A AMAZÔNIA EM CACOS E VERSOS
Ellza Souza (*)
Por onde passa o homem deixa rastros. São pegadas,
ranhuras e desenhos nas pedras, cacos de seus utensílios domésticos e de urnas
funerárias, muitos outros vestígios bem guardados sob a terra para
que mais tarde sejam estudados à luz da ciência e do arrebatador sol amazônico.
Os sítios arqueológicos se espalham em toda a Amazônia mas ainda são pouco
estudados. No Amazonas, só no município de Iranduba são conhecidos mais de cem.
Em Manaus muitos estão perdidos pelo desinteresse das autoridades que os expõe
à sanha imobiliária. Em Itacoatiara existem incontáveis desenhos nas pedras.
Agora, os escavadores da história estão em Tefé sob a tutela do Instituto
Mamirauá e a estudante de arqueologia paulista, Gabriela Carneiro, exprime o
que sente: “Estamos encontrando potes cerâmicos muito grandes de 500 anos no
jardim da casa dos ribeirinhos”. A jovem fez questão de se especializar em
Amazônia e para isso estuda em Paris e trabalha no Museum National
d`Histore Naturelle que fica no Jardin des Plantes na bela e bem cuidada
capital francesa.
“Estamos escavando no sol e eu estou
muito feliz mesmo suando aos monte”, diz Gabriela. E acrescenta: “Meu namorado
também está encantado e nunca viu um lugar tão quente”. O namorado, francês,
está meio aperreado pelo calor mas está solidário ao trabalho da amada.
A tarefa do arqueólogo na região
amazônica não é algo fácil. As dificuldades são imensas tanto pela falta do
interesse público quanto pela própria sociedade que não busca saber quem são os
seus antepassados e como viveram antes do extermínio quase total. Sabemos que
são incontáveis os povos que por aqui passaram. Muito do que fazemos, comemos e
acreditamos foram deixados pelos índios que viviam soltos na imensidão da
floresta, livres e felizes.
Eu, por exemplo sou consumidora voraz
da farinha de mandioca e sei que dá uma certa sustança. Muitos costumes se
perderam mas no fundo no fundo sempre fazemos algo ensinados por essas civilizações
ricas de cultura e conhecimento. Deixaram lições em forma desses vestígios tão
procurados pelos audaciosos arqueólogos, que não desistem nunca, apesar de
tudo. A música de Roberto e Erasmo Carlos, “Amazônia”, entoa:
...“Terriveis sinais de alerta, desperta
pra selva viver
Amazônia,
insônia do mundo
Amazônia,
insônia do mundo
Todos
os gigantes tombados
Deram
suas folhas ao vento
Folhas
são bilhetes deixados
Aos
homens do nosso tempo
Quantos
anjos queridos
Guerreiros
de fato
De
morte feridos
Caídos
no mato
Como
dormir e sonhar
Quando
a fumaça no ar
Arde
nos olhos de quem pode ver
Terríveis
sinais de alerta
Desperta
pra selva viver...”
Engraçado, nunca ouvi essa música na
televisão mesmo sendo do rei. Agora o “Ai se eu te pego”, “Festa no AP” e
outras do gênero fazem a cabeça da moçada. Deve ser uma questão de gosto
poético. Tem gosto pra tudo mais pra tudo que para uma bela poesia sobre a
Amazônia.
(*) É
escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
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