domingo, 28 de dezembro de 2014

A TRAGÉDIA PETISTA


Zander Navarro (*)

Peço licença, inicialmente, para um breve relato pessoal. Nos anos 1980 contribuí mensalmente com parte do meu salário para o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Os depósitos duraram de dois a três anos, quando a campanha foi encerrada, por falta de adesão. Com sacrifício, cheguei a oferecer até 10% do meu ganho e ainda guardo os recibos. Por que fiz isso? Naqueles anos, saindo do ciclo militar e ansioso pela democracia, ingenuamente entendi ser o MST uma força que renovaria a oligárquica política rural. Como os seus militantes passaram a ameaçar as famílias em assentamentos, o sonho desmoronou e retornei à vida universitária.

Na época, quase todos nós apoiávamos o PT, mesmo não sendo filiados. Imaginávamos que o partido também forçaria transformações em alguma direção positiva. Ou a reforma social ou, ao menos, a democratização da sociedade. Vivíamos então um período febril de debates plurais e de experiências práticas. Lembram-se do "modo petista de governar"? Era simbolizado pelo orçamento participativo, que prometia a livre participação dos cidadãos em decisões públicas sobre os orçamentos municipais. Na campanha de 2002, contudo, o candidato petista mal falou do assunto e, no poder, o tema se esfumaçou.

O assombroso escândalo da Petrobrás, que nos deixa estupefatos, é apenas o efeito inevitável da história do Partido dos Trabalhadores. A causa original é um mecanismo que o diferencia das demais agremiações partidárias. Trata-se de um processo de mobilidade social ascendente, inédito em sua magnitude. Movimento que poderia ser virtuoso, se aberto a todos, pois seria a consequência do desenvolvimento social. Mas, na prática, vem sendo uma odiosa discriminação, pois é processo atado à filiação partidária.

O núcleo pioneiro do PT recrutou segmentos das classes baixas e mais pobres, mobilizados pelo campo sindical, pelos setores radicalizados das classes médias, incluindo parte da intelectualidade, e pela esquerda católica, ampliando nacionalmente o grupo petista inicial. À medida que o partido, já nos anos 90, foi conquistando nacos do aparato estatal, vieram os cargos para os militantes e, assim, a chance arrebatadora de ascender às vias do dinheiro, do poder, das influências e do mando pessoal. Esse foi o degenerativo fogo fundador que deu origem a tudo o que aconteceu posteriormente.

Inebriados, cada vez mais, pelo irresistível prazer do novo mundo aberto a essas camadas, até mesmo impensáveis formas de consumo, todos os sonhos fundacionais de mudança foram sendo estilhaçados ao longo do caminho, incluídos a razoabilidade e os limites éticos. O PT gerou dentro de si uma incontrolável ânsia de mobilidade, uma voragem autodestruidora inspirada na monstruosa desigualdade que sempre nos caracterizou. Conquistado o Planalto, não houve nem revolução nem reforma e o fato serviu, particularmente, para saciar a fome histórica dos que vieram de baixo.

Instalou-se, em consequência, o arrivismo e a selva do vale-tudo: foi morrendo o padrão Suplicy e entrou o modelo Delúbio-Erenice. Logo a seguir, ante a inépcia da ação governamental, também foi necessário impor a mentira como forma de governo. Por fim, o PT mudou de cabeça para baixo o seu próprio financiamento. Abandonou o apoio miúdo e generoso dos milhões que o sustentaram na primeira metade de sua história, pois se tornara mais cômodo usar o atacado para ancorar-se no poder. Primeiro, o mensalão e, agora, os cofres da Petrobrás.

Nessa espiral doentia de mudanças, a partir de meados dos anos 1990 o partido enterrou o seu passado. Sua capacidade de reflexão, por exemplo, deixou de existir e o imediatismo passou a prevalecer. Assim, um projeto de nação ou uma estratégia de futuro não interessavam mais. O pragmatismo tornou-se a máxima dessa nova elite e sob esse caminho o subgrupo sindical e seus militantes vêm pilhando o que for possível dentro do Estado. Examinados tantos escândalos, invariavelmente a maioria veio do campo sindical. E foi assim porque da tríade original dos anos 80, a classe média radicalizada e os religiosos abandonaram o partido. Deixaram de reconhecê-lo como o vetor que faria a reforma, sobretudo moral, da política brasileira.

Entrando neste século, o PT não tinha nada mais para oferecer de distintivo em relação aos demais partidos. A aliança com o PMDB ou Lula abraçando Maluf foram decorrências naturais. Também por tudo isso, o campo petista reivindicar o monopólio da virtude é o mesmo que fazer de idiotas todos os cidadãos. No primeiro turno, a fúria das urnas demonstrou a reação indignada dos eleitores à falsidade.

O que vemos atualmente é a soma dessa descrição com as nossas incapacidades políticas de construção democrática em favor do bem comum. O PT é hoje uma neo-Arena que promove, sobretudo, o clientelismo nos grotões. Não aqueles definidos geograficamente, mas os existentes nos interstícios sociais, confundindo as pessoas por meio da mentira, do bolsismo e das mistificações de toda ordem. É uma trajetória vergonhosa para um partido que prometeu a lisura republicana, o aprofundamento democrático, a reforma de nossas muitas iniquidades e, especialmente, prometeu corrigir a principal deformação de nossa História, que é um padrão de desigualdade que nos infelicita desde sempre. É ação que igualmente vem abastardando o Estado, atualmente tornado disfuncional e semiparalisado em inúmeros setores.

Por todas essas razões, incluindo o benéfico aperfeiçoamento que, fora do poder, sofrerá o próprio PT, é preciso mudar. E com urgência, pois o Brasil se esfarinhará sob outros quatro anos dessa gigantesca manipulação política, o desprezo pela democracia, o primado da lealdade partidária sobre a meritocracia e a fulgurante incompetência técnico-administrativa do campo petista no poder.

SOCIÓLOGO, É PROFESSOR APOSENTADO DA UFRGS (PORTO ALEGRE) EMAIL: Z.NAVARRO@UOL.COM.BR
EM DEFESA DO MINISTÉRIO DE DILMA
José Ribamar Bessa Freire
28/12/2014 - Diário do Amazonas

Dizem que no dia 14 de março de 1883 Marx escreveu suas últimas palavras: "Classes Sociais". Era o título do capítulo que ia redigir. Tossiu. Com dores no peito, deixou a escrivaninha, sentou na cadeira de balanço e dormitou. Nunca mais acordou. Morreu ali mesmo vítima de uma pleurisia. Desnorteados, os marxistas passaram a garimpar o conceito em outros textos. A leitura de um deles - Crítica ao Programa de Gotha(1875) - permite agora entender a luta de classes na composição do novo ministério da presidente Dilma e o que ela pretende com os nomes escolhidos.
"Diante da classe operária, todas as demais não constituem senão uma massa reacionária" - escreveu Lassalle. Marx contesta que não é bem assim, que depende do momento político, que o novo não surge milagrosamente do nada, que sem o velho e sem as forças políticas existentes não é possível mudar a sociedade, que para a transição do capitalismo ao socialismo, "qualquer passo em frente, qualquer progresso real, vale mais do que uma dúzia de programas". 
Este texto foi interpretado para dar sentido à escolha de Dilma que foi buscar seus ministros na "velha direita" para com eles parir a "nova esquerda" que está nascendo. É com esse cimento que construiremos o novo edifício social. Não sei se me faço entender. Basta olhar a imagem da "direita" refletida no espelho que ela se transforma em "esquerda", da mesma forma que a esquerda que critica o poder se transforma, no espelho do sociólogo Emir Sader, na "nova direita". Só as antas, por serem antidialéticas, não olham espelhos quando avaliam a correlação de forças.
Os nomes até agora anunciados indicam claramente que a presidente Dilma criou uma espécie de FEBEM - Fundação Nacional do Bem Estar do Ministro, destinada a recuperar, reabilitar e reintegrar elementos que no passado tiveram comportamento antissocial, mas que poderão mudar graças ao PIA - Plano Individual de Atendimento. Confira as imagens dos novos ministros.
Helder Barbalho na Pesca - Existe alguém mais apropriado para a pesca do que um filho de peixe? E que tubarão! O pai Jader Barbalho é investigado por peculato, lavagem de dinheiro e desvios de R$16,7 milhões da Sudam. O filho responde por improbidade administrativa na 5ª Vara Federal do Pará, acusado de irregularidades na aplicação de recursos destinados à saúde. Quando prefeito de Ananindeua, deixou de comprovar gastos de 2,7 milhões, com acusações de fraudes em licitações. Vai revolucionar a pesca fazendo bolinhos com farinha de mandioca e timbó para atordoar os peixes.
Eduardo Braga em Minas e Energia - Dilma trocou o Lobão pelo Lobbynho. Dudu, derrotado nas últimas eleições para o governo do Amazonas, está sendo investigado no STF por crime eleitoral. Em 2008 foi denunciado por sua comadre Renata Barros como participante de uma quadrilha que fraudava licitações e superfaturava o preço do combustível fornecido aos órgãos públicos. Com tal currículo, este empresário de revenda de automóveis é o nome mais indicado para um ministério que tem a Petrobrás e a Eletrobrás como empresas vinculadas. No processo de reabilitação é tratado como companheiro pelo PT do Amazonas.
Kátia Abreu na Agricultura, Pecuária e Abastecimento - Representante do agronegócio e do ruralismo arcaico, a senadora do Tocantins é considerada como a grande inimiga dos índios, dos sem-terra, das árvores, dos rios, dos pássaros, da poesia, da vida. Ela responde a um inquérito no STF por falsificação de selo público. Nomeá-la ministra foi uma jogada de mestre de Dilma. É melhor ver Kátia no Ministério, subordinada a um governo de esquerda, do que tê-la galopando nas hostes inimigas. Ela é mais um nome que Dilma retira da direita para compor a nova esquerda.
Cid Gomes na Educação - O ex-governador do Ceará fez por merecer a nomeação. Esteve em evidência não por suas realizações como engenheiro civil, mas pela forma como usou os recursos públicos, desde o passeio em jatinho com a sogra e familiares por países da Europa até a contratação de um bufê para abastecer a cozinha do Palácio por R$ 3,4 milhões no episódio conhecido como "farra do caviar". Seu exemplo pode contribuir para reeducar os genros no tratamento dispensado às sogras e estimular professores a trabalharem "por amor e não por salário".
Gilberto Kassab no Ministério das Cidades - Este corretor de imóveis, ex-prefeito de São Paulo que deixou a cidade submersa com enchentes, teve o patrimônio aumentado em 316% acima da inflação no período em que foi secretário de planejamento do prefeito Celso Pitta. Em 2004, a juíza Maria Gabriella Sacchi da 11ª Vara da Fazenda Pública determinou a quebra do seu sigilo bancário sob acusação de enriquecimento ilícito. Agora, ele não tem alternativa: vai ser obrigado a trabalhar pela mudança social. É mais um quadro de peso subtraído das fileiras adversárias.
Eliseu Padilha na Aviação Civil - O ex-ministro de Transportes do Governo FHC foi acusado pela Polícia Federal por envolvimento em crimes nas licitações para construir as barragens de Jaguari e Taquarembó, e investigado em ação para apurar desvios de recursos da merenda escolar em Canoas (RS). Sua reabilitação começou recentemente quando a Primeira Turma do STF negou seguimento ao inquérito no qual é acusado de fazer parte de uma quadrilha, porque parlamentar não pode ser julgado em primeira instância. Desviado do mau caminho, está sendo reciclado para atuar na "nova esquerda".
George Hilton no Esporte - Este "radialista, animador e pastor" como ele próprio se define, foi surpreendido no Aeroporto de Pampulha, em 2005, pela Polícia Federal com uma bagagem composta por 11 caixotes cheios de dinheiro e cheques num total de R$ 600 mil. Por causa disso, foi expulso do então PFL, sendo recebido pelo PRB, que é uma espécie de braço direito da Igreja Universal. Não manja porra nenhuma do assunto, mas assim mesmo vai organizar as Olimpíadas de 2016. A prática do esporte - está comprovado - ajuda no processo de reabilitação.
Aldo Rebelo em Ciência e Tecnologia - ha! ha!ha!ha! Ministro da Ciência e Tecnologia? Ha!ha!ha!ha! Essa Dilma é mesmo engraçada. Tinha de colocar uma pitada de humor. No seu ministério, quem não é ruim da cabeça, é doente do pé. Aldo, o bandeirante vermelho, tem oposição da comunidade científica. Folclórico, elaborou vários projetos: que proíbe tecnologias "poupadoras de mão-de-obra", que institui o Dia Nacional do Saci-Pererê, que cria o Pro-Tapioca obrigando misturar farinha de mandioca no pão, que criminaliza brasileiros usuários de palavras estrangeiras. Xenófobo, anti-indígena, anti-ambientalista, tem cadeira cativa na - com o perdão da palavra - New Left. Com ele, Dilma pretende conquistar o primeiro Prêmio Nobel do Brasil, que é uma dívida contraída com o povo brasileiro.
Joaquim Levy na Fazenda - O Joaquim Mão-de-Tesoura era o diretor-superintendente doBradesco Asset Management, responsável pela gestão de recursos do Bradesco. É a interlocução com o mercado financeiro. É a Neca Setúbal da Dilma. Seria ministro de quem ganhasse: Aécio ou Dilma. Menos da Marina Silva que prometeu governar com os melhores. 
Os ministros que tomam posse em 1° de janeiro formam parte de um ministério arretado da gotha. É a "nova esquerda" que emerge. Se gritar: "Pega, Janot!", a maioria corre. Dilma, com quem andas? E eu te direi quem és. 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

ENCONTRO DAS ÁGUAS: PATRIMÔNIO AMAZONENSE

A CRÍTICA, UM DOS JORNAIS DE MAIOR CIRCULAÇÃO NO AMAZONAS , TRÁS EM SUA EDIÇÃO DE HOJE (17), UM DENSO ARTIGO DO ECONOMISTA, ADMINISTRADOR E ARTICULISTA DESTE JORNAL, OSÍRES SILVA, ANALISANDO A QUESTÃO LÓGÍSTICA NO AMAZONAS. MOSTRANDO O QUANTO SE FAZ NECESSÁRIO NOVOS INVESTIMENTO PARA FORTALECER O DESENVOLVIMENTO LOCAL. ALÉM DISTO PROPÕE TAMBÉM UMA ESTREITA ARTICULAÇÃO ENTRE OS ENTES FEDERADOS VISANDO À FORMULAÇÃO DE POLÍTICAS REPUBLICANAS QUE INTEGREM AS AÇÕS DE MEIO AMBIENTE, CULTURA, TURISMO E ECONOMIA, SALVAGUARDANDO O ENCONTRO DA ÁGUAS E DEMAIS PATRIMÔNIOS DO POVO DO AMAZONAS. O TEXTO NA VERDADE É UM EXCELENTE INSTRUMENTOS DE REFLEXÃO NA PERSPECTIVA DE SE GARANTIR O TOMBAMENTO DO ENCONTRO DAS ÁGUAS, BEM COMO A SUA HOMOLOGAÇÃO. QUE O GOVERNO DO ESTADO TEIMA EM POSICIONAR-SE CONTRÁRIO JUNTO À SUPREMA CORTE FEDERAL LEIA O TEXTO ABAIXO E SE MANIFESTE PELA HOMOLOGAÇÃO DO TOMBAMENTO DO NOSSO ENCONTRO DAS ÁGUAS COMO PATRIMÔNIO DO POVO DO AMAZONAS.


Osíris Silva
Dramática luta pela preservação do Encontro das Águas resultou em conflito judicial instalado entre o Estado do Amazonas, o Instituto de Proteção do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) e a União. O “Movimento S.O.S Encontro das Águas” obteve, segundo um de seus líderes, o professor da Ufam Ademir Ramos, mais uma vitória contra o governo do Amazonas, que moveu ação contestatória contra o ato. O voto do relator da matéria, o ministro Dias Toffoli, contou com a aprovação da Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF), que, à unanimidade, reafirmou, em 26 de agosto passado, a competência da Suprema Corte em julgar a matéria. O S.O.S. Encontro das Águas é contrário à construção do porto das Lages naquela região.
Segundo Ademir Reamos, o tombamento é de fundamental importância “porque ampara legalmente a decisão original e requer, sobretudo, a formulação de políticas tanto da Prefeitura, do Governo do Estado e da União para uso desse patrimônio que requer de todo o mundo zelo, cuidado e proteção tanto para o presente como para as demais gerações”. Pelo histórico do Movimento, o Iphan abriu processo de tombamento do monumento natural “Encontro das Águas dos Rios Negro e Solimões”, o que suspendeu os procedimentos para a construção do Porto das Lages. O Estado do Amazonas recorreu da decisão, obtendo liminar para suspender o tombamento, posteriormente revertida no Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1).
Espera-se que predomine o bom senso. Este é um típico caso em que o alegado “conflito” estabelecido entre governo do Estado e a comunidade organizada não configura posicionamentos antagônicos em essência. É evidente que a autoridade governamental não pensa seriamente em entregar uma área de tamanha importância arqueológica, cultural e turística nas mãos de grupos empresariais sem antes se certificar da real natureza do projeto e de seu impacto sobre o meio ambiente. Sobretudo se esse grupo não mantém fundadas ramificações com a história e a cultura do Amazonas.
Há fortes precedentes comprovando graves prejuízos sofridos pelo patrimônio amazonense em resultado de decisões governamentais equivocadas, como ocorreu em relação ao Porto de Manaus (Manaos Harbour) “vendido” à iniciativa privada sem qualquer repercussão econômica. Com efeito, o complexo encontra-se inteiramente desfigurado, semi-abandonado, quando poderia, dependendo apenas de decisão do Executivo mais comprometida com a história e a cultura de nossa terra, haver se transformado em área turística de grande relevância econômica, como ocorre em muitas cidades no Brasil e mundo afora – Companhia das Docas, em Belém, Porto Madero, em Buenos Aires, BaySide, em Miami, e assim por diante.
No momento em que o prefeito Arthur Neto obtém expressiva vitória sobre a retirada dos camelôs do centro da cidade, é hora também de repensar esses dois importantes sitios: o Manaos Harbour e o Encontro das Águas como centro de decisões capazes de mudar inteiramente a configuração urbanística de nossa cidade. Sobretudo se, em complemento, venha a ser construída uma avenida beira-rio ligando Ponta Negra, Compensa, S. Raimundo, o Porto de Manaus, no centro, o Educandos, a Colônia Oliveira Machado e o belo e essencialmente turístico lago do Puraquequara. O complexo do Porto de Manaus poderia ainda ser aproveitado para ali se construir um conjunto de monumentos em homenagem ao pescador, ao madeireiro e ao seringueiro. Tão importantes figuras da colonização e do extrativismo, base da economia amazonense até meados do século XX, aguardam serem homenageados pelo povo e o governo amazonenses. Apenas uma questão de pensar grande, vendo o futuro, hoje. Como, aliás, assim pensou e procedeu o grande governador Eduardo Ribeiro. Há promissoras alternativas locacionais para construção de novo porto em Manaus desde o Encontro das Águas, Novo Remanso até Itacoatiara.
QUEM TEM MEDO DO JARAQUI


A Banca do Jaraqui é movida por forças populares, não tem rabo preso com nenhuma candidatura. O que se pretende é denunciar a cambada de corrupto e oportunista que querem assaltar o cofre público e lavar o dinheiro na construção dos megaprojetos. Se sozinho o candidato fala mansa já é perigoso imagina tendo como comparsa os petistas do mensalão, da Petrobras, entre outros assaltos perpetrados contra a República, empobrecendo desta feita. a Nação. O candidato almofadinha que jura que trabalha desde 15 anos, nunca teve carteira assinada, seu primeiro cargo foi ser vereador na ARENA, aquele partido da Ditadura, partido do Sarney e outros mamutes que se metamorfosearam no poder, ficando sempre seguros nas tetas republicanas. O nosso poder é influenciar na decisão do povo, em escolher  o que julgamos o melhor. A exigir dos candidatos respeito e responsabilidade com a coisa pública, governando com a participação popular e não no grito, dando esporro em todo mundo e se achando que só ele sabe, faz e acontece rapidinho. Esta é a marca do candidato fala mansa que com muita arrogância tufa o peito e grita que já ganhou porque tem como aliado o Lula e dona Dilma. Ó Jaraqui está na Praça, todos os sábados das 10 às 12h, ouvindo e debatendo com o povo na perspectiva de confirmar nas urnas o que julgamos corretos. A nossa opção é pela afirmação de um governo Democrático, participativo e popular, dando um chute na bunda dos arrogantes, atrevidos e descarados que de cara limpa tira onda com a cara do povo se passando como se fosse oposição, dizendo que vai fazer isto e aquilo. Chega, bota pra fora e manda pra Brasília, pros braços do PT e da Dilma. Sinta-se feliz, livrando-se do PT e de seus comparsas para que a felicidade pública volte a reinar no Brasil e,particularmente em nosso Amazonas.



VOTAR, PRÁ QUE? 

Em conversa com os eleitores vez ou outra vem a seguinte pergunta: professor por que devo votar? Na verdade, prá que votar se as caras que se apresentam são as mesmas? - E aí a gente começa a conversar mostrando que não estamos a sós e vivemos em sociedade e que nesta hora há uma instituição estruturada que é o Estado, uma máquina instituída tendo por fim servir de suporte para garantir determinados interesses, muitas vezes mais particulares do que comunitários. O Estado é uma organização que toma pra si a responsabilidade de atender ou não a vontade do povo.  As eleições no Estado Democrático parecem muito com o cabo de guerra. Os poderes querem tomar o Estado para se beneficiar das regalias que ele lhes propicia. Ora, se nessa disputa o povo, os trabalhadores, os estudantes, as donas de casa, os que reclamam por Direito não puxarem a corda para o seu lado, eles vão continuar comendo nas mãos dos poderosos, dependendo dos favores e da permissão destes bacanas. Então, as ELIÇÕES são comparadas a um cabo de guerra, de um lado tem o povo puxando para melhorar os serviços de saúde, educação, segurança, e de outros serviços que o Estado oferece a população. Do outro lado tem uma minoria de influência, grana e poder que quer porque quer controlar a maquina do Estado pra os seus empreendimentos, deixando para o povo o resto, a sobra, o osso enquanto eles, os bacanas, comem a carne. Para mudar é preciso participar, exercer o controle sobre os candidatos, baseando a sua decisão na confiança porque, como se sabe, não se contrata um bandido para vigiar a nossa própria casa.

O MEDONHO MODO DE GOVERNAR



TODO GOVERNO AUTORITÁRIO TRANSFORMA O ESTADO NUMA LANÇA CAPAZ DE PERSEGUIR E FERIR O POVO PARA SATISFAZER OS SEUS CAPRICHOS. NÃO BASTASSE TAL GESTO TRUCULENTO O PRETENSO GOVERNANTE INSTITUI TAMBÉM O MEDO COMO REGRA FAZENDO DE TUDO PARA EXPROPRIAR DO POVO O DIREITO DE SONHAR E LUTAR POR UM AMAZONAS MAIS IGUAL, JUSTO E SOLIDÁRIO.

  
A Democracia é uma das formas de governo mais bela e justa. Entretanto, ao mesmo tempo a mais demoníaca e sanguinária porque possibilita a ascensão de carismáticos diabólicos capazes de ludibriar o povo com promessas e vantagens imediatas visando unicamente saquear do eleitor o que ele tem de mais sagrado, que é o voto. Embriagado pelas promessas, o eleitor se deixa seduzir levado pela magia dos encantamentos das propagandas eleitorais. Este fenômeno torna-se mais agressivo quando nos deparamos com uma sociedade marcada pela perversa desigualdade entre ricos, pobres e miseráveis. É agressivo sim porque o pão para uma sociedade faminta é comparável à descoberta de uma fonte no deserto. O milagreiro da política é o demagogo inescrupuloso,não tem limite, para ele o fim justifica os meios. Isto é, se tiver de trapacear ele fará com prazer para conseguir o controle do Estado. Mas, grave ainda, é roubar do povo o seu sonho, a sua esperança. E ele faz isto negando a participação popular, desrespeitando as instituições democráticas - poder judiciário e o legislativo - concentrando toda forma de poder em sua vontade porque só ele sabe e só ele faz rapidinho. Este comportamento carismático e demagógico pode ser muito bem identificado em sua própria fala. O que promete fazer foi o que já fez e fez muito mal, provocando danos irreparáveis ao nosso povo. É assim mesmo, todo populista e demagogo faz questão de ignorar a história, tentando copiar modelos do passado ou transplantar para cá estruturas de outras sociedades políticas afrontando nossa tradição, cultura política e o meio ambiente. Veja por exemplo, o que fez Eduardo (Ribeiro) aterrando os igarapés e priorizando a construção do Teatro Amazonas enquanto o nosso povo era afetado de morte pela praga da varíola. Anos mais tarde, o outro como medida populista resolveu também cimentar os igarapés, descartando assim, qualquer ação consequente de saneamento básico em nosso centro histórico, bem diferente do que os ingleses fizeram na época do apogeu da borracha. O primeiro Ato foi uma tragédia, o Outro tem sido um dramalhão que nos faz rir e chorar de dor se a farsa continuar, o medo imperar e a nossa esperança esmorecer.

A MASSIFICAÇÃO DA POLÍTICA

O fato não é novo. A especificidade da política atual está nos recursos que os candidatos têm para mensurar ou orientar sua captação de voto somado a isto está o vultoso investimento que se requer para assegurar uma eleição vitoriosa. No campo da sociologia política os especialistas adensaram em sua abordagem a estatística como instrumento de leitura capaz de interpretar a vontade do eleitor. Velho recurso usado por Émile Durkeim no século XIX, hoje trabalhado muito bem no campo das metodologias quantitativas. No entanto, as pesquisas representam um pequeníssimo recorte de um universo situacional, quando divulgadas pode provocar impacto aos eleitores desavisados. Contudo, os estudiosos da matéria buscam fazer comparações e análises cumulativas para abstrair dos números algumas lições que possam esclarecer o voto responsável como é o caso do que vem ocorrendo no Amazonas. Vejamos, se analisarmos a contenda entre Melo e Eduardo vai se concluir que o Melo tem crescido 8 a 10% de início de agosto até hoje e por consequência Eduardo perde ponto. Outra variante neste contexto é o crescimento do Marcelo Ramos e do Chico Preto, assim sendo, pode ser um dos fatores determinantes para o segundo turno. Outra determinação a ser analisada é a transferência de voto do Omar para Melo, bem como a intensa participação do prefeito Artur na campanha do Melo formando desta feita um bloco contra Eduardo. Por parte do Eduardo o seu apoio é muito mais externo do que local advindo do Lula e da Dilma. No entanto, se o Lula transferisse voto o Praciano possivelmente estaria eleito. A questão é: Omar e Artur coseguirão transferir voto para Melo assentado numa nova estratégia de captação incluindo a mídia e o corpo a corpo? O Melo vai ou não vai se afirmar como liderança junto aos candidatos de sua coligação? Dilma e Lula virão juntos no Amazonas para fazer um arrastão pró-Eduardo? Quando o Amazonino vai entrar na campanha? E por fim, o Melo conseguirá se afirmar nas pesquisas até o dia das eleições? O fato é que embora se busque ler a vontade do eleitor é sempre uma grande surpresa em se tratando de política de massa. Que a nossa esperança vença o medo, contra a baixaria e arrogância daqueles que tratam o nosso povo como boiada em seu curral.


A POLÍTICA COMO ESPETÁCULO

É UM EVENTO PASSAGEIRO QUE ENVOLVE A TODOS (AS) CRIANDO UM CLIMA FAVORÁVEL PARA ASSALTAR OS CORAÇÕES E MENTES DOS DESAVISADOS, NO ENTANTO, É PRECISO COMBATÊ-LO, PROVOCANDO DEBATE POLÍTICO CIDADÃO, TIRANDO O CISCO DOS OLHOS PARA QUE O ELEITOR QUE ESTEJA CEGO PELA MENTIRA DO CANDIDADO SENADOR POSSA VER O SOL E OPTE POR UM NOVO NOME E/OU CAMINHO A SER CONSTRUÍDO QUE VENHA SATISFAZER O PRESENTE COMO O FUTURO DE NOSSA GENTE. NESTA HORA A CHAVE DO ELEITOR (A) É A CONFIANÇA.

A Democracia de massa exige dos candidatos uma imagem maquiada, retocada, estilística tal como um produto a ser consumido. Nesta perspectiva, a embalagem, a aparência, é mais sedutora do que o próprio conteúdo. O interesse do sistema é vender e vender mais, principalmente àqueles consumidores desavisados que se deixam levar pela onda compulsiva do consumo. Somado a esta circunstância, no campo da política, destaca-se o comportamento demagógicos dos candidatos que é similar a um vendedor delirante que promete fazer reforma agrária nos Estádios de Futebol para beneficiar a todos (as) com um quinhão de terra, gerando emprego e renda. Da mesma forma, promete também criar Polos de Desenvolvimento no Interior do Estado para interiorizar a Zona Franca de Manaus. Não satisfeito, o candidato demagógico diz que sabe fazer e vai fazer tudo muito rápido em favor do povo do Amazonas nem que tenha que sacrificar a sua própria família, Não satisfeito ainda, começa a buscar uma identificação direta com os excluídos se passando com um deles para depois enganá-los com faz todo picareta profissional, fazendo-se de morte para engalobar o coveiro. Este cenário pintado é dos debates, não agrega, não soma e não ensina, mas seduz os desavisados que ainda se deixam levar pelas promessas do demagogo, servindo de escada para que volte ao governo como o "salvador do povo". Saiba que o espetáculo é um evento momentâneo que envolve a todos (as), criando um clima favorável para assaltar os corações e mentes, no entanto, é preciso combatê-lo provocando debate político cidadão, tirando o cisco dos olhos para que o eleitor que esteja cego pela mentira do candidato demagógico possa ver o sol e opte por um novo nome e/ou caminho a ser construído que venha satisfazer tanto o presente como o futuro de nossa gente.

domingo, 27 de julho de 2014


A VELHA QUESTÃO PALESTINA HOJE


O NCPAM – Núcleo de Cultura Política da UFAM –, juntamente com o Projeto Jaraqui, que na próxima terça-feira (29), estarão reunidos com os representantes da comunidade Árabe do Amazonas para se definir estratégia de manifestação humanitária em favor desta Comunidade da Faixa de Gaza, visto que, até a presente hora cerca de 1.060 palestinos, a maioria civis, incluindo muitas crianças, foram mortos durante os 20 dias de conflito. Israel diz que 43 dos seus soldados morreram, assim como três civis mortos por mísseis e morteiros lançados do enclave no Mediterrâneo. A certeza é que o tema do Estado palestino voltou ao centro das preocupações mundiais, que as forças palestinas se fortalecem internamente e na solidariedade internacional e que o governo Obama terá que colocar o tema na sua agenda prioritária, como bem afirma o professor Emir Sader, especialista da matéria abaixo. O fato é que os esforços diplomáticos liderados pelo secretário de estado dos EUA, John Kerry, para acabar com o conflito de 20 dias, têm mostrado poucos sinais de progresso. Israel e Hamas estabeleceram condições que parecem inconciliáveis, sacrificando diretamente o povo Palestino. Por outro lado, o texto do professor Sade, embora seja datado de 2009 orienta-nos a entender e compreender a complexa matéria como tema recorrente na geopolítica mundial, principalmente após o fim da Guerra Fria e depois dos atentados de 11 de novembro, criminalizando diretamente todo e qualquer manifestação deste povo no cenário internacional. A reunião de pauta do Jaraqui está marcada para terça-feira (29), às 18h, na Splash, ao lado do Teatro Amazonas, no Centro Histórico de Manaus. A reunião é aberta aos convidados e demais militantes das causas humanitárias que acreditam na cultura de Paz.

EMIR SADER (*)

São Paulo, 20 de Março de 2009 - A questão palestina voltou a ocupar a atenção da opinião pública internacional, depois de aparentemente ter sido relegada a um segundo plano. Este aspecto talvez tenha sido um dos que fizeram com que Israel realizasse o ataque a Gaza a partir do fim de dezembro de 2008.

Israel contava com a unificação do país em torno de uma política agressiva contra os palestinos, com o apoio bipartidarista nos Estados Unidos, com a relativa marginalização da Palestina no marco de um mundo especialmente convulsionado entre conflitos bélicos e crise econômica global, assim como contava com a divisão dos palestinos entre o Hamas e o Fatah.

Parecia que todas as condições estavam dadas para o que os dirigentes israelenses - eles mesmos apontando diretamente para as eleições parlamentares algumas semanas depois do começo do ataque - chamavam de "mudança dos termos do problema", que consistiria na eliminação da capacidade do Hamas de continuar enviando foguetes contra território israelense, e ao mesmo tempo em castigar duramente a população de Gaza, na pretensão de que assim deixassem de apoiar o Hamas.

A frase atribuída a Tallerand foi plenamente confirmada pela ofensiva militar israelense: "Pode-se fazer tudo com as baionetas, menos se sentar em cima delas", isto é, a superioridade militar não garante automaticamente a vitória. Quanto mais afirmava sua superioridade militar, mais se configurava a derrota política de Israel.

Como consequência da brutal agressão militar a Gaza, o movimento de solidariedade com a Palestina voltou a ganhar repercussão internacional e Israel passou a sofrer novas e mais fundamentadas acusações de genocídio. A Autoridade Palestina se enfraqueceu ainda mais, ao mesmo tempo em que o prestígio do Hamas cresceu. O Egito foi obrigado a retroceder de sua posição de conivência com a invasão de Gaza, na tentativa de substituir o Hamas pelo Fatah, retomando o papel de mediador entre as forças palestinas pela reconstrução de um governo unitário.

No entanto, ninguém pode dizer que uma solução política que resolva de forma minimamente estável o problema palestino está mais próxima. Se Israel se enfraqueceu, se os palestinos retomaram seu processo unitário, se o governo de Barack Obama reafirmou que deseja a retomada de negociações de Israel com os palestinos - nem por isso as condições para a aplicação da Resolução das Nações Unidas que garante aos palestinos o direito a ter seu Estado parecem próximas.

Por que isso acontece? Que condições seriam necessárias para uma resolução da questão palestina que pudesse pacificar a região? Qual o caráter explosivo do conflito?

O primeiro dos fatores que explicam a natureza do conflito e a dificuldade de sua resolução está no caráter de aliado estratégico que Israel tem em relação aos Estados Unidos - a única superpotência. O peso do lobby judaico nos EUA garante que esse vínculo estratégico se mantenha ao longo das mudanças de governo. A Secretária de Estado, Hillary Clinton, mesmo na perspectiva de um governo israelense dirigido por um representante de um partido que não reconhece o direito ao Estado palestino, reafirmou que Israel terá sempre o apoio dos EUA, qualquer que seja seu governo.

Este elemento bastaria para explicar porque Israel conta com um imenso poderio bélico, sendo o país destinatário do maior auxilio militar norte-americano no mundo. Israel trata de fazer desta superioridade um fator de dissuasão contra os palestinos. É de conhecimento público que Israel possui armas nucleares e constantemente ameaça o Irã com ataques que destruiriam armas similares.

Além disso, Israel conta com apoio generalizado dos países europeus, seja por mecanismos de culpabilidade pelo nazismo, pelo peso da dependência europeia em relação aos EUA ou pelo alinhamento tradicional desses países contra o mundo árabe. Completa-se um amplo arco de alianças com que Israel pode contar, mesmo com as posições cada vez mais direitistas dos seus governos.

Por outro lado, os palestinos foram grandes vítimas do fim do mundo bipolar, com a desaparição da URSS, aliado que se contrapunha à ação norte-americana de apoio a Israel. Isto contribuiu a aprofundar sua orfandade política internacional. Ao contrário de Israel, não contam com nenhum apoio significativo interno nos EUA. Muito pelo contrário, especialmente depois dos atentados de 11 de setembro, passaram a ser diretamente criminalizados.

Além disso, a vitória do Hamas nas eleições de janeiro de 2006 - democráticas conforme atestaram todas as comissões internacionais de controle - não foi reconhecida pelos Estados Unidos, por Israel e pelos governos europeus, que suspenderam todo tipo de ajuda a uma região cercada e bloqueada militarmente pelo exército israelense, apoiando ao mesmo tempo os perdedores - o Fatah - e o reconhecendo como Autoridade Palestina. Assim, induziram a divisão entre os palestinos, o que os enfraquece nacional e internacionalmente.

A política de criminalização de forças políticas populares do governo Bush, mediante sua inclusão numa lista de supostos "movimentos terroristas", aceita pelos aliados dos EUA e difundida pela imprensa internacional como se fosse fundada na realidade e não apenas um ponto de vista particular do governo norte-americano, ajuda ao isolamento de movimentos como o Hamas.
O conjunto desses fatores permitiu o massacre de Gaza e permite o bloqueio das negociações de paz pelo cumprimento das resoluções das Nações Unidas, com o reconhecimento do direito de existência do Estado palestino.

Em que marco se situa hoje a questão palestina? Em um mundo sob hegemonia unipolar imperial dos EUA que, mesmo enfraquecida pelas dificuldades vividas no Iraque e no Afeganistão, se mantêm como a única superpotência política e militar. O mais paradoxal é que, especialmente no caso palestino, mas não apenas nele, os EUA são agentes das guerras - os epicentros das "guerras infinitas" de Bush.

Os EUA continuam a ser o único país que toma iniciativas nos conflitos internacionais. (A exceção é a América Latina que, por meio da Unasul e do Conselho Sul-americano de Defesa, tem desenvolvido intenso trabalho de intermediação para a resolução pacífica dos conflitos regionais.) O novo governo dos EUA pode representar tentativas de negociação de acordos de paz, porém suas limitações já estão claras: o surgimento de um governo abertamente direitista em Israel, liderado por um partido que nem sequer reconhece o direito à existência do Estado palestino; a reafirmação do apoio dos EUA a qualquer governo que tenha Israel; a negativa de reconhecimento do Hamas como interlocutor político. A isso se soma o antecedente dos acordos de Oslo, cujos objetivos não incluíam o Estado palestino, o que impede uma visão otimista sobre os acordos de paz atualmente.

No entanto, é preciso reconhecer que a heróica resistência da população de Gaza impôs uma derrota política a Israel, forçando o reconhecimento de vários países europeus de que é necessário incluir o Hamas nas negociações, que se isso não acontecer não terão nenhuma eficácia ou legitimidade. Ao mesmo tempo, foram retomadas no Cairo as negociações para a reunificação dos palestinos em torno de um governo comum e a convocação de eleições gerais. Por outro lado, Israel votou por um bloco de força direitista, que não facilita o apoio internacional ao novo primeiro ministro, enquanto tem que se convencer que a superioridade militar não lhes possibilita impor vitórias políticas e que perderam a batalha na opinião pública em torno da ofensiva contra Gaza, reconhecida mundialmente como um impiedoso massacre.

A certeza é que o tema do Estado palestino voltou ao centro das preocupações mundiais, que as forças palestinas se fortalecem internamente e na solidariedade internacional e que o governo Obama terá que colocar o tema na sua agenda prioritária. O ataque a Gaza fecha um período de relativo isolamento do tema palestino e reabre nova fase na luta pelo reconhecimento do direito dos palestinos de disporem de um Estado soberano.

(*) É Formado em Filosofia pela Universidade de São Paulo, é cientista político e professor da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo (FFLCH-USP). Secretário-executivo do Conselho Latino-Americano de Ciências Sociais (Clacso) e coordenador-geral do Laboratório de Políticas Públicas da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj). Coordena a coleção Paulicéia, publicada pela Boitempo, e é um dos organizadores da Latinoamericana - Enciclopédia contemporânea da América Latina e do Caribe (São Paulo, Boitempo, 2006), vencedora do 49 Prêmio Jabuti, na categoria Livro de não-ficção. Tem publicados pela Boitempo os livros: A Vingança da História Poder, Cadê o Poder? - Ensaios para uma Nova Esquerda e A Nova Toupeira, os Caminhos da Esquerda Latino-americana (2009))
Fonte: http://www.boitempoeditorial.com.br/v3/news/view/600
A BAIXARIA ISRAELENSE


O mínimo que Israel deve ao Brasil é um pedido formal de desculpas por ter o porta-voz da sua chancelaria, Yigal Palmor, cometido a grosseria de chamar o País de "anão diplomático" e "parceiro diplomático irrelevante" - além de fazer uma alusão que imaginava ferina à goleada de 7 a 1 sofrida pela seleção brasileira na Copa. A baixaria se seguiu à decisão de Brasília de chamar "para consultas" o embaixador em Tel-Aviv, Henrique Pinto, para marcar seu protesto pelos indiscriminados ataques israelenses à Faixa de Gaza, que já deixaram cerca de 800 mortos e mais de 4.700 feridos, a grande maioria civis. Nem uma escola da ONU que servia de abrigo escapou.

Além da convocação do embaixador, um gesto de forte repercussão em relações bilaterais, superado apenas pela retirada do representante, o Itamaraty externou ao chefe da representação israelense, Rafael Eldad, sua condenação à "desproporção" dos revides ao disparo de mísseis do movimento radical Hamas, que controla o território. Os lançamentos já passam de 2 mil. Um deles caiu a pouca distância do aeroporto de Tel-Aviv, levando companhias estrangeiras a suspender os voos para o país. Além dos intensos bombardeios a Gaza, as forças israelenses invadiram a área, alegadamente para localizar e destruir os túneis utilizados pelo Hamas para transportar munições. Mais de 30 soldados foram mortos. A macabra contabilidade, porém, é de que, para cada vida israelense perdida, os palestinos perdem 25.

Na sua primeira manifestação sobre o conflito, semana passada, uma nota convencional do governo brasileiro instou as partes a cessar as hostilidades e buscar o caminho do diálogo. No mesmo dia, a presidente Dilma Rousseff considerou "lamentável" o acirramento da violência, sem distinguir seus causadores. Já na quarta-feira, além de chamar o embaixador do Brasil e reclamar com o seu colega israelense, o Planalto emitiu outra nota - dessa vez de dura condenação a Israel, sem citar as ações do Hamas. Pouco antes, a delegação brasileira no Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas votou a favor da abertura de uma investigação sobre eventuais "crimes de guerra" e violação do direito internacional durante a ofensiva israelense. A resolução foi aprovada. Por fim, o desastrado assessor de Relações Internacionais do Planalto, Marco Aurélio Garcia, equiparou os "massacres" israelenses a um "genocídio".

Pode-se especular até o fim das matanças no Oriente Médio o que terá levado um governo praticamente quedo e mudo nos últimos quatro anos diante de crises internacionais a se manifestar de forma tão estridente no caso de Gaza. A rigor, pouco importa: a guinada brasileira, que surpreendeu os próprios protagonistas de mais este ciclo de agressões e revides - cuja origem, descontados os incidentes que os precederam, parece ser a reconciliação da Autoridade Palestina do moderado Mahmoud Abbas com o Hamas do intratável Kaled Meshal -, mereceria de Israel um silêncio glacial ou uma resposta diplomática, nunca um destampatório que deixa à mostra sua prepotência. Deu a impressão de que o caudilho Hugo Chávez reencarnou em Jerusalém.

A política externa brasileira raramente é criticada - muito menos nesses termos - por autoridades estrangeiras, ainda quando a considerem um despropósito, como a tentativa do então presidente Lula de se intrometer na pendenga entre Washington e Teerã sobre o programa nuclear iraniano. A última vez que um país com o qual se mantinha relações destratou o Brasil foi em 1947, no começo da guerra fria, quando o jornal oficial do regime soviético, o Pravda, afirmou que os generais brasileiros, entre eles o à época presidente Eurico Gaspar Dutra, conquistaram as suas medalhas não nos campos de batalha, mas nos cafezais. A reação imediata do governo foi romper todos os vínculos com a URSS.

É inconcebível, obviamente, repetir a dose. Basta a elegância do chanceler Luiz Alberto Figueiredo ao lembrar que o "anão" é um dos 11 países que se relacionam com todos os membros da ONU - e "não usa termos que desqualifiquem governos de países amigos".


Fonte: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,a-baixaria-israelense-imp-,1534349

sábado, 28 de junho de 2014

Presidente sanciona sem vetos Plano Nacional de Educação
A votação do PNE foi concluída pela Câmara no início de junho, depois de quatro anos de debate. Ao todo, o PNE estabelece 20 metas que buscam melhorar a qualidade da educação.
A presidente Dilma Rousseff sancionou, sem vetos, na quarta-feira (25), o Plano Nacional de Educação (PNE), que tem o objetivo de melhorar os índices educacionais do País. A nova lei (Lei 13.005/14) obriga o governo a investir em educação 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em um prazo de dez anos.
O texto foi publicado ontem (26), em edição extra do Diário Oficial da União. O plano prevê o alcance da meta de investimento em duas etapas: um mínimo de 7% do PIB no quinto ano de vigência da futura lei; e os 10% do PIB ao fim do período de dez anos, em 2024, o que representa quase o dobro do que é investido atualmente.
Nesta semana, em pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão, o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, citou o PNE entre as principais propostas aprovadas nesta legislatura.
A votação do PNE (PL 8035/10) foi concluída pela Câmara no início de junho, depois de quatro anos de muito debate. O projeto do PNE foi enviado pelo Executivo em dezembro de 2010, aprovado na Câmara em 2012 e pelo Senado no ano seguinte, onde sofreu modificações e retornou à Câmara para análise final.
Ao todo, o PNE estabelece 20 metas que buscam melhorar a qualidade da educação. As metas vão desde a educação infantil até o ensino superior, passam pela gestão e pelo financiamento do setor e pela formação dos profissionais.
Fies e ProUni: Mudança feita pelos senadores e acatada pelos deputados garantiu que os recursos também possam ser usados em programas como o Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) e o Programa Universidade para Todos (ProUni), que dão bolsas de estudo e financiamento para alunos de faculdades particulares. O texto originalmente aprovado pela Câmara previa que a parcela do PIB fosse destinada apenas para a educação pública.
Além do financiamento, o plano assegura a formação, remuneração e carreira dos professores, consideradas questões centrais para o cumprimento das demais metas. Pelo texto, até o sexto ano de vigência, os salários dos professores da educação básica deverá ser equiparado ao rendimento médio dos demais profissionais com escolaridade equivalente. Além disso, em dez anos, 50% desses professores deverão ter pós-graduação. Todos deverão ter acesso à formação continuada.
Um ponto que desagradou o governo durante as discussões no Congresso e que foi mantido no texto foi a obrigatoriedade de a União complementar recursos de estados e municípios, se estes não investirem o suficiente para cumprir padrões de qualidade determinados no Custo Aluno Qualidade (CAQ).
O texto ainda institui avaliações a cada dois anos para acompanhamento da implementação das metas dos PNE.
Íntegra da proposta:
Fonte : com os aplicativos temáticos do PNE http://www2.camara.leg.br/camaranoticias/noticias/EDUCACAO-E-CULTURA/470819-PRESIDENTE-SANCIONA-SEM-VETOS-PLANO-NACIONAL-DE-EDUCACAO.html?utm_campaign=boletim&utm_source=agencia&utm_medium=email

quarta-feira, 25 de junho de 2014

O VICE DE OCASIÃO NA RABIOLA DOS 
CANDIDATOS

 Neste contexto, o vice tanto para a situação como para as oposições, além de multiplicar voto deve também somar moralmente.

Ademir Ramos (*)

Para concorrer às eleições, os candidatos ao Governo do Estado procuram um vice para composição de suas chapas. Nesse momento, o povo encontra-se passivo frente às articulações e acordos feito pelos pretensos candidatos que buscam obter nas urnas o sucesso da vitória. Passivo porque o sistema eleitoral delega aos Partidos todo o poder relativo à escolha e aprovação dos candidatos nas convenções, dando legalidade as inscrições junto à Justiça Eleitoral.

A indicação e aprovação dos candidatos no Tribunal Regional Eleitoral são de inteira responsabilidade dos Partidos, o eleitor, por sua vez, apenas é chamado a confirmar ou não os nomes que já foram selecionados pelas agremiações partidárias de acordo com sua conveniência, interesses e o que eles chamam de densidade eleitoral. Esses critérios servem também para a escolha de um vice de peso, que venha multiplicar nas urnas o número de votos do candidato a governador.

Nesses termos tanto a situação como a oposição transitam nestas alas às vezes pontuando menos ideologia e mais oportunismo celebrando alianças eventuais que visam muito mais as urnas do que o processo de governança. Digo mais as urnas porque primam unicamente pelo quantitativo, isto é, o mais importante é saber se o candidato à vice tem curral de votos na periferia da cidade, no interior do Estado ou num determinado segmento social, étnico e/ou de gênero, não interessa se ele é zero a esquerda, em se tratando de gestão publica. O seu passado moral pouco ou nada importa para os oportunistas porque acreditam que o povo tem memória curta e que por meio da mídia é capaz de reverter qualquer imoralidade que por acaso venha ameaçar sua trajetória eleitoral.

A moral está para a política assim como rio está para o mar. É face e interface do mesmo fato enquanto expressão de um comportamento familiar e privado a interagir com o social, comunal ou público. Maquiavel muito se preocupava com a moral dos Príncipes, não só quanto à vida privada como também referente às guerras de conquistas, repudiando qualquer ato que violasse as mulheres dos povos ou dos reinos conquistados. Visto que, segundo o florentino, os homens jamais esquecem e tolera a violação moral da família frente à disputa do poder de Estado. No medievo esta mácula mobilizava revoltas sangrentas. No capitalismo, não é tão diferente, ao contrário a moral familiar é mais aguda por ser esta o escudo da propriedade privada que assenta todo valor capital da sociedade mercantil. Embora, o jurídico nestas circunstancias tenha regulado estas relações dando asas ao poderio econômico, o mesmo já não se pode dizer da política por está afetado de profunda paixão a começar pelas questões familiares a se estender pelas questões de Estado.

O vice, neste contexto, tanto para a situação como para as oposições, além de multiplicar voto deve também somar moralmente, agregando valor ao candidato majoritário sem afrontar os valores morais e muito mais ainda sem reduzir a política ao pântano da corrupção, da irresponsabilidade e da obscuridade, instrumentalizando o Estado para interesses privados afrontando, dessa feita, o povo e seus direitos sociais.


(*) É professor da UFAM, coordenador do Projeto Jaraqui e do NCPAM.         

segunda-feira, 23 de junho de 2014

O 'grande número' e a política


Luiz Werneck Vianna (*)
Desde junho de 2013 as ruas não têm dado tréguas em suas manifestações, primeiramente sob as bandeiras dos direitos, como os de acesso à saúde, à educação e à mobilidade urbana, e, nesta segunda onda dos dias presentes, com o claro registro da dimensão dos interesses. Em poucos meses, mudaram os temas e os personagens. As camadas médias, antes com massiva participação, cederam lugar a categorias de trabalhadores demandantes de melhorias salariais, por vezes à margem da orientação dos seus sindicatos, e a movimentos sociais de extração social difusa, como os do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), boa parte deles sob a influência de partidos da esquerda radicalizada.

Os diagnósticos que nos vêm da mídia são uniformes na interpretação economicista do mal-estar reinante na população, carregando nas tintas o tema da inflação, segundo eles, palavra-chave da sucessão presidencial que se avizinha. Contraditoriamente, tal diagnóstico convive sem conflito aparente com o reconhecimento por parte de analistas de diversas orientações de que, nos últimos anos, indicadores confiáveis atestariam o alcance de setores subalternos a melhores padrões de consumo e de acesso ao mercado de trabalho. Muitos deles até sustentando que tais setores já fariam parte das classes médias. Conquanto essas duas interpretações contenham seu grão de verdade, elas apontam, como é intuitivo, para direções opostas, embora guardem em comum o mesmo viés economicista e a mesma distância quanto à política.

O fato novo que temos diante de nós vem, precisamente, dessa região oculta da Lua e se manifesta na ruptura da passividade em que se mantinha o "grande número", para flertar com a linguagem de um grande autor em suas alusões ao homem comum da sociedade de massas. As duas florações da social-democracia - a do PSDB e a do PT -, no governo por duas décadas, cada qual no seu estilo, embora a do PT venha sendo a mais desenvolta na intervenção sobre a questão social, não só têm estimulado, mesmo que indiretamente, a procura por parte dos setores subalternos da porta de acesso aos direitos da cidadania, como atuado no sentido de consolidar as liberdades civis e públicas previstas na Carta Magna de 1988. Os limites em que o governo da presidente Dilma Rousseff se manteve no curso da Ação Penal 470, o processo dito do "mensalão", em que estavam envolvidos importantes dirigentes do PT, é um exemplo disso.

A passividade do "grande número" ao longo desse período - evita-se o uso do termo multidão para manter distância das ressonâncias metafísicas com que ele, ultimamente, tem sido empregado - certamente não foi indiferente às políticas bem-sucedidas dos governos social-democratas - declarados como tal ou não - que têm estado à testa da administração pública, entre os quais a do Plano Real e a do Bolsa Família, mencionado este último apenas pela sua efetividade.

Contudo, malgrado as diferenças entre PSDB e PT, inscritas no DNA de cada um deles, ambos optaram por estilos de governo tecnocráticos. No caso do PT, bem camuflado por instituições como o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social, logo esvaziado, e pelas reuniões informais entre o ex-presidente Lula e as lideranças sindicais. E, sobretudo, pela incorporação de movimentos sociais ao aparelho de Estado, marcas fortes dos governos de Lula. Para os setores organizados e próximos ao partido, tais práticas podiam ser vivenciadas como um sucedâneo de democracia participativa, mesmo que suas deliberações fossem, em última instância, dependentes da discrição governamental.

Quanto aos intelectuais, em que pese a forte atração que o PT exerceu sobre eles no momento de sua fundação, incluídas grandes personalidades do mundo da ciência e da cultura, eles não encontraram em sua estrutura partidária um lugar próprio para exercer influência, rebaixados à situação de massa anônima de simpatizantes. Nessa posição marginal, eles se confortaram na crença dos poderes carismáticos da sua liderança, bafejada por sua origem operária, e hoje padecem de desencanto com a revelação dos muitos malfeitos com origem na máquina governamental.

O PSDB, por sua vez, partido formado por intelectuais, não somente os deixou à deriva, como igualmente se manteve ao largo dos movimentos sociais e do sindicalismo, confiante nos louros conquistados com os êxitos do Plano Real. Assim, se o PT se recusava a vestir a carapuça da social-democracia, que lhe cabia tão bem, o PSDB assumiu-a apenas no plano do discurso, com seu núcleo duro constituído por elites de formação e trajetória tecnocráticas. Nem um nem o outro enfrentaram o desafio da "ida ao povo". Na versão petista, o sindicalismo tem-lhe feito as vezes e, na do PSDB, a massa de consumidores. Nas favelas e nos bairros populares, em termos de organização partidária - não de voto, frise-se -, em meio a um oceano de evangélicos, não se nota a presença deles.

Nessas condições, a ativação do "grande número", a que se assiste desde junho do ano passado e, ao que parece, não vai recuar nem mesmo diante da Copa do Mundo, tem encontrado à sua frente um terreno político desertificado. Nada a surpreender quanto à sua descrença na política e à selvageria de muitas de suas manifestações, fato que o governo do PT reconhece agora, de modo tardio, atabalhoado e, como sempre, vertical, com a criação por decreto dos conselhos populares de participação na administração pública.

Seja lá o que o destino reserva a essa iniciativa discricionária, que não nos chega em momento propício, já está na hora de fazer ouvidos moucos aos ideólogos do economicismo, confessos ou encapuzados, que confundem o consumidor com o cidadão e a política com o cálculo eleitoral.

(*) É professor-pesquisador da PUC-Rio. E-mail: lwerneck096@gmail.com

Fonte: http://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,o-grande-numero-e-a-politica-imp-,1516233