sexta-feira, 30 de abril de 2010

IRMÃ CREUZA: MÁRTIR DA CAUSA INDÍGENA NO AMAZONAS

Victório Henrique Cestaro (*)

As Irmãs Missionárias Agostinianas Recoletas, há muitos anos residentes em Manaus com o fito de, entre outros serviços próprios da sua Instituição, prestarem todo apoio às suas co-Irmãs, residentes nas Missões de Lábrea, no Rio Purus, celebraram, no dia 25 do corrente mês de abril, a passagem dos vinte e cinco anos da morte da IRMÃ CREUZA CAROLINA RODY CARVALHO, aos 52 (cinqüenta e dois) anos de idade, martirizada em ação de defesa da causa indígena, jogada, morta ou viva, nas águas do Rio Passiá, afluente do médio Rio Purus.

Seu cadáver foi encontrado, após 05 (cinco) dias do seu desaparecimento, todo desnudo, já decomposto, dando a entender a barbaridade com que foi brutalmente executado o seu martírio. A celebração teve Santa Missa votiva, na Igreja de Sta. Rita da Cachoeirinha, com grande público de fiéis e seus admiradores, com ato memorial da vida da homenageada.

A morte da Irmã Creuza deu-se em razão do seu devotamento às tribos indígenas do Rio Purus, a cuja promoção humana, na cobertura das suas múltiplas necessidades e na defesa dos seus direitos à terra, que lhes pertence, dedicou toda a sua atividade missionária, com o ideal pleno de motivos justificantes dos sacrifícios dos sacrifícios que lhe impunham esse mister.

Foi imbuída desse ideal que Irmã Creuza caminhou para a morte, no salutar propósito de levar a paz e a concórdia entre dois indígenas Apurinã, que disputavam um pedaço de terra, sem que, até hoje, se haja tido conhecimento do enredo do fato, a não ser de sua trágica consumação. A ocorrência se deu sem nenhuma testemunha, pois, os próprios indígenas sumiram do local, encerrando-a num fato insondável, ao nível de crime insoluto.

Esta condição de crime insoluto, que encerra a morte da Irmã Creuza, podia ser dissolvida, caso não fosse assassinado por um outro indígena, um dos coatores, que, logo depois, apareceu em Lábrea, com isso, evitando a abertura do competente inquérito criminal, em cujo trâmite seriam esclarecidas as nuances desse horripilante fato. Inclusive, com a aparição de algum mandante de natureza “branco”, queixoso da ação missionária da Irmã Creuza, ao estilo do que ocorreu com o assassinato da Irmã Doroty Stang, no Estado do Pará.

IRMÃ CREUZA – “UMA SANTA NO AMAZONAS” - Bastante conhecida em Manaus onde residiu, distinguindo-se pelo fervor e pureza de sua vida religiosa, e, sobretudo, nas comunidades da Prelazia de Lábrea, onde deu seu testemunho de seu ardor apostólico, é venerada, embora não oficialmente, por um grande número de fiéis, como “UMA SANTA DO AMAZONAS”, justificada tal devoção pelo seu MARTÍRIO PELA CAUSA INDÍGENA à qual dedicou toda a sua vida com tanto sacrifício e renúncia.

No caso, bem fazem suas co-Irmãs Agostinianas Recoletas de celebrarem, em Manaus, no Brasil e no mundo, a memória dela, como MÁRTIR DA CAUSA INDÍGENA, não somente, nos dias 25 de abril, mas, em cada dia de todo o ano. Tal celebração vem divulgar seus exemplos de vida e o motivo cruciante de sua morte, o que acelerará, pela Sé Vaticana, a sua declaração de “VENERÁVEL IRMÃ CREUZA”, na certeza de que temos na sua memória uma “SANTA DO AMAZONAS” a proteger os indígenas e descendentes, também, nosso povo autóctone, todos reunidos na Filiação Divina e Mariana com sobejos créditos de graças celestiais para uma vida longa e feliz.

O signatário, egresso da Ordem Agostiniana Recoleta, em cujo convívio passou dos seus 12 aos 36 anos, deve-lhe toda a sua formação cultural e religiosa. Conviveu os 10 (dez) anos de seu sacerdócio nas missões de Lábrea, edificado com os exemplos apostólicos da Irmã Creuza, pelo que assina a presente nota em sua homenagem, num preito de indefectível admiração e do respeito que lhe prestou em vida e, agora, sua devota veneração.

(*) É Padre Casado e Advogado.

NR: O editor e coordenador geral do NCPAM conviveu com a Irmã Creuza, quando juntos participaram da criação do Secretariado do Conselho Indigenista Missionário(CIMI), em Manaus, nos anos de 1978. Suas fotos e correspondências que trocavam na época foram encaminhadas ao Secretariado do CIMI para ser apreciada pela Comissão de Instrução do Processo junto ao Vaticano em favor do reconhecimento de seu martírio. Nessa época varios outros defensores da causa indígena também foram sacrificados pela força dos latifundiários e das oligarquias aliadas a ditadura. Mas a luta continuou, possibilitando aos povos indígenas vitalidade cultural e fortalecimento de suas organizações tradicionis e políticas. Vivos e sãos, os povos indígenas do Brasil e, em particular da Amazonia, por meio do Movimento Indígena, tudo tem feito para que seus direitos sejam assegurados de forma plena, honrando, dessa feita, os precursores como Irmã Creuza, Ângelo Kretã, João Bosco Burnier, TupaY Guarani e outros, que foram sacrificados por acreditarem num mundo justo e igualitário enquanto expressão do Direito, da fraternidade e da Solidariedade. Valores esses, que mobilizam homens e mulheres pela construção de um mundo da Paz.

A SOBREVIVÊNCIA DA CULTURA CRÍTICA NO BRASIL

Gabriela Moncau (*)

O que é mais preocupante é a questão da opinião no Brasil. Porque copiamos todo o modelo americano de vida, o consumo, o livre mercado, mas uma coisa que não pegamos, o direito pleno de se expressar.

A frase é de André Dahmer, 35, consagrado desenhista da nova geração dos quadrinistas brasileiros, em entrevista à Caros Amigos na edição de abril. O carioca é autor das tirinhas dos Malvados, que, com um traço simples, fazem uma feroz crítica ao cotidiano da sociedade capitalista, ironizando principalmente o consumismo e o individualismo. Além dos dois personagens dos Malvados, o cartunista ficou famoso com séries de tirinhas como “Cidade do medo”, sobre violência, “Apóstolos, a série”, que narra a história de Jesus fazendo críticas à Igreja Católica e Emir Saad, o ditador sádico e egocêntrico do reino Ziniguistão.

Em seu blog, a seção sobre o autor se limita a descrições como “nenhuma cárie no dente, nenhum osso quebrado. Sobreviveu a um afogamento em Ipanema. Gosta de números, odeia aviões”. Paulo Lins, escritor de 51 anos, também do Rio de Janeiro, do bairro de Santa Teresa. Iniciou na literatura como poeta, na década de 1990 se dedicou à pesquisa antropológica sobre a criminalidade e as classes populares, publicando em 1997 sua grande obra que levou o nome do violento bairro da periferia carioca em que viveu, a hoje famosa – por conta da versão cinematográfica da obra - Cidade de Deus.

Atualmente, além de estar terminando o roteiro do filme Faroeste Caboclo, baseado na música de Renato Russo, trabalha no seu novo livro, Desde que o samba é samba é assim, romance sobre uma professora universitária de classe média baixa que pesquisa a história do samba. Cada um a seu modo, representa importantes expressões culturais que escancaram a realidade brasileira.

Dahmer, com seus ácidos quadrinhos, e Lins, representando a literatura de alguém que veio de dentro da periferia, conseguiram achar brechas dentro da sólida cultura hegemônica justamente para criticá-la. O cartunista, porém, chama a atenção para a capacidade de incorporação da sociedade do consumo: “A propaganda sobrevive com uma agilidade enorme, transforma ações inicialmente contra ela a seu favor. A propaganda sabe que consumidor é que nem barata, você vai inventando um veneno mais forte para matar e elas vão se adaptando”.

Mas, afirma que se garante: “eu não tenho problema de recusar trabalho não, confio muito no sistema que eu montei para viver de maneira mais independente”, conta Dahmer. Para Paulo Lins, que também recebeu a redação da Caros Amigos na sua casa esse mês, um dos motivos pelos quais justamente conseguiu seguir uma linha alternativa ou contra-hegemônica em seu trabalho é o interesse que o público tem pela tema da violência urbana. “Uns três anos antes de lançar o livro [Cidade de Deus], teve um político, Moreira Franco, que disse que iria acabar com a violência em seis meses, ele se elegeu assim. Imagine a pressão. Então, quando sai um livro desse com uma visão interna, de uma pessoa que viveu, que morou na favela, como eu, o interesse era quase natural”, relata.

Mas não é todo mundo que consegue sobreviver em meio ao mercado cultural brasileiro, controlado pelos mesmos que pautam não só a política como o modelo econômico que a sustenta: as grandes corporações, nacionais e transnacionais. Há muito tempo que a arte perdeu sua viabilidade financeira. Fazer arte não dá lucro. Mas, numa sociedade pautada pela divisão do trabalho, como podem sobreviver os trabalhadores da arte sem se submeterem aos desmandos de um sistema interessado em tratar a cultura como mais uma mercadoria? O Ministro da Cultura Juca Ferreira acredita que “a cultura brasileira não precisa de uma política de preservação”. Mesmo que na entrevista também publicada neste mês pela Caros Amigos ele tenha se pautado exatamente por proposições protecionistas ao cinema mais adiante, suponhamos que de fato a cultura brasileira se garanta de influências estrangeiras. Não é esse o debate.

A questão é como garantir a sobrevivência da cultura sem que ela tenha que se enquadrar à lógica do mercado, de maneira a garantir sua produção e difusão entre a população brasileira. Por mais que os discípulos de Margareth Thatcher, entrincheirados na situação e na oposição, contestem, no âmbito do capitalismo não parece haver outra alternativa que não a intervenção estatal através de políticas públicas. O Ministério da Cultura tem tomado tímidas medidas quanto a isso.

O Vale Cultura, por exemplo, que funcionará como um Vale Refeição, um cartão magnético que será disponibilizado para que o trabalhador reverta R$ 50 em livro, CD, espetáculos, museus ou outras atividades culturais, parece ser algo interessante, apesar de não ter ainda previsão pra ser posto em prática. O próprio ministro, porém, revela que achou melhor não aumentar o valor do vale para que o processo burocrático para sua aprovação não seja retomado: “O presidente Lula me autorizou a dizer que acha que R$50 é pouco e se o Congresso aprovar uma ampliação desse recurso para R$ 100 que ele sancionará essa lei com alegria. Eu disse a ele ‘não vamos propor rever esse total, se não teríamos que começar tudo de novo’”, afirma.

Como apontou a edição especial da Caros sobre a Direita Brasileira, quem decide o que é cultura hoje no Brasil é a iniciativa privada. E pior, o faz através de isenção fiscal, com dinheiro público, prática consagrada pela criticadíssima Lei Rouanet. Dos 1,2 bilhão de reais investidos em cultura pelo poder público brasileiro, 90% são oriundos de renúncia fiscal. Juca Ferreira, na entrevista, aponta seus limites e debate de que maneira essa lógica pode ser superada. Enquanto ela não é, a crítica de arte e professora aposentada da Faculdade de Letras da USP Iná Camargo Costa define a disputa de recursos de incentivo fiscal como “briga de cachorro grande disputando dinheiro do Estado para fins de acumulação”.

Assim, os cachorros grandes para os quais o Estado tem transferido a responsabilidade de produção cultural, com a evidente intenção de oferecer eventos para o seu público consumidor, não raras vezes promoverão atividades culturais cujo acesso será para quem tenha no bolso bem mais que um Vale Cultura. Como Dahmer, Lins e tantos outros evidenciam, porém, a barreira da cultura hegemônica não é inquebrável. Afinal, como define Theodor Adorno, “a cultura, como aquilo que aponta para além do sistema de conservação da espécie, inclui um momento de crítica a todo o existente, a todas as instituições”.

(*) É estudante de jornalismo e articulista de Caros Amigos.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

TV EM TEMPO NOTICIA SOBRE LICITAÇÃO DO PORTO DA SIDEREMA

O jornal da noite da TV em Tempo de Manaus, tendo como âncora a jornalista Marcela Rosa, acabou de noticiar que Agência Nacional de Transportes Aquaviários (ANTAQ) reuniu-se na capital do Estado do Amazonas com os empresários do segmento modal e representações das demais Agências Federais para discutir a ampliação do setor e o melhoramento do serviço prestado, anunciando de pronto o processo licitatório para construção de um Porto Público nas dependências das instalações da SIDERAMA.

Há aproximadamente 13 anos a SIDERAMA, localizada próxima ao Porto da CEASA, numa área de 300 mil metros quadrados, compreendida de vários galpões de produção e do setor administrativo foi passada à SUFRAMA, segundo afirma o vereador Mário Frota (PDT), sob a promessa de instalar no local o Entreposto Internacional da Zona Franca de Manaus (EIZOF), criado em 1992 e que funcionou de maneira provisória de 1993 até início 2000, no Porto de Manaus. “ Após esses anos, apesar de a SUFRAMA ter um projeto pronto, não conseguiu viabilizar recursos junto ao Governo Federal para instalação desse porto”, conclui.

A ANTAQ é a uma agência reguladora, vinculada ao Ministério dos Transportes, que integra a Administração Federal indireta, submetida ao regime autárquico especial com personalidade jurídica de direito público, com independência administrativa, autonomia financeira e funcional e mandato fixo de seus dirigentes.

O objetivo da ANTAQ é regular, supervisionar e fiscalizar as atividades de prestação de serviços de transporte aquaviário e de exploração da infra-estrutura portuária e aquaviária,
harmonizando os interesses do usuário com os das empresas prestadoras de serviço, salvaguardando o interesse público.

A construção de um Porto Público na antiga SIDERAMA remonta anos passados. Em novembro de 2006, no primeiro mandato do governo Lula, o centenário Jornal do Comercio de Manaus, noticiava sobre o projeto, dando detalhes de sua tramitação junto ao governo federal e o montante do recurso a ser aplicado. O empreendimento contava com investimentos de R$ 500 milhões, em um período de três a cinco anos, sendo o suficiente para construir um novo porto em Manaus, mais moderno e competitivo, um complexo Porto-Eizof-Aeroporto, adaptando também o Aeroporto de Ponta Pelada para a infra-estrutura de armazenagem e operação.

O NCPAM http://www.ncpam.com/2009/02/em-discussao-construcao-do-porto-da.html também noticiou matéria sob a possibilidade da construção do Porto da SIDERAMA, fazendo frente ao Porto Privada da Log-In Logística Intermodal S/A nas imediações do Encontro das Águas. Agora com pronunciamento dos representantes da ANTAQ em Manaus, noticiado pela TV em Tempo, o projeto parece sair do papel com agendamento do Ato Licitatório.

O ato em si parece intempestivo ou eleitoreiro porque uma obra dessa magnitude requer Estudos de Impacto Ambiental seguido de seu Relatório, o chamado EIA/RIMA, o que com absoluta certeza ainda não foi feito. Além desses estudos ambientais e compensatórios requer ainda que seja feito o estudo de vizinhança, considerando a dimensão do impacto junto aos comunitários do entorno do empreendimento.

O NCPAM estará atento as manifestações da ANTAQ no Amazonas e sem antecipar juízo de valor algum, dará toda atenção aos informes, que possivelmente farão parte do noticiário de amanhã (30) na grande imprensa de Manaus. Estejamos atentos e vigilantes, em particular os moradores do Mauazinho e adjacência.

CARTA ABERTA AOS PROFESSORES DA UEA/AM

Caros Professores,

Como relatado em e-mails anteriores, nas últimas semanas temos negociado diretamente com a Casa Civil [do governo do Estado do Amazonas] a aprovação do nosso PCCS. Pela avaliação do Raul Zaidan, nosso plano é muito bom e plenamente factível. Tendo sido informado da incapacidade do planejamento da Universidade do Estado do Amazonas (UEA) em fazer a avaliação de impacto do plano na folha de pagamento, o chefe da casa civil solicitou, via ofício, que a Reitoria devolvesse o processo que estava em sua posse desde dezembro de 2008.

O ofício foi protocolado no dia 20/04 e até hoje, apesar das minhas solicitações junto à reitoria, o PCCS não foi enviado ainda à Casa Civil. Ou seja, além de guardar o PCCS por quase dois anos impedindo a sua aprovação, a Reitoria está se recusando a devolver o processo ao órgão do governo, bloqueando as negociações. Além dos problemas do PCCS, a atual administração está postergando a Estatuinte, a continuidade dos concursos públicos de técnicos e professores, a definição da avaliação de estágio probatório. Pior: está fazendo pouco caso da ação no STF que pede a anulação de nosso concurso. Além da falta de critério para concessão da fidelização, liberação para mestrado e doutorado, concessão de passagens e diárias entre outros.

Não podemos esquecer da tentativa de nos empurrar goela abaixo aquele arremedo de campus. Acho que pelo conjunto da obra devemos dar um basta a esse modelo de administração a que a UEA está sujeita. Chega de a nossa universidade ser utilizada como palanque político! Chega da falta de democracia, que leva a decisões quase sempre que desagradam a todos.

Sendo assim, CONVOCO todos os professores a participarem de uma reunião conjunta com os estudantes e técnicos na próxima sexta-feira, dia 30 de abril às 16:00 na Escola Normal Superior para deliberarmos sobre as ações a serem tomadas.

Tomaremos as rédeas do nosso futuro. Solicito também a todos que conversem com os alunos e ajudem na mobilização, liberando-os das aulas para que possam participar da reunião. Amanhã irei as unidades e em conjunto com as lideranças locais, vamos organizar reuniões para estabelecer a mobilização para sexta-feira.

Peço a participação dos colegas do interior, que por acaso estejam em Manaus, aos outros peço que respondam a este e-mail, pois preciso ouvir a opinião de vocês. Por uma UEA democrática e uma gestão participativa!

Sindicato Docentes da UEA SIND-UEA sind. sind.uea@gmail.com

REGULAR E SUPERVISIONAR AS FINANÇAS

Luiz Carlos Bresser-Pereira (*)

A crise convenceu a todos de que a teoria econômica neoclássica dos mercados
autorregulados é enganadora

Em Nova York, os dois temas que continuam a dominar a discussão de economistas e financistas são o "grande demais para quebrar" ("too big to fail") e a necessária regulação e supervisão dos bancos. Em outras palavras, pergunta-se, de um lado, como impedir que os grandes bancos comerciais façam operações arriscadas porque sabem que, na última hora, serão socorridos, e, de outro, como regulá-los e supervisioná-los melhor.

Essa dupla preocupação dominou a Conferência Minsky, organizada pelo Levy Institute e patrocinada pela Fundação Ford. Participaram dela um equilibrado número de financistas, representantes do governo (inclusive três diretores do banco central americano) e professores de economia.

Na conferência, poucos se mostraram seguros quanto à solidez da recuperação econômica depois da crise. Boa parte dos que intervieram nos debates se mostrou convencida de que a crise poderá voltar a qualquer momento, principalmente porque, apesar do empenho do presidente Barack Obama, o governo não foi ainda capaz de re-regular o sistema financeiro desregulado durante os 30 Anos Neoliberais (1979-2008).

Há também uma grande insatisfação com a teoria econômica ortodoxa ou convencional, que, evidentemente, contribuiu para a crise ao pressupor um mercado financeiro eficiente, autorregulado.

Em relação ao problema do "grande demais para quebrar", a solução apresentada por Paul Volcker - ex-presidente do Fed e hoje assessor especial de Obama - de proibir os bancos de realizarem operações de tesouraria (uma espécie de volta à separação dos bancos comerciais dos bancos de investimento) dividiu as opiniões. Volcker argumentou que a medida é necessária para impedir que os bancos participem de operações financeiras arriscadas demais.

Entretanto, muitos consideraram a proposta pouco realista; incompatível com a necessária rentabilidade dos bancos comerciais. Melhor será regulá-los e supervisioná-los mais cerradamente, já que são entidades quase públicas que criam crédito e, portanto, dinheiro.

Embora a principal causa da crise tenha sido a desregulação do sistema financeiro promovida no início dos 30 Anos Neoliberais, houve também grande falha de supervisão, já que muitas operações com securitização e derivativos não eram apenas excessivamente arriscadas; elas violavam a regulação ainda existente, implicandofraude.

Esse fato, assinalado por diversos participantes, foi mais uma vez confirmado no dia seguinte ao término da conferência, quando os jornais publicaram que a SEC acusou de fraude e iniciou ação civil contra o banco Goldman Sachs, porque este teria participado, com o fundo hedge Paulson & Co., da securitização e empacotamento de hipotecas que sabiam ser de baixa qualidade. Eles as venderam para clientes e outros bancos mal informados para, em seguida, o próprio banco e o fundo hedge apostarem contra esses mesmos títulos e, assim, obterem enorme ganho à custa dos que compraram os títulos empacotados.

Nessa fraude, o fundo ganhou US$ 1 bilhão, enquanto Goldman Sachs ganhava quase a mesma quantia. Antes da crise, muitas operações desse tipo passaram sem supervisão, não por falta de regulação, mas porque se supunha que os mercados eficientes tudo regulavam. A crise global ainda custará muito ao mundo, mas, pelo menos, convenceu a todos quão importante é a regulação e a supervisão e quão enganadora é a teoria econômica neoclássica dos mercados autorregulados.

(*) É professor, economista, cientista político e articulista da Folha de S. Paulo (26. 04. 2010).
http://www.bresserpereira.org.br/

quarta-feira, 28 de abril de 2010

A LINGUA GERAL E AFIRMAÇÃO IDENTITÁRIA: ESTUDO FEITO EM SANTA IZABEL DO RIO NEGRO (AM)

Aquiles Santos Pinheiro (*)

O projeto de pesquisa em nível de pós-graduação sobre os usos sociais e políticos da Língua Geral Amazônica (Nheengatu)oriunda do Tupinambá, que foi adotada como língua franca no período colonial,promovendo a comunicação e interação entre indígenas e não-indígenas, encontra-se referenciado na comunidade do "cartucho" no Município do Amazonas de Santa Izabel do do Rio Negro, antigo Tapuruquara. Nesse território cultural determinado, o Nheengatu vem sendo falado por diversos povos como instrumento de afirmação identitária, conforme fora observado entre os Baré, cuja língua tradicional já não é mais falada.

A escolha dessa região (Terras Indígenas do Médio Rio Negro II) se deve a diversidade cultural e linguística existente nessa área. As primeiras observações dão conta que a principal razão para a manutenção desse complexo etnolinguístico é a prática da exogamia linguística e a residência patrilocal, ou seja, nesse território os homens se casam com mulheres que falam uma língua diferente da sua. Nesse contexto etnocultural, as crianças crescem falando pelo menos duas línguas. Porém, a língua que identifica a pessoa, a aldeia e o grupo étnico é, principalmente, a língua do pai e não a língua do grupo linguístico da mãe.

Desse modo, encontram-se falantes também que dominam três ou mais línguas, as quais são faladas no cotidiano, no âmbito familiar, além do que, tais falantes são capazes de compreender outras línguas indígenas faladas na comunidade. Além das línguas indígenas, os falantes desta região dominam a língua nacional – o português – mas falam, entre eles, predominantemente o Nheengatu.

Esse cenário se apresenta como o ideal para o estudo que se pretende realizar, isto é, os usos sociais e políticos do Nheengatu em contexto de diversidade etnolinguística. A questão posta é saber as razões pelas quais determinadas línguas são faladas ou não, dependendo do contexto social ou das situações de comunicação e interação coletiva, circunstanciais ou não, em que os falantes se encontram nas “realizações concretas de fala”.

A orientação da pesquisa volta-se para o domínio do Nheengatu como diacrítico fundamental na construção de uma identidade supra-étnica de forma genérica como afirma de uma idianidade nas relações e poder com o Estado Nacional e outras instituições não-governamentais, bem constituindo uma marca de identidade cultural afirmativa.

Nessa perspectiva, o Nheengatu consolida-se como língua franca, sendo, por essa razão, o instrumento que intensifica a comunicação e interação social, servindo como mediador da interculturalidade existente na região e, mais ainda, consolidou-se como língua “materna” ou língua “tradicional”, na medida em que foi apropriada por alguns povos indígenas que perderam as suas línguas, como é o caso dos Baré, Mura, parte dos Baniwa e dos Mundurucu.

A metodologia adotada para a realização de trabalho de campo fundamenta-se na prática da pesquisa participante de forma interativa. A coleta de dados será feita mediante gravações de entrevistas individuais e coletivas, isto é, de locuções públicas nas reuniões da Associação das Comunidades Indígenas e Ribeirinhas - ACIR, bem como em outros eventos comunitários. Também está prevista como estratégia de pesquisa realização de 10 oficinas paradidáticas temáticas, onde alunos do ensino médio e fundamental terão a oportunidade de confrontar a sua competência linguística no domínio oral do Nheengatu com as formas de escrita proposta para essa língua. A escolha dessas técnicas, além de atender aos objetivos da pesquisa, atende também à demanda da comunidade pela inclusão do Nheengatu no conteúdo curricular da escola como forma de valorização da cultura local e afirmação identitária pela efetivação da escola indígena diferenciada, visando à construção de um projeto de vida culturalmente determinado.

(*) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social da Universidade Federal do Amazonas PPGAS-UFAM e bolsista da CAPES.

GRITO DE CONVOCAÇÃO DO MOVIMENTO S.O.S ENCONTRO DAS ÁGUAS

No dia do Trabalhador vamos lutar pelo meio ambiente. O Movimento S.O.S. Encontro das Águas convoca todos os cidadãos preocupados com as questões socioambientais do Amazonas para Assembléia de discussão com o objetivo de definir novas táticas e repensar as práticas de luta, visando à preservação do complexo ambiental Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, formadores do Rio Amazonas.

Data: 01/05/2010 (sábado) 15:00 h.

Local: IFAM (antiga Escola Agrotécnica Federal), no Instituto de Permacultura do Amazonas (IPA), Av. André Araujo, Bairro Zumbi, atrás da feirinha da Escola (IFAM). Passar a bola do São José e após 3 km entrar à direita pela estrada do Castanhal situada na frente da guarita principal da Escola Agrotécnica.

Proposta de Pauta:

15:00 – 15:30 h – Apresentações de outras lutas socioambientais atuais pelos cidadãos e organizações presentes na reunião.

15:30 – 16:00 h – Histórico, informes e respostas às duvidas do S.O.S. Encontro das Águas contra o Porto da Lajes.

16:00 – 16:10 h – Organização dos grupos de trabalho para estabelecimento de novas e agenda de luta:

GT 1 – Conhecimento científico e popular sobre os povos e os recursos naturais do Encontro das Águas; GT 2 – Comunicação; GT 3 – Educação ambiental e sensibilização; GT 4 - Estratégias Políticas e Jurídicas; GT 5 – Projetos para sustentabilidade do Encontro das Águas.

16:10 – 16:50 h – Construção das propostas de planejamento por Grupo de Trabalho.

16:50 – 17:40 h – Apresentação do resultado de planejamento dos Grupos de Trabalho (10 minutos para cada Grupo)

17:40 – 18:00 h – Planejamento e discussão final

Se não formos capazes de preservar o Encontro das Águas, símbolo maior de nossa identidade cultural e natural, estaremos reprovados publicamente para gerir sustentavelmente qualquer outro bem comum da nossa Amazônia.

Inteligência Ambiental: Com a ampliação do Movimento deve-se ter todo cuidado para se identificar os militantes, excluindo dessa feita os lobistas, penetras e oportunistas.

terça-feira, 27 de abril de 2010

A CIENTIFICIDADE DO ENCONTRO DAS ÁGUAS

O nosso Amazonas corre sem dúvida
no Brasil, mas pertence aos Estados Unidos.
É um rio poderoso, mas trabalha
Para donos que nunca viu,
Um dia, entretanto, há
Muito tempo já juramos,
Trabalhará para nós,
Para os que aqui nasceram.

Brecht

O Tombamento do Encontro das Águas dos rios Negro com o Solimões tem movido esforço de nossos pesquisadores para selecionar estudos que justifiquem tanto a interpretação como a compreensão científica desse fenômeno colossal que denuncia valores ambientais, culturais, históricos e econômicos.

As pesquisas do geógrafo brasileiro, Aziz Ab'Sáber, autor de centenas de artigos e de variadas obras, entre as principais destacam-se: Amazônia, do discurso à práxis (1997), pelo qual recebeu o prêmio Jabuti; Litoral do Brasil(2001) e Os domínios de natureza do Brasil: potencialidades paisagísticas (2004). Obras de valor inestimável, que fez do professor Ab'Sáber, um dos pesquisadores mais comprometidos com a preservação da nossa Amazônia, merecendo respeito e reconhecimento da academia de ciência internacional.

Dessa feita, faz-se um recorte dos estudos do professor Ab'Sáber http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-40142005000100002 para demonstrar, empiricamente a dinâmica desse fenômeno das águas, entre os rios Negro e Solimões, situado a sudeste de Manaus. Assim sendo, afirma o professor: "pode-se ter uma idéia precisa da massa de argila carregada pelo Solimões-Amazonas. Trata-se, evidentemente, do curso d'água que transporta o maior volume de argilas dissolvidas em suas águas lodosas, conhecidas no mundo inteiro. Causa estupefação a dinâmica do atrito das águas do rio Negro, completamente destituído de sedimentos argilosos em dissolução. Muita coisa ainda precisa ser estudada no que tange à limpeza das águas escuras do rio Negro, sendo de se notar os componentes biogênicos e bioquímicos, que têm até hoje um papel importante na eliminação da poluição hídrica derivada da cidade de Manaus".

Ademais, explica Aziz Ab'Sáber:"o rio Solimões-Amazonas desce da região pré-andina até o golfão Marajoara sem qualquer acidente em seu leito, muitos dos rios afluentes apresentam alinhamento de quedas entre o seu largo-baixo vale e o seu médio curso. Pedro Moura, geólogo que trabalhou por dois anos no baixo Amazonas, foi o primeiro pesquisador a identificar uma linha de quedas (fall line) entre o baixo e o médio vale dos rios Tocantins, Xingu e Tapajós. Hoje sabemos que existem quadros similares de cachoeiras e corredeiras nos afluentes da margem esquerda do Amazonas, assim como após extensos setores de alguns rios da Amazônia ocidental. A gênese da fall line nesses diferentes setores, mais próximos ou mais distantes do grande rio, dependeu de flutuações no nível do mar por movimentos ditos glácio-eustáticos ocorridos nos fins do quaternário e início do holoceno. Enquanto os mares perdiam nível, rebaixando-se e descendo pela plataforma continental, o paleo-rio Amazonas da época foi forçado a realizar uma erosão regressiva que entalhou colinas e baixos platôs, mas não conseguiu estender-se pelo contato dos terrenos cristalinos resistentes, que bordejavam a bacia sedimentar amazônica. A erosão remontante de talvegue, por seu turno, deve ter sido realizada em um contexto de menor pluviosidade relativa devido à implantação natural de climas tropicais, a duas estações, conforme se deduz pela Teoria dos Redutos e Refúgios".

De tal forma que, continua o mestre: "quando o rio se estendia na plataforma e adentrava no talvegue, deveria ter existido um outro quadro hidro-geomorfológico que restou tamponado e escondido pelo volume e extensão das planícies aluviais. O adentramento lateral de tais processos de erosão regressiva foi bloqueado no contato de rochas cristalinas e rochas sedimentares, onde se formaram as cachoeiras e corredeiras das chamadas fall lines sul-amazônicas. À medida que o nível do mar subiu muito e ficou a mais de três metros de seu nível médio atual, e que as precipitações amazônicas se tornaram maiores e mais extensivas, águas do Amazonas e Solimões afogaram o baixo vale de inúmeros rios da Amazônia, criando baías de ingressão fluvial parecidas com estuários, às quais Francis Ruellan, em uma interpretação pioneira e muito adequada, designou por "rias de água doce".

Bastos Lyra e o Encontro das Águas

Para esse fim também recorremos a Fundação Djalma Batista http://www.fdb.org.br/?pg=artigos,exibir&cd=27 valendo-se da publicação de um verbete de autoria do professor Manoel Bastos Lyra, datado de 20 de junho de 1944 (A Tarde) sob o tiítulo: Encontro das Águas. O pesquisador, que também foi professor da Universidade do Amazonas, analisa o fenômeno buscando compreender suas determinações quanto à especificidade de sua natureza. Leia abaixo o texto de Bastos Lyra, na integra:

Um dos acidentes que impressionam magnificamente aqueles que vêm de fora para pescar novidades por estas plagas, pela “Hiléia”, para falar em termos momentosos, é sem dúvida, o do “encontro das águas”. Sim, a simples confluência do Negro com o Amazonas. Não fora a diferença característica da tonalidade das águas, os dois rivais potâmicos, certamente, em muito teria decrescido o interesse que brota sempre em alguém que se aproxima do ponto, onde as águas do caudaloso rio-mar amarelecem e empurram as escuras do seu maior afluente pelo norte. As interpretações da estranha visão são abundantes. Algumas, repetidas quiçá quantas vezes por dia, fazem estremecer os mais rudimentares conhecimentos científicos. O fato, porém, como observamos através da nosso explicação, não é nem estranho nem extravagante, enquadrando-se completamente nos conhecimentos atuais de coloidologia. Assim, será necessário apenas invocar a questão da precipitação dos suspensóides para que tenhamos enveredado pelo caminho explicativo da pretendida discrepância entre o gênio da água branca e o da preta. O Negro apresenta as suas águas com uma acidez real acentuada se comparada às do Amazonas. Em várias determinações, por nós e feitas, encontramos sempre um pH oscilante entre 5-6 para a do Negro. A diferença mínima de concentração iôntica verificada entre as duas águas explica perfeitamente o desequilíbrio do suspensóide argiloso das águas do Amazonas com pH até de 8. E quando entram em contato com as do Negro, surgindo daí o aspecto surpreendente do “encontro” com a visão nítida duma cortina a separar o inseparável, aqui e ali fremendo ao ímpeto dos gigantescos redemoinhos originados pelas enormes massas líquidas, de velocidades diferentes, a escoarem pelo canal único para o oceano.

O esforço dos pesquisadores do NCPAM continua e gostaríamos de contar com a colaboração de outras instituições e/ou pesquisadores que queiram contribuir para elaboração do Dossiê Encontro das Águas, enviando para nós referência relativa à temática em estudo ou quem sabe assinando determinado parecer sobre o nosso Colosso Amazônico.

O MAL-ESTAR NA UNIVERSIDADE


O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento geral.

Olgária Mattos (*)

A militarização do campus universitário da USP e a solução de conflitos através da força atestam o “esquecimento da política”, substituída pela ideologia da competência, entendida segundo o modelo da gestão empresarial, com seu culto da eficiência e otimização de resultados. Também a proposta mais recente da reforma da carreira docente e do projeto da implantação da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo), respondem, cada qual à sua maneira, à “produtividade”, os acréscimos salariais dos professores subordinando-se ao número de publicações e a seu estatuto — se livro, capítulo de livro, ensaio em revistas, se estas se ajustam ao “selo de qualidade” das agências de financiamento; número de congressos; soma de palestras; orientações de teses e dissertações e, sobretudo, se estas obedecem ao prazo preconizado, tanto mais exíguos quanto mais os estudantes chegam à Universidade desprovidos de pré-requisitos à pesquisa, como um conhecimento adequado do português para fins de leitura e escrita universitária, (guardadas as exceções de praxe), bem como acesso a línguas estrangeiras.

De fato, a Universidade se adapta às circunstâncias do ensino médio, e o mestrado pretende contornar as deficiências da formação no ensino médio (e fundamental também), que incidem nos anos de graduação, convertida em extensão do segundo grau. Professores e estudantes cedem precocemente a publicações, sem que haja nelas nada de relevante, e, ao mesmo tempo, devem freqüentar cursos ou prepará-los, realizar trabalhos correspondentes, desenvolver suas teses - uma vez que a quantidade consagra pontuações para futuras bolsas de iniciação científica ou aprovação de auxílios acadêmicos.

Quanto aos docentes, estes se ocupam cada vez mais com tarefas de secretaria, como preenchimento de planilhas, elaboração de relatórios, propostas de inovação em cursos não obstante ainda em vias de implantação, acompanhamento de iniciação científica, organização desses congressos, participação em atividades de iniciativa discente, preenchimento de pareceres on line de um número crescente de bolsistas, e por aí vai.

No que diz respeito ao ensino à distância, ele não responde à democratização da Universidade mas a sua massificação. O abandono da Universidade Cultural e sua substituição pela “Universidade da Excelência” ou do “Conhecimento” dizem respeito à dissolução do papel filosófico e existencial da cultura. Constrangido à pressa e ao atarefamento diário, o ócio necessário à reflexão e à pesquisa é proscrito como inatividade, os improdutivos comprometendo o princípio de rendimento geral. Este encontra-se na base da transformação do intelectual em especialista e da docência como vocação em docência como profissão.

O saber técnico é o do expert que transmite conhecimentos sem experiência, cujo sentido intelectual e histórico lhe escapa. Assim como no processo produtivo a proletarização é perda dos objetos produzidos pelos produtores e perda do sentido da produção, a especialização pelo know how é proletarização do saber. Por isso o especialista moderno se comunica por fórmulas, gráficos, estatísticas e modelos matemáticos. Foucault reconhece seu primeiro representante em Oppenheimer que enunciou o projeto Mannhathan - que levou à bomba-atômica - em termos simpaticamente técnicos.

A “Universidade do Conhecimento” perverte pesquisa em produção. Quanto à educação à distância, ela não significa um apoio ao conhecimento e seu acesso a regiões distantes, mas sim o fim de toda uma civilização baseada nos valores da convivência, da sociabilidade e da felicidade do conhecimento.

(*) Olgária Mattos é filósofa, professora titular da Universidade de São Paulo.

Fonte:http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=4382

segunda-feira, 26 de abril de 2010

RESPEITA-SE O IPHAN, MAS SEUS DIRIGENTES ESTÃO SOB SUSPEITA

José Mantins Rocha (*)

O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, conhecido pela sigla de IPHAN, foi criado em 13 de Janeiro de 1937, através da Lei no. 378, no governo de Getúlio Vargas; encontra-se, atualmente, contemplado pelo artigo 216, da Constituição Federal.

Na Carta Magna, define-se patrimônio cultural a partir de suas formas de expressão, de seus modos de criar, fazer e viver; das criações científicas, artísticas e tecnológicas; das obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados as manifestações artístico-culturais; e dos conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e cientifico.
A Constituição também estabelece que cabe ao Poder Público, com o apoio da comunidade, a proteção e gestão do patrimônio histórico e artístico do país.

O IPHAN é uma instituição pública frederal, ligada ao Ministério da Cultura, com mais de setenta anos de atuação no Brasil, merecedora do maior respeito como instituição.
Em Manaus, este órgão está em evidência, em decorrência da pendenga jurídica com o Ministério Público Federal do Amazonas – os dirigentes teimam em não cumprir a determinação do tombamento provisório do “Encontro das Águas” dos rios Negro e Solimões.

A instituição continuará com a sua luta pela preservação do nosso patrimônio cultural, os dirigentes passarão, poucos ficarão na história – os atuais, estão sob suspeição, o que é muito lamentável – o professor da UFAM e antropólogo Ademir Ramos escreveu o seguinte: “Depois da determinação da Justiça Federal suspendendo de imediata o licenciamento do Porto das Lajes, que beneficiava diretamente a empresa Lajes Logística S/A, que tem por traz a Log-In Logística intermodal, que é uma das controladas da Vale, a Liminar concedida pela Juíza da 3ª Vara Federal, Maria Lúcia Gomes de Souza, datada de 29 de março, obriga também o Instituto de Proteção Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a cumprir em 180 dias, (seis) meses, o Tombamento provisório do Encontro das Águas, salvaguardando a integridade física, estética, ambiental e cultural desse patrimônio, que muito significa aos Manauaras e para todo o ecossistema Amazônico. O IPHAN é réu no processo por prevaricar quanto à responsabilidade da conservação desse bem natural e cultural do povo brasileiro. Por essas e outras razões, o Ministério Público Federal ouvindo o grito do Movimento S.O.S. Encontro das Águas formalizou em juízo Ação Cautelar, reclamando pela proteção desse patrimônio que para os Amazonenses não tem preço, mas certamente, encerra em sua magnitude valor natural, cultural e identitário.Do momento em que a Liminar foi publicada, o superintende do IPHAN do Amazonas, Juliano Valente, tem afrontado a Justiça, dando entrevista dizendo que não está convencido de que a construção do Porto das Lajes vai de fato depredar o Encontro das Águas. Na Democracia, onde a Justiça é cultuada entre os poderes, a Lei deve ser cumprida, em particular pelos institutos republicanos e pelos Agentes Públicos. Quando não, se recorre da decisão para reparar tal erro a luz do Direto visando à plena realização da Justiça. A parcialidade do superintende do IPHAN do Amazonas é abominável. Por isso, a expectativa que tínhamos era que o presidente do IPHAN, Luiz Fernando de Almeida, quando aqui chegasse viesse para restaurar o diálogo com o Ministério Público e com a Sociedade Civil Organizada, que se manifesta por meio do Movimento Socioambiental S.O.S. Encontro das Águas.Tudo ilusão, parece que o vício é estrutural e a corrupção colocou de ponta cabeça os valores elementares republicanos. O presidente do IPHAN esteve na terça-feira (13) em Manaus, alugou um helicóptero e convidou para fazer parte de sua comitiva o lobista da empresa interessada em construir o Porto das Lajes nas imediações do Encontro das Águas. José Alberto Machado é sem dúvida o garoto propaganda do empreendimento, participa dos debates públicos defendendo abertamente o interesse da obra e fazendo questão de assumir compromisso com as empresas responsáveis".

O poder executivo de Manaus e o governo do Amazonas estão empenhados em preparar a cidade para ser a subsede da Copa do Mundo de 2014 – a revitalização do centro antigo é tema constante – O IPHAN terá um papel importantíssimo neste processo.

Ficam as perguntas que não querem calar:

O que será do centro antigo de Manaus em decorrência do não comprometimento (omissão) do atual superintendente Júliano Valente? E o que será do Encontro das Águas se o superintendente regional e o presidente nacional do IPHAN são favoráveis a construção do Porto das Lajes?

Apesar de todo o trabalho sério levado a cabo pelo IPHAN nestes setenta anos, ficamos a mercê de alguns maus brasileiros que foram guindados a direção deste importante orgão público, pois não estão nem ai para o patrimônio cultural e paisagistico brasileiro, o que interessa para eles é amealhar bens materais, o resto é resto!.

Todos nós, membros da socidade civil organizada, não iremos calar, o Movimento Ambiental S.O.S. Encontro das Águas continuará a lutar com todas as armas possíveis, para preservar o Encontro das Águas, juntamente com a Associação Amigos de Manaus, lutaremos pela revitalização do centro antigo de Manaus, não nos curvaremos aos desmandos e omissões do superintendente regional e do presidente nacional do IPHAM.

É isso ai!

(*) É Manauara da boa cepa, administrador formado pela UFAM, blogueiro e militante da AMANA e S.O.S. Encontro das Águas.

INTERLOCUÇÃO DAS CIÊNCIAS SOCIAIS COM O MEIO AMBIENTE


Nesta segunda-feira (26) às 9h, ainda sob chuva, os alunos de Ciências Sociais da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), sob a direção do professor Ademir Ramos, coordenador do NCPAM, foram a campo para promover uma interlocução com as práticas ambientalistas dos cientistas da área. O objetivo do trabalho de campo era ampliar o foco dos estudos da cultura, sociedade e política, visando estreitar relação com a questão ambiental, principalmente quando se tratar de elaboração dos projetos indutores de desenvolvimento da Amazônia. Para esse fim contou-se com a parceria do Centro de Projetos e Estudos Ambientais do Amazonas (CEPEAM), da Associação Soka Gakkai Internacional, que se localiza em uma área de 55 hectares, no bairro do Aleixo, na Zona Leste de Manaus, nas imediações do nossa majestoso Encontro das Águas, fenômeno natural e cultural, devendo ser tombado de imediato para se garantir a integridade desse patrimônio de inestimado valor histórico, cultural e econômico.

Na oportunidade contamos com a participação de liderança comunitária da Colônia Antonio Aleixo, Dona Maria do Carmo, que lembrou os tempos quando foi internada no hospital como hanseniana, bem como da vasta beleza da região que era riquíssima em peixes, chegando abastecer o restaurante do hospital colônia na época. Essa riqueza era extraída do Lago do Aleixo, que hoje agoniza de dor e sofrimento por causa da poluição promovida pela Distrito II do Pólo Industrial da Zona Franca de Manaus. Além de Dona Maria do Carmo estiveram presentes a professora Marisa Lima e a Lulu, secretário do Centro Social Educacional do Lago do Aleixo e assessora do Movimento S.O.S. Encontro das Águas. Para professora Marisa a luta em defesa do Encontro das Águas, não é apenas um dever dos moradores conscientes dessa paragem, mas de todos que pensam e agem de forma responsável em relação ao meio ambiente amazônico. Dona Maria do Carmo encerrou sua fala fazendo uma declaração de amor ao meio ambiente.

Numa das trilhas da Reserva Particular do Patrimônio Natural do CEPEAM, o ecólogo Akira Tanaka explica aos alunos de ciências sociais a densidade da fauna e da flora já classificada por pesquisadores no ambiente de pesquisa da Reserva. Ao mesmo tempo desafia os estudantes a se integrarem nesse esforço para diagnosticar e proteger essa biodiversidade tanto da floresta como também presentes nas águas inseridas nos ecossistemas local porque, somente assim estaremos realmente protegendo a Amazônia, que ainda carece muito de pesquisa em todas os campos do conhecimento, tendo para nós um valor estratégico.

Para o cumprimento de nossos objetivos contamos com o apoio do setor de transporte da Prefeitura do Campus Universitário, que disponibilizou ônibus, confortável, para o deslocamento dos alunos. Entre alunos e professores contamos com a presença de 40 participantes, que deverão fazer um denso relatório de campo a ser apresentados como conteúdo programático da disciplina de introdução à ciência política, destacando sobretudo, a implementação de políticas públicas e a conservação ambiental nos arredores de Manaus, considerando os relatos apresentaos pelos militantes do Movimento Socioambiental S.O.S. Encontro das Águas.


Finalizando o trabalho de campo, os alunos de ciências sociais da UFAM subiram até o mirante do CEPEAM, de onde admiraram a infinita beleza do magnífico Encontro das Águas e para o momento registraram também em foto sua presença no local, tendo por cenário o fenômeno que para os manauaras muito significa para afirmação de sua história cultural e quem sabe possa representar também uma alternativa econômica se, em vez de depredá-lo, os governantes responsáveis venham investir em políticas de promoção do ecoturismo conjugado com pesquisa e inovação de tecnologia ambiental, criando condições para que os empresários do setor possam investir na área gerando trabalho e renda.

TOP BLOG 2010: NCPAM E O ANO DA BIODIVERSIDADE

Uma das preocupações constantes do Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas (NCPAM/UFAM) diz respeito à questão ambiental e da biodiversidade amazônica. Manifestação esta consagrada em defesa do Tombamento do Encontro das Águas (do rio Negro com o Solimões) contrário a construção do Terminal Portuário da Lajes.

Neste sentido, o NCPAM vem discutindo e promovendo em quase quatro anos de atuação, o debate acerca dessa matéria no meio eletrônico, dando informe de suas ações acadêmicas junto às comunidades, buscando esclarecer os internautas interessados em compreender um pouco mais sobre a Amazônia e sua complexidade temática, cultural, ambiental e política. Desta forma, torna-se preponderante a verticalização desse tema, uma vez que presenciamos em 2010 o Ano Internacional da Biodiversidade, onde cientistas, intelectuais, atividades e simpatizantes da causa passam a se preocupar cada vez mais com a matéria da biodiversidade frente aos novos contextos que se apresentam.

Tendo por referência este momento, o portal Top Blog – plataforma interativa e coletiva que visa agregar e divulgar os trabalhos dos blogs mais populares do país – apresenta-se neste contexto, com a proposta coletiva de se discutir a temática da biodiversidade por meio de sua rede interativa, agregando idéias, conteúdos e plataforma diversa em torno do tema gerador. Além disso, como já se tornou prática desta rede, o Prêmio Top Blog 2010 (que há tempo vem premiando e reconhecendo o trabalho das mais diversas mídias sociais conectadas na internet brasileira) destaca em seu regulamento o debate em torno da matéria da biodiversidade.

Deste modo, o NCPAM/UFAM, que desde 2009 faz parte da “blogosfera” formada pelo Top Blog, apresenta-se mais uma vez como candidato a esta premiação anual, buscando contribuir, dessa feita, para a difusão do conhecimento via internet, articulando idéias e saberes à esta rede interativa, numa tentativa de aproximar cada vez mais o pensar compartilhado pelos blogueiros deste país. Além disso, a premiação contempla uma temática comum aos nossos textos postados, o que nos deixa confortável em aprofundar cada vez mais nossas análises. Cientes de nossa importância como o 3º maior blog corporativo de política, premiação dada pela iniciativa em 2009, temos certeza de que a qualidade de nossos textos precisa ser cada vez mais aprimorada, pois, se queremos nos tornar relevantes no cenário amazônico e, porque não, brasileiro, precisamos nos posicionar com responsabilidade e compromisso frente às questões que nos inquietam e instigam diretamente. É essa contrapartida que esperam os associados ao Portal Top Blog.

No que diz respeito à premiação deste ano, o Top Blog 2010 abrirá espaço para votação online nos blogs cadastrados a partir do dia 06/05/2010 até 06/10/2010 (primeiro turno). Em seguida, escolhidos os 100 (cem) melhores blogs de cada grupo e categoria, abrir-se-á espaço para votação do júri especializado onde se escolherão os Top 03 de cada grupo e categoria. Contamos com a votação de todos os internautas que nos acompanham e saibam que suas manifestações são importantes para nós. Por isso, não esqueçam de votar no NCPAM para o fortalecimento da luta sociambiental no Amazonas.

Foto: Alunos de Ciências Socias da UFAM em trabalho de campo no Centro de Projetos e Estudos Ambientais do Amazonas.

domingo, 25 de abril de 2010

ELEGIA DO ADEUS (Para Anísio Mello)


Tenório Telles (*)

Este canto é para celebrar
não a tua ausência
ou o teu corpo silencioso,
frágil e despovoado de sonhos.

Este canto é para celebrar
o que deixaste plantado
no coração dos amigos,
dos familiares e filhos:
nos jardins de todos
que te quiseram bem.

Este canto é para celebrar
teu coração generoso
e o menino que o habitava
- que resistia a ficar grande
com a casmurrice dos adultos.

Caminhante dessas r(o)tas,
cumpriste a travessia:
carregando no peito a
delicadeza das flores
e no ser, sonhos que, como
pássaros,
fugiram para longe - e te
acompanham
nessa que será a viagem
definitiva
dessa travessia feita de perdas,
de dores, sonhos, de anseios
que poderiam ter sido...
-flores caídas no bosque da
existência.

Aqui jaz teu corpo,
que como um passarinho
abatido pela sorte inglória,
acolhe a ternura e proteção
dos que te acompanharam
e choram tua partida.

O que fica de ti
é essa lembrança
de saudade e dor.
O que fica de ti
é o testemunho de uma vida
feita de simplicidade e trabalho.
O que fica de ti
é a delicadeza e humanidade
dos versos que nasceram das
tuas mãos.
O que fica de ti
é a gratidão de todos
que aprenderam contigo
o milagre da criação:
de dar forma ao informe
de dar vida ao inefável.

O que fica de ti
são as grandes janelas
da velha casa
onde tua mão te ensinou
a sonhar e brincar com as cores
do arco-íres.

A mesa onde ensinavas
a magia ds cores aos teus
alunos
e recebias com pão e vinho os
amigos.

A velha maquina onde
imprimias tuas palavras
- agora silenciosa e órfã dos
teus sentimentos,
do teu poder de encantamento.

Vai bom amigo e cumpre
com a coragem e serenidade
habituais
essa última imposição do
destino.
Que a tua chegada à outra
margem
desse mar de náufragos
seja tranquila e que os ventos
protetores te conduzam.

O que levas é o que deixas:
Tua poesia,
as cores com que
enalteceste a vida,
os teus amigos.
Deixas especialmente
teu exemplo de bandade.

Vai em paz, bom amigo.
Em mim fica o testemunho
da tua passagem
por este mundo
- precário mundo:
(deserto de esquecimento,
cidadela de solidão,
jardim de silêncio
- de lírios brancos
- de rubrs rosas
- de agudos cardos)

Em que somos matéria e
sonho,
sangue e poesia: forma em
construção.

(*) É professor, editor, poeta, articulista de a Crítica e membro da Academia Amazonense de Letras.

Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello morreu no dia 11 de abril de 2010 o artista plástico, escritor e professor amazonense. Anísio Mello nasceu em Itacoatiara, no dia 21 de junho de 1927. Viajou, durante a infância, pelo interior do Estado do Amazonas, companhando o pai, que era juiz. Transferiu-se para São Paulo, onde concluiu o bacharelado em Letras, na Faculdade Anchieta. Retornou a Manaus, onde dirigia o Liceu de Artes Esther Mello (homenagem a sua mãe) - na rua Joaquim Nabuco -, onde ministrou aulas de pintura. Entre suas obras poéticas estão: Lira nascente (Manaus, 1950), Minhas vitórias-régias (Manaus, 1952), Estrelas do meu caminho (São Paulo, 1962), Festa geral (São Paulo, 1977), Vibrações (São Paulo, 1981), Sexagésima Stella (Manaus, 1992).

sábado, 24 de abril de 2010

O PT E AS PRÁTICAS DAS INSTITUIÇÕES TOTAIS

Uma instituição total assemelha-se a uma escola de boas maneiras, mas pouco refinada. Gostaria de comentar dois aspectos dessa tendência para multiplicação de regras ativamente impostas. (Goffman)

As práticas políticas provocam nos seus intérpretes múltiplas representações às vezes para explicar ou para confundir determinadas opções partidárias manifesta pelo comportamento de suas lideranças. A prática do PT não é diferente.

Por ordem do “companheiro Lula” o PT nacional bateu martelo em favor de um palanque único em todo território nacional. No norte do Brasil, o cumprimento dessa ordem está difícil de ser operacionalizada e cumprida devida as relações oligárquicas regionais e, sobretudo, pelo compromisso que o partido assumiu com tais lideranças, inclusive, participando não só das eleições, mas da própria máquina administrativa dos candidatos eleitos.

Nada contra. No entanto, o PT no Amazonas até hoje, não se constituiu como um partido de densidade eleitoral construindo um projeto próprio de poder. Ao contrário, o partido tem servido de escada para eleger candidatos que até pouco tempo eram espúrios as alianças da classe trabalhadora. O novo foco do partido tem sido as massas, o que minimiza seu viés ideológico em proveito das benesses do poder.

No Amazonas, está comprovado que a vitória estrondosa do “companheiro Lula” não foi mérito do seu partido. Sua aceitação popular também não. O PT no Estado pouco ou quase nada tem feito para merecer da Direção Nacional respeito e confiança. A presença do José Dirceu por essas paragens é prova inconteste de que os dirigentes locais são inconfiáveis e oportunistas.

Mas, a ordem é construir um palanque único. E como o PT no Amazonas não tem projeto de poder, bem diferente dos dirigentes que pretendem continuar mamando nas tetas do governo, o seu comportamento tem sido reprovável pela Direção Nacional.

Por isso, impera o torniquete político como instrumento real e objetivo para asfixiar os arrivistas que por vezes instrumentalizaram o partido e de forma vacilantes descuidaram de investir em candidatura própria tanto para o parlamento como para o executivo municipal e estadual.

Ademais, a ordem do dia da Direção Nacional torna-se lei no Amazonas porque o partido não tem capital eleitoral para contrapor o mando. E, assim como a tendência dominante transformou o PT no partido de massa irá também, conceituar sua agremiação pelos ditames do centralismo democrático, primando por resultados quantitativos eleitorais. É a velha regra: quem não tem projeto marcha à sombra do outro.

No entanto, a institucionalização do palanque único, embora esteja respaldado no mando de campo do “companheiro Lula” pode implodir o PT, transformando-o num meteoro perdido no universo eleitoral pronto a desabar, causando graves danos na candidatura majoritária do partido.

Pior do que o palanque único é a prática política fundada no pensamento único - “onde não se pensa, faz” - convertendo seus militantes em tarefeiros do comando dirigente. Dessa feita, imobiliza e reduz o partido no autoritarismo das instituições totais.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

JORGE, SANTO GUERREIRO

São Jorge é o santo patrono da Inglaterra, Portugal, Geórgia, Catalunha, Lituânia, da cidade de Moscou e, extra-oficialmente, da cidade do Rio de Janeiro (título oficialmente atribuído a São Sebastião), além de ser padroeiro dos escoteiros e do S.C Corinthians Paulista. No dia 23 de Abril comemora-se seu martírio. Ele também é lembrado no dia 3 de novembro, quando, por toda parte, se comemora a reconstrução da igreja dedicada a ele, em Lida (Israel), onde se encontram suas relíquias. In.:wikipedia

Luciney Araújo (*)

No Brasil e no mundo todo, este arquétipo do guerreiro sagrado é lembrado, independente da religião. Cada povo e cada cultura tem o seu guerreiro: Para os Hindus Senhor Krisna ensinou a Arjuna a guerrear. A tradição Judaico-Cristã lembra mais de uma centenas de vezes que JHV é o Senhor da Guerra. No Candomblé, com suas raizes em tradições africanas, Deus se manifesta como guerreiro personalizado na pessoa de Nkosi/Ogum/Gun, e assim vai...

Mas o que devemos entender é que tudo isto nos lembra que Deus se manifesta, também, com uma personalidade guerreira, que os cristãos católicos (Romanos, Ortodoxos, Anglicanos, Gregos, etc.,) viram na personalidae mítica do guerreiro Jorge, a manifestação de Deus contra o mal.

Claro que São Jorge não se firma historicamente (apesar de inscrições antigas e dos primeiros seculos do cristianismos registrarem já seu culto), mas o que interessa é a idéia que ele nos desperta.

Então, enquanto lembramos hoje de São Jorge Guerreiro, de Arjuna, de Nkosi/Ogm/Gun de JHV; tenhamos em mente a luta que cada um de nós tem que travar para nos melhorar internamente e nos içar em direção a realização divina.

Que não seja para nos incentivar a violência nem para invocar esta ernergia como nosso cão de guarda vingando a todos que julgamos nos fazer mal, mas para nos dar força para vecermos o mal em nós mesmo, implantando assim o bem e a ação não violenta ( o que não significa omissão sem consciência).

A guerra, no contexto do sagrado deve sempre ser entendida como uma ação interna, pessoal e sempre pacificadora. Senão vejamos quando a mensagem da revelação de Deus para os Cristãos (Jesus o Cristo) dizia: "não penses que vim trazer a paz, mas a guerra..." em outro momento ele dizia: "se te pedires a capa, dê também o manto, se te baterem na face esquerda, ofereça a direita, se te forçares andar uma milha, vai até a metade do caminho..." É sempre assim. Todas as revelações divinas nos lembam da guerra, para nos lembrar da necessidade da paz que cada um de nós deve construir internamente e externamente.

Pela paz no mundo, Salve Jorge,
Pela paz em nós, Salve Jorge,
Pela paz entre as religiões, Salve Jorge,
Pela força para vencermos os nossos conflitos; Salve Jorge;
Pela foça para acalmarmos o nosso interior; Salve Jorge;
Pela nossa ação de não violência; Salve Jorge.
Por um agir guerreiro, mas pacificador, Salve Jorge; e
Por você e por mim; Salve Jorge!

Saravá Ogum na Umbanda e no Candomblé. Que os caminhos da paz, da prosperidade, do amor, da saúde e da realização espiritual sejam abertos!

Salve a paz que se faz pela guerra interior, cada um vencendo a sim próprio!!!!

(*) É Pesquisador do NCPAM em terras acreanas e especialistas em religião afro.

NA POSSE DO TSE, PRESIDENTE DA OAB RECLAMA POR REFORMA POLÍTICA DURADOURA

O presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil, Ophir Cavalcante, afirmou ontem, quinta-feira (22) que o Congresso Nacional continua devendo à sociedade brasileira "uma reforma política duradoura, ao invés de leis de ocasião para atender uma eleição específica". A afirmação foi feita durante solenidade de posse do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Ricardo Lewandowski, e da vice-presidente, ministra Cármen Lúcia Antunes Rocha.

No discurso, Ophir fez um apelo aos congressistas para que ninguém mais peça vistas do projeto da reforma eleitoral, que está emperrado na agenda nacional desde 1930. Para que se tenha uma ideia das dificuldades em relação à aprovação da reforma política, o presidente nacional da OAB citou o projeto Ficha Limpa, de iniciativa popular, "que enfrenta terríveis resistências em sua tramitação na Câmara dos Deputados".

Mas, segundo ele, tais dificuldades não intimidam a sociedade civil, "ao contrário, nos estimula a continuar a caminhada em defesa da ética na política para que tenhamos representantes compromissados com os ideais republicanos". Nesse sentido, enfatizou que cumpre ao TSE "a missão institucional de separar o joio do trigo, afastando dirigentes e governantes que praticam abusos, ao cabo do devido processo legal: este é um fundamento vital ao Estado democrático de Direito".

O que ameaça a democracia é a distância que separa uma elite privilegiada dos excluídos e despossuídos de quase tudo. Pois a democracia se fundamenta na igualdade. Leia na íntegra o pronunciamento do Presidente da OAB Naconal, Ophir Cavalcante:

Senhoras e Senhores,

Venho a esta tribuna para saudar, em nome da Advocacia brasileira, os Ministros Ricardo Lewandows e Cármen Lúcia Antunes Rocha, que assumem, respectivamente, a Presidência e Vice-Presidência do Tribunal Superior Eleitoral.

Desta tribuna, a Ordem dos Advogados do Brasil expressa o sentimento da sociedade civil, de um povo que a cada eleição renova suas esperanças por um país menos desigual e mais justo. A verdadeira ameaça à democracia não é um político corrupto. Contra este temos alguns antídotos, como vimos recentemente. O que ameaça a democracia é a distância que separa uma elite privilegiada dos excluídos e despossuídos de quase tudo. Pois a democracia se fundamenta na igualdade.

Nas eleições de outubro estaremos pondo novamente à prova nossa capacidade de transformar esse preceito numa realidade histórica. Não é tarefa da noite para o dia. Leva anos, talvez décadas. E a Justiça Eleitoral cumpre um papel de alta relevância nessa trajetória, seja pela interpretação e aplicação das leis, seja pelo seu caráter pedagógico, a despertar na sociedade o sentimento cívico de participação.

Embora, ressalvo, algumas decisões sejam tomadas sob uma lógica de difícil compreensão, como os efeitos suspensivos em recursos em que um governante é afastado durante o dia e reentronizado ao cargo à noite. Ou quando nos deparamos com liminares que se eternizam em processos, cujo mérito nunca se discute. Ou ainda quando a morosidade, em certos processos, parece não ter fim.

Mas essas questões ensejam um debate hermenêutico, e este não é o caso, nem o momento.
Enquanto vemos na política o caminho para as transformações sociais, cumpre o Tribunal Superior Eleitoral sua missão institucional de separar o joio do trigo, afastando dirigentes e governantes que praticaram abusos, ao cabo do devido processo legal. Ao mesmo tempo, refreando atitudes intempestivas de políticos em períodos pré-eleitorais. Este é um fundamento vital do Estado democrático de Direito.

No entanto, não podemos generalizar, pois generalizações levam a injustiças, e reconhecemos que existem políticos sérios a honrar seus mandatos. Nossas críticas são pontuais e nosso objetivo é tão-somente construir uma nação com balizamentos éticos em todos os setores da administração, pública e, por que não, privada.

Sendo críticos, no sentido de cobrar resultados, não podemos escapar essa oportunidade e dizer: o nosso Congresso Nacional ainda nos deve uma reforma política duradoura, ao invés de leis de ocasião para atender uma eleição específica.

Chega a ser risível o contraste entre a revolução tecnológica que nos permitiu a urna eletrônica e o político que oferece uma dentadura em troca do voto. O atraso não está apenas no gesto, aliás, no crime. O atraso também se revela nas opções erradas do passado, de concentrar renda, ao invés de permitir a distribuição; de montar uma infra-estrutura econômica ao invés de uma infra-estrutura social; de privatizar o ensino, ao invés de universalizar o conhecimento...E então chegaremos à boca sem dentes, aos pés descalços, aos sem-camisa, sem teto e sem pão.

É este abismo que faz do poder econômico um anacronismo do processo eleitoral contemporâneo. Uma reforma política profunda e abrangente não pode deixar de contemplar o instituto do financiamento das campanhas, que a nosso ver deve ser público, transparente, com controle social para evitar os famigerados "caixas dois", que compram não apenas os dentes, mas a própria alma dos políticos inescrupulosos.

Uma reforma política profunda e abrangente para fortalecer os partidos políticos, os quais, de eleição em eleição, perdem seus representantes em razão da insatisfação do eleitor com o desempenho do seu candidato. Se tivéssemos maior visibilidade das legendas e do quadro partidário, a identificação dos Partidos com propostas e ações no curso da história, talvez tivéssemos outra configuração nessa questão.

Nunca é demais lembrar que a reforma política está na agenda nacional desde 1930, quando se falou pela primeira vez em sanear o processo eleitoral. No golpe de 1964, foi novamente invocada para justificar a derrubada do governo. Reapareceu na Constituição de 1988 e prossegue nos dias atuais. Fazemos um apelo para que ninguém mais peça vistas a esse processo.

Para que se tenha uma idéia das dificuldades em relação à reforma política, o projeto "Ficha Limpa", de iniciativa popular, enfrenta terríveis resistências em sua tramitação na Câmara dos Deputados. Mas isto não nos intimida, ao contrário, nos estimula a continuar a caminhada em defesa da ética na política para que tenhamos representantes compromissados com os ideais republicanos.

No início desta oração classifiquei como verdadeira ameaça à democracia o regime de apartação, o abismo entre os privilegiados e os despossuídos.

Agora acrescento que o simples gesto de confirmar o voto na urna, nas circunstâncias da realidade em que vivemos, não é garantia para o Estado democrático de Direito em nosso País. Há que se estabelecer salvaguardas ao cidadão para uma efetiva igualdade na escolha dos candidatos.

Esta é uma responsabilidade que se impõe ao TSE, de forma a garantir o direito à participação política em sua plenitude, nos exatos termos do que preconiza o Artigo 21 da Declaração Universal dos Direitos Humanos : "A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade será expressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por voto secreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto."

Lembro, neste momento, as palavras de Adolfo Perez Esquivel, prêmio Nobel da Paz, segundo as quais a Declaração Universal dos Direitos Humanos deve se transformar em uma cultura da tolerância e respeito para com o próximo. Segundo ele, a prática democrática deve estar integrada aos planos educativos do país, pois somente assim o povo deixará de ser espectador para assumir o papel de protagonista de sua própria vida e de sua própria história.

Vossa Excelência reúne todas as qualidades para o comando desta Corte numa quadra tão decisiva de nossa vida política. Além de uma trajetória impecável, no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo pelas portas da Advocacia, o que muito nos honra, e consolidada no Supremo Tribunal Federal, o Sr. por diversas ocasiões mostrou-se sintonizado com os ideais da Ordem dos Advogados, razão pela qual, desde já, faço o convite público para uma conversa franca com o Conselho Federal, cujos membros estão empenhados em contribuir para uma efetiva fiscalização do processo eleitoral de outubro, ao lado das respectivas Seccionais que representam.

Vossa Excelência tem o nosso reconhecimento pela enorme contribuição prestada para o fortalecimento da Justiça Eleitoral. A firmeza das opiniões manifestadas enquanto presidiu a Corte revelaram que o magistrado pode (e deve) ser firme na defesa do direito e da Justiça, sem no entanto perder a candura poética que o caracteriza.

Por fim, sejamos protagonistas da emocionante história de nosso País, lutando pelo voto consciente e comprometido. A verdadeira reforma eleitoral não está só na lei, mas sim no homem, que eleito deve ter a consciência de que é um servidor da sociedade, a quem deve, permanentemente, prestar contar de seus atos e de tudo que usufrui em termos de estrutura que o dinheiro público lhe oferece.

O voto legitima o homem público, mas por si só não irá moldar o seu caráter, cujo julgamento dependerá exclusivamente de seus próprios atos.

Deus os ilumine.
Muito obrigado.

Fonte: OAB Nacional

quinta-feira, 22 de abril de 2010

TV ABERTA NO AMAZONAS E A PROGRAMAÇÃO UNIVERSITÁRIA

Os canais abertos de TV no Amazonas, pouco ou quase nada fizeram para contribuir com a produção do conhecimento numa perspectiva social, investindo na qualidade temática dos programas, que promovam a formação e a valorização da cultura do povo dessas paragens. Bem que poderiam fazê-los se não vendessem seus horários para os justiceiros da mídia, que transformam os meios em cenários populistas e cinicamente manipulam a miséria do povo visando unicamente resultados eleitoreiros.

Saibam que esses canais de TV são concessões amparadas pela Constituição Federal (Art. 21, XII, a) e que, em seus contratos temporais estão lavrados termos de responsabilidades desses prepostos quanto à prestação de serviço de boa qualidade em atenção à formação e a informação, devendo ser, por sua vez suprapartidários e impessoais.

No entanto, agem como se fossem donos e promovem uma cultura patrimonialista afrontando o povo com programações descabidas, violentando a ordem constitucional prescrita em seu Art. 221, quando afirma que: “A produção e a programação das emissoras de rádio e televisão atenderão aos seguintes princípios: I – preferência a finalidade educativas, artísticas, culturais e informativas; II – promoção da cultura nacional e regional e estímulo à produção independente que objetive sua divulgação; III – regionalização da produção cultural, artística e jornalística, conforme percentuais estabelecidos em lei; IV – respeito aos valores éticos e sociais da pessoa e da família.

A produção desses canais de TV no Amazonas, com certas exceções, virou caso de polícia, agregando forças políticas eleitoreiras sob guarda da banda podre dessa guarnição que deveria servir de guarida para o povo. Ao contrário, suspeita-se até que sob seu manto cresce nesse meio a lavagem de dinheiro, o crime e o avanço do narcotráfico.

TVUFAM

Nesse contexto da desinformação foram criados os canais a cabo para atender determinados interesses de segmentos sociais corporativos às vezes com o mesmo viés da TV aberta, o que é um grande equívoco.

A TVUFAM, impropriamente assim denominada, deve ser expressão do segmento Universitário do Amazonas. Por isso, a designação mais apropriada é de uma TV Universitária, agregando todas as forças acadêmicas local para oferecer ao público de Manaus o melhor de sua produção científica e paradidática.

Contudo, a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) tomou para si tal responsabilidade e há cinco anos - via NET - vem gerenciando esse instrumento sob a sua marca. No entanto, seus gestores estão fazendo todos os esforços para agregar as demais Instituições de Ensino Superior no Amazonas para compartilhar responsabilidades e competências.

A soma desses esforços deverá sem dúvida gerar um canal alternativo capaz de oferecer programação de qualidade ao público da NET. Entretanto, lamenta-se que a empresa não tenha ampliado sua rede nos bairros de Manaus, restringindo cada vez mais o seu acesso.

Enquanto isso, a TVUFAM reclama por um projeto de TV Universitária, o que implica diretamente em novos investimentos e na atuação de novos parceiros. Em seu plano estratégico, até junho a locação da TV estará inserida no complexo do Campus Universitário, oferecendo melhores condições de trabalho para seus produtores culturais.

O NCPAM, em parceria com a TVUFAM Canal 7 analógico e 27 digital pela NET, todas as sextas-feiras às 19h tem produzido e apresentado o Programa Na Terra de Ajuricaba. Programa de debate centrado no desenvolvimento sustentável e cognitivo, visando compreender a formulação dos problemas sociais, culturais e econômicos com propósito de contribuir para o controle social das políticas públicas.

Nessa sexta-feira (23), o debate é sobre a História Social da Amazônia com o professor Luis Balkar Sa Peixoto Pinheiro, do Departamento de História da UFAM. O professor Balkar estará debatendo com o professor Ademir Ramos, apresentador do Programa Na Terra de Ajuricaba, sobre os seguintes temas: Trabalho, Movimentos sociais, Cabanagem, Imprensa, visando compreender a História da Amazônia na interlocução com os demais campos das Ciências Sociais.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

ENCONTRO DAS ÁGUAS: "BELEZA VIVA DA NOSSA CULTURA"


Filho da floresta, água e madeira, voltei para ajudar na construção do morada futura. Raça de âmagos, um dia chegarão as proas claras para os verdes livrar da servidão.

Thiago de Mello


Na tarde de ontem (20), o GT de Articulação do Movimento S.O.S. Encontro das Águas contra o Porto das Lajes se reuniu em Manaus, nos altos da Livraria Valer, para avaliar o avanço das lutas em favor do Tombamento do nosso magnífico Encontro das Águas e, ao mesmo tempo, definir novas táticas para garantir a ordem judicial que obriga o Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) a promover de imediato o Tombamento desse bem público, que muito significa para os ecossistemas Amazônicos como também para a nossa história, cultura e economia.

Participaram do encontro o professor e escritor Tenório Telles, o laureado poeta Thiago de Mello, a bióloga Elisa Wandelli e o professor Ademir Ramos. Na oportunidade, como nos velhos tempos, fez-se uma análise de conjuntura para identificar os atores e sua trama no conjunto dos interesses envolvidos. Dessa avaliação resultaram alguns encaminhamentos que visam ainda mais o fortalecimento do Movimento S.O.S. Encontro das Águas.

O poeta Thiago de Mello está convencido que é necessário ampliar muito mais a luta recorrendo aos meios de comunicação local, nacional e internacional para que todos possam ver "o quanto é belo esse fenômeno que se faz único, conduzindo os homens e mulheres ao imaginário representativo de nossas culturas. Essa manifestação de beleza e paz deve começar a se manifestar nas fábricas, escolas e universidades, terminando num grande ato público pelas ruas de Manaus. A defesa desse bem tem que constar na Agenda de luta dos trabalhadores, estudantes e demais segmentos promotores do desenvolvimento humano".

A Lira do poeta tem por fim acordar os homens e mulheres desatentos que por vícios se deixaram vencer pelo tédio da mesmice do cotidiano. De pé e atentos esses amazônidas poderão reverter o curso das coisas em direção a um meio ambiente equilibrado capaz de assegurar a todos (as) modos de vida dignos e saudáveis em respeito ao outro e a própria natureza viva que se faz presente na economia do bem estar sustentável.

A discussão do GT se prolongou por mais de duas horas, quando se definiu uma agenda de trabalho contemplando várias frentes de luta, articulando forças juntos aos intelectuais dos países amazônicos vindo a participar efetivamente da defesa desse patrimônio material e simbólico, que há muito tempo tem morada no universo poético, assim como na literatura universal. Nesse contexto, Thiago de Mello lembrou-se do comportamento do renomado escritor Gabriel Garcia Márquez, quando se deparou com o Encontro das Águas exclamou: é um assombro!!!!

Além dessas articulações deve-se também agendar audiência com o Ministro da Cultura, Juca Ferreira, visando salvaguardar o IPHAN do Amazonas da instumentalização política em favor dos interesses privados. Para nós, que há muito trabalhamos com a cultura, o IPHAN deve está acima de qualquer interesse particular. O Instituto é um legado, não devendo ser reduzido a moeda de troca à mercê dos interesses eleitoreiros.

Formatada a nossa Agenda de Trabalho, o poeta Thiago de Mello informou a todos que concluiu o verbete do Encontro das Águas, parte integrante do ABC da Floresta Amazônica, obra que pretende lançar ainda este ano. O poeta finalizou a reunião do GT de Articulação do Movimento S.O.S. Encontro das Água, enviando a todos (as) os manauaras a seguinte mensagem: saibam meus irmãos que a Luz da Aurora é muito maior do que a ganancia e arrogância de alguns homens.... e pior do que brincar com fogo é brincar com as águas. Portanto, estejamos todos unidos pelo Tombamento do nosso Encontro das Águas, beleza viva de nossa cultura.

terça-feira, 20 de abril de 2010

MANIFESTAÇÃO DE AGRADECIMENTO


Em Nome da Expedição Manaus - Belém de Caiaque - Quero agradecer a Todos envolvidos no Encontro que aconteceu hoje (20) pela Manhã na Reserva Soka Gakai, no Encontro das Águas, entre os expedicionários canoístas e os representantes do Movimento S.O.S. Encontro das Águas, onde fomos recepcionados da forma mais calorosa e simpática, onde pudemos compartilhar a vontade de se fazer algo em Pró do Meio-Ambiente, e pelas comunidades ribeirinhas da região Amazônica!

Nosso Muito obirgado, certos de um andamento das ações em preservar os últimos resquisicios naturais aos redores de Manaus, fiquem certos de nossa ajuda, pois o objetivo principal da canoagem é proteção do homem e meio ambiente

Saudações Canoísticas

Marcelo da Luz
Presidente da FAC

Foto: Valter Calheiros