sexta-feira, 30 de abril de 2010

IRMÃ CREUZA: MÁRTIR DA CAUSA INDÍGENA NO AMAZONAS

Victório Henrique Cestaro (*)

As Irmãs Missionárias Agostinianas Recoletas, há muitos anos residentes em Manaus com o fito de, entre outros serviços próprios da sua Instituição, prestarem todo apoio às suas co-Irmãs, residentes nas Missões de Lábrea, no Rio Purus, celebraram, no dia 25 do corrente mês de abril, a passagem dos vinte e cinco anos da morte da IRMÃ CREUZA CAROLINA RODY CARVALHO, aos 52 (cinqüenta e dois) anos de idade, martirizada em ação de defesa da causa indígena, jogada, morta ou viva, nas águas do Rio Passiá, afluente do médio Rio Purus.

Seu cadáver foi encontrado, após 05 (cinco) dias do seu desaparecimento, todo desnudo, já decomposto, dando a entender a barbaridade com que foi brutalmente executado o seu martírio. A celebração teve Santa Missa votiva, na Igreja de Sta. Rita da Cachoeirinha, com grande público de fiéis e seus admiradores, com ato memorial da vida da homenageada.

A morte da Irmã Creuza deu-se em razão do seu devotamento às tribos indígenas do Rio Purus, a cuja promoção humana, na cobertura das suas múltiplas necessidades e na defesa dos seus direitos à terra, que lhes pertence, dedicou toda a sua atividade missionária, com o ideal pleno de motivos justificantes dos sacrifícios dos sacrifícios que lhe impunham esse mister.

Foi imbuída desse ideal que Irmã Creuza caminhou para a morte, no salutar propósito de levar a paz e a concórdia entre dois indígenas Apurinã, que disputavam um pedaço de terra, sem que, até hoje, se haja tido conhecimento do enredo do fato, a não ser de sua trágica consumação. A ocorrência se deu sem nenhuma testemunha, pois, os próprios indígenas sumiram do local, encerrando-a num fato insondável, ao nível de crime insoluto.

Esta condição de crime insoluto, que encerra a morte da Irmã Creuza, podia ser dissolvida, caso não fosse assassinado por um outro indígena, um dos coatores, que, logo depois, apareceu em Lábrea, com isso, evitando a abertura do competente inquérito criminal, em cujo trâmite seriam esclarecidas as nuances desse horripilante fato. Inclusive, com a aparição de algum mandante de natureza “branco”, queixoso da ação missionária da Irmã Creuza, ao estilo do que ocorreu com o assassinato da Irmã Doroty Stang, no Estado do Pará.

IRMÃ CREUZA – “UMA SANTA NO AMAZONAS” - Bastante conhecida em Manaus onde residiu, distinguindo-se pelo fervor e pureza de sua vida religiosa, e, sobretudo, nas comunidades da Prelazia de Lábrea, onde deu seu testemunho de seu ardor apostólico, é venerada, embora não oficialmente, por um grande número de fiéis, como “UMA SANTA DO AMAZONAS”, justificada tal devoção pelo seu MARTÍRIO PELA CAUSA INDÍGENA à qual dedicou toda a sua vida com tanto sacrifício e renúncia.

No caso, bem fazem suas co-Irmãs Agostinianas Recoletas de celebrarem, em Manaus, no Brasil e no mundo, a memória dela, como MÁRTIR DA CAUSA INDÍGENA, não somente, nos dias 25 de abril, mas, em cada dia de todo o ano. Tal celebração vem divulgar seus exemplos de vida e o motivo cruciante de sua morte, o que acelerará, pela Sé Vaticana, a sua declaração de “VENERÁVEL IRMÃ CREUZA”, na certeza de que temos na sua memória uma “SANTA DO AMAZONAS” a proteger os indígenas e descendentes, também, nosso povo autóctone, todos reunidos na Filiação Divina e Mariana com sobejos créditos de graças celestiais para uma vida longa e feliz.

O signatário, egresso da Ordem Agostiniana Recoleta, em cujo convívio passou dos seus 12 aos 36 anos, deve-lhe toda a sua formação cultural e religiosa. Conviveu os 10 (dez) anos de seu sacerdócio nas missões de Lábrea, edificado com os exemplos apostólicos da Irmã Creuza, pelo que assina a presente nota em sua homenagem, num preito de indefectível admiração e do respeito que lhe prestou em vida e, agora, sua devota veneração.

(*) É Padre Casado e Advogado.

NR: O editor e coordenador geral do NCPAM conviveu com a Irmã Creuza, quando juntos participaram da criação do Secretariado do Conselho Indigenista Missionário(CIMI), em Manaus, nos anos de 1978. Suas fotos e correspondências que trocavam na época foram encaminhadas ao Secretariado do CIMI para ser apreciada pela Comissão de Instrução do Processo junto ao Vaticano em favor do reconhecimento de seu martírio. Nessa época varios outros defensores da causa indígena também foram sacrificados pela força dos latifundiários e das oligarquias aliadas a ditadura. Mas a luta continuou, possibilitando aos povos indígenas vitalidade cultural e fortalecimento de suas organizações tradicionis e políticas. Vivos e sãos, os povos indígenas do Brasil e, em particular da Amazonia, por meio do Movimento Indígena, tudo tem feito para que seus direitos sejam assegurados de forma plena, honrando, dessa feita, os precursores como Irmã Creuza, Ângelo Kretã, João Bosco Burnier, TupaY Guarani e outros, que foram sacrificados por acreditarem num mundo justo e igualitário enquanto expressão do Direito, da fraternidade e da Solidariedade. Valores esses, que mobilizam homens e mulheres pela construção de um mundo da Paz.

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