O que os trabalhadores e os movimentos sociais podem fazer
para ampliar sua organização e fortalecer suas próprias lutas? Para os trabalhadores as eleições representam apenas um meio para o fortalecimento dos movimento sociais pautados na força da participação enquanto instrumento de controle social.
Hamilton Octavio de Souza (*)
A disputa eleitoral já está nas ruas. Ou melhor, está na mídia. Os jornais, as revistas, a TV, o rádio e a Internet já estão noticiando a movimentação dos partidos e dos candidatos. Ao mesmo tempo veiculam também os podres de sempre, as matérias encomendadas, a baixaria, a troca de denúncias sensacionalistas. Tudo indica que até o primeiro turno das eleições, no dia 3 de outubro, o povo brasileiro será bombardeado por uma guerra suja sem limites éticos e políticos.
O tiroteio generalizado evidentemente encobre o verdadeiro sentido das eleições, que é a escolha consciente de propostas, programas e candidatos que expressem coerentemente as demandas maiores do povo. No meio da guerra suja, com acusações de todos os lados, fica cada vez mais difícil selecionar partidos e candidatos identificados com os trabalhadores e as causas populares, que mereçam a confiança não apenas no voto, mas principalmente depois de eleitos.
Nessas horas, o melhor mesmo é não se deixar enganar pelo discurso demagógico e nem pela propaganda enganosa, não embarcar no denuncismo rasteiro da grande imprensa, já que a artimanha dos setores conservadores, das elites e da direita em geral, é confundir o eleitorado, é colocar todo mundo no mesmo saco da despolitização, do fisiologismo, da corrupção e dos interesses pessoais. Os eleitores precisam se livrar dessas armadilhas e escolher candidatos verdadeiramente comprometidos com as transformações sociais.
Mais do que isso, o momento da eleição pode e deve ser aproveitado para que a comunidade, os trabalhadores e o povo, tratem de fortalecer as suas próprias organizações, as associações de moradores, os sindicatos, os movimentos sociais por moradia, educação, saúde, emprego, melhores condições de vida e de trabalho. Independemente da escolha de partidos e candidatos nessa eleição, as organizações populares devem debater a conjuntura política e econômica do país, construir suas próprias pautas de reivindicações, definirem seus métodos de luta, ter uma atuação forte e contínua para a obtenção de conquistas duradouras. A visão imediatista de que a eleição resolve tudo, é um grande equívoco.
A eleição deste ano vai escolher presidente da República, senadores, governadores, deputados federais e estaduais. Devemos apoiar e votar somente naqueles candidatos que tenham projetos para o País, que não vão jamais trair o povo, que vão honrar os votos depois de eleitos.
A eleição não é a única forma de o povo trabalhador influenciar na política brasileira. A verdadeira democracia é mais ampla que o sistema representativo, contempla a participação efetiva do povo trabalhador nos destinos do país, nos espaços públicos e privados, nas escolas, nos locais de trabalho e nas instituições em geral.
O Brasil precisa de uma democracia real, ampla, participativa, com igualdade de direitos para todos. Mais importante do que o voto é a capacidade de pressão organizada dos trabalhadores e dos movimentos sociais. Se o povo não defender as suas propostas com total autonomia, dificilmente o que é prometido na campanha eleitoral será cumprido posteriormente. A força dos trabalhadores depende de sua própria organização permanente, em movimentos sociais, sindicatos e partidos. A hora é de refletir e de agir. O que devemos fazer para construir no Brasil a democracia que assegure o avanço popular?
(*) Hamilton Octavio de Souza é jornalista, professor da PUC-SP e articulista de Caros Amigos.
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