Greve dos Professores Universitários: uma analogia futebolística
A presidente Dilma Rousseff, além de destratar os trabalhadores do
serviço público, agiu de forma truculenta perseguindo suas lideranças e suas organizações. Quanto ao movimento grevista dos professores
a determinação foi fritar suas lideranças e desqualificar suas propostas
desconsiderando qualquer manifestação de valorização do magistério e garantia
do pleno funcionamento das universidades públicas, gratuitas e competentes
capazes de promover novos indicadores de aprendizagem, pesquisa e extensão. Desrespeito
total, o que requer dos professores responsáveis atitudes que incentivem a
continuar esta luta em suas diversas frentes, articulando força com a sociedade
civil para barrar a vontade deste governo de privatizar as universidades
públicas, promovendo a instabilidade do magistério com se fosse a massa falida
da educação.
Welton Oda*
Depois de mais de setenta dias de greve e uma longa história pra contar,
talvez seja necessário usar uma comparação que explique, de modo simplificado,
um enredo cheio de termos técnicos (desestruturação da carreira,
verticalização, malha salarial, steps...) e siglas (MPOG, SINASEFE, CNG, EBTT,
MS, IFE, PROIFES, PUCRCE...).
Optemos pois
por caminho diverso, pegando um atalho e deixando pra trás as siglas e termos
técnicos. Comparemos, pois, o processo de negociação entre os professores
universitários em greve e o Governo Federal, a uma partida de futebol. Neste
jogo, o Governo, além de ser um dos times, pretende ser o juiz e, com isso,
formular as regras. Segundo as normas que propõe para o jogo, por exemplo,
alguns jogadores do seu time podem atuar na partida vestidos com a camisa do
time adversário. A duração da partida será variável e de acordo com a
conveniência do juiz.
A partida se
inicia e logo os jogadores do Governo vestidos com a camisa dos professores
universitários passam para o outro campo e começam uma tabelinha com o time do
Governo. Sem ameaçar a seleção dos professores, que apresenta um sistema
defensivo bem compacto, os governistas mal conseguem se aproximar do campo
adversário. Então tocam bola entre si e, após uma enfadonha troca de passes
entre eles mesmos, a equipe governista chuta para o próprio gol. O juiz, que
declaradamente é governista, ao invés de computar um gol contra a favor do time
dos professores, registra o gol favoravelmente ao time do Governo e aponta o centro
do campo, indicando o fim da partida.
Estas são as
regras do jogo autoritário com o qual o Governo de Dilma Roussef trata o
serviço público brasileiro. A pauta de reivindicações, protocolada no
Ministério da Educação (MEC) e no Ministério do Planejamento, Orçamento e
Gestão (MPOG), em fevereiro deste ano, sequer recebeu, por parte do Governo,
qualquer atenção. Ao apresentar suas “contra-propostas”, a equipe técnica
responsável por sua formulação, demonstra desconhecer ou ignorar os anseios dos
professores universitários.
O
papel social dos professores universitários não pode se limitar ao trabalho em
sala de aula. É preciso que o MEC reconheça os preceitos constitucionais da
Autonomia Universitária e do Direito de Greve, o que, no caso destes
profissionais, vai além do direito de reivindicar melhores condições de
trabalho. Cabe também ao professor universitário brasileiro o papel de refletir
criticamente sobre o modelo de educação superior pública oferecida pelo Estado
brasileiro.
Neste
processo de reivindicação de melhorias nas condições de trabalho, o Governo
Federal tem negado ao professor do ensino superior a voz e o protagonismo que
lhe cabem. Com truculência, os Ministros Aloísio Mercadante e Miriam Belchior
recusam-se ao diálogo, preferindo utilizar as artimanhas do engodo e do jogo de
mídia.
E você?
Torce pra que time? Para o time da Educação Pública e de qualidade - como
defendem os professores universitários - ou para o time da Universidade
Privatizada e sem qualidade, como propõe o Governo?
A escolha é sua! O tempo é agora!
(*)
Professor do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do
Amazonas (UFAM), doutor em Educação Científica e Tecnológica (UFSC)