segunda-feira, 13 de agosto de 2012


A AMAZÔNIA EM CACOS E VERSOS
                                              
Ellza Souza (*)

Por onde passa o homem deixa rastros. São pegadas, ranhuras e desenhos nas pedras, cacos de seus utensílios domésticos e de urnas funerárias, muitos outros vestígios  bem guardados sob a terra para que mais tarde sejam estudados à luz da ciência e do arrebatador sol amazônico. Os sítios arqueológicos se espalham em toda a Amazônia mas ainda são pouco estudados. No Amazonas, só no município de Iranduba são conhecidos mais de cem. Em Manaus muitos estão perdidos pelo desinteresse das autoridades que os expõe à sanha imobiliária. Em Itacoatiara existem incontáveis desenhos nas pedras. Agora, os escavadores da história estão em Tefé sob a tutela do Instituto Mamirauá e a estudante de arqueologia paulista, Gabriela Carneiro, exprime o que sente: “Estamos encontrando potes cerâmicos muito grandes de 500 anos no jardim da casa dos ribeirinhos”. A jovem fez questão de se especializar em Amazônia e para isso estuda em Paris  e trabalha no Museum National d`Histore Naturelle que fica no Jardin des Plantes na bela e bem cuidada capital francesa.

“Estamos escavando no sol e eu estou muito feliz mesmo suando aos monte”, diz Gabriela. E acrescenta: “Meu namorado também está encantado e nunca viu um lugar tão quente”. O namorado, francês, está meio aperreado pelo calor mas está solidário ao trabalho da amada.

A tarefa do arqueólogo na região amazônica não é algo fácil. As dificuldades são imensas tanto pela falta do interesse público quanto pela própria sociedade que não busca saber quem são os seus antepassados e como viveram antes do extermínio quase total. Sabemos que são incontáveis os povos que por aqui passaram. Muito do que fazemos, comemos e acreditamos foram deixados pelos índios que viviam soltos na imensidão da floresta, livres e felizes.

Eu, por exemplo sou consumidora voraz da farinha de mandioca e sei que dá uma certa sustança. Muitos costumes se perderam mas no fundo no fundo sempre fazemos algo ensinados por essas civilizações ricas de cultura e conhecimento. Deixaram lições em forma desses vestígios tão procurados pelos audaciosos arqueólogos, que não desistem nunca, apesar de tudo. A música de Roberto e Erasmo Carlos, “Amazônia”, entoa:

...“Terriveis sinais de alerta, desperta pra selva viver
        Amazônia, insônia do mundo
        Amazônia, insônia do mundo
        Todos os gigantes tombados
        Deram suas folhas ao vento
        Folhas são bilhetes deixados
        Aos homens do nosso tempo
        Quantos anjos queridos
        Guerreiros de fato
        De morte feridos
        Caídos no mato
        Como dormir e sonhar
        Quando a fumaça no ar
        Arde nos olhos de quem pode ver
        Terríveis sinais de alerta
        Desperta pra selva viver...”
        
Engraçado, nunca ouvi essa música na televisão mesmo sendo do rei. Agora o “Ai se eu te pego”, “Festa no AP” e outras do gênero fazem a cabeça da moçada. Deve ser uma questão de gosto poético. Tem gosto pra tudo mais pra tudo que para uma bela poesia sobre a Amazônia.

(*)  É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

Nenhum comentário: