domingo, 29 de junho de 2008

MIRANTE DO COTIDIANO - AMOR É... BOSSA NOVA



Nos anos 30 um certo senhor chamado Noel Rosa, fala pela primeira vez em “Bossa”, num samba chamado “Coisas Nossas” O samba, a prontidão/e outras bossas,/são nossas coisas(...). Mas em 58 é que nomes como João Gilberto, Tom Jobim, Luiz Bonfá e Vinícius de Moraes viraram uma espécie de símbolo nacional do gênero.

A Bossa nasce como o movimento de um grupo de compositores emergentes que se reunía na casa de Nara Leão. Carlos Lyra, Roberto Menescal, Ronaldo Bôscoli entre outros faziam parte desse grupo que se apresentava em shows nas universidades .
Ao contrário do que se falou muito a Bossa Nova não foi apenas um jeito diferente de cantar e tocar samba. Foi uma revolução musical e sócio-cultural que mexeu com a cabeça de meio mundo.

As capas super coloridas davam lugar a figuras geométricas e abstratas que simbolizavam muito bem o pensamento daquela geração.

Cinqüenta anos depois, a Bossa Nova continua sendo referência pra muita gente, não só no Brasil. O movimento inspirou tendências que vêm imprimindo sua marca na cena musical mundial: Drum’n Bossa, Bossa’n Roll, e tantas outras bossas estão ecoando por aí....ainda bem.
Pra comemorar os 50 anos da Bossa Nova, uma “Cuba-libre, um banquinho e um violão!
E mais!

O show Amor é... Bossa Nova, com Lívia Mendes e convidados para uma platéia que encheu o teatro Amazonas, no último dia 15/06. Público concentrado e ao mesmo tempo entorpecido pelo clima da noite.

No palco, além dos músicos que tocaram com maestria seus respectivos instrumentos, uma mesa onde estava Norma Araújo bebericando e contando as histórias do tempo em que aquela turma se reunia pra tocar e cantar o novo ritmo. Tinha também um senhor (que bem podia ser João Gilberto) com o violão na mão dedilhando clássicos... tudo conspirava para vivenciarmos as mesmas emoções de uma geração que marcou pra sempre a história da nossa música.

Emoção e Mágica com Bossa Nova.

Texto extraído do blogue Club da Cultura - visite-o: http://clubdacultura.blogspot.com/

sábado, 28 de junho de 2008

SOCIEDADE ANÔNIMA



Khemerson de Melo Macedo*

Quem construiu a Tebas de sete portas?/ Nos livros estão nomes de reis./Arrastaram eles os blocos de pedras?/ (...) / Para onde foram os pedreiros, na noite em que a Muralha da China ficou pronta?/ A grande Roma está cheia de arcos do triunfo./ Quem os ergueu? Sobre quem triunfaram os césares? (B. Brecht).

Esta citação nos mostra o quão equivocado (ou mesmo tendenciosa) é a História Oficial, ao personalizar fatos e outros acontecimentos em prol de uma pessoa, ou grupos de pessoas, legando aos outros partícipes a condição subserviente de coadjuvante da história. Esta citação é oportuna, pois nos serve de suporte para ajudar-nos a contar um pouco esta condição marginalizada dos verdadeiros protagonistas da História, a saber, a grande massa de trabalhadores e outros atores que juntos modificam a História cotidianamente.

Como disse, os verdadeiros protagonistas da História não são aqueles que aparecem nos livros; são anônimos, estão nos recônditos dos mais diferentes espaços geográficos, esquecidos pelos historiadores e lembrados apenas pela memória de seus pares; são construtores, lutando cotidianamente contra as injustiças que teimam em persegui-los; são trabalhadores, as forças motrizes da História.

Não quero aqui fazer um discurso apaixonado do tema. Quero apenas discutir o outro lado dos discursos oficiais. Nesse sentido, afirmo que a validade do relato histórico não está no fato como um todo, mas no seu aspecto mais efêmero; no processo de contar o fato, o que fica é o ícone, ou seja, não importa o acontecimento, quem ganha os créditos são sempre as figuras que estavam à frente: presidentes, generais, inventores, etc., a grande massa some, como se não fosse importante sua participação.

Pelo contrário. Nada melhor, contar uma história do que recorrer à oralidade daqueles que viveram fatos históricos recentes, ou herdaram histórias passadas de seus antepassados. Além do mais, nenhum general ganha uma guerra, por exemplo, sem o empenho abnegado de seu exército, só pra se ter uma idéia.

A hipocrisia da História Oficial esconde não apenas o papel dos trabalhadores e da grande massa como um todo, no processo de se fazer História, esconde também o processo de alienação aos quais estes estão submersos, não só no processo das relações de trabalho, mas também nas relações políticas entre os homens, pré-condição básica à relação dominante/ dominado, desconfigurando o verdadeiro protagonista do seu status que lhe é de direito, sabotando-os de seu papel histórico, submetendo-os, enfim, à vontade de seus “heróis”.

O leitor já deve ter percebido que não me restrinjo, ao falar de trabalhador, ao empregado de uma fábrica qualquer, mas a todo aquele indivíduo capaz de produzir consciência acerca de sua realidade, embora tenha dificuldades de entender sua condição histórica. Falo do público, não de seus supostos “heróis”.

O trabalhador é ao mesmo tempo, narrador e ouvinte de sua época, e esquecer esse pré-requisito é negar a História como interpretação, pois a História Oficial rege-se, costumeiramente, como manual, sem direito a reflexões aprofundadas, ditadas pelos discursos dominantes, embotando nossas percepções e doutrinando nossos pensamentos. Cabe ao trabalhador sair do anonimato e tomar nas mãos as rédeas de seu próprio devir.

* Gerente de projetos do NCPAM e cientista social.

quinta-feira, 26 de junho de 2008

O TERRORISMO DA PUBLICIDADE


Thiago Rocha de Queiroz*


Na década de 60, o Brasil sofreu um golpe político que, colocando as grandes patentes militares sob o poder do país, manchou de sangue a história de uma nação tão marcada pela sua alegria. Em 1968 o Ato Institucional nº 5 (AI-5) corta as liberdades democráticas em nome de uma política de salvação nacional. Os lemas de “ordem e progresso”, descritos em nossa bandeira, deviam ser, a qualquer custo, praticados pelo Estado ditatorial. Foram tempos difíceis... Tempos onde “ter razão” era muito perigoso.

Todo este processo de repressão só foi possível a partir do poder da publicidade, através dos discursos que legitimavam as ações emergenciais e que justificavam as ações do Estado como fundamentais para o processo de desenvolvimento do país. Quem se beneficiou com o processo sente, ainda hoje, grande nostalgia. Quem lutou, relembra diariamente este momento, pois toda grande vitória vem acompanhada de muita dor e sofrimento, de muitas lágrimas e perdas.

Sacrifícios feitos por homens e mulheres que deram o seu sangue por um país que hoje dança a “égua pocotó”, a boquinha da garrafa e o “créu”. Vivemos na ditadura da informação que direciona opressivamente as verdades gerais. Os meios de comunicação formam a opinião de um país despolitizado, que odeia política e que encontrou na falta de investimentos educacionais, a chave para se manter no poder.

A política estava em toda a parte: na musica de Chico Buarque, na mesa de botequim, nos cabarés, no futebol... Hoje separamos isto de nossa vida, pois grande parte da população ou é descrente, afirmando que não existe solução, ou acredita que “política” é assunto para determinados grupos sociais.

A sociedade parece estar assentada sobre um grande circo, contemplando um espetáculo onde tudo é alegria e felicidade, tirando “graça” de suas próprias “desgraças” e esquecendo que por detrás das lonas que envolvem as estruturas deste circo, existe muita gente querendo assistir ao mesmo espetáculo, indignados por não poderem rir das mesmas piadas. Acredito que nunca estivemos tão domesticados quanto hoje. O conhecimento que antes servia para libertar, hoje nos aprisiona em um mundo de curiosidades.

É certo que os problemas de outrora não são os mesmos, mas se hoje não gostamos de nos envolver tanto com os problemas sociais, é porque as estruturas particulares dos indivíduos, como o casamento, a família, a sexualidade etc, estão em profunda decadência, afetadas por um progresso que nos torna, a cada dia que passa, seres insensíveis, preguiçosos, maquiavélicos, fechados em um universo particular, mesquinho e egoísta. Talvez se, em nossa história, tivéssemos passado por uma guerra civil nacional, que envolvesse todos os estados e que não fosse centralizada como foram os movimentos contra a ditadura, teríamos na memória algo além dos nossos títulos mundiais de futebol.

Contudo, apesar de não sentirmos materialmente as forças de repressão do Estado, somos reféns de uma máquina publicitária que condiciona a postura e a sensibilidade dos indivíduos. O país se moveu quando um pai jogou a sua filha pela janela de um prédio; quando uma criança foi arrastada pelas ruas da “cidade maravilhosa”; contra índios que, em defesa de seu território, feriram um engenheiro que pretendia construir uma hidrelétrica em suas terras.

Entretanto, este mesmo país esquece que, bem perto dele, acontece diariamente os mesmos casos, talvez até piores, que são esquecidos ou menosprezados por uma imprensa sensacionalista que só divulga os fatos que envolvem a classe média de um país majoritariamente constituído por pobres.

Por que não nos sensibilizamos com os ataques norte-americanos que mataram centenas de inocentes na guerra contra o “terrorismo”? Com crianças de rua que morrem de fome ou adoecem por não terem para quem recorrer? Por índios, em Roraima, que são vítimas de atentados promovidos e assumidos por jagunços ou fazendeiros que pretendem retirá-los de suas terras?

Não estou dizendo que os crimes mencionados são de menor ou maior importância, mas, aparentemente, tudo parece depender muito de como a notícia chega até nós.

* Estudante de História da Universidade Federal do Amazonas.

terça-feira, 24 de junho de 2008

HOBBES E A CRISE DA SOCIEDADE BRASILEIRA


Ricardo Lima*

Por ter vivido durante um dos períodos mais conturbados da história da Inglaterra - a guerra civil - teve sua teoria demasiado influenciada pelas conjunturas da época. Mas apesar disso, foi capaz de fazer notáveis contribuições para o pensamento político; contribuições essas que, em outras palavras, ditas pessoais, se encaixam perfeitamente em nosso panorama atual de uma iminente guerra civil, de disfunção completa do Estado e de sua cada vez mais avariada soberania.

Suas idéias sobre a natureza humana lhe custaram a antipatia tanto dos conservadores, por sua negação do direito divino no absolutismo; quanto dos republicanos, por ser claramente a favor do Rei; e até da igreja católica, que o acusou de impiedade e ateísmo. Até hoje o filósofo é considerado como uma nota dissonante nas ciências políticas, ao lado de Karl Marx, Nicolau Maquiavel e Jean Jacques Rousseau.

Não obstante, Hobbes, assim como Maquiavel, foi um dos pioneiros a desmistificar a teoria aristotélica de cuja tese afirma que o homem era um Animal Político naturalmente sociável e, em ordinário, bom. Mediante o pensamento do filósofo inglês, teses absurdas como essas configuram-se numa máscara que impede os homens de perceberem a verdade: a de que a vida é uma corrida incessante e laboriosa, que só finda em morte: estar continuamente retrógrado é miséria, sobrepor-se aos outros conota a felicidade, quem abandona a competição da vida; compreenda-se morto.

Então, na ausência de um poder coercitivo o suficiente para impor o respeito entre os homens, colocando limites a esse impulso egoísta de competição e dominação, a sociedade estaria imersa numa condição de “guerra permanente”, onde todos os homens conflitariam contra todos os demais na tentativa de preservar sua vida, suas propriedades e na cruzada incessante de glória e poder, mas essa propensão dos sujeitos à guerra é, segundo Hobbes, uma tendência levada pelas paixões e pela razão, na tentativa dos indivíduos em escapar da morte violenta. Ou seja, no estado primitivo de guerra, “não há sociedade” (...) “e a vida (...) é solitária, pobre, sórdida, embrutecida e curta”. É a morte, a fome, a miséria, a única coisa certa que eles poderiam esperar...

Para impedir que um estado de tamanha barbaridade continue e evitar que os homens morram pela morte violenta, os mesmo entram em pacto, transferem a sua capacidade de se defenderem para um ser superior, com força e inteligência maior, e capaz de por fim à barbárie. Criam um ser superficial, o grande Leviatã. Criado pelo medo e com plenos poderes, a função do grande monstro é a garantir trabalho a todos, distribuir eqüitativamente as terras, garantir que as leis sejam aplicadas a todos com justiça e igualdade, e impedir que o ímpeto egoísta e destrutivo dos homens se manifeste. Acresce também que o pacto social perde a validade se o soberano, Estado, perder a capacidade de manter a paz. Deste modo, os súditos, ou cidadãos, tem a liberdade de procurar outro líder ou instituir um novo contrato.

Se Hobbes vivesse sob as pautas de nossos dias e resolvesse adentrar no Brasil, o que diria? O que afirmaria este filósofo político acerca das contradições existentes nesta sociedade? Certamente afirmaria que "o Estado perdeu sua capacidade como eufemizador da violência, portanto o pacto não possui mais validade.” Estamos rapidamente caminhando para uma terrível convulsão social, e aquele miserável estado de natureza, até agora relegado à esfera econômica sob o nome de capitalismo, se "transformará numa guerra de todos contra todos".

A máquina estatal tornou-se hoje totalmente insuficiente para nos assegurar aquilo que lhe foi confiado: garantir-nos a paz e a vida. Nossas taxas de homicídios são similares à de um país em guerra, como o Iraque; os serviços públicos apresentam ineficiências e o congresso nacional está eivado por interesses de classes mesquinhas que há quinhentos anos lucram com uma estrutura retrógrada da sociedade.

É chegada a hora, portanto, da instauração de um novo pacto, mas desta vez instituído pelos verdadeiros cidadãos, aqueles que realmente produzem as riquezas mas não podem desfrutá-las, pois estão relegados há uma estrutura de exploração que os deixam à margem do seu produto. É mais que urgente a necessidade de instituir um novo Estado, cuja alma artificial esteja em consoante com as demandas daqueles que são realmente o povo brasileiro, distribuir as riquezas nas mãos dos produtores, fazer a reforma agrária, e reformar as estruturas públicas, para que realmente sejam públicas e não reféns de pressões particulares ou classistas.

É mais que urgente este novo pacto, pois como disseram Marx e Engels: “os produtores não tem nada a perder, a não ser suas cadeias.”

* Estudante de Ciências Sociais pela Universidade Federal do Amazonas e pesquisador do NCPAM.

domingo, 22 de junho de 2008

MIRANTE DO COTIDIANO - O FOLCLORE É DO POVO


* Ademir Ramos


Momento próprio para se falar das diversas manifestações populares vivas da cultura do nosso Amazonas. São cantigas de rodas, provérbios, costumes, lendas, jogos, superstições, danças, culinária, versos, contos, músicas, artesanato, brincadeira de boi-bumbá. É só festa e alegria a povoar o nosso imaginário poético.

O fato folclórico é marcado pelo verbo no passado, a se dizer – antigamente, era uma vez -, que persiste por força de uma tradição oral comunicada de geração a geração sem se preocupar com a identificação de autoria. No entanto, o registro desses saberes tem sido feito de várias formas e em linguagem diferenciadas por meio do cinema, teatro, da literatura, da música popular e das artes plásticas.

Por sinal, muitos autores têm buscado no repertório popular fonte para suas produções, tais como: Villa-Lobos, Teixeira de Manaus, Mário de Andrade, Márcio Souza, Florestan Fernandes, Mário Ypiranga Monteiro, Moacir Andrade, entre outros.

Quanto às danças é importante lembrar o majestoso Festival Folclórico de Manaus que neste ano completou cinqüenta e dois anos (52°) de representação popular, continua sendo brincado no Centro Cultural dos Povos da Amazônia, a antiga bola da Suframa. A lembrança do festival no curso da história mereceu registro no Roteiro Histórico e Sentimental da Cidade do Rio Negro, obra de autoria de Luiz de Miranda Corrêa.

Para o autor do Roteiro..., reportando-se aos anos sessenta, quando “durante os meses de junho e julho, acontece em Manaus, uma espécie de carnaval, no que ele representa como movimento de massa, mas voltado inteiramente para o lado folclórico. Pelas ruas da cidade é comum ver-se desfilar tribos de índios, como os Andirás, o boi-bumbá e as quadrilhas, dirigindo-se a clubes, casas particulares e, acima de tudo, ao Estádio General Osório, onde se realizava o tradicional Festival Folclórico do Amazonas”.

A verdade é que, não se pode estudar, compreender e explicar as manifestações folclóricas fora do contexto histórico. Isto porque, as mudanças desse é que regulam a estabilidade e a continuidade da herança cultural tradicional de nossa gente.

Nessa perspectiva, o professor Mário Ypiranga, em Aspectos da Cultura Amazônica, chega afirmar, em 1986, que: “Manaus é hoje uma cidade hostil, uma cidade que se afasta visivelmente da bucólica quietude das noites, enluaradas, do verde novo dos quintais povoados de fruteiras e de flores (...) das comidas e bebidas regionais, porque a Zona Franca adquiriu a sensibilidade do mito aurígeno de Midas. (...) Há um sentido de pressa em tudo, uma pressa vinculada ao desassossego econômico”.

Contudo, inauguram-se outras práticas, que se afirmam nesse universo cultural, contribuindo diretamente para a sustentação de novas estruturas sociais no curso da história. Esta dinâmica da cultura transforma valores, costumes, ditos e eventos em regras morais ou manifestações de resistência frente à expansão e a dominação cultural.

O folclore como espírito de um povo é definido pelo modo de ser e viver de sua gente, teimando dizer que “não há nada como um dia atrás do outro”, bem como “no rio que tem piranha, jacaré nada de costa”. Ainda mais, “gato escaldado tem medo de água fria” e que “a mentira tem perna curta”. Portanto, “quem viver verá”.

Os provérbios são muitos, assim como as brincadeiras de rua também, entre elas destacam-se - barra-bandeira (esconde-esconde), boca de forno, cemitério, pular macaca, brincadeira de roda, pular corda, perna de pau, empinar papagaio, jogar peteca, jogar pião e tantas outras que recordamos nessa data social significativa.

O conjunto desses valores representa a vitalidade da cultura popular, despertando nos participantes aptidões e habilidades, que podem resultar na prática literária, no artesanato, na música e nas demais linguagens artísticas geminada com a educação. Saibam todos, que nesse meio a única coisa proibida é não brincar.

* Coordenador Geral do NCPAM, antropólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

sábado, 21 de junho de 2008

DRAMA ACADÊMICO



* Pedro Braga

Saber ler, escrever, analisar e interpretar um texto é direito de todos. Cada homem e mulher necessitam, por natureza, expor suas idéias, seus pensamentos, súplicas, inquietações. É através do professor e, ordinariamente, da prática da leitura que tais ferramentas – escrita, leitura, análise e interpretação – podem ser estendidas às mãos e mentes escurecidas.

Platão, filósofo grego de contexto social longínquo, já nos dera exemplo sobre a leitura, escrita e seus benefícios para o homem por meio de sua bem conhecida caverna escura de ignorância. De acordo com este pensador, o ser que não possui as ferramentas precípuas para a elevação intelectual do homem encontra-se aprisionado, trancafiado num tipo de caverna escura que ele mesmo deixou se desenvolver, cabendo a ele o passo inicial para escapar da mesma.

Sua libertação só poderá ser integral se o esforço empregado aos braços, pernas e, sobretudo, ao cérebro partir dele próprio, o que nos remete que a elevação mental/intelectual é um exercício de via pessoal e muito particular de cada ser.

Verifica-se que a leitura pode, mediante o apoio do professor e esforço de cada indivíduo, propiciar a libertação das garras do senso comum – muito latente em nosso tempo -, delegando a esse homem obstinado por liberdade autonomia pessoal e intelectual. O resultado final deste esforço compreende um ser preparado a enxergar de maneira analítica e crítica o mundo/contexto no qual está inserido.

Manifestações de interesse à arte da escrita e leitura podem ser compreendidas, também, em períodos pretéritos cuja datação marca 5000 a.C. aproximadamente, na era antiga oriental, em específico na Mesopotâmia, onde os sumérios, instigados pela necessidade de numerar, registrar, relatar, produzir anais desenvolveram a escrita e, por conseguinte, a prática da leitura, mediante especialistas deste campo de estudo histórico.

Outras civilizações que podem ser citadas por razão de seu constante interesse à articulação com a arte da escrita e leitura são a egípcia, grega, eblaíta, e muitas outras. Portanto, é perceptível já nesta era remota que leitura e escrita se configuravam como ferramentas de trabalho – no caso dos escribas egípcios e filósofos gregos, o primeiro exercendo a produção relatorial e o segundo a abordagem filosófica – imprescindíveis para a manutenção e, posteriormente, consolidação da maior parte da cultura e pensamento da época, se alongando até a atualidade.

Eis, pois, acima, em sintética explanação, razões que propõem a nos instigar à não projeção indiferente para com o apoio aos muitos cidadãos e aspirantes universitários que se encontram até certo momento “desprovidos” desta prática que em outras palavras, ditas pessoais, devem por direito humano fazer parte de qualquer vivente pensante.
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No entanto, uma notável parcela de estudantes de diversas áreas das instituições de ensino superior do estado do Amazonas passam por um dramático problema não resolvido em períodos nos quais se encontravam na sala de aula do ensino secundário. Muitos de nossos universitários estão incapacitados na técnica da escrita, não conseguem organizar e externar seus pensamentos ou idéias, o que acaba acarretando na dificuldade de comunicação entre professor e aluno em momentos em que tal interação é extremamente “necessária”: a hora do exame dissertativo.

Sem obstar, vemos em nosso meio acadêmico “ilustríssimos professores” que, movidos não sei se por excesso de eruditismo ou pelo imaginário que nossa educação deve a ferro e fogo, no presente contexto, ser igualitária a de países desenvolvidos para assim atender a certas posturas pessoais intelectualizadas, delegam indiferença para o proposto assunto, “doutos” que se esquivam e, frequentemente, tapam os olhos para a compreensão e apoio na busca de soluções para esta questão social.

Vê-se, portanto, que esta deficiência muito latente nos âmbitos de nossas universidades é uma chaga social que precisa ser sanada por todos nós, especialistas geógrafos, sociólogos, antropólogos, filósofos, historiadores e jornalistas, enfim – e, sobretudo, por ainda vós que são denominados como sendo homens e mulheres educadores, formadores de opinião.

Qual o caminho mais rápido e eficaz para a extinção de tal problema? Metodologias pedagógicas? Indubitavelmente. A metodologia do ensino é extremamente relevante para a concretização da aprendizagem do indivíduo, disso não podemos nos contrapor. Todavia, não há uma aprendizagem de qualidade sem uma postura docente aplicada, compreensiva e, sobretudo, que acredite e persevere na mudança deste quadro social.

Pois estudantes necessitam de professores interessados em suas causas, mestres que não hesitem em orientá-los quando precisam, doutores que os critiquem e, em seguida, mostrem os bons caminhos a seguir, sem usar como artifício verdades particulares, homens que os incitem a enxergar suas próprias verdades e ensinem como lutar por elas, calcados nos argumentos necessários para tal.

Enfim, analfabetos funcionais “clamam” por “alfabetizados” que os tirem da caverna escura que existe em cada cantinho das salas de aula de nossas instituições públicas e privadas.

Talvez exista um amigo universitário ao seu lado que passa por problemas de comunicação escrita ou falada. Se sim, ajude-o! Se este for você, ajude-se! Rompa com sentimentos contrários e afie a arma cuja lâmina tem desmistificado valores, pensamentos e revolucionado sociedades ao longo do tempo, a pena/caneta/dígito.

* Estudante do curso de História da Universidade Federal do Amazonas.

Obs: o texto é produto da nossa oficina, resultado do projeto de extensão da UFAM que conjuntamente realizamos com o Professor Tenório Telles.

quinta-feira, 19 de junho de 2008

PODER DE ESTADO E A SOBERANIA POPULAR*




O poder de Estado manifesta-se na sociedade civil por meio das políticas públicas. Essas determinações buscam legitimidade a partir da aceitação e referendo das organizações e movimentos sociais, como expressão da soberania popular. Nesse contexto, as eleições ganham tamanha importância pelo valor soberano que representam.

A forma de governo democrático, que se fundamenta na liberdade, igualdade e na força do direito, sustenta-se nos termos do Contrato Social, definido na Constituição Federal, ordenando direitos e deveres para garantir o equilíbrio entre os poderes e o reconhecimento da cidadania.

A cidadania plena requer participação direta nas formas de controle do Estado quanto à qualidade das políticas públicas, denunciando toda e qualquer forma de privatização do poder público, contrário aos interesses da maioria.

A democracia, segundo Platão, promotora da liberdade, pode por excesso promover a desordem. Essa crise política, quando não controlada, possibilita a tomada do poder por grupos oportunistas, que se apoderam do Estado para fazer valer a defesa dos seus interesses privados, contrariando a liberdade e a vontade do povo. Esse comportamento político pode ser definido como forma de governo autoritário.

No entanto, a pior democracia é melhor do que qualquer ditadura porque prima pela liberdade e pelo imperativo do direito público. Para isso, é necessário salvaguardar as instituições e as garantias individuais em cumprimento da justiça, combatendo a impunidade, a corrupção, a desigualdade social e todas as formas de injustiça social.

Assim sendo, é importante que se fortaleça as organizações sociais, promova a cidadania participativa e se defina instrumentos de controle social de forma responsável para se garantir os direitos fundamentais por uma sociedade justa e igualitária.

* Texto elaborado coletivamente como exercício de Ciência Política sob orientação do professor Ademir Ramos, no Curso de Administração Universitária da UFAM/2008.

quarta-feira, 18 de junho de 2008

FESTA NO TERREIRO DO NCPAM




Terreiro é uma categoria espacial consagrado pelo “povo do santo” para celebração de encontros em si e para si, religando homens e Orixás. Esse campo sagrado redime os homens dos males e potencializa também a participar da vida social como protagonista da história.

Da mesma forma, no território tribal das comunidades indígenas, o terreiro é determinado por manifestações espirituais de modo ritualístico, motivando as comunidades a enfrentar os embates e a formular novas estratégias de sustentabilidade numa perspectiva de desenvolvimento humano.

Nesse campo antropológico mediado por formulação de políticas públicas, pautadas na crítica social, é que se instituiu há 2 anos o NCPAM, motivado pelas discussões decorrentes do curso de Ciências Sociais e demais áreas do conhecimento promovidas pelos alunos e professores, buscando operacionalizar projetos que correspondessem tanto a formação acadêmica quanto às demandas sociais recorrentes da nossa Amazônia.

O NCPAM nasce grande, movido por um projeto de futuro capaz de desenvolver formas de intelecção, novas habilidades e competências, formando pesquisadores para interpretar e compreender as determinações constitutivas que qualificam as políticas no território amazônico.

No curso das ações desenvolveu-se variados projetos e celebramos parcerias com instituições multilaterais, agregando empreendimentos sob a matriz da Cultura Política de forma transversal, dialogando com os demais campos do saber acadêmico e popular.

Essa convivência caracterizada pelos debates e críticas, potencializou os atores a definirem os meios necessários para enfrentar e superar obstáculos de percurso, confiando em si mesmo e nos parceiros que creditaram no NCPAM, confiança e responsabilidade na gerência dos recursos, seja do poder público ou privado.

O desafio é grande e compartilhado com todos que, direta ou indiretamente contribuem com os nossos projetos de pesquisa e extensão, principalmente, os credenciados pela Universidade Federal do Amazonas por delegar representação junto ao fórum das Instituições de Ensino Superior através de avaliação de projetos específicos aprovado nessas instâncias.

Mas, o nosso maior desafio é fomentar no meio acadêmico uma cultura empreendedora, rompendo com as práticas patrimonialistas e investindo, cada vez mais, na capacitação dos atores acadêmicos capazes de formular, negociar e executar projetos intra e extramuros, concorrendo no mercado dos projetos pela qualidade e competência de suas propostas.

Certamente, a legitimidade dos projetos está nas demandas das comunidades e, sobretudo, no aceite das representações de suas organizações populares, que interagem com o NCPAM para garantia de direito e pelo reconhecimento de sua cidadania participativa.

Por tudo, temos consciência de nossa missão. Contudo, nessa data festiva queremos comungar os momentos de tristeza e alegria, celebrando no nosso terreiro o sucesso dos nossos empreendimentos, religando força para garantir a consecução dos novos projetos ancorados na unidade organizacional que estamos construindo e sustentada na cultura da participação e da responsabilidade social.

Aos pesquisadores do NCPAM nossas felicitações e aos parceiros renovamos nossos agradecimentos pelos dois anos de nosso aniversário.

terça-feira, 17 de junho de 2008

POR ONDE ANDA A TEORIA DA DEPENDÊNCIA?



* Breno Rodrigo de Messias Leite

Entre 1960 e 1990, a teoria da dependência desenvolvida por Fernando Henrique Cardoso e Enzo Faletto (FHC&EF) formulou uma importante crítica à interpretação dos choques adversos de Raúl Prebisch e Celso Furtado (RP&CF). Por várias décadas as duas teorias estabeleceram um profundo debate acadêmico e político sobre o passado da América Latina e a necessidade de se construir um projeto alternativo ao status quo da estagnação e do subdesenvolvimento no continente.

De certo modo, a teoria da dependência é uma interpretação genuinamente latino-americana. Foi forjada teórica, metodológica e instrumentalmente para identificar os problemas endógenos e as externalidades estruturais inseridas na dinâmica do capitalismo mercantil-colonial próprio da América Latina. Além disso, a teoria da dependência emerge como um projeto para sua superação estrutural da situação de estagnação e dependência dos países que compartilham os mesmos paradoxos.

O economista Raúl Prebisch, líder da Cepal, desenvolveu ao lado de outros, dentre os quais destaco Celso Furtado, uma relevante crítica a idéia de “livre-comércio” de Adam Smith e David Ricardo. Para os economistas ingleses, as trocas internacionais e a divisão internacional do trabalho funcionariam de acordo com a “vocação natural” de cada país. Isto é, os países industrializados se especializariam em produzir e exportar produtos manufaturados; e, por outro lado, os países ricos em matéria-prima e recursos naturais ficariam com o pesado fardo de apenas extrair e exportar, e posteriormente importar os mesmos produtos, já manufaturados, criando assim uma estrutura de trocas comerciais “justas”, atendendo a vocação econômica de cada país.

RP&CF invertem esta interpretação dos economistas clássicos, tomando como referência o desenvolvimento da teoria keynesiana. Para RP&CF, a situação estava bastante clara: os países latino-americanos só conseguiriam superar suas condições estruturais de periferia a partir da intervenção do Estado no incentivo à industrialização primária, às políticas de incentivo a poupança interna, à acumulação capitalista associada ao excedente colonial, aos surtos inflacionários, à reforma agrária e à industrialização pesada, seguida de substituição de importações. Só através das transformações estruturais iniciadas pelos Estados nacionais é que se poderia lograr um projeto econômico alternativo de impulso ao desenvolvimento nacional.

Como contraposição a está interpretação dos cepalinos, já em meados da década de 1960, é escrito o livro Dependência e Desenvolvimento na América Latina, de FHC&EF, que questiona, por sua vez, os fundamentos da teoria dos choques adversos. A noção básica da teoria da dependência elaborada por FHC&EF é que no contexto da divisão do trabalho os países de baixa industrialização, de concentração agrária, de sistema político oligárquico e de burguesia disforme tornam-se dependentes dos países industrializados, o que proporciona obstáculos estruturais ao desenvolvimento continental.

Para FHC&EF são as condições internas dos países que inviabilizam as transformações necessárias para uma guinada em direção ao nacional-desenvolvimentismo. E que somente a abertura para a inserção e integração das economias nacionais às dinâmicas internacionais poderia iniciar um processo de modernização endógena condicionando, portanto, a emergência dos grupos sociais reformadores no campo da política e da economia.

De forma mais precisa, pode-se dizer que “el concepto de dependencia pretende otorgar significado a una serie de hechos y situaciones que aparecen conjuntamente en un momento dado y se busca establecer por su intermedio las relaciones que hacen inteligibles las situaciones empíricas en función del modo de conexión entre los componentes estructurales internos y externos. Pero lo externo, en esa perspectiva, se expresa también como un modo perticular de relación entre grupos y clases sociales en el ambito des las naciones subdesarrolladas” (“O Modelo Político Brasilero”, FHC)

A proposta de FHC&EF era, portanto, uma tentativa de superar os horizontes unidimensionais do subdesenvolvimento e da estagnação, do modelo dual do centro-periferia, que observam apenas as externalidades deixando de lado as situações endógenas do continente e de cada país. E isso desperta outro ponto de discordância: enquanto FHC&EF analisam a América Latina a partir da situação das unidades nacionais, RP&CF partem da totalidade até se chegar as especificidades nacionais. Desse modo, de acordo com a teoria da dependência, as renovações políticas e econômicas de cada país ocorreriam na sua própria dinâmica, e não em consonância determinística com os outros países do continente.

No debate sobre a formação econômica e política da América Latina, a teoria da dependência destaca-se por ser capaz de explicar as especificidades de um modelo que se distanciava dos padrões europeus de interdependência entre passado feudal e presente capitalista. A América Latina não se desenvolveu a partir da trajetória européia, e sim nos marcos de sua modernização iniciada no século XVI.

Na América Latina a dinâmica foi única. Uma combinação de escravidão, espoliação dos recursos naturais, inexistência de um mercado interno conectado à acumulação originária, oligarquias agrárias e formação estatal patrimonialista e clientelista que criou uma trajetória dependente que inviabilizou uma inserção soberana na dinâmica da internacionalização do capital.

O diagnostico político da teoria da dependência cria as bases para o surgimento de um projeto político vinculado ao socialismo democrático e a social-democracia. Não há apenas uma interpretação “sociológica” dos dilemas do continente, e sim um esboço de um modelo alternativo ao contexto da época. O grande legado das reflexões de FHC&EF e RP&CF talvez tenha sido esse: desenvolver uma leitura do passado sem perder de vista os desafios do futuro.

Daí a necessidade de termos uma renovação criativa das teorias sociais de hoje. A derrocada agonizante e devastadora do ultra-liberalismo deixa o continente ausente de projetos globais. Estamos em uma nova fase que se caracteriza pela retomada do Estado com indutor do desenvolvimento nacional, criando aberturas para a participação do capital privado nacional e internacional.

A América Latina é um mosaico do que fomos e do que queremos ser. Mas sem projetos consistentes deixaremos tudo para trás.

* Mestrando em Ciência Política pela Universidade Federal do Pará (UFPA), bolsista da CAPES e colaborador do NCPAM.

domingo, 15 de junho de 2008

DE TANTO AMAR




* Ademir Ramos

Os sábios e os iniciados jamais se divorciam dos clássicos, quando o assunto diz respeito às artes, música, literatura e as formas do pensamento em seus diversos campos propositivo da filosofia e da ciência.

Desse modo, como iniciado na arte de pensar recorro à leitura dos Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes (filósofo francês, 1915-1980) para investigar o adorável mundo consumado pela paixão, desejo, sofrimento, gozo, sedução e suicídio.

Nesse discurso, a unidade significativa da obra de Barthes está constituída de fragmentos lingüísticos em forma de recorte existencial de um processo analítico declaratório, desvelado pela linguagem, em suas múltiplas determinações quanto ao fenômeno amoroso e sua complexa relação.

A compreensão do fenômeno arrebata o sujeito para o cenário vivido pelos atores em seu campo amoroso, onde Barthes articula de forma demonstrativa, transpassando a história e as demais fronteiras do tempo. “Ora o mundo é irreal (dele falo de um modo diferente), ora é desreal (dele falo de um modo penoso)”.

Dessa feita, os Fragmentos articulam-se por meio do diálogo, abraço, dedicatória, formas e conteúdos extraídos de autores intérpretes de culturas diferenciadas representadas por Platão, Sartre, Balzac, Baudelaire, Deleuze, Whal, Gide, Freud, Lacan, Leibniz, Foucault, Nietzsche, Proust, Tao-Tö-King e tantos outros renomados intérpretes da condição humana.

Contudo, Barthes sustenta os Fragmentos na trama construída por Goethe (escritor alemão, 1749-1832), em seu romance Sofrimento do Jovem Werther (1774), que segundo ele “é puro discurso do sujeito amoroso: o monólogo (idílico, angustiado) é rompido apenas uma vez, no final, pouco antes do suicídio”.

O jovem Werther embriagado pela paixão, ciúme, fetiche tomba sem beber do bom e delicioso vinho ofertado por Eros, na perspectiva da realização do desejo. Na trama, o que importa não é o outro, mas, a relação em si mesma movida para amar.

Para o amante de Carlota, o suicídio é a única alternativa encontrada para se deixar seduzir e refutar a negação de Alberto, o pretendido da jovem. Na verdade, o próprio Barthes é seduzido ao propósito de Werther, buscando compreender sua opção, que resulta em ceifar a própria vida envolta de simbolismo das representações construídas por Goethe.

Em referência dialógica, Barthes cita François Wahl, para explicitar que “a morte é antes de tudo o seguinte: tudo que foi visto, terá sido visto à toa. Luto de tudo aquilo que teremos visto”. E sentencia o autor, “nesse breve momento que falo à toa é como se eu morresse. Pois, o ser amado se torna um personagem de chumbo, uma figura de sonho que não fala, e o mutismo, em sonho, é a morte”, fazendo referencia a Freud.

A tensão do discurso prolonga-se quando nos Fragmentos, o autor estabelece que “há muito a equivalência entre o amor e a guerra: nos dois casos, trata-se de conquistar, de seduzir, de capturar, etc.”.

Das estruturas do imaginário, Barthes tipifica as representações míticas diferenciadas do sedutor ativo, que apanha a presa tomando para a si a iniciativa de dominá-la.

Enquanto na modernidade, configurado pelo amor-paixão dá-se o contrário: o sedutor nada quer, nada faz; é imóvel – como uma imagem -, e o objeto seduzido é o verdadeiro sujeito do rapto; o objeto da captura torna-se o sujeito do amor; e o sujeito da conquista passa à categoria de objeto amado.

Dos Fragmentos de um Discurso Amoroso, bem que se poderia sustentar o discurso Da Sedução, de Baudrillard, onde não se trata mais do fogo da paixão dos enamorados, “mas de uma demanda de sedução. Da invocação do desejo e da satisfação do desejo, ao invés das relações de poder, de saber, transferências ou amorosas desfalecentes. [...] a sedução é apenas um valor de troca que serve à circulação das trocas ao azeitamento das relações sociais”.

Quanto ao suicídio protagonizado por Werther, o próprio Barthes fornece a chave de seu entendimento quando qualifica de “tolice” as impressões de André Gide, em seu Diário.

No entanto, é a essa “tolice”, que recorro para denunciar o fetiche e o compulsivo ato de negar-se (afirmar-se) para o outro por meio da morte. Havia esquecido que ele levava tanto tempo para morrer, explica Gide, “Aquilo não acabava mais, a ponto de querermos empurrá-lo pelos ombros [...] as partidas alongadas me exasperam”. A mim muito mais ainda, sem traumas, deixando a fantasia operar no corpo dilacerado de tanto amar.

* Coordenador Geral do NCPAM, antropólogo e professor da Universidade Federal do Amazonas - UFAM.

P.S: é uma homenagem a todos os namorados e amantes que exaltam o amor e paixão, tornando nossas vidas mais felizes.

sábado, 14 de junho de 2008

A TRAGÉDIA NOS BANCOS ESCOLARES


* João Fábio Braga

É questionável pensar que o atual modelo concebido de educação básica no Brasil seja eficiente ou tenha sustentado algum sucesso de transformação social, quando muitas vezes a transmissão e aprendizagem do ensino perpassam por descaso e abandono intelectual e escolar de nossas crianças e jovens. Ainda mais grave é situação destes alunos que não sabem ler, escrever e calcular.

Nesse sentido, a formação destes alunos é precária e alarmante, pois o débil ensino caótico e catastrófico vêm demonstrando a má qualidade de formação dos professores, seguidamente motivada pela inatratividade do salário, bem como a falta de ferramentas interativas que podem proporcionar a curiosidade pelo conhecimento tanto pelo educador quanto pelo aluno.

O desestímulo profissional do educador acaba sendo refletido no péssimo desempenho escolar do estudante, na qual suas possíveis faculdades e habilidades vão sendo debilitadas e limitadas, principalmente na incapacidade de utilizar a leitura e escrita na apreensão do texto para a compreensão de seu contexto social.

Tal dificuldade revela a inabilidade para o desenvolvimento de aptidões que possam permitir o aluno a continuar aprendendo e ampliando o seu processo cognitivo. Nestes termos, o país é assolado por uma massa contingencial de analfabetos funcionais, que de certo modo, demonstra o fracasso no aprendizado do cálculo e da leitura, com isso, tendo como conseqüência agravante os altos índices de abandono escolar, de criminalidade, de gravidez na adolescência, dependência de drogas e sujeição infindável de programas sociais na vida adulta.

Essa situação dramática que a educação básica vive, comprova a dificuldade do Estado brasileiro de utilizar o conhecimento cientifico e dados de avaliação, especialmente os instrumentos que medem o nível de aprendizado como forma de melhorar progressivamente a qualidade da educação.

No entanto, a melhora da educação através do método de aplicação de exames avaliativos, vem demonstrando dados estatísticos de melhora ou piora, sendo questionável essa análise meramente fechada dos números em si, a qual apresenta apenas concepções equivocadas e ineficazes, onde percebe-se apenas informações quantitativas, reafirmando o desastre do ensino e a incapacidade do país de desenvolver políticas educacionais realmente efetivas, com isso o Estado acaba ignorando os progressos e as práticas mais adequadas de alfabetizar e ensinar crianças e jovens.

A necessidade do avanço educacional no país é de urgência, pois a formação débil educacional de uma população de idade ativa que poderia estar trabalhando e gerando crescimento econômico, é impelido pela baixa escolaridade e qualificação de uma má educação básica.

Qual é a medida concreta para reverter este cenário trágico? Primeiramente é importante que os instrumentos de avaliação não sejam multiplicadores de insucesso ou sucesso institucional entre os estados, mas deve servir para orientar, suscitar e melhorar através da produção de diagnóstico a qualidade do ensino básico.

Outra medida eficaz, é ter investimento pesado a médio e longo prazo, no que diz respeito à implementação de políticas educacionais que possam garantir às escolas as condições essenciais de funcionamento e estrutura, isso quer dizer que segundo o relatório Alfabetização Infantil – os novos caminhos, é importante assegurar “os programas de ensino claros, adequados e bem estruturados; professores com formação científica atualizada, adequada e comprovada; remuneração atrativa; insumos básicos nas escolas; autonomia na gestão escolar e avaliação externa”.

É significativo perceber que o atual modelo de educação básica não atende o mundo globalizado, contudo seria interessante rever as atuais orientações nacionais sobre alfabetização e o processo de ensino-aprendizagem na educação infantil e nas demais séries do fundamental e médio, de forma a torná-las compatíveis com os conhecimentos científicos e práticas mais atualizadas, tendo como papel de facilitador as instituições de ensino superior enquanto agente que proporcionaria a revisão e atualização dos programas de formação de professores.

Conforme foi abordado, o presente modelo de educação básica está a mercê de um sistema falido de educação, logo sua contribuição é marcada pela recíproca tragédia do ensino – “professor finge que ensina o aluno e o aluno finge que aprende com o professor”.

Atualmente, o papel do educador enquanto facilitador da liberdade de ensinar para transformar socialmente os indivíduos, torna-se verdadeiramente um mero discurso freiano, sem qualquer vontade de mudança, calcado numa omissão e alienação em "rede-corporativa entre Estado-sociedade-professor-aluno" (como o mais prejudicado o aluno), numa relação de capital-máquina em detrimento do desejável capital-conhecimento, e com isto, o que historicamente vigora neste país -, são os efeitos maléficos do ensino decadente, prostituído e vulgar.

Creio que esta tradição cesse algum dia, para que o compromisso e a liberdade de educar vinguem sob a luz da perspectiva de uma nova história e realidade brasileira.

* Editor Responsável do NCPAM e Cientista Social.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

FAÇA VALER A LEI 11.645 NO ESTADO DO AMAZONAS




Faça-se justiça! A sociedade merece URGENTEMENTE do Governo do Estado do Amazonas uma resposta clara e contundente, e não respostas obscuras e nada convincente declaradas pela SEDUC. O repúdio contra este ato de burlar a implicação da lei 11.645, de 10 de março de 2008, no último dia 9 deste mês, demonstra o descaso e desinteresse da SEDUC pelo projeto/curso “Cultura Indígena e Afro-brasileira nas escolas do Amazonas: Formação continuada de professores”, uma vez que todo trabalho feito pelos pesquisadores do Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas (NCPAM) junto com o apoio da gerência da SEDUC, foi, por de fato, cancelado.

Toda essa indignação não somente nossa, mas de vários setores da sociedade que se mobilizam para fazer valer a lei, repudiando o golpe, defendendo o direito de se fazer cumprir a lei e o objetivo afirmativo desta iniciativa que é de interesse público que visa uma educação de inclusão e de respeito à diversidade étnico-racial.

O projeto é uma iniciativa do NCPAM, contando com o patrocínio da Petrobras, Ministério da Cultura, da Fundação de Apoio a Universidade Federal de São João Del-Rei, bem como apoio do Sebrae-Amazonas.


Nossos cidadãos-internautas se manifestam a favor da iniciativa e contra este ato reacionário da SEDUC:

“(...) É uma pena que um projeto desta envergadura, cujo potencial multiplicador é promissor, fique à mercê de políticas internas de instituições educacionais que deveriam ter em vista outras prioridades, que não esta acerca do adiamento do curso. Aliás, nem mesmo o motivo exato do porquê desta atitude ficou esclarecido, o que comprova o descaso do centro de mídias, representados pela empresa terceirizada Jobast. É frustrante constatarmos que noites e noites em claro (várias noites em claro, inclusive!) não foram levadas em consideração por estes senhores, no momento de sua decisão. Contudo, o trabalho dos pesquisadores do NCPAM e de seus sinceros parceiros não serão simplesmente esquecidos, pois daremos início a outras jornadas”. (Khemerson Macedo. Gerente do Projeto. Terça-feira, Junho 10, 2008).

“É com bastante insatisfação e extrema falta de respeito com que nós pesquisadores do NCPAM fomos tratados. É lamentável que a própria SEDUC vire as costas para um cumprimento de Lei Federal, uma nova perspectiva para a educação no Amazonas e no Brasil, digo isto, porque nosso projeto é pioneiro, e muito nos engrandeceria socializá-lo com todo o povo brasileiro, visto que nosso interesse é contribuir com a educação deste país. Foi sob essa motivação que por meses trabalhamos, pesquisamos, e nos propomos a trabalhar a lei 11.645, pois compreendemos a extrema urgência de uma reflexão social do combatendo o preconceito, o racismo e a discriminação perpetuada por séculos no Brasil. Isso todo mundo sabe, e poucos são os que se manifestam contra tais procedimentos que mobilize em favor de uma sociedade justa, consciente de suas raízes e responsabilidades sociais”. (Marilene Fernandes de Souza, Facilitadora das Oficinas Pedagógicas do projeto - Quarta-feira, Junho 11, 2008).

“É lamentável que o preconceito seja algo ainda tão vigente no nosso país! Ainda mais partindo de uma instituição que deveria ser até referência por ter o nome que carrega. E, veja que apesar de mais de cem anos de abolição da escravatura, num país "democrático", temos que ser excluídos por apoiar pessoas de outras etnias. Quando será que irá brilhar a aurora da liberdade?” (Luciana Véras, Estudante de Ciências Sociais da UFAM, Quinta-feira, Junho 12, 2008)

“Trata-se de uma ingerência de uma empresa terceirizada em um projeto de interesse público; em contatos realizados e analisando a conjuntura, os responsáveis pelo projeto verificam que tal ingerência, através de intrincados caminhos, supera o poder da própria Secretaria de Educação em determinar o que vai ser gerado ou não..., mais, revela alguma oculta vontade política (ou má vontade) no embarreiramento a um projeto que trata da inclusão e respeito à diversidade Étnico-Racial; comportamento reacionário detectado em relação a muitas das iniciativas relacionadas Brasil afora. Fato que obriga a se tomar medidas legais (não raro burocráticas e lentas) no sentido de se fazer cumprir a lei e o objetivo afirmativo de tais iniciativas, não descartando porém as formas legítimas de pressão política e administrativa para o desarme de tais entraves oligocráticos”. (Juarez C. da Silva Jr., AFROAMAZONAS- Presidente Interino, Manaus , 11 de junho de 2008)

“Parabéns a UFAM e principalmente ao NCPAM que teve essa bela iniciativa. Bastante árdua, na verdade, tamanha dificuldade de desenvolver o material didático e dos que vão ministrar esse conteúdo. Além de termos uma vasta obra etnográfica e em defesa da causa indígena nos deixada pelo Profº Darcy Ribeiro, é muito importante a interferência de pessoas como vocês que tem conhecimento profundo do assunto e também experiência para auxiliar no desenvolvimento desse material didático, trazendo a realidade desses povos, música, dança, língua etc. É preciso o apoio da sociedade, da imprensa na divulgação, das Secretarias de Educação e do Ministério Público na consolidação e fiscalização desta lei para que ela não seja mais uma daquelas que “não pega”. Todos juntos nesse processo de mudança, de inclusão social, para que nossos filhos e netos valorizem as tradições e costumes dos povos indígenas, como uma das maiores riquezas desse país (...). (Maria Rachel Coelho, Coordenadora do Movimento Educação Já! no Rio de Janeiro, Domingo, Junho 08, 2008)

“É plausível, que iniciativas como estas, consigam tirar do papel o resgate da nossa tão desvalorizada cultura, como um povo multirracial, que apesar de tantas contribuições étnicas tem suas especificidades. E ainda contribui na ampliação no campo de discussão da atual didática vigente sob a perspectiva de um olhar multiétnico. Coroada ainda pelo apoio da Petrobras, Sebrae, UFAM entre outras entidades de renome, num grande ânimo de fazer algo pelas etnias excluídas da história, que na atualidade reivindicam seu valor e espaço numa sociedade democrática. Sendo esta uma oportunidade atípica para professores de várias áreas aproveitarem o momento para interagirem e integrarem-se num comum objetivo de reciclar antigas histórias contadas na perspectiva eurocêntrica. Movimento merecedor de todo o reconhecimento e crédito, daqueles que acreditam que é possível fazer valer a Constituição Federal, onde diz que somos todos iguais independente de raça, credo e cor”. (Luana Lima)

“A Lei 11.645/08, que determina a inclusão das temáticas ‘História e Cultura Afro-brasileira e Indígena’ no currículo oficial da rede de ensino público, constitui o instrumento legal capaz de assegurar que as populações tradicionais e seus remanescentes tenham os seus valores culturais respeitados e valorizados, bem como a memória de seus ancestrais e da contribuição que estes deram para a formação da sociedade e do Estado brasileiro, preservados. Representa ainda a garantia da erradicação do preconceito e da intolerância mediante a educação e formação de uma geração mais consciente da pluralidade étnico racial e da importância de se valorizar as identidades formadoras do povo Brasileiro (...)”. (Aquiles Pinheiro, estudante de Ciências Sociais da UFAM).

“Colegas, o que está acontecendo é inominável e merece o nosso contundente repúdio. Por tudo, recebam minha irrestrita e total solidariedade”. (Geraldo Sá Peixoto Pinheiro - Departamento de História da UFAM).

Obs: estes comentários foram selecionados a partir do nosso sistema de comentário do blog, onde recebemos outras várias mensagens de apoio e de indignação. Veja os comentários nos outros textos sobre o projeto.

terça-feira, 10 de junho de 2008

EDUCAÇÃO ETNO-RACIAL NÃO TEM VEZ NA SEDUC


Foto: Marinho Ramos

Depois de 04 meses de trabalho junto à gerência de educação fundamental da Secretaria de Educação do Estado (Seduc), promovendo a pesquisa e a formatação das aulas do curso de Cultura e História Indígena e Afro-brasileira nas Escolas do Amazonas: Formação Continuada de Professores, o coordenador do projeto é surpreendido na segunda-feira (9), pelo recado do gerente do Centro de Mídias, informando que o curso seria mais uma vez transferido por razões obscuras e não convincentes.

O projeto é uma iniciativa do Núcleo de Cultura Política (NCPAM) da Universidade Federal do Amazonas, contando com o patrocínio da Petrobras, Ministério da Cultura, da Fundação de Apoio a Universidade Federal de São João Del-Rei, bem como apoio do Sebrae Amazonas.

A exclusão do projeto Cultura Indígena e Afro-Brasileira da grade do Centro de Mídias da Seduc expressa, segundo o professor Ademir Ramos, coordenador do projeto e do NCPAM -, o descaso como o governo do Amazonas trata a educação Etno-racial no Estado.

Para o professor Ademir Ramos, “quem decide os objetivos da educação no Estado não é a Seduc, mas sim, a empresa privada chamada Jobast que determina o conteúdo dos cursos e defini os objetivos de acordo com a vontade de mando do palácio. A Jobast é uma empresa privada contratada para gerar os cursos a distância. Entretanto, assume nesse caso a competência de desautorizar a geração do curso de Educação Etno-Racial, alegando razões que contrariam os entendimentos mantidos com o senhor secretario de educação”.

O impasse para a realização do curso vem desde o dia 02 passado, quando se deveria iniciar as aulas. No entanto, o professor Ademir Ramos explicou que a coordenadora pedagógica do Centro de Mídias, Socorro Barros Gomes informou que não iria começar na data mencionada e que só iria iniciar na segunda-feira próxima (9) conforme havia determinado o coordenador do Centro, Augusto Melo.

Assim mesmo, o coordenador do projeto explicou também, que se fez a abertura do curso, com a participação dos representantes do movimento negro e indígenas, “com a participação da Seduc convidando, inclusive, os professores do ensino fundamental e médio de 21 municípios do Estado a retornarem as aulas no dia 09 de junho, na segunda-feira”. Para comprovar o fato, o professor apresentou a gravação de abertura do curso, quando a coordenadora pedagógica do Centro de Mídias, Socorro Gomes “agradece e parabeniza a Universidade Federal do Amazonas por essa parceria de trabalho com a Seduc”.

Para o professor Ademir Ramos, a decisão de se transferir o curso para agosto conforme recado recebido da Jobast é uma forma de desqualificar o curso e desestruturar toda a logística mobilizada pela Seduc junto aos professores da rede, assim como também “cozinhar em banho Maria” o cumprimento da Lei 11.645, obrigando o conhecimento da História e Cultura indígena e Afro-Brasileira nos currículos escolares.

O fato é que, segundo o coordenador do projeto, a Educação Etno-Racial não tem vez na Seduc, enquanto a Jobast estiver atrelada aos interesses escuso a educação. O que requer do movimento negro, das organizações indígenas e do movimento social um posicionamento firme, para se garantir a pluralidade e autonomia do projeto educacional do Estado fundamentado nas diretrizes curriculares, que valorizam o direito das diferenças e da diversidade cultual.

Na oportunidade, representando o movimento Afroamazonas, Juarez C. Silva Jr. manifestou sua indignação e se comprometeu a formular a denúncia nos fóruns nacional e internacional para “fazer valer no Amazonas, o cumprimento da Lei 11.645/2008. A denúncia deve ser formulada ao Ministério Público Federal para apurar o descaso e o descumprimento da Lei no Estado”.

Na coletiva, o professor Ademir Ramos e o líder Juarez C. Silva Jr. apelaram às lideranças sociais e políticas, que se manifestem contra essa atitude arrogante e de descaso do governo do Amazonas, destratando os povos indígenas e o movimento negro pelo não cumprimento da Lei 11.645/2008. Da mesma forma, comprometem-se também a recorrer a Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Educação, para oferecer o curso aos professores da rede pública do município, assim como também as demais prefeituras do interior do Estado.

domingo, 8 de junho de 2008

FILOSOFIA E SOCIOLOGIA: EDUCACIONISMO NO ENSINO MÉDIO


* Maria Rachel Coelho

Semana passada foi sancionada a lei 11.684/2008 que acrescenta ao artigo 36 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), o inciso IV, determinando a inclusão das disciplinas de Filosofia e Sociologia como obrigatórias em todas as séries do ensino médio. As matérias agora integrarão o currículo de todas as instituições de Ensino Médio públicas e privadas.

A nova lei que atingirá 8,9 milhões de estudantes secundários, vem ao encontro da federalização da educação. Segundo a qual as bases da Educação devem ser federais e não determinadas por leis locais, a critério de decisões diferenciadas dos prefeitos. É também o nosso primeiro passo para uma grande revolução. Duas disciplinas indispensáveis para ajudar a juventude a entender a realidade do mundo e refletir a sociedade em que está inserida.

O grande desafio agora é a formação dos professores nas duas áreas, os conteúdos a serem ensinados, a metodologia que será adotada e em que carga horária. Precisamos de um professor que tenha uma visão compatível com os novos tempos onde a globalização substitui as economias nacionais e onde o capital-conhecimento e as informações substituem o capital-máquina.

Um professor capaz de derrubar o muro da omissão, da acomodação, não deixando que esses jovens aceitem o fim dos sonhos ou abandonem a causa. Mostrando-lhes que a realidade hoje exige novas formas de apresentar e defender os sonhos revolucionários. No lugar da fracassada igualdade na renda e no consumo com o sacrifício da liberdade, proposta nos séculos XIX e XX, agora a utopia sonhada é a humanidade livre e integrada globalmente. Uma humanidade conectada, dispondo dos equipamentos e das bases culturais para o grande diálogo mundial que os diversos meios de comunicação já permitem. Todos integrados, sem distinção e com a mesma chance de participar.

É papel desses docentes, em cada sala de aula, combater esse imobilismo social, para as gerações futuras. Suscitar a reflexão dos atuais métodos de prática política. Mostrar que a corrupção não pode ser tolerada e justificada como natural “parte do jogo”, a desigualdade não pode ser aceita, combater esse retrocesso na consciência política da sociedade, onde os movimentos sociais se acomodaram, os sindicatos foram anulados, as lideranças políticas cooptadas, as vanguardas estudantis transformadas em louvadores, os intelectuais optaram pelo silêncio reverencial e o povo foi convencido de que não há mais razão para lutar, basta manter no governo os que oferecerem pequenas transferências de renda para pobres dependentes, em vez de mudar a qualidade de vida de um povo emancipado.

Depois de um século de frustrações com as revoluções prisioneiras das economias nacionais, que utilizaram o poder do Estado para criar novas classes burocráticas por meio do desenvolvimentismo ou do socialismo, e no início de um novo século no qual o mundo se divide internacionalmente entre um Primeiro-Mundo-Internacional-dos-Ricos, seja qual for o país onde se vive, e um Arquipélago-Social-de-Pobres espalhados no Planeta - o gulag neoliberal - o ponto de partida da utopia é derrubar a Cortina de Ouro que separa incluídos e excluídos dentro de cada país, quebrar a apartação e integrar a todos, dando-lhes a mesma chance. O crescimento econômico não será capaz, a revolução social tradicional pela economia e controle do estado não será possível. Só há um caminho: a educação.

Felizmente, ainda é tempo. A acomodação vai aos poucos se transformar em reação e despertaremos a indignação. E essa indignação se transformará na chama do sonho revolucionário. Um sonho que se baseia na revolução educacional que assegure a mesma oportunidade de formação para todos.

Poucos recebem esse mágico sopro de adotar uma causa, de se engajar numa luta social pela transformação do mundo em direção a um projeto utópico, de fazer uma revolução. Mas esses poucos ficam na História.

* Doutoranda em Ciência Política, Coordenadora do Movimento Educação Já! e colaboradora do Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas - NCPAM.

quinta-feira, 5 de junho de 2008

PARA SE GARANTIR A EDUCAÇÃO ETNO-RACIAL

Começa nesta segunda-feira (9), o curso de formação continuada de professores da rede estadual do Amazonas sob a temática da Cultura Indígena e Afro-Brasileira. A iniciativa é da Universidade Federal do Amazonas (UFAM) por meio do Núcleo de Cultura Política (NCPAM) do Departamento de Ciências Sociais, contando com o patrocínio da Petrobras, Ministério da Cultura, Fundação de Apoio a Universidade Federal de São João Del-Rei, Minas Gerais, mais o apoio da Secretaria de Educação do Estado (SEDUC) e o Sebrae Amazonas.

O projeto de formação continuada foi selecionado nacionalmente pelos patrocinadores através de Edital Público, beneficiando diretamente os professores do ensino fundamental e médio da rede pública do interior do Estado.

Para o coordenador, professor e antropólogo da UFAM, Ademir Ramos, a iniciativa é original em cumprimento a Lei 11.645, de 10 de março passado, promulgada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, exigindo que se inclua no currículo da rede de ensino a temática história e cultura dos povos indígenas e afro-brasileiros.

Na segunda-feira próxima, às 14 h, o curso inicia com uma mesa redonda, discutindo e apreciando os paramentos da Educação etno-racial, tendo por referência as Diretrizes do Conselho Nacional de Educação.

Para a mesa redonda, segundo os organizadores do curso, foram convidados os representantes da Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira, do Movimento Negro e o Procurador-Chefe do Ministério Público Federal no Amazonas, assim como os veículos de comunicação do Estado.

Indagado sobre a metodologia adotada, o professor Ademir Ramos explica, que “o curso será gerado em Manaus, no Centro de Mídias da SEDUC, entendimento este, acordado diretamente com o senhor secretário de Educação do Estado, bem como todo trabalho tem se dado em parceria com a gerência do ensino fundamental da Seduc, buscando dessa feita, interiorizar cada vez mais a temática nas escolas pública do Estado”.

O projeto, afirma o professor, é pioneiro no Brasil, merecendo atenção dos educadores para essas práticas pedagógicas, devendo ser discutido amplamente pelos professores, alunos e servidores, com propósito de se consolidar um novo projeto político pedagógico nas escolas, que combata o preconceito, a descriminação, o racismo e toda e qualquer forma de intolerância.

As aulas estão centradas, explica o coordenador do projeto, sob as seguintes temáticas – Brasil Indígena, Brasil Africano, Cultura Indígena e Afro-Brasileira e Oficinas pedagógicas. Para esse fim, os pesquisadores do NCPAM e os técnicos da Seduc trabalharam por mais de quatro meses na pesquisa e editoração das aulas, em forma de cartela, vídeo e outras formas de linguagens.

O NCPAM está convicto que qualquer atitude contrária às práticas afirmativas da educação etno-racial deva ser rechaçada publicamente e se recorra imediatamente ao Ministério Público Federal, para salvaguardar a Lei 11.645/2008 e garantir ações de políticas afirmativas em favor dos povos indígenas e dos afro-brasileiros.

Não fique fora dessa luta, participe manifestando suas considerações ou enviando suas mensagens aos professores em formação, que se encontram, sobretudo, em suas comunidades no interior do Estado.

quarta-feira, 4 de junho de 2008

EDUCAÇÃO ÉTNICO-RACIAL NO AMAZONAS

A formação continuada de professores do ensino fundamental e médio das escolas públicas do Amazonas conta com o apoio da Petrobrás para realização de um curso de Cultura Indígena e Afro-Brasileira, com carga horária de 200 horas, em cumprimento a Lei 11. 645, de 10 março de 2008, que estabelecem as bases da educação nacional, incluindo no currículo escolar da rede de ensino a obrigatoriedade do tema História e Cultura Indígena e Afro-Brasileira.

No Amazonas, o projeto tem a coordenação do professor e antropólogo Ademir Ramos, pesquisador do Núcleo de Cultura Política (NCPAM) da Universidade Federal do Amazonas, contando com o patrocínio da Petrobras, Ministério da Cultura e a Fundação de Apoio da Universidade Federal de São João Del-Rei, Minas Gerais. Além dos patrocinadores registra-se também o apoio técnico do Sebrae Amazonas.

Os professores em formação foram selecionados pela gerência do Departamento de Educação Fundamental da Secretario Estadual de Educação (SEDUC), em 21 municípios do Estado. Toda a logística, segundo o técnico da Seduc, Eriberto Façanha, “envolve capital e interior, contemplando quase 100 comunidades, somando aproximadamente 500 professores da rede”.

O curso será mediado pelo Centro de Mídias da Seduc, em Manaus, sob a coordenação do professor Ademir Ramos e os demais pesquisadores do NCPAM, que “há mais de quatro meses trabalharam na pesquisa e formatação dos conteúdos programáticos”, informa o educador.

O apoio do Sebrae, segundo a coordenação do projeto, foi necessário porque a instituição domina a prática de educação a distancia e por possibilitar e editoração das aulas.

Para diretora do Sebrae Amazonas, Maria José Alves da Silva, “o curso inaugura uma nova prática curricular pedagógica, promovendo valores e agregando novas formas de saber, que resultam na afirmação e reconhecimento do Direito desses cidadãos brasileiros numa perspectiva de desenvolvimento humano”.

Na segunda-feira (2) o Ncpam, junto com os parceiros, participou da abertura do curso que contou com a representação do movimento indígena e dos afro-descendentes.

As aulas iniciarão no dia 9 próximo estendendo-se até o dia 07 de julho, no horário das 14 às 16 h, seguido de leituras complementares para conclusão da carga horário proposta. A certificação do curso será feita pela Seduc por meio do Centro de Formação Padre Anchieta.

terça-feira, 3 de junho de 2008

A ESPERANÇA DE TRANSFORMAR


* Luciana Soares Véras


Caminhando pelas ruas do centro da cidade vemos tantos olhares tristes, desesperanças em pequenos rostos agredidos pela vida – crianças de rua - que dormem nas praças, nos cantos, nos bancos, cheirando cola, sonhando com uma vida melhor. Onde estarão seus pais? Serão domésticas, pedreiros, aventureiros da vida, do morro, da zona leste... Enquanto muitos garantem um pedaço de pão pela limpeza do pára-brisa, outros reclamam pelo brinquedo do ano passado, pela roupa fora de moda, pela falta do computador.
O que fazer para mudar? Muitos pensam: vou deixar tudo como está, pra que me preocupar! Importante é o meu, o eu e já. Nestes termos, os imediatismos do sistema político tem sido, um fator de grande contribuição para este quadro de deteriorização humana, mas tudo é aparente, e por isso os olhos já não os vêem mais, como se fizessem parte de uma paisagem.

E ainda temos outro, como a cultura do ter: sou porque possuo isso ou aquilo, entre outros vários que poderíamos citar como a educação, da ‘educação’ que para eu ter ou ser doutor é preciso estudar. Todo esse quadro é conseqüência do enraizamento do passado, onde a era da “Belle époque” fixou nas mentes que estudo é pra gente rica, e não pra gente pobre.

Ainda que vozes clamem no deserto como a de Paulo Freire: “... O esforço de reformulação de nosso agir educativo, no sentido da autêntica democracia”, são como chuva numa floresta incendiada, não são o suficiente para apagar o fogo, mas já é um grande passo para a democracia. Termo esse tão usado, mas tão pouco difundido, nas mentes daqueles que realmente precisam saber. Nos nossos dias, é comum vê-los, quase nus, roubando, matando, contudo ainda pode ser feito alguma coisa – esclarecê-los.

A educação precisa estar para todos, mas num objetivo de formar mentes criativas, inovadoras, e não uma educação de palavras ocas do verbalismo inteligente, que ressoa por qualquer lugar, é bonita de se ouvir, mas de pouca eficácia, excludente. Precisa ser envolvente, de fácil acesso, que roube essas mentes que estão tão voltadas para o crime, para o tormento da fome, e como dizia Marx: “o homem só alcança uma consciência social quando suas necessidades básicas são supridas”. Então comer será prioridade maior que educação? Não, os dois andam juntos.

Então para transformar o quadro desolador da humanidade, não podemos mais aceitar a política do ‘pão e circo’ para todos, mas a política social da educação para a formação básica de uma maioria faminta que não só de pão, mas de toda palavra vinda dos livros. Há ainda a necessidade de uma Revolução da “conscientização do patrão, que para não ser assaltado no sinal, precisa estender a mão, dando uma oportunidade para aquele que, impunha a arma, de ser alguém numa sociedade civilizadamente democrática. Logo, sem dúvida a conscientização, daqueles que não querem seus filhos cheirando droga num canto de esquina, ou nas capas dos jornais policiais” (Cristóvão Buarque).

Mas que ainda há esperanças de mudar a herança da barbárie de um país a caminho do desenvolvimento ou será subdesenvolvido? Tem diferença? Vamos ao que importa: Contribui para que surjam novos cidadãos conscientes, e não perpetuar o legado da miséria e da ignorância, mas fazer valer o que tanto se lutou na década de 80 – a Constituição Federal; para um Brasil, onde todos poderão ter enfim, orgulho de sermos chamados ‘filhos desta pátria gentil, pátria amada Brasil’.


* Discente de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas.
Foto: Roberto Delduque

domingo, 1 de junho de 2008

MIRANTE DO COTIDIANO - "CARTA XINGU VIVO PARA SEMPRE"


Representantes da étnia Ikpeng. Foto: Marcello Casal Jr./ABr


Nós, representantes das populações indígenas, ribeirinhas, extrativistas, dos agricultores e agricultoras familiares, dos moradores e moradoras da cidade, dos movimentos sociais e das organizações não-governamentais da Bacia do rio Xingu, nos reunimos no encontro Xingu Vivo para Sempre, realizado na cidade de Altamira (PA), entre os dias 19 e 23 de maio de 2008, para discutir, avaliar e denunciar as ameaças ao rio que nos pertence e ao qual pertencemos nós e reafirmar o modelo de desenvolvimento que queremos.

Nós, que somos os ancestrais habitantes da Bacia do Xingu, que navegamos seu curso e seus afluentes para nos encontrarmos; que tiramos dele os peixes que nos alimentam; que dependemos da pureza de suas águas para beber sem temer doenças; que dependemos do regime de cheias e secas para praticar nossa agricultura, colher os produtos da floresta e que reverenciamos e celebramos sua beleza e generosidade a cada dia que nasce; nós temos nossa cultura, nossa espiritualidade e nossa sobrevivência profundamente enraizadas e dependentes de sua existência.

Nós, que mantivemos protegidas as florestas e seus recursos naturais em nossos territórios, em meio à destruição que tem sangrado a Amazônia, nos sentimos afrontados em nossa dignidade e desrespeitados em nossos direitos fundamentais com a projeção, por parte do Estado Brasileiro e de grupos privados, da construção de barragens no Xingu e em seus afluentes, a exemplo da hidrelétrica de Belo Monte. Em nenhum momento nos perguntaram o que queríamos para o nosso futuro. Em nenhum momento nos ouviram sobre a construção de hidrelétricas. Nem mesmo os povos indígenas, que têm esse direito garantido em lei, foram consultados. Mesmo assim, Belo Monte vem sendo apresentada pelo governo como fato consumado, embora sua viabilidade seja questionada.

Estamos cientes de que interromper o Xingu em sua Volta Grande causará enchentes permanentes acima da usina, deslocando milhares de famílias ribeirinhas e moradores e moradoras da cidade de Altamira, afetando a agricultura, o extrativismo e a biodiversidade, e encobrindo nossas praias. Por outro lado, o barramento praticamente secará mais de 100 quilômetros de rio, o que impossibilitará a navegação, a pesca e o uso da água por muitas comunidades, incluindo aí várias terras e comunidades indígenas.

Também estamos preocupados com a construção de Pequenas Centrais Hidrelétricas (PCHs) nos rios formadores do Xingu. Algumas já foram construídas, outras já estão autorizadas e até hoje não houve qualquer tipo de avaliação dos impactos que esse conjunto de obras causará aos 14 povos indígenas do Parque Indígena do Xingu. Essas barragens profanam seus sítios sagrados e podem acabar com os peixes dos quais se alimentam.

Assim, nós, cidadãos e cidadãs brasileiras, viemos a público comunicar à sociedade e às autoridades públicas federais, estaduais e municipais a nossa decisão de fazer valer o nosso direito e o de nossos filhos e netos a viver com dignidade, manter nossos lares e territórios, nossas culturas e formas de vida, honrando também nossos antepassados, que nos entregaram um ambiente equilibrado. Não admitiremos a construção de barragens no Xingu e seus afluentes, grandes ou pequenas, e continuaremos lutando contra o enraizamento de um modelo de desenvolvimento socialmente injusto e ambientalmente degradante, hoje representado pelo avanço da grilagem de terras públicas, pela instalação de madeireiras ilegais, pelo garimpo clandestino que mata nossos rios, pela ampliação das monoculturas e da pecuária extensiva que desmatam nossas florestas.

Nós, que conhecemos o rio em seus meandros, vimos apresentar à sociedade brasileira e exigir das autoridades públicas a implementação de nosso projeto de desenvolvimento para a região, que inclui:

1.A criação de um fórum de articulação dos povos da bacia que permita uma conversa permanente sobre o futuro do rio e que possa caminhar para a criação de um Comitê da Bacia do Xingu;

2.A consolidação e proteção efetiva das Unidades de Conservação e Terras Indígenas bem como o ordenamento fundiário de todas as terras públicas da região da Bacia do Xingu.

3.A imediata criação da Reserva Extrativista do Médio Xingu.

4.A imediata demarcação da TI Cachoeira Seca, com o assentamento digno dos ocupantes não indígenas, bem como a retiradas dos invasores da TI Parakanã

5.A implementação de medidas que efetivamente acabem com o desmatamento, com a retirada de madeira ilegal e com a grilagem de terras;

O incremento de políticas públicas que incentivem o extrativismo e a consolidação da agricultura familiar feita em bases agroecológicas e que valorizem e estimulem a comercialização dos produtos da floresta;

6.Efetivação de políticas públicas capazes de promover a melhoria e instalação de sistemas de tratamento de água e esgoto nos municípios;

7.O incremento de políticas públicas que atendam as demandas de saúde, educação, transporte, segurança, adequadas às nossas realidades;

8.Desenvolvimento de políticas públicas que ampliem e democratizem os meios de comunicação social,

9.O incremento de políticas públicas para a ampliação das experiências de recuperação de matas ciliares e de áreas degradadas pela agropecuária, extração de madeira e mineração;

10.Que nenhum outro dos formadores do Xingu venha a ser barrado, como já aconteceu ao rio Culuene com a implantação da PCH Parantinga II;

11.Proteção efetiva do grande corredor de biodiversidade formado pelas terras indígenas e unidades de conservação do Xingu.

Nós, os que zelamos pelo nosso rio Xingu, não aceitamos a invisibilidade que nos querem impor e o tratamento desdenhoso que o poder público tem nos dispensado. Nos apresentamos ao país com a dignidade que temos, com o conhecimento que herdamos, com os ensinamentos que podemos transmitir e o respeito que exigimos.


Esse é o nosso desejo, essa é a nossa luta. Queremos o Xingu vivo para sempre.

Altamira, 23 de maio de 2008.

Assinam:

Kayapó da Aldeia Kriny, Kayapó do Bacajá Xikrin, Kayapó de Las Casas, Kaiapó de Gorotire, Kayapó Kubenkrãkênh, Kayapó Moikarakó, Kayapõ Pykarãrãkre, Kayapó Kendjâm, Kayapó Kubenkàkre, Kayapó Kararaô, Kayapó Purure, Kayapó Tepore, Kayapó Nhàkin, Kayapo Bandjunkôre, Kayapó Krânhãpari, Kayapó Kawatire, Kayapó Kapot, Kayapó Metyktire, Kayapó Piaraçu, Kayapó Mekrãnoti, Kayapó Pykany, Kayapó da Aldeia Aukre, Kayapó da Aldeia Kokraimoro, Kayapo Bau, Kayapó Kikretum, Kayapó Kôkôkuêdja, Mrotidjam Xikrin, Potikrô Xikrin, Djudjekô Xikrin, Cateté Xikrin, Ôodja Xikrin, Parakanã da aldeia Apyterewa e Xingu, Akrãtikatejê, Parkatejê, Munduruku, Araweté, Kuruwaia, Xipaia, Asurini, Arara da aldeia Laranjal e Cachoeira Seca, Arara do Maia da terra Alta, Panará, Juruna do Km 17,Tembé, Kayabi, Yudja, Kuikuro, Nafukua, Kamaiurá, Kalapalo, Waurá, Trumai, Xavante, Ikpeng, Apinayé, Krahô, Associação das Mulheres Agricultoras do Assurini, Associação de Mulheres Agricultoras do Setor Gonzaga, Associação dos Moradores do Médio Xingu, Associação dos Moradores da Resex do Iriri ,Associação dos Moradores da Resex Riozinho do Anfrisio, AFP- Associação Floresta Protegida do povo Kayapó, Associação Indígena Kisedje - povo Kisedje (Parque Indígena Xingu), Associação Pró-Moradia do Parque Ipê, Associação Pró-Moradia do São Domingos, Associação Yakiô Panará - Povo Panará, Associação Yarikayu - povo Yudja (Parque Indígena Xingu), Articulação de Mulheres Paraenses, Articulação de Mulheres Brasileiras, ATIX – Associação Terra Indígena Xingu (Parque Indígena Xingu), CJP- Comissão de Justiça e Paz, Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Prelazia do Xingu, CPT- Comissão Pastoral da Terra, FAOR – Fórum da Amazônia Oriental, Federação de Assistência Social e Educacional (FASE), FETAGRI- Federação dos Trabalhadores na Agricultura Regional Altamira, Fórum de Direitos Humanos Dorothy Stang (FDHDS), Fórum Popular de Altamira, Fundação Elza Marques, Fundação Tocaia, Fundo DEMA, Grupo de Mulheres do Bairro Esperança, Grupo de Trabalho Amazônico Regional Altamira (GTA), IPAM- Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia, Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (COIAB), MAB- Movimento dos Atingidos por Barragem, STTR-Altamira, Pastoral da Juventude, S.O.S. Vida, Sindicato das Domésticas de Altamira, Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará – SINTEPP, Movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira Campo e Cidade – MMTACC, Movimento de Mulheres do Campo e Cidade do Pará - MMCC, Movimento de Mulheres do Campo e Cidade Regional Transamazônica e Xingu, Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense, SDDH- Sociedade Paraense dos Direitos Humanos, MNDH- Movimento Nacional dos Direitos Humanos, MMM- Movimento de Mulheres Maria Maria, SOS Corpo, Instituto Feminista para a Democracia, Instituto Socioambiental – ISA, Fundação Viver Produzir e Preservar (FVPP).