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Tenório Telles (*)
Este canto é para celebrar
não a tua ausência
ou o teu corpo silencioso,
frágil e despovoado de sonhos.
Este canto é para celebrar
o que deixaste plantado
no coração dos amigos,
dos familiares e filhos:
nos jardins de todos
que te quiseram bem.
Este canto é para celebrar
teu coração generoso
e o menino que o habitava
- que resistia a ficar grande
com a casmurrice dos adultos.
Caminhante dessas r(o)tas,
cumpriste a travessia:
carregando no peito a
delicadeza das flores
e no ser, sonhos que, como
pássaros,
fugiram para longe - e te
acompanham
nessa que será a viagem
definitiva
dessa travessia feita de perdas,
de dores, sonhos, de anseios
que poderiam ter sido...
-flores caídas no bosque da
existência.
Aqui jaz teu corpo,
que como um passarinho
abatido pela sorte inglória,
acolhe a ternura e proteção
dos que te acompanharam
e choram tua partida.
O que fica de ti
é essa lembrança
de saudade e dor.
O que fica de ti
é o testemunho de uma vida
feita de simplicidade e trabalho.
O que fica de ti
é a delicadeza e humanidade
dos versos que nasceram das
tuas mãos.
O que fica de ti
é a gratidão de todos
que aprenderam contigo
o milagre da criação:
de dar forma ao informe
de dar vida ao inefável.
O que fica de ti
são as grandes janelas
da velha casa
onde tua mão te ensinou
a sonhar e brincar com as cores
do arco-íres.
A mesa onde ensinavas
a magia ds cores aos teus
alunos
e recebias com pão e vinho os
amigos.
A velha maquina onde
imprimias tuas palavras
- agora silenciosa e órfã dos
teus sentimentos,
do teu poder de encantamento.
Vai bom amigo e cumpre
com a coragem e serenidade
habituais
essa última imposição do
destino.
Que a tua chegada à outra
margem
desse mar de náufragos
seja tranquila e que os ventos
protetores te conduzam.
O que levas é o que deixas:
Tua poesia,
as cores com que
enalteceste a vida,
os teus amigos.
Deixas especialmente
teu exemplo de bandade.
Vai em paz, bom amigo.
Em mim fica o testemunho
da tua passagem
por este mundo
- precário mundo:
(deserto de esquecimento,
cidadela de solidão,
jardim de silêncio
- de lírios brancos
- de rubrs rosas
- de agudos cardos)
Em que somos matéria e
sonho,
sangue e poesia: forma em
construção.
(*) É professor, editor, poeta, articulista de a Crítica e membro da Academia Amazonense de Letras.
Anísio Thaumaturgo Soriano de Mello morreu no dia 11 de abril de 2010 o artista plástico, escritor e professor amazonense. Anísio Mello nasceu em Itacoatiara, no dia 21 de junho de 1927. Viajou, durante a infância, pelo interior do Estado do Amazonas, companhando o pai, que era juiz. Transferiu-se para São Paulo, onde concluiu o bacharelado em Letras, na Faculdade Anchieta. Retornou a Manaus, onde dirigia o Liceu de Artes Esther Mello (homenagem a sua mãe) - na rua Joaquim Nabuco -, onde ministrou aulas de pintura. Entre suas obras poéticas estão: Lira nascente (Manaus, 1950), Minhas vitórias-régias (Manaus, 1952), Estrelas do meu caminho (São Paulo, 1962), Festa geral (São Paulo, 1977), Vibrações (São Paulo, 1981), Sexagésima Stella (Manaus, 1992).
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