ordinários do lugar.

Não bastasse ainda, a grande expectativa da viagem que vem sendo planejada pelos governantes eleitos. No momento, eles estão negociando e definindo os nomes para juntos levantar vôo em determinada direção. De forma equivocada, os eleitos em vez de escolher os seus auxiliares de acordo com habilidade e competência técnica, como se faz normalmente, passam a escolher de acordo com as conveniências das oligarquias dos partidos, aumentando muito mais os perigos de turbulência.

Em Brasília procurou-se escolher o primeiro escalão. No Amazonas, o governo eleito continua batendo sola e até agora não apresentou a sociedade os seus novos auxiliares diretos. Como se trata de um governo extensionista é provável que nada se mude no quartel dos Aziz, permanecendo a equipe dirigente do ex-governador Eduardo Braga.

Janeiro e fevereiro é o momento oportuno para se definir o segundo escalão e tal negociação se dá sob a composição da escolha da mesa da Câmara, do Senado e das Assembléia Estaduais. Tanto aqui como em Brasília o puxa-encolhe se caracteriza pela mesmice das proposituras. Pois, os futuros governantes não apresentaram até agora o seu plano de voo para que os passageiros pudessem avaliar a seguridade do voo e muito menos onde querem chegar.

Por conseqüência pode-se avaliar que o processo de governança será um tanto quanto perturbado para os brasileiros e amazonense nesses primeiros meses, correndo o risco de ajuste em pleno ar. Fala-se do Amazonas porque a ação do governo federal no Estado é determinante para o ordenamento econômico da região devido o pleno funcionamento do projeto Zona Franca de Manaus com rendimento anual de mais de 50 bilhões de reais.

Espera-se, contudo, que o governo Omar Aziz saiba gestar os tributos decorrentes deste projeto formulando políticas públicas que venham qualificar as ações em benefício direto a população tanto na capital quanto no interior do Estado.

sábado, 25 de dezembro de 2010

FELIZ ANO NOVO: ENTRE PERDAS E GANHOS


Ademir Ramos (*)

Entre rios e florestas, desertos e oasis, as pessoas caminham na perspectiva da concretização de seus objetivos. As motivações são as mais diversas e suas determinações também. Às vezes não partimos com medo dos fantasmas e resolvemos então ficar tecendo as malhas, aqui e acolá, perdidos no labirinto do imaginário que em vez de criar condições para, reduz as pessoas em impotência, negando sua capacidade motora de mobilização e encontro.

Essa tensão é saudável. Contudo, é necessário se formular novas perguntas com propósito de obter respostas capazes de compreender a trajetória que percorremos ou pretendemos fazê-la em direção ao foco que buscamos alcançar. Os jovens são os mais explosivos nessa hora porque suas amarras estão soltas. Mas, não basta somente. É necessário domar a força e temperá-la com os conceitos em direção aos objetivos finalísticos socialmente definidos.

Nessa teia a ser construída é importante o domínio da informação, a leitura e o exercício reflexivo da prática. Seja quem for, busque o que quiser, essa é uma condição necessária para afirmação de seus propósitos e ideais.

O domínio dessas ferramentas transformam o medo e os fantasmas em desafios, criando ponte para sustentação de um presente real e de um futuro possível. Saiba que esse percurso não é linear e muito menos estático, tem vida, paixão, prazer, decepção, dor, alegria e felicidade.

O mais importante é conjugar todas estas variantes na busca da felicidade. Saiba que nesse mundo as pontes são construídas coletivamente e para todos. Não basta querer é preciso está apto para fazer senão ficarás sempre na retaguarda e na espera de uma oportunidade que nunca virá, não porque não exista, mas, porque foste limitado pelas condições materiais ou pelas avaliações equivocadas feitas no curso do teu projeto existencial.

Mas, saiba também que o sucesso não se mede unicamente de forma quantitativa. Muitas vezes, recorremos à seletividade para comparar perdas & ganhos. É nesse momento que formulamos a profunda reflexão sobre o projeto e a conectividade de sua extensão na rede das relações que se construiu no rio, na floresta, no deserto ou no oasis em direção a complexa formação da pessoa qualificada, muito mais pelo encontro e diálogo do que pela acumulação e o embrutecimento de sua condição humana no mundo que pertence a todos (as).

Feliz ano novo, são os nossos votos a todos os parceiros, colaboradores e simpatizantes de nossa luta que celebramos com gratuidade por amor ao próximo e ao meio ambiente, reclamando da classe dirigente a promoção da felicidade pública mediada pelo Estado Democrático de Direito.

(*) É professor, antropólogo e direção do NCPAM/UFAM.

MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS SOB NOVA DIREÇÃO

Álvaro Tukano (*)

Construído em 1987, o Memorial dos Povos Indígenas foi projetado por Oscar Niemeyer em forma de espiral que remete a uma maloca redonda dos índios Yanomami. O espaço tem área construída de 2.984,08m², com acesso principal através de uma rampa. Tem por objetivo mostrar a grande diversidade e riqueza da cultura indígena de forma dinâmica e viva. Com esse propósito, promove diversos eventos com a presença e a participação de representantes indígenas de diferentes regiões do país. No acervo, há, peças representativas de várias tribos, incluindo exemplares da coleção Darcy-Berta-Galvão com destaque para a arte plumária dos Urubu-Kaapor; bancos de madeira dos Yawalapiti, Kuikuru e Juruna, máscaras e isntrumentos musicais do Alto Xingú e Amazonas.

Meu irmão Pirakuman, durante as Comemorações dos 500 anos, nós Músicos e Curandeiros Tukano e Dessana nos encontramos por aqui, grandes Líderes Tradicionais do Xingu. Conhecemos de perto o Chefe ARITANA que foi homenageado por Governador Joaquim Roriz.

Na época o Memorial era dirigido pela Dra Sandra Wellington, inglesa. No tempo do ROBERTO ARRUDA foi dirigido por nosso parente MARCO TERENA e MARIA HELENA PARESI. Eu e você sempre estivemos juntos com MEGARON e RAONI para defender os direitos coletivos de nossos povos nos Auditórios da FUNAI e no Parlamento Brasileiro. Portanto, somos líderes do movimento indígena que iniciamos nesse país, e de fato conhecemos muito bem os líderes seríssimos que se encontram nas bases.

A minha indicação para direção do Memorial dos Povos Indígenas, certamente, não foi levado a sério pelas pessoas que debocham de nossa luta. Mas, hoje completam 55 dias de minha gestão, às vésperas do Natal e, em seguida, Ano Novo de 2111. Eu vim aqui com o apoio da Dra IONE DE CARVALHO que me conhece há mais de 30 anos no movimento indígena. Conhecemos o MÁRIO JURUNA e outros grandes líderes que já morreram. Sonhamos, pregamos Autodeterminação dos Povos Indígenas, Meio Ambiente, a Paz!... Conhecemos o Senador Darcy Ribeiro e outros ilustres brasileiros que sempre defenderam a causa indígena no Brasil e no mundo.

Hoje temos muitos ex-presidentes da Funai que muito contribuíram para demarcar as Terras Indígenas. Como vivo mais em Brasília, sim, tenho o trânsito livre no Parlamento Brasileiro, conheço os companheiros do meu partido e, hoje, temos o AGNELO QUEIROZ e Senadores, Deputados Federais e Distritais que conhecem e respeitam o nosso trabalho, a nossa luta.

Encontrei o Memorial dos Povos Indígenas (MPI) com bastante capim na parte interna por onde dançamos e cantamos. Peguei o cigarro e chamei os espíritos dos meus antepassados. Eles me atenderam. Ouviu-se barulho do trovão no céu, vimos raios e caiu a chuva. Peguei a enxada e limpei no fim da semana quando chovia. E, valeu o que aprendi com meu pai. Vasculhei por dentro, encontrei latas de tintas, muita sujeira e poeira.

Fiquei triste...Foi a primeira pancada, o desafio. Não esperei pelos outros, chamei os colegas, falei e começamos a fazer limpeza. Procurei companheiros profissionais para fotografar e digitalizar as 480 peças - poucas para tamanho do espaço físico e pela importância política de nossa dignidade.

Encontrei a Estação Digital Indígena Intercultural Mário Juruna que formou 13 alunos até o presente momento. Vamos melhorar para que o sonho de Mário Juruna se torne uma realidade para nossos povos. Li os documentos do MPI. Interessante, em nenhum momento a Questão Indígena foi tratada com respeito, segundo atestam os documentos. Não é mole ser dirigente do Memorial dos Povos Indígenas. Fiquei triste e pensativo...Muita coisa aconteceu por aqui.

O Memorial dos Povos Indígenas precisa de carinho, respeito e apoio incondicional dos chefes tradicionais, músicos, curandeiros, ervateiros, escritores, cantores e, sábios de modo geral. Não adianta esperar pelos outros. Procurei os dirigentes da IGUALDADE RACIAL. Fomos enganados, não obtivemos o apoio. Tinha gente dentro mais para sabotar os nossos projetos e mentir para o Lula. Levei reclamações aos respectivos Ministros, também, no Palácio do Planalto, ocasião em que fizemos a doação de Coleção de DVDs dos Séculos Indígenas no Brasil, obra do companheiro FRANK COE, 17 anos de luta ferrenha.

O Lula gostou muito de nosso projeto. Percebi, que muitas das vezes os "senhores-dos-índios" querem nos impor o limite de expressão, coisa que não posso aceitar. Fui na Secretaria de Cultura do GDF, para expor estes problemas...Estou por aqui, no MPI, pessoalmente, para acompanhar as obras de revitalização: - 1-) Substituição da fiação da parte de eletricidade interna e externa, para recebermos a exposição Séculos dos Povos Indígenas no Brasil, III Edição; 2-) Substituição da Película; 3-) Aquisição e redecoração das mobílias de exposição, e 4-) Pintura do Memorial.

Visitei o Diretor da Biblioteca Nacional - Professor Antonio Miranda, e fizemos a doação de DVDs desse projeto para imortalidade de nosso pensamento no Brasil. Durante a solenidade acadêmica que foi organizada pela Dra Ione de Carvalho, na Biblioteca Nacional, expressei para embaixadores e demais ilustres brasileiros sobre a importância do Memorial dos Povos Indígenas para Brasília e para todo Brasil. O nosso encontro foi maravilhoso. O mesmo fizemos na PUCRS, em Porto Alegre.

Ainda, em Brasília, realizamos os Módulos I e II para preparar mais de 750 Educadores do DF à Questão Indígena, envolvemos os estudantes indígenas da Universidade Nacional de Brasília, para serem monitores e líderes autênticos e destemidos. No Senado Federal, na Comissão de Direitos Humanos, com apoio do Senador Cristovam Buarque, falamos para o país sobre a importância da Lei Nº 11.645, de 8 de maço de 2008, lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva inclui no currículo das escolas públicas e particulares de nível fundamental e médio o ensino obrigatório de história e cultura indígena, que começou vigorar nesse ano.

Enfim, meu irmão companheiro de luta, Pirakuman, quero agradecer a você e Aritana pelo apoio e conselho; agradeço ao companheiro Ailton Krenak, Nação Botudo, MG, que não perdeu a guerra. Nasceu mais um filho de nosso irmão Ailton Krenak, antes desse Natal. Quero agradecer aos Líderes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, FOIRN, São Gabriel da Cachoeira, AM; agradecimentos aos líderes da ARPINSUL e tantos outros guerreiros e conselheiros para cuidar de nosso espaço político tradicional, Patrimônio Público Cultural que é O MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS, em Brasília.

Juntos, tenho a certeza, de que não vamos decepcionar os Governos AGNELO QUEIROZ, Brasília, DF, e DILMA ROUSSEFF, Presidente do Brasil, para mostrar-lhes a nossa capacidade, habilidade e compromisso ético e moral para cuidar de nossas crianças índias e não-índias do nosso Brasil. Faremos, sim, a exposição sem medo. Vamos trazer chefes tradicionais e vou conversar pessoalmente, para mais de 50 mil alunos e professores entre Fevereiro a Julho de 2111. Teremos muitos visitantes. Eles vão dizer se somos capazes ou não para dirigir o nosso destino, o nosso futuro. Em nome da Equipe do Memorial dos Povos Indígenas e de Séculos Indígenas no Brasil, desejamos a cada um dos senhores, UM FELIZ NATAL!!!!!!! Sempre.

(*) É Tukano do Alto Rio Negro, no Amazonas. É direção do Movimento Indígenas do Brasil desde a década de setenta, quando articulado com lideranças nacionais lutou pela redemocratização do Brasil participando diretamente da construção da Nova Ordem Constitucional promulgada na Constituição Federal de 1988.

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

O ZANGÃO QUE VIROU MOSQUITO

O tempo é implacável. Tal assertiva também é válida para os políticos, que por vício se perpetuam no poder para garantir aos seus os predicativos do cargo, aparelhando o Estado aos interesses privados e domésticos. No entanto, não podem contrariar a natureza que encerra potencia, habilidade e força capaz de arrebatar a fortuna enquanto paixão na perspectiva de definição das estratégias, visando à conquista e a permanência no poder.

Os políticos também têm data de validade cabe aos leitores conscientes conferirem em suas práticas o quanto, ainda dura, a gestão de determinado parlamentar ou gestor no exercício do mandato. O sensato seria que o próprio ator decida sobre as suas condições de trabalho e resolva parar enquanto o reconhecimento popular exalta sua grandeza no universo da política eleitoral.

Não havendo tal manifestação cabe ao povo descartá-lo das mais variadas formas levando até ao palanque das vaias ou mesmo à sarjeta do ostracismo, execrando o nome do político em praça pública para que se volte aos seus afazeres domésticos e possa quem sabe pelo menos prestar alguma contribuição moral ou técnica aos seus fieis escudeiros.

Em alguns reinados africanos, quando ocorria a morte do rei, conservavam o seu corpo embalsamado e os seus fantasmas governavam até chegarem ao entendimento de quem iria substituir no exercício do mando. Com isso mantinha a unidade e buscavam de certa forma o consenso na classe dirigente e em seguida declaram formalmente a morte do mandatário.

Por aqui, na terra dos Manaós, pelo descaso e abandono em que se encontra a cidade e o seu povo, a morte está declarada, faltando apenas celebrar o rito de passagem para exorcizar o espírito que por vício não pretende abandonar a caverna do poder que por muito transformou em sua morada.Talvez ainda, tal espírito vagante, busque uma saída honrosa. O chamado tiro no pé, fazendo-se de vítima para que converta o fato numa comédia de erros e acertos.

Se assim for a sentença virá de Brasília e de forma rápida as carpideiras e alguns homens fortes serão contratados para carregar em praça público aquele que foi um dia o Zangão do Norte e hoje se encontra reduzido pela sua arrogância e insensatez a um mosquito do asfalto a vagar em busca de guarida, batendo de porta em porta a procurar de um partido para lhe conferir algum status de direção. Em síntese, que a sabedoria vença a arrogância e a vaidade, vindo a orientar as determinações dos profissionia quanto ao tempo do plantio e da colheita e quem sabe possa usufruir diretamente das benesses e do reconhecimento do seu trabalho como processo de transformação social sob a forma de um poder republicano.

AVE, CHEIA DE GRAÇA

Senhora mãe de Jesus, que manifesta em sua face a dor da morte, do sofrimento e do perpétuo socorro a prestar aos filhos perseguidos Amor e Justiça. Bela e virgem se fez mulher para gerar ao mundo o Filho do Altíssimo, que se fez homem, nascido entre os pobres como sinal de contradição para mundo. O mistério da salvação estende-se por todo o século encontrando resposta muito mais na Fé do que na História. Contudo, a estrela como flecha certeira indica que o caminho de luz é Jesus Cristo, o Menino Deus, nascido de Maria com paternidade de José, o carpinteiro. A Alegria dessa Senhora do povo, segundo os Evangelistas, pode ser notada em variados momentos de celebração familiar, exaltando o rosto sagrado de Deus na face de seu filho que passa a exercer o seu apostolado, contrariando as ordens instituídas do domínio local. Maria, pouco sabe, mas compreende, a trajetória do filho porque é Senhora da Graça e esta virtude se faz celebrar em comunhão familiar no amplo conceito da anunciação do Cristo que se fez luz no mundo para redimir os pecados sociais e transformar os aflitos e excluídos em sujeitos da história ungidos da esperança e do amor fraternal. Confira o valor de Maria nessa interface dos mistérios gloriosos na História.

Ellza Souza (*)

Ave, Cheia de Graça, com esta saudação o arcanjo Gabriel anunciou a vontade de Deus, a vinda de Jesus ao mundo para nos salvar. Por tudo que depreende desse fato, o dia de Natal sempre vai ter um significado de alegria, de renascimento, de fraternidade. Uns até esquecem o que se festeja no dia de natal. Mas já se vão mais de dois mil anos de enternecimento com essa data tão importante para os cristãos. Crer em Jesus sem envolver sua família, Maria e José, especialmente escolhida por Deus para a sua vida terrestre, é como viver sem parâmetros para a sua salvação celestial.

A fé nos encaminha para a solução de muitos mistérios que a nossa vã inteligência não consegue captar. Segundo a fé e a história que não se abalam com o tempo, Jesus nasceu na manjedoura, pobre, perseguido, com problemas como qualquer um de sua época. Cresceu ao lado de seus pais (pai é o que cria, que dá amor) e foi alimentado por muito amor e carinho.

Não podemos esquecer nunca a história de Jesus. E nem apequenar o papel de Nossa Senhora em relação ao nascimento de seu filho. Maria veio para acolher, para sublimar, para possibilitar, para dar um toque feminino ao Criador de todas as coisas. Quem tem histórias para contar não morre nunca. Como sabiamente os índios fazem, é de boca em boca que vão passando seus credos, seus costumes, suas experiências e descobertas. Sempre foi assim na humanidade e quando as pessoas ficarem surdas e mudas e não compartilharem mais as suas vivências, aí realmente o mundo pode estar no fim.

Maria como qualquer mãe cumpriu a sua missão. Calada e apaziguadora, fez a sua parte e deixou uma marca indelével na humanidade. Em pesquisa para sua tese de doutorado, Auricléa Neves encontrou na pintura, na literatura, no teatro amazônico elementos próprios que se destacam em nossa cultura. No livro de orações e salmos do poeta Max Carphentier chamado Nossa Senhora de Manaus, Maria é a mediadora “que roga a seu filho proteção às matas, aos rios, a fauna e a flora; pede paz e segurança aos ribeirinhos e aos habitantes da cidade”. Nessa obra surge o termo ecoespiritualidade onde o poeta pede a Virgem Maria sua intercessão pela salvação da natureza. No quadro de Moacir Andrade também chamado de Nossa Senhora de Manaus, a pesquisadora encontra uma Virgem Maria regionalizada.

A pesquisadora Auricléa afirma que “de Belém a Manaus, da ocupação da bacia amazônica à exploração de leste a oeste da Amazônia, a Virgem foi sempre louvada”. E apresenta dados importantes. Até a primeira metade do século 20, das nove igrejas da capital amazonense, cinco tinham Maria como padroeira: Conceição (1659), Remédios (1873), Perpétuo Socorro (1941), Aparecida (1943) e Nazaré (1948).

Como qualquer um de nós, temos apenas uma mãe. Nossa Senhora, como carinhosamente a chamamos, só existe uma. Mas Nossa Senhora, vez por outra nos dá sinais de sua existência e ao longo dos tempos vem nos mostrar caminhos para reforçar a nossa fé. Foi assim em Lourdes, pequena cidade da França, onde apareceu para uma menina de 13 anos chamada Bernadete que implorou a Nossa Senhora que lhe revelasse seu nome. Após três pedidos a Virgem lhe respondeu: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Uma aparição dessas e um milagre para serem considerados verdadeiros são necessários anos de estudos. Não basta dizer precisa ter a comprovação histórica.

Com as belas palavras do poeta Carphentier em sua Missa Planetária, encerro a empreitada no Ncpam em 2010 com alegria e sempre esperançosa em um mundo mais pacífico. A benção mãe santíssima.

“Senhor do nosso cantar,

as nossas vozes são almas,

as nossas almas são beijos,

grinaldas da tua fronte.

No coro ou entre as panelas,

a ti cantamos no tom

do rouxinol da janela”.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL: ENTRE O PASSADO E FUTURO

Ademir Ramos (*)

A mediação dessas estruturas complexas tem sido feita no curso da história pela política na perspectiva de uma concepção dirigente capaz de traduzir às vezes interesse múltiplo em políticas sociais, quando não, concentra toda força visando à acumulação da riqueza em mãos de poucos, gerando os miseráveis, despossuídos de bem e valor, em condições de subalternidade sob o mando de uma classe embrutecida pela ordem da dominação e exploração.

Tal ordem estruturante se fortalece na formação das sociedades e no instituto do Estado como aparato de sustentação de poder. Nesse contexto, as culturas se desenvolvem formulando valores, regras, comportamentos e práticas que justificam o modus operandi das formas de governo.

A formação e o desenvolvimento desses povos operam de forma diferenciada adequada as suas determinações culturais. Nesse caso, é relevante a capacidade das nações, que de forma cognitiva conceberam sistemas explicativos traduzidos em tecnologias geradoras de instrumentos aptos a mediar à relação homem e natureza em atenção aos problemas que se depararam na trajetória explicativa de sua formação social.

O passado e o futuro nessa conjuntura são mediados por um presente relacional que transforma as pessoas em sujeitos operantes de uma cultura que pela sua especificidade pode celebrar encontros e diálogos; pactos e contratos fundamentados no desejo, na vontade, na propriedade, na racionalidade, nas artes e representações espirituais.

A celebração do Natal, além de dar guarida a uma prática religiosa institucional de forma transversal entre Estado e Sociedade movido por interesse político hegemônico, serviu também para conquistar novos mercado simbólicos e materiais na perspectiva da somatória quantitativa da acumulação por meio do consumo, excluindo cada vez mais os expropriados da “santa ceia do capital” para o fosso do inferno onde vivem do subtrabalho empanado pela invisibilidade de sua existência social.

Sem pão e sem vinho, os excluídos da ceia vivem a vagar não só pela necessidade imperativa, mas, sobretudo pela desorganização política em que se encontram. A vinda do Messias nesse contexto significa não só o restauro da Unidade, mas também, o catalisador dos anseios e reclamos de um povo oprimido, excluído e serviçal das ordens institucionais seja ela romana ou brasileira.

O nascimento do Messias, portanto, revela por sua vez a grandeza do poder salvífico, que pouco a pouco vem sendo identificado na trajetória do Cristo Jesus. O Deus que se faz criança, nascido de uma mulher numa estrebaria, entre bichos e homens, torna-se um entre eles e se desenvolve na perspectiva da redenção, religando o passado ao futuro por meio de um projeto libertador exaltado por valores éticos, políticos e escatológicos abstraídos da história do Cristo Jesus à luz de sua missão apostólica.

A celebração do Natal encerra em sua ritualização vários significados que pode muito bem contribuir diretamente para o combate à desigualdade social, a arrogância dos poderosos, a fraternidade, o amor, a reciprocidade e o respeito às formas de vida. A prática pedagógica exaltada por Cristo é caracterizada pela visão teleológica, que transforma o principado celestial em morada dos homens, o que os cristãos conquistam no mundo entre vícios e virtudes balizado pela fé redentora em um Cristo libertador.

A Todos (as) um Feliz Natal e que o Menino Deus nos possibilite formular perguntas seguidas de novas atitudes, para que possamos celebrar a Paz comunal, exaltando o amor e a justiça enquanto condição de filhos de Deus.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

APEGO DO POLVO AO PODER

Ellza Souza (*)

O discurso do mandatário do planeta Erbop mais parecia uma despedida. As palavras chaves eram esquerda, pobreza, controle, antes era assim e hoje é assado, cheguei onde cheguei, elite, liberdade. Dava para captar a emoção pelo trono perdido. A sensação é de que vou mas deixo meus ensinamentos, a minha cria. Não posso esquecer num de seus primeiros discursos há quase uma década a básica promessa de que não faltará comida em nenhum prato erbopiense. Cumprir pelo menos essa promessa já estaria de bom tamanho para encerrar bem um ciclo.

Escrevo como cidadã que faz questão de viver nesse exuberante país. Apesar de trabalhar, estudar, cumprir as minhas obrigações e respeitar o próximo, nesses últimos tempos fui empurrada para a classe C ou L não sei. Só sei que é uma classe dos carentes ou dos lisos para brincar um pouco com a situação. É fato a situação caótica das pessoas dessa classe. Não ter trabalho causa problemas mentais e emocionais. Ao procurar um médico no posto dificilmente você consegue atendimento. Para conseguir uma emergência para evitar a morte você precisa chegar de madrugada para pegar uma ficha. Os remédios “acabaram”. O hospital não tem leitos e isso é corriqueiro. É comum as pessoas dessa classe morrerem no corredor sem conseguir falar com o médico. Muitos prédios bonitos foram construídos e servem adequadamente a propagandas enganosas mas a saúde do erbopiense continua ruim. O equipamento enferrujado, material básico insuficiente, profissionais (atendentes e médicos) incompetentes.

Isso só na área da saúde. As outras áreas estão péssimas. Se a mensagem que passo aos jovens é de que “eu consegui você também consegue”. Conseguir sem estudar, sem esforço, só com uma boa garganta então estamos no caminho certo. Não vale mais a pena estudar e as escolas públicas estão às moscas. Por que a escola particular é atualmente um bom negócio? Não precisa ter estudado mas precisa pelo menos ter lido um bom livro para discernir que é por causa do ensino público ruim. Nem a classe dos L quer estudar num lugar de abandono e tristeza onde tudo pode acontecer. E para essa classe é só o que lhes resta. Falta o professor que tem mais o que fazer do que bater cabeça com jovens rebeldes, falta o aluno que vai aprender com outras galeras a maneira correta de se comportar. O gestor da escola nem se fala, está mesmo é preocupado com seus conchavos políticos e quer conseguir um lugar melhor onde não precise fazer nada e possa arrastar um “bolinho” dos recursos públicos muito mal administrados.

Talvez por viver num lugar onde a concorrência é mal vista, cada vez que me aproximo de uma prateleira de supermercado, me assusto. Que inflação é essa sob controle? Numa cidade que se gaba dos quase dois milhões de habitantes dos quais um milhão, novecentos e noventa e nove é da classe L, só existem dois supermercados que são donos dos preços altos, do mau atendimento, de produtos vencidos. Esse e outros desmandos significam falta de comando, de regras, de competência, de estudo, para gerir e entender a coisa pública e a privada. Mas esses mesmos hum milhão e tal prestam-se a votar no oba oba, no discurso engraçado, no trabalhador que chegou lá.

Trabalhador, que trabalhador? No discurso quase de despedida do mandatário de Erbop se falou em estado “indutor e controlador”. Essa fala parece dizer tudo o que representou nesses últimos anos de governo. Controle pelos incompetentes e pelo descaso. Não vi desenvolvimento, desculpem a minha ignorância. Esse negócio de cotas, “sou de esquerda”, filme de bonzinho, nunca dantes nesse Erbop havia visto. Sabia que existia mas camuflado agora está escancarado o preconceito, a separação, as diferenças. Quem é pobre é pobre mesmo. Quem é rico é rico mesmo. Meio termo pra que? E a bandidagem está no topo podendo comprar até a alma de sua mãe.

Vale a pena manter a classe L na mais completa dureza e na ignorância. Quem pode comprar um tambaqui a R$ 80, um abacaxi a R$ 4, um quilo de carne a R$ 20. Só mandatário e político. É pro parlamento que eu vou. Mas antes vou riscar do meu currículo tudo que aprendi. Vale agora ensinamentos que beiram a cara de pau, a bossalidade, a falta de ética, o apego ao poder.

O mandatário falou também em liberdade. Como isso é possível com o estado “indutor e controlador” que ele tanto apregoa. Fiquei burra, lesa e cada vez mais lisa nos últimos anos da minha existência. Da liberdade, porém, não abro mão. Preciso ser livre para expressar meu sentimento, a minha opinião., a minha aversão. Ainda acho que vale a pena ter esperança de um Erbop melhor.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

PISA - OS DOIS BRASIS

João Batista Araujo e Oliveira (*)

A nova rodada do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa) confirma: há dois Brasis. O Brasil das escolas particulares, com 502 pontos, bem próximo à média dos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e o das escolas públicas, com média de 387 pontos, na rabeira do mundo. Isso significa que o aluno médio de 15 anos de idade daqueles países encontra-se quase três séries escolares à frente dos alunos de nossas escolas públicas. E que metade dos brasileiros dessa faixa etária nem sequer entende o que lê. A outra metade foi apenas um pouquinho além disso.

Houve avanços no País? Sim. E possivelmente se devem à progressão do fluxo escolar: hoje temos mais jovens de 15 anos no ensino médio, e isso pode explicar grande parte da evolução dos resultados. Mas estamos bem? Não. Estamos muito mal. Houve surpresas nos resultados? Talvez. O desempenho das escolas públicas nas diversas Unidades da Federação (UFs) reproduz as diferenças regionais. Como as amostras foram tomadas dentro de cada uma dessas unidades, é prematuro fazer inferências sobre as escolas privadas ou comparações entre as UFs.

É patente que falhamos e continuamos falhando no essencial. Não fizemos uma reforma educacional digna do nome. Temos boas intenções e o esboço de uma mobilização social ainda capenga e fortemente atrelada ao Estado. Há boas ideias e iniciativas interessantes aqui e ali, algumas com os elementos certos para quem desejar fazer uma reforma educativa para valer. Mas não há proposta - nos planos federal, estadual ou municipal - consistente e contendo as condições necessárias e suficientes para mudar o quadro.

Coincidente com o Pisa, recém-publicado estudo da McKinsey confirma o que já sabemos sobre reformas educativas eficazes e lança novas luzes sobre um aspecto que deveria interessar a autoridades e à comunidade acadêmica: uma reforma eficaz se faz com ingredientes já conhecidos e comuns a todos os países de sucesso na área educacional.
A novidade: a receita e a dose mudam de acordo com o estado do paciente. Quanto mais primitivo o sistema educativo - caso do Brasil -, mais necessárias as intervenções estruturadas e dirigidas. Para sermos igual a Cingapura ou Coreia do Sul, por exemplo, precisamos seguir o que fizeram esses países quando estavam na nossa situação. E não copiar o que executam hoje.

O Brasil erra quando preconiza autonomia onde ela não pode existir. E, mais ainda, quando centraliza decisões, usando nas escolhas critérios que não procedem. Ou seja: usamos os ingredientes errados em doses erradas.

Temos, aqui, ao mesmo tempo, problema e solução. O problema - comum a praticamente todas as redes de ensino do Brasil - é de qualidade. Estamos na lama. Se a evidência científica e a experiência internacional valerem para o País - e deveriam valer -, a solução encontra-se numa série de medidas já testadas lá fora: foco na alfabetização e no ensino da língua e da Matemática; prescrição de currículos e materiais de ensino estruturados, com suporte de bons livros didáticos e com orientações claras e específicas para um professor que apresenta hoje baixos níveis de qualificação; apoio para o cumprimento rigoroso do ano letivo e do tempo em sala de aula; supervisão baseada em instrumentos adequados e em informações oriundas de avaliações para a melhoria das práticas escolares. A eficácia de sistemas de incentivos é demonstrada em vários casos, mas ainda é objeto de grandes controvérsias.

Além dos resultados, o Brasil também difere dos países desenvolvidos pelo fato de haver enorme diferença entre o desempenho das escolas de uma mesma rede de ensino: além da ineficácia e ineficiência, os sistemas de ensino também lidam mal com a questão da equidade. São mais dois Brasis dentro de cada rede. Essa dispersão de resultados reflete o erro estratégico das políticas que centralizam o que não deveriam e descentralizam o que não poderiam. Nossa meta mais importante deve ser a redução das diferenças entre os resultados das escolas. O relatório da McKinsey confirma o que vozes isoladas vêm preconizando no Brasil: é preciso sintonizar pedagogia e gestão.

Muitos dos ingredientes de sucesso estão em uso em algumas redes de ensino, mas com composição, dose e estilos diferentes e quase sempre de maneira errática ou inconsistente. Há ainda muita incompreensão sobre o que efetivamente funciona em educação e na sala de aula - apesar das evidências científicas. Isso é resultado de ignorância patrocinada pelos interesses corporativistas e por uma forte visão ideológica que permeia as faculdades de educação, os egrégios conselhos de composição igualmente corporativista e a cabeça das autoridades educacionais.

Mais difícil do que fazer certo é manter o foco. As secretarias de Educação e o Ministério da Educação (MEC) inundam as escolas com uma miríade de ideias e programas que até podem ter mérito isoladamente, mas que acabam contribuindo para distrair as redes e escolas do foco principal. O maior equívoco reside nas estratégias de capacitação, que ignoram as condições reais do professor.

Temos aí mais uma chance. O estudo da McKinsey aponta caminhos. Se tivermos a humildade de não querer redescobrir a roda, podemos melhorar nosso padrão educacional. Dado o desequilíbrio federativo, o papel do MEC e dos governos estaduais poderia ser de importância vital para estimular boas reformas, com base no pluralismo de abordagens, desde que reconhecidamente eficazes.

Mas para isso seria necessária uma revolução nas formas de pensar e de agir do MEC e das secretarias. Até lá, as redes de ensino terão de procurar seus próprios caminhos e resistir às pressões e modismos. De boas intenções o inferno está cheio.

(*) É presidente do Instituto Alfa e Beto, e articulista do Estadão.

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,pisa---os-dois-brasis,656652,0.htm

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

NOVOS LANÇAMENTOS DA ACADEMIA AMAZONENSE DE LETRAS

O Presidente da Academia Amazonense de Letras, Acadêmico José Braga,
convida para a Premiação do Concurso Manaus e Poesia, lançamento dos livros “Catedral dos Sacramentos”, de Max Carphentier,“Terezinha Morango – Cinderela Amazônica”, de Demosthenes Carminé,e novas edições da Revista da Academia.

Os livros serão autografados e ofertados durante o coquetel de encerramento do Ano Acadêmico 2010.

Dia 29 de dezembro, quarta-feira,às 19 horas
Casa de Adriano Jorge – Rua Ramos Ferreira 1009, Centro de Manaus.

O MISTÉRIO SOB O RIO

Ellza Souza (*)

A seca desse ano, uma das maiores em décadas, mostrou algumas curiosidades. Além dos desenhos nas pedras das Lages no Encontro das Águas que veio caracterizar a aura de mistério e história que envolve aquele lugar, no igarapé de São Raimundo que separa a colina dos ex-bucheiros do bairro de Nossa Senhora Aparecida dos Tocos, apareceram centenas de imensas toras de madeira de lei do tipo Itaúba que pela sua durabilidade é muito usada na carpintaria naval.

Segundo moradores de São Raimundo, a madeira era jogada no rio pelas duas serrarias que ficavam na margem ainda sem ponte, do lado da Aparecida. Muita gente está aproveitando esse material que há pelo menos 50 anos está debaixo da água e ganhando alguns trocados. Essas pessoas cortam as tábuas com a moto serra, ali mesmo nos bancos de areia que estão à mostra e as vendem no local. Madeira dura essa...

Era uma vez nas Lages

Lages da minha infância
Lages das minhas lembranças
Era o passeio de domingo
Nas Lages se respirava mistério
Era um lugar lindo
Não sei dizer por onde
Meu pai nos levava
Mas tinha as pedras, tinha lago
Tinha castanheiras e palmeiras
Tinha o abraço dos rios
Tinha o meu pai junto com a gente
Com a seca apareceram os traços
Comprovou-se a nossa história
E quase a perdemos
Foi por um triz
A natureza avisou
A água sumiu e a arte ficou
Respiramos aliviados.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

Foto: Valter Calheiros

segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

A GRANDEZA E A PEQUENEZ NA POLÍTICA

Gaudêncio Torquato (*)

De Gaulle tinha exata noção de que ao político, como ao artista, é necessário o dom, moldado pelo ofício. Cercava-se de cuidados com a expressão, ensinando: "Os maiores medem cuidadosamente as suas intervenções. Fazem delas uma arte." Tempos grandiosos aqueles em que as plateias se encantavam com a arte dos grandes mestres da palavra. As sentenças continham boas lições e o poder de mobilizar e atrair a atenção das massas.

"Não tenho nada a oferecer-vos senão sangue, sacrifício, suor e lágrimas", declamava Churchill a ingleses inebriados com o fervor que o primeiro-ministro imprimia à convocação de guerra. "Não pergunte o que seu país pode fazer por você, mas o que você pode fazer por seu país", proclamava o presidente John Kennedy em seu discurso de posse, elevando o orgulho norte-americano. Pouco a pouco, a névoa do tempo tornou esquecidas as mais belas páginas da História. A cortina desceu sobre os palcos do esplendor e a era dos tribunos foi fechando portas, sob o eco da locução de Nietzsche no cume do penhasco nos Alpes de Engadine: "Vejo subir a preamar do niilismo."

A política apequenou-se. Os atores despiram-se dos mantos litúrgicos que os cobriam de reverência. E, assim, os mais altos ideais, torpedeados pelas emboscadas da modernidade política, foram suplantados por interesses mercantilistas.

A esfera do discurso é apenas uma das frestas que deixam transparecer o rebaixamento dos padrões da política. A degradação tem sido devastadora, destruindo mitos, corrompendo administrações, sujando reputações, maltratando doutrinas e até invadindo os espaços da privacidade. A baixeza se expande.

Governantes de nações do Primeiro Mundo veem sua imagem embalada em escândalos e, pasmem, sob acusações de envolvimento em casos sexuais com menores e garotas de programa. É o que se diz do primeiro-ministro Berlusconi, da Itália. Correspondências devassadas pelo WikiLeaks mostram como as potências consideram parceiros e adversários. A uma pauta de preconceitos se somam digressões sobre o caráter (criticado) de figuras públicas.

Por aqui, a corrosão também é intensa. O nosso sistema político, no fluxo da crise que fere a democracia representativa em todo o mundo, é balizado por um conjunto de elementos negativos: fragmentação partidária, desmotivação das bases, pasteurização ideológica, perda de força das Casas congressuais e supervalorização dos Executivos. Também entre nós, o campo da expressão é mostra do esburacado estado da arte política.

A cada dia a galeria de gafes ganha uma nova peça. Na semana passada foi a vez do governador Sérgio Cabral, do Rio de Janeiro, que, puxando o argumento de que o dever conclama todos a pisarem na realidade, assim falou: "Quem aqui não teve uma namoradinha que teve que abortar?" Ao defender a absurda hipótese sob forte convicção - "vamos encarar a vida como ela é" -, talvez lhe tenha escapado a conclusão de que, levando ao pé da letra a peroração para cerca de 400 empresários, tirando as exceções de praxe, a conta dos abortos ultrapassaria a casa dos 300.

A maneira improvisada como se pinçam dados (quase sempre chutados) para arrematar pontos de vista também faz parte do mau trato que se dá à política. Quando o comandante Cabral conclama a plateia a encarar a realidade, certamente o faz com a intenção de expurgar a camada de hipocrisia que reveste partes do corpo político. O que, convenhamos, seria positivo. Por que, então, é alvo de críticas? Ora, porque sua indagação é uma aleivosia, uma falseta, um exagero; ademais, defender a legalização do aborto sob o argumento de que sua prática é generalizada é pinçar um sofisma.

Por último, a questão da hipocrisia: se há real interesse em extirpar a falsidade que cerca a vida cotidiana, o orador deve incluir outros fatores que não apenas aqueles que realçam um discurso para agradar a plateias.

Certos homens públicos esquecem que portam o dever de compartilhar ideário, rotinas e ações com a coletividade. Seu mandato não lhes pertence. É do povo. Portanto, o que pensam e o que dizem devem integrar as demandas da parte da sociedade que os elegeu. O chiste, a piada pronta, a improvisação, o jeito brincalhão de animar audiências - elementos que se imbricam ao modo brasileiro de ser - hão de ser devidamente controlados e ajustados aos momentos, sem firulas, sob pena de se transformarem em bumerangues contra os porta-vozes.

Foi assim com o próprio Lula, que, em momento de descontração, cometeu algumas apelações. Com Maluf, que nunca se livrou do indefectível "estupra, mas não mata". Com Marta Suplicy, que, ministra do Turismo, não se conteve e, ante o caos aéreo, saiu-se com o "relaxa e goza". Ou o incontrolável Ciro Gomes, recordista de frases de péssimo gosto. Exemplo: "Fortaleza é um prostíbulo a céu aberto" (criticando a administração petista em 2008). Aliás, a dúvida persiste: ministro do governo Dilma, terá controle para dobrar a língua?

É sabido que entre a arte (dramática ou política) e o artifício existem relações. Os políticos, como os atores teatrais, exercem papéis. Explica-se, assim, como a teatralização da vida pública gera simulação, mentiras ou falsas versões. Sob o abrigo da representação, os atores políticos desempenham também roteiros. Alguns tentam fazê-lo de maneira decente, inspirando-se no ideário original da política, que é o de bem servir à comunidade; outros exageram na interpretação do papel, fazendo uma figuração artificial e distante das expectativas de suas bases.

E, por fim, existem os figurantes que, a pretexto de defender a verdade, a sinceridade, a expressão do coração, acabam cometendo tolices. A política incorpora uma liturgia própria, com ritos, costumes, semântica e estética. Seus integrantes precisam seguir à risca ditames, valores e princípios que a inspiram. Sem fazer dela um teatro de ilusão. Ou palco para representação de sua ópera-bufa.

(*) É Jornalista, professor titular da USP, consultor político e de comunicação, e articulista do Estadão.

Fonte: http://www.estadao.com.br/noticias/geral,a-grandeza-e-a-pequenez-na-politica,655503,0.htm

QUERO UM LIVRO DO PAPAI NOEL

Ellza Souza (*)

O primeiro dia da liquidação anual da Livraria Valer mostrou que ainda temos leitores em Manaus apesar das poucas livrarias. A fila antes de abrir a loja subia a Avenida Getúlio Vargas. Muita gente querendo comprar livros. Isso é uma maravilha!!! Estava um pouco triste com as palavras do articulista do Estadão, Mauro Chaves (leia no www.ncpam.com.br) que sugere o lema “Não somos ladrões” se referindo a fraude no sistema de incentivos fiscais para produções artísticas e culturais brasileiras. Lendo o seu texto sobre o assunto vai dando um aperto por percebermos que o jornalista tem razão e até a beleza que envolve a nossa vida pela arte e cultura está minada pelo jeitinho, pela incompetência, pelo apadrinhamento. Estamos perdidos ou ainda resta uma esperança?

Na liquidação da Valer vi a esperança. No domingo, segundo dia da liquidação, pude constatar o sucesso do evento. Um público diversificado lotava o salão com alguns autores como Leyla Leong, Ana Peixoto e Elson Farias autografando seus livros infantis e fazendo a festa para seu público. O Tenório Telles falou como sempre palavras de incentivo à leitura, alertando aos pais presentes qual a verdadeira função do livro de despertar o conhecimento, o aprimoramento, a sensibilidade.

As crianças circulavam livremente por entre os livros e essa proximidade deixava em seus semblantes alegria pelos personagens, pelas histórias, pela integração com o imaginário. Do bebê de oito meses no colo do pai, a filha da Bia de um ano e oito meses que tocava nos livros e prestava atenção nas pessoas e nas ilustrações coloridas das capas. Jovens de dez e 12 anos já demonstravam um interesse por romances mais densos do tipo best-sellers, os universitários buscavam livros na área de saúde, serviço social, contabilidade, história do Amazonas, romances de Milton Hatoun. Tinha livro para todos os gostos.

Destacava-se entre os livros uma versão de O Pequeno Príncipe, com o texto lindamente ornamentado com dobraduras e personagens recortados em relevo dando um encanto maior a essa história de Saint Exupéry que cada vez mais atrai pequenos e grandes leitores. Perguntei ao João sua idade e ele falou “pode não acreditar” pois parecia uns oito e mostrou os quatro dedos da mão; Marcelo, 7 anos; Gabriel, Rafael e Daniel, “três anjinhos leitores” segundo a mãe, de 2, 9 e 13 anos. Os adultos estavam ali profundamente animados pela possibilidade de comprar um livro pela metade do preço. As crianças pequenas como o Gabriel querem pegar no livro e ouvir as histórias. Os adolescentes já têm seus temas e personagens preferidos como a série Crepúsculo, segundo Joaquim de 12 anos e “fico atento às sugestões dos amigos”.

Para todos que desejam ler o primeiro livro vale as sábias palavras do pintor Moacir Andrade "a leitura é um dos grandes prazeres do ser humano, experimentem".

Que venham mais iniciativas como essa. Mais leitores, mais livrarias, mais bibliotecas, mais sebos, mais quartas literárias, mais tenórios, mais isaacs, mais moacir andrade, mais elenas koynovas, mais paz. Não podemos deixar morrer a cultura, o saber, a arte, a música, o primário abc já que até para excelentíssimos deputados e senadores não se exige conhecimento nenhum e muito menos ficha limpa. Só nos resta os livros e que venham mais autores com obras que não deixem morrer nossos neurônios, nossos sentimentos, nossa sensibilidade. Não é mesmo professor?

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

SAÚDE DO TRABALHADOR NO INÍCIO DO SÉCULO XXI

Embora a relação trabalho e saúde tenha sido relatada desde a Antiguidade,as primeiras abordagens formais desta relação tiveram iníciona Europa, no século XIX, com a criação da Medicina do Trabalho e a implantação dos serviços médicos dentro das empresas. Eram estruturas centradas na figura do médico, que, por meio de uma atuação focada no trabalhador, assumiam a responsabilidade pela prevenção dos acidentes e das doenças. Mas o interesse principal não era o de promover a saúde dos trabalhadores, mas, sim, o bom funcionamento dos processos de trabalho.

As práticas mais disseminadas eram a seleção de pessoal que, em tese, fosse menos propenso a se acidentar e adoecer, o controle da saúde para evitar problemas de absenteísmo e os esforços para proporcionar retorno rápido ao trabalho nos casos de afastamentos.

A Organização Internacional do Trabalho (OIT), criada em 1919, adotou, desde o início, normas preventivas que tratavam da limitação da jornada, do desemprego, da proteção à maternidade, do trabalho noturno de menores e mulheres e da idade mínima para admissão de crianças.

Em 1953, por meio da Recomendação 97, sobre a proteção à saúde dos trabalhadores,
passou a estimular os países membros a formarem seus médicos do trabalho e a instalarem serviços de Medicina do Trabalho nas empresas.

No Brasil, desde 1943, com a Consolidação das Leis do Trabalho e com a Lei nº 6.514, de 1977, tais serviços foram previstos e o ambiente no espaço das empresas passou a ser objeto de atenção da Engenharia de Segurança e da Higiene Ocupacional, com a entrada em cena, de forma mais enfática, de profissionais das áreas de Engenharia e Toxicologia.

A atuação dos médicos sempre se pautou pela avaliação de elementos objetivos que pudessem, de alguma forma, interferir na integridade física e na saúde do trabalhador, assim como a dos engenheiros e dos toxicologistas sempre teve como objeto de avaliação e intervenção as condições de trabalho visíveis e mensuráveis.

No entanto, a observação e a evolução do perfil de adoecimento dos trabalhadores têm denunciado outros elementos não abordados pelo tradicional sistema de prevenção
de acidentes e doenças das empresas.

Nas décadas de 1980 e 1990, concomitantemente aos já conhecidos agravos ocupacionais, com mortes e mutilações, intoxicações por vários produtos químicos, perdas auditivas, pneumopatias e dermatoses, os trabalhadores com afecções musculoesqueléticas, as LER/DORT, passaram a invadir os consultórios. Diferentemente de outros agravos, esses ocorriam indistintamente entre trabalhadores da indústria, do comércio e de serviços. Acometiam trabalhadores cujas atividades laborais não exigiam altos gastos energéticos e sua etiologia não podia ser enquadrada nos
fatores de risco tradicionais: físicos, químicos e biológicos. Nesse contexto, ganhou força a discussão de que o trabalho e suas repercussões sobre a saúde dos trabalhadores deveriam ser analisados não somente no tocante às condições tradicionalmente abordadas, mas também aos seus aspectos organizacionais, ergonômicos e psicossociais.

Mais recentemente, sobretudo nas décadas de 1990 e 2000, outro aspecto da saúde dos trabalhadores passou a ganhar espaço nos consultórios. São as repercussões psíquicas do trabalho, com expressões clínicas correspondentes a vários diagnósticos presentes na Classificação Internacional de Doenças (CID-10) e reconhecidos como relacionados ao trabalho tanto pelo Ministério da Saúde (Portaria nº 1339/GM, de 18 de novembro de
1999), como pelo Ministério da Previdência Social (Decreto nº 3048, de 1999).

Esses agravos à saúde, que até então não eram identificados, também evidenciam a complexidade que envolve a avaliação da relação entre o processo saúde/doença e o trabalho.

Setores da Saúde, do Trabalho, do Judiciário, do Ministério Público, das universidades e dos órgãos de pesquisa começaram a ter suas agendas pautadas por sindicatos e outras entidades representativas dos trabalhadores, que observavam um contingente crescente de pessoas com transtornos psíquicos, os quais frequentemente não conseguiam permanecer trabalhando pelas condições adversas das empresas e que não raramente eram isoladas e demitidas.

Essa demanda provocou indagações, estudos e ações que reforçaram de forma indubitável aquilo que o advento das LER/DORT já havia desnudado: a insuficiência dos recursos da medicina do trabalho, da engenharia de segurança e da higiene ocupacional para se construir políticas públicas de promoção da saúde, prevenção, assistência e reabilitação profissional.

Assim, não temos dúvidas de que a construção de alternativas de processos de trabalho que protejam a saúde do trabalhador exige diálogo e ação conjunta dos campos da Medicina, da Psicologia e de outros setores da saúde, da Engenharia, da Ergonomia, da Sociologia, da Antropologia, da Filosofia, do Direito, da Economia e outros.

Esse diálogo tem tomado corpo, ainda de forma incipiente, em intervenções nos ambientes de trabalho, em ações civis públicas, em publicações e eventos com abordagens mais amplas e contextualizadas, e mostram claramente que está esgotado o modelo de intervenção de disciplinas e campos de conhecimento isoladamente. Os agravos em geral, e os adoecimentos psíquicos em particular, devem ter como pano de fundo os aspectos sociais e do trabalho contemporâneo, caracterizados pela perda de direitos sociais e trabalhistas, pelo advento de crises econômicas e do desemprego.

A Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, com o dossiê temático “O mundo contemporâneo do trabalho e a saúde mental do trabalhador”, sendo este seu primeiro volume, espera contribuir com o esforço de reunir pesquisas, reflexões e experiências que, compartilhadas por atores de diferentes instituições e entidades, possam estimular a discussão e a construção de políticas públicas que levem em consideração a Saúde do Trabalhador, incluindo seus aspectos biológicos e psicossociais, no processo de desenvolvimento econômico e social de nosso país.

Fonte: http://www.fundacentro.gov.br/rbso/BancoAnexos/RBSO%20122%20editorial%20Saúde%20do%20Trabalhador%20sec%20XXI.pdf

sábado, 18 de dezembro de 2010

DESMORALIZANDO A CULTURA

Mauro Chaves (*)

É incompreensível que a classe artística e cultural brasileira ainda não se tenha mobilizado para lançar o lema "não somos ladrões". Ela ainda não percebeu que, afora os valores materiais roubados do contribuinte, a fraude que se descobriu no sistema de incentivos fiscais para produções artísticas e culturais criou uma desconfiança geral entre os patrocinadores sérios - aqueles que não pertencem à categoria de cupinchas instalados nas estatais, que dão mais valor às ligações pessoais que à qualidade artístico-cultural dos projetos.

Discutiram-se até demais as mudanças na Lei Rouanet, chegando-se a algumas alterações positivas e a outras negativas - assunto que aqui não cabe tratar. O problema é que o esforço exibido pelo Ministério da Cultura (MinC) no campo legislativo não se refletiu em sua fiscalização administrativa.

No Ministério criou-se uma vergonhosa válvula de escoamento de recursos públicos, destinados ao patrocínio de projetos artísticos e culturais, para entidades fantasmas, falsos produtores culturais, laranjas de todo gênero, empresas inexistentes - tendo como sede vidraçarias ou residências de humildes e enganados laranjas - e aberrações semelhantes.

Além da corrupção interna, o governo tinha indícios, mas deixou que prosperasse um festival de falcatruas praticadas por parlamentares federais, tendo como pretexto as verbas do Orçamento destinadas ao "fomento a projetos de arte e cultura".

A previsão de gastos com a cultura e a arte no Brasil, que no Orçamento de 2010 era de R$ 116,9 milhões, passou para R$ 391,5 milhões - aumento, portanto, de 235%, graças a 258 emendas parlamentares. Na verdade, muito foi alardeado esse aumento, levando a crer que se passava a dar maior valor ao que representa a melhor expressão do talento brasileiro. Tais recursos públicos, no entanto, foram jogados fora ou roubados por meio de empresas de fachada.

Outros escândalos podem ter implicado valores muito maiores, mas este é muito mais deletério para a sociedade brasileira, pela insegurança que causa a empresas que se dispõem a dar sua importante colaboração ao desenvolvimento artístico e cultural da população, incentivando-a tanto à produção quanto ao consumo de cultura e arte em nosso país.

Quantos espetáculos de qualidade poderiam ter sido levados às periferias das grande cidades e a lugares carentes e quantos grupos de jovens talentosos poderiam obter o importantíssimo apoio com uma pequena parte dessa verba surrupiada? É que se descobriu na cultura uma nova fronteira para a corrupção - propícia à prática de fraudes, falsificação de documentos, recebimento e pagamento de propinas, tráfico de influência, formação de quadrilha e muitos outros crimes praticados na administração pública e por delinquentes com ela mancomunados.

É aberrante, por outro lado, que a aceleração ou o retardamento dos projetos culturais que se iriam beneficiar dos incentivos fiscais da Lei Rouanet tenham dependido do pagamento de subornos. O que se julgava serem apenas entraves da burocracia eram, na verdade, atrasos nas operações de roubalheira.

Também se está desmoralizando a cultura e a arte brasileiras por motivo bem diferente. Para escolher o que concorrerá ao Oscar de melhor filme estrangeiro e demonstrar seu espírito "democrático" o MinC abriu uma enquete em seu site. A votação deu em primeiro lugar o filme Nosso Lar, com 88.894 votos, correspondendo a 70% das preferências; em segundo, Chico Xavier, com 14.881 votos, correspondendo a 12%; em terceiro, Os Famosos e os Duendes da Morte, com 10.437 votos ou 8%; em quarto, O Grão, com 2. 431 votos, ou 2%; em quinto, Antes que o Mundo Acabe, com 2.035 votos, ou 2%; e em sexto, Lula, o Filho do Brasil, com 1.646 votos, isto é, apenas 1% da preferência do público.

Adivinhem, agora, qual foi o escolhido? O que recebeu apenas 1% dos votos! Um filme medíocre, que em relação a seus custo e pretensões se tornou um retumbante fracasso, de público e crítica. Tantos filmes excelentes foram produzidos, marcando uma fase de grande evolução da cinematografia brasileira, os quais nos poderiam representar por suas notórias qualidades, mas deu-se preferência a uma obra político-bajulatória sem nenhuma inovação técnica ou artística, sem criatividade - enfim, um abacaxi embrulhado em papel dourado que não conseguiu engabelar o público.

O MinC traiu completamente o espírito "democrático" que pretendeu exibir, na escolha. E na justificativa dessa escolha alegou que "Lula é uma estrela daqui e fora daqui, internacionalmente conhecida". Essa explicação é até ofensiva a um criador de arte, pois o prestígio da personagem nada tem que ver com a qualidade de uma obra. Esta deve ser avaliada por seus próprios méritos, pois um filme ruim sobre personagem importante é pior para seu criador do que uma obra fraca sobre desconhecidos.

Mas vejamos um exemplo da opinião internacional sobre o filme: a crítica do jornal argentino La Nación escreveu que "a incrível história de vida de Lula da Silva merecia um filme melhor, mais interessante e mais profundo do que Lula, el Hijo del Brasil". Ela também afirmou que, no filme, "cada episódio da vida do presidente do Brasil é mostrado como se fosse um manual de História escrito por seu biógrafo oficial", o que o torna "limitado e superficial".

Outras críticas nacionais e internacionais estão no mesmo tom, correspondendo, exatamente, à frieza com que o público recebeu o filme, mesmo que se tenham inventado formas inéditas de exibi-lo em lugares improvisados em todo o território nacional - afora o grande circuito de cinemas em que passou.

A classe artística e cultural brasileira é uma que se tem mobilizado muito não só em defesa de seus próprios direitos, como categoria profissional, mas também pela sensibilidade ante problemas que dizem respeito à cidadania. Então, contra a corrupção e a politicagem que invadiram a arte e a cultura em nosso país, onde está a mobilização de nossos verdadeiros intelectuais e artistas?

(*) É jornalista, advogado, escritor, administrador e articulista do Estadão. Contato: MAURO.CHAVES@ATTGLOBAL.NET

sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

NOVOS HÁBITOS ALIMENTARES DOS BRASILEIROS

Entre 2002-03 e 2008-09, a aquisição média anual per capita (quanto de um produto a família adquire em um ano, dividido pelo número de pessoas da família) caiu 40,5% para o arroz polido (de 24,5 kg para 14,6 kg), feijão, queda de 26,4% (de 12,4 kg para 9,1 kg) e açúcar refinado, de 48,3% (de 6,1 kg para 3,2 kg). No mesmo período, aumentaram, entre outros, o refrigerante de cola (39,3%, de 9,1 kg para 12,7 kg), a água mineral (27,5%, de 10,9 kg para 13,9 kg) e a cerveja (23,2%, de 4,6 kg para 5,6 kg).

A evolução do consumo de alimentos no domicílio no período também indica a queda na participação relativa de itens tradicionais na composição do total médio diário de calorias adquirido pelo brasileiro, como arroz (de 17,4% para 16,2%), feijão (de 6,6% para 5,4%) e farinha de mandioca (de 4,9% para 3,9%), enquanto cresceu a proporção de comidas industrializadas, como pães (de 5,7% para 6,4%), embutidos (de 1,78% para 2,2%), biscoitos (de 3,1% para 3,4%), refrigerantes (de 1,5% para 1,8%) e refeições prontas (de 3,3% para 4,6%).

Essas e outras informações estão disponíveis nas publicações da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) 2008-2009: “Aquisição alimentar domiciliar per capita – Brasil e Grandes Regiões” – que avalia as quantidades de alimentos adquiridas pelas famílias brasileiras para consumo domiciliar, bem como as formas dessa aquisição – e “Avaliação nutricional da disponibilidade domiciliar de alimentos no Brasil” – que estuda a qualidade dos alimentos disponíveis para consumo no domicílio. Esses alimentos constituíam, no período da pesquisa, 68,9% da despesa média mensal familiar com alimentação, contra 75,9% registrados em 2002-03, indicando uma mudança nos gastos com alimentação no domicílio.

Entre as médias de aquisição domiciliar per capita anual de alimentos em todo o país em 2008-2009, destacam-se os grandes grupos de bebidas e infusões, (50,7 kg); laticínios (43,7 kg); cereais e leguminosas (39,0 kg); frutas (28,9 kg); hortaliças (27,1 kg) e carnes (25,4 kg). A aquisição na área urbana foi maior do que a média nacional para bebidas e infusões (55,2kg) e bem menor na área rural (28,9 kg). O mesmo ocorreu com as frutas (30,3kg na área urbana, 21,9 kg na rural), mas a situação se inverteu com os grupos de cereais e leguminosas (34,1 kg urbano, 62,5 kg rural) e carnes (24,6 kg urbano, 29,6 kg rural).

Entre as regiões, o Sul se destacou na média de aquisição anual per capita dos grupos de carnes (35,7 kg), laticínios (67,4 kg), bebidas e infusões (64,1 kg), hortaliças (38,6 kg), frutas (36,5 kg) e alimentos preparados e misturas industriais (4,8 kg), todos acima das respectivas médias nacionais e das outras regiões. O Centro-Oeste e o Nordeste tiveram as maiores médias para cereais e leguminosas (50,2 kg e 43,6 kg, respectivamente). Na comparação entre áreas urbanas e rurais, o arroz polido e as carnes bovinas apresentaram médias superiores às médias nacionais na área rural (18,4 kg e 18,1 kg respectivamente), enquanto o leite de vaca pasteurizado teve médias maiores na urbana (29,2 kg).

A avaliação nutricional mostrou que, em 2008-2009, a disponibilidade média per capita de alimentos correspondeu a 1.611 kcal/dia, menos que em 2002-2003 (1.791 kcal). O estudo identificou algumas características negativas dos padrões de consumo alimentar em todo o país e em todas as classes de renda, como o teor excessivo de açúcar (16,36%) e a participação insuficiente de frutas (2,04%) e verduras e legumes (0,80%) na alimentação. Nas regiões economicamente mais desenvolvidas (Sul, Sudeste e Centro-Oeste) e, de modo geral, no meio urbano e entre famílias com maior renda, havia consumo elevado de gorduras, em especial as saturadas. Também foram observados padrões positivos de consumo, como a adequação sistemática do teor protéico dos alimentos (12,08%) e a elevada participação de proteínas de origem animal (6,69%).

Mais:http://www.ibge.gov.br/home/presidencia/noticias/noticia_visualiza.php?id_noticia=1788&id_pagina=1

ATÉ O TUCUPI DE BOSSA NA PRAÇA

Ellza Souza (*)

A chuva fina andou ameaçando mas nada atrapalhou o glamour e a magia da última noite de 2010 do Tacacá na Bossa no Largo São Sebastião. A muito boa iniciativa do casal Joaquim e Gisela Melo do Tacacá da Gisela que já dura cinco anos de sucesso merece ser copiada com outras empreitadas do gênero por exemplo com uma dessas bancas com sucos regionais bem gelados de buriti, açaí, taperebá, côco, sapotilha, cupuaçu, guaraná. Apesar da variedade de frutas saborosas que temos na Amazônia ninguém se habilita ao trabalhoso oficio de manipulação das mesmas que resultam no agora quase desconhecido refresco ou rala-rala antes tão comum em nossas ruas.

Olhando de cima do muro do Teatro Amazonas e vendo as pessoas andando pelo calçadão de paralelepípedos ao lado na Rua José Clemente observo vida, animação, um povo que se preza. Ali algo ficou da belle époque. O romantismo, o povo circulando sem pressa, os casarões, os benjamizeiros, as ondas do Negro e Solimões na calçada ao redor do monumento, os bancos à espera de uma boa conversa, a vontade de ser feliz. Pena que o espaço é pequeno e se restringe a alguns eventos que por ali acontecem. Eventos sensacionais sem dúvida como o Tacacá na Bossa e o Auto de Natal mas acho que qualquer espaço público precisa se integrar mais ao cotidiano das pessoas. Às vezes passo na praça fora da época de festa e acho-a triste, sem movimentação e com pouca iluminação. Nesse entorno precisa, na minha míope visão, de um bom restaurante português ou uma padaria Bijou com pães bicudos e beirudos para tomar com o gelado refresco de maracujá. Já estou sonhando gente. Isso é impossível. Volto à noite do tacacá da Gisela.

Tantos artistas esplêndidos que temos e nessa noite o público teve a oportunidade de apreciar em rápidas apresentações pois tinha hora para “entregar o largo” e desocupar as cadeiras. Claro que deve haver organização e regras para certas coisas mas sem exageros. O que interessa é que o show começou com a banda Máquina do Tempo que fez as “cocotinhas” de ontem e a “galera” de hoje vibrar com a música dos Beatles.

O Imbaúba com sua música orgânica e oportuna enterneceu muitos corações. Roberto Lima e Sofia Amoedo, atualmente duas das vozes mais lindas que conheço, encantaram a todos na praça. O poeta Chico da Silva foi bastante aplaudido e o povo não se conformou com apenas duas músicas interpretadas pelo cantor, exigiu mais uma e ele cedeu ao clamor popular. Lucilene Castro e sua voz exuberante deu uma amostra de seu novo cd de sambas tupiniquins a ser lançado em janeiro. Tantos outros bons músicos como o Cileno, Nely Miranda, Simone Ávila que demonstraram sua versatilidade e talento naquele recanto lotado de pessoas felizes que entre uma cuia e outra esborrando de caldo verde e camarão, davam aquelas balançadinhas ao som de um canto verdadeiramente poético. Todos que fizeram dessa noite um momento especial dando a sua “palinha” estão de parabéns. Para o público foi um presente raro. Quem viu e ouviu registrou nas páginas de sua história.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

Foto: Blogdorocha

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

ONU DECLARA QUE 2011 É O ANO INTERNACIONAL DAS FLORESTAS

A Assembléia das Organizações Unidas (ONU), baseada na Resolução A / RES / 61/ 93, de 20 de dezembro de 2006, declara o ano de 2011 como o Ano Internacional das Florestas. O objetivo é desenvolver durante o ano atividades que tenham como foco a conservação e a conscientização das florestas, mostrando que o manejo sustentável das matas contribui para o desenvolvimento socioeconômico sem degradar as reservas ambientais. A Secretaria do UNFF – Fórum de Florestas das Nações Unidas, será o ponto focal para a implementação do Ano Internacional das Florestas.

http://planetasustentavel.abril.com.br/noticia/ambiente/2011-ano-internacional-florestas-preservacao-manejo-sustentavel-612833.shtml Mas, segundo o Planeta Sustentável, as florestas cobrem 31% de toda a área terrestre do planeta e têm responsabilidade direta na garantia da sobrevivência de 1,6 bilhões de pessoas no planeta e de 80% da biodiversidade terrestre. Pela importância que têm para o planeta, elas merecem ser mais preservadas e valorizadas e, por isso, a ONU declarou 2011 como Ano Internacional das Florestas.

O Pnuma – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, afirma também, que as florestas representam 31% da cobertura terrestre do planeta, servindo de abrigo para 300 milhões de pessoas de todo o mundo e, ainda, garantindo, de forma direta, a sobrevivência de 1,6 bilhões de seres humanos e 80% da biodiversidade terrestre. Em pé, as florestas são capazes de movimentar cerca de $ 327 bilhões todos os anos, mas infelizmente as atividades que se baseiam na derrubada das matas ainda são bastante comuns em todo o mundo.

Para sensibilizar a sociedade da importância da preservação das florestas para a garantia da vida no planeta, a ONU – Organização das Nações Unidas declarou que 2011 será, oficialmente, o Ano Internacional das Florestas.

A ideia é promover durante os próximos 12 meses ações que incentivem a conservação e a gestão sustentável de todos os tipos de floresta do planeta, mostrando a todos que a exploração das matas sem um manejo sustentável pode causar uma série de prejuízos para o planeta. Entre eles: – a perda da biodiversidade; – o agravamento das mudanças climáticas; – o incentivo a atividades econômicas ilegais, como a caça de animais; – o estímulo a assentamentos clandestinos e – a ameaça à própria vida humana.

Para saber a respeito dos eventos que serão realizados durante 2011, em homenagem ao Ano Internacional das Florestas, acesse o site oficial da iniciativa. No portal, ainda é possível divulgar as ações que você pretende promover nos próximos 12 meses em homenagem à causa. Leia também: 22% das florestas públicas cadastradas permanece desprotegida *Ano Internacional das Florestas

EM DÚVIDA A LEGALIDADE DA ELEIÇÃO DO GOVERNADOR DO AMAZONAS

A Procuradoria Regional Eleitoral no Amazonas (PRE/AM) pediu a cassação do registro ou do diploma do governador reeleito Omar Aziz, e do vice dele, José Melo, por conduta vedada e abuso de poder político e econômico. A PRE/AM pediu, ainda, a inelegibilidade dos eleitos.

O governador e o vice são denunciados por liberar grande quantidade de dinheiro público, por meio de convênios, para as prefeituras do interior do Amazonas, com o intuito de garantir apoio dos prefeitos nas eleições deste ano. A liberação de verbas e a aprovação de projetos ocorreram às vésperas do dia 3 de julho de 2010, prazo legal, estabelecido pela Lei nº 9.504/97, para esse tipo de ação.

De acordo com a Companhia de Desenvolvimento do Estado do Amazonas (Ciama), a primeira parcela dos recursos foi liberada para que as prefeituras dessem início às obras. O repasse da segunda parcela seria feito após a confirmação da efetiva realização da primeira etapa e aprovação das contas apresentadas. Esse processo dificulta a fiscalização por parte da Secretaria de Estado de Infraestrutura do Estado do Amazonas (Seinf) – órgão que é responsável pelo controle administrativo prévio, constituído pela análise do convênio, ou concomitante, com a fiscalização durante a execução da obra.

Para a PRE/AM, o governador exagerou nas prerrogativas de conveniar (ato normalmente lícito), caracterizando o abuso de poder político, e repassou um valor alto em verbas públicas, demonstrando o abuso de poder econômico.

As verbas da Ciama, no ano de 2010, vieram da rubrica da participação do estado em capital de empresas. No mesmo período de 2009, de 1º de janeiro a 3 de julho, não houve qualquer valor repassado a municípios do interior.

Aprovação sem critérios - Planilhas de orçamentos apresentadas pela Ciama mostram que quatro dos planos de trabalho apresentados pelas prefeituras foram aprovados antes mesmo de serem protocolados. Os planos referem-se aos municípios de Pauini, Carauari, Juruá e Tefé. O município de Juruá, por exemplo, recebeu aprovação do projeto nove meses antes de ser protocolado.

Diversos planos de trabalho foram aprovados no mesmo dia em que foram apresentados. As planilhas mostram que a maioria dos planos receberam aprovação entre três e 15 dias depois do recebimento, comprovando que a Seinf teve pouco ou nenhum tempo para analisar os projetos.

A aprovação imediata de envio de verbas para o interior do estado, às vésperas das eleições, prejudicou o andamento e o resultado do pleito deste ano. A falta de fiscalização concomitante, por parte da Seinf, segundo a PRE/AM, contribui com a prática de improbidade administrativa, já que os municípios não prestam esclarecimentos sobre o emprego adequado dos recursos.

A PRE/AM constatou que a Ciama liberou recursos idênticos para municípios com necessidades diferentes. Um exemplo é a aprovação do convênio com Manacapuru, município que recebeu, às vésperas do prazo legal, R$ 435 mil para a construção de quatro poços artesianos. O valor é próximo ao que foi estipulado para o município de Nhamundá, que recebeu R$ 435.379,10 para a a construção de 27 poços artesianos.

O município de Presidente Figueiredo não recebeu a liberação rápida dos recursos. O prefeito do município, Fernando Vieira, é opositor do atual governo e apoiou a candidatura de Alfredo Nascimento, candidato adversário de Omar Aziz nas eleições deste ano. O mesmo ocorreu com o município do Careiro, cujo prefeito também é opositor da administração estadual.

As verbas mais altas foram liberadas para os municípios de Manacapuru e Parintins que possuem os dois maiores eleitorados do interior Estado.

Andamento das obras – O governo alegou que as obras, executadas pela Ciama, visavam a continuidade do serviço público e a gestão empresarial. Mas vistorias de promotores eleitorais demonstram a descontinuidade das obras nos municípios. O promotor eleitoral de Tabatinga fez vistorias no início do mês de agosto, nos locais que eram objetos dos convênios firmados, mas não encontrou nenhuma obra em andamento.

Fotos enviadas pela promotoria mostram que em Itacoatiara não houve qualquer avanço nas obras, após a execução dos serviços emergenciais.

A ação de investigação judicial eleitoral aguarda julgamento no Tribunal Regional Eleitoral do Amazonas (TRE/AM).

Fonte: http://www.pram.mpf.gov.br/news/mpe-am-pede-cassacao-de-omar-aziz-e-jose-melo-por-abuso-de-poder

O AMAZONAS, O NILO E A CULTURA DA SUSTENTABILIDADE

Tombamento do Encontro das Águas: "Com um requerimento, ocorre a abertura do processo que após aferição técnica preliminar, é submetido à deliberação dos órgãos responsáveis pela preservação. No caso de ser aprovada a intenção de proteger um bem cultural ou natural é desde então, expedida ao seu proprietário, uma Notificação. A partir desta Notificação o bem já se encontra legalmente protegido contra destruíções ou descaracterizações até que seja tomada a decisão final. O Processo termina com a respectiva inscrição no Livro Tombo e comunicação formal aos proprietários." (O grifo é nosso).
DAHER, Marlusse Pestana. Tombamento. Jus Navigandi.
As grandes civilizações nasceram e se estruturam à margem dos rios e mares. O Nilo é o nosso primeiro exemplo, quando as culturas milenares se apoderam de suas fontes e passam a construir todo aparato para desenvolver e conquistar novos povos e territórios. Nessa mesma perspectiva, os conquistadores portugueses, no período colonial, agem em relação à Amazônia brasileira, definindo a construção de toda a lógistica da dominação a partir da cartografia estratégica dos rios e seus tributários, bem como os acidentes geográficos. No entanto, de forma cognitiva às margens do grande Nilo, as culturas se desenvolveram fundamentada em valores que regram até hoje os limites dos recursos naturais quanto ao consumo dos beneficiários. Na Amazônia, as práticas coloniais caracterizadas pelo saque e a rapinagem, visando o lucro fácil e o imediatismo econômico vingaram e sufocaram as demais manifestações locais de origem dos povos indígenas e assim tornaram-se ideias dominantes que foram se naturalizando por meio de formulações de políticas governamentais com aparato de legalidade, acelerando a depredação, o desmatamento e a desestruturação das comunidades tradicionais na direção de integrá-las sob a lógica da perversa desigualdade que se vive em terras brasileiras, em particular no norte do Brasil. A conquista do Movimento S.O.S. Encontro das Águas em garantir por meio do IPHAN, o Tombamento desse Bem como Patrimônio Cultural do povo brasileiros, não tem só um significado paisagístico natural, é uma grito de alerta para que todos (as) sintam-se comprometidos contra o determinismo econômico, a depredação e outras estratégias neocoloniais que visam reduzir rios e florestas para acelerar cada vez mais a acumulação do capital em detrimento da saúde do homem e do planeta. O texto abaixo provoca tal reflexão e nos convida a proteger esta "galinha dos ovos de ouro" contra o "cavalo de Tróia" dos armadores opotunistas e venais que pretendiam construir um Terminal Portuário na confluência do nosso Encontro das Águas, ameçando de morte a vida, a beleza e a economia da floroesta Amazônica.

Mauro Schorr (Orua) (*)

Desde as primeiras letras aprendemos que a bacia do rio Amazonas é a maior do mundo. Ninguém nunca duvidou que ele era o mais caudaloso do planeta, mas se questionava essa primazia quanto ao seu comprimento. Hoje a controvérsia está esclarecida: com 6.937 quilômetros de extensão, o Amazonas supera em 140 quilômetros o Nilo, que perdeu essa liderança multissecular.Qualquer número em relação ao “rio-mar” (ou o “mar doce” dos espanhóis, os primeiros europeus a navegá-lo) é grandioso.Ele lança, em média, 170 milhões de litros de água por segundo no Oceano Atlântico.

Suas águas barrentas podem avançar 100 quilômetros além da barreira de águas salgadas e projetar seus sedimentos em suspensão no rumo norte, até o litoral da Flórida, nos Estados Unidos. São milhões de toneladas de nutrientes, arrastados desde a cordilheira dos Andes, onde nasce o grande rio, e engrossados por seus afluentes, que também se posicionam entre os maiores cursos d’água que existem.

Essas grandezas têm servido de inspiração para o ufanismo nacional, mas não para tratar melhor os nossos gigantes aquáticos. Nenhum brasileiro – ou mesmo o nativo – dá ao Amazonas a importância que os egípcios conferem ao Nilo. O Egito não existiria sem a faina incansável do seu grande rio, a fertilizar suas margens, cercadas por desertos hostis, e civilizar o país. Por isso, é considerado sagrado.

Os brasileiros parecem acreditar que, por ser monumental, abrangendo 7 milhões de quilômetros quadrados do continente sul-americano (quase dois terços em território brasileiro), a bacia amazônica foi blindada pela mãe natureza contra as hostilidades do homem.

Já está na hora de se pôr fim a essa ilusão, acabando com a insensibilidade geral, que se alimenta do desconhecimento e da desinformação. O Amazonas está sob ameaça.
Não uma, mas várias.

Um dos capítulos mais recentes está sendo travado diante da maior cidade da Amazônia, Manaus, a capital do Amazonas, com seus 1,7 milhão de habitantes (2 milhões com as duas cidades vizinhas). No dia 5, o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional) decretou o Tombamento do Encontro das Águas do Amazonas com o Negro, um dos seus principais tributários da margem esquerda.O desavisado pode até achar que o ato é de significado museológico, para efeito acadêmico.

O processo do Tombamento, porém, se arrastou durante dois anos. Deveria ser simples: a área de 30 quilômetros quadrados, o polígono de terra e água onde ocorre a junção dos dois enormes rios, é cenário para o maior de todos se encontrar com o maior rio de águas negras do mundo. Na margem direita, o barrento Solimões pressiona o rio ao lado, que ganhou seu nome pela inusitada cor das suas águas, num entrevero que pode se estender por 10 quilômetros lineares nas duas direções.

É um encontro ciclópico. A vazão do Solimões nesse ponto (onde justamente muda pela última vez de nome, passando a ser Amazonas) é de 135 milhões de litros de água por segundo. A do Negro, que chega ao fim do seu percurso de 1.700 quilômetros, a partir da Venezuela, é de 50 milhões de litros.

Encorpado, o Amazonas segue em frente até a foz, dois mil quilômetros abaixo. Não sem antes oferecer o espetáculo das duas cores líquidas em paralelo ou em fusão tumultuada, para a admiração ou o espanto de uma crescente legião de turistas.

O problema é que no ponto de encontro dos rios está Manaus, com 60% da população e 90% da riqueza de todo estado do Amazonas, o maior do Brasil, com 20% do território nacional. Desde quase meio século atrás, Manaus deixou de ser o produto do Amazonas para ser o efeito da Zona Franca, um entreposto comercial e um núcleo industrial que só se tornaram possíveis pela renúncia da União a recolher o imposto sobre a importação das empresas instaladas na remota paragem.

Hoje, Manaus é a origem do maior fluxo de contêineres do país. Motocicletas, computadores, geladeiras e muitos outros produtos são mandados para o sul do país, principalmente São Paulo, e espalhados para outros destinos. O velho porto flutuante, que os ingleses construíram no início do século 20 para atender a exportação de borracha (que chegou a ser responsável por 40% do comércio exterior brasileiro), não serve para essa demanda nova.

A pressão é tão forte que alguns terminais privados, legais ou não, surgiram na orla da cidade. O maior deles, o Porto Chibatão, foi parcialmente arrastado, no mês passado, pelas águas do Negro, a apenas três quilômetros do seu encontro com o Amazonas, com mortes e a perda de diversos contêineres. Qualquer ribeirinho sabia que o local era contra-indicado para o fluxo de carga que o precário terminal movimentava.

Um novo, muito maior e mais adequado, está sendo projetado para uma área de 100 mil metros quadrados, na qual poderão ser estocados 250 mil contêineres. Antes desse mega-terminal, porém, uma subsidiária da mineradora Vale (o novo nome da Companhia Vale do Rio Doce, quando estatal) começou a construir seu próprio porto, com investimento de 220 milhões de reais. Nele deverá operar seu novo navio cargueiro, com capacidade para 1.500 contêineres, e outros cinco já encomendados, por algo como meio bilhão de reais, multiplicando sua capacidade de transporte.

Esses números pareciam muito mais importantes do que a localização do porto, na província paleontológica das Lages, próximo de uma tomada de água para 300 mil habitantes da cidade e de um lago, o último do rio Negro, importante para milhares de moradores de um bairro que se formou em torno dele.

O processo que levou ao desmoronamento do Porto Chibatão seguiria sua lógica malsã se não tivesse surgido a iniciativa de Tombar o encontro das águas. Ninguém se aventura a dizer-se contra o Tombamento, mas ele provocou uma batalha judicial que chegou a Brasília, com vitórias e derrotas, protelações e pressões, até que, no dia 5, finalmente o Iphan assumiu a tutela sobre o encontro das águas.Qualquer novo projeto que a partir de agora se fixe na área do polígono terá de ser submetido ao instituto, além de obter a licença ambiental.

Certamente haverá quem se indigne com o fato: o raciocínio automático é de que a razão (ou anti-razão) econômica prevaleça sobre qualquer outro tipo de consideração – e sempre com vantagens para o investidor.

A decisão do Iphan, não bloqueia a evolução dos empreendimentos produtivos na região, mas talvez ajude o país a se dar conta de que destruindo os recursos naturais, em especial aqueles que representam uma grandeza única, é a Amazônia que estão destruindo. Substituem a galinha dos ovos de ouro por um cavalo de Tróia.

Na mitologia ou na realidade, sabemos qual será o desfecho.

(*) É direção do Instituto Anima de Desenvolvimento e Cultura Sustentável Sitio Cristal Dourado e Espaço Terapêutico PulsarPrêmio Fritz Müller 2009 - Fatma - Governo do Estado de SC -Rua Jaborandi 900 - Bairro Campeche - Florianópolis - SC Brasil - 88.065-035Fones (55) - (48) - 3338 2267 - 8442 7424 Sites: http://www.institutoanima.org/ e http://www.permaculturabr.ning.com/Produtos: http://permaculturabr.ning.com/group/InstitutoAnima/forum/topics/cooperativa-do-instituto-anima Entre em Nossa Rede "Instituto Anima Teia da Vida": Copie e cole no navegador... http://br.groups.yahoo.com/group/institutoanimateiadavidaVídeos: Parte I e outrosdo Sitio do Anima: http://www.youtube.com/v/iTrUPs6dEfw&hl=pt_PT&fs=1&Tenha o DVD Completo do Instituto Anima: uma universidade da verdade em seu bolso!Visite e faça estágio no Sitio Cristal DouradoEstamos nas Ecofeiras da UFSC nas quartas entre 07-15 hs, na Lagoa da Conceição aos sabados e aos domingosVeja nossos eco-produtos: ajude a salvar o nosso futuro, a sua saúde e plenitude, vá na nossa Ecoloja no site http://www.institutoanima.org/ e nas nossas ecofeiras !Rumar para a Paz e a Comunhão das Diferenças é a nossa meta no mundo!

Foto: Jorge Herran