sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

PORTO DAS LAJES: “O BICHO TA PEGANDO”

Foto: Kermeson Macedo
Os comunitários do Lago do Aleixo, em Manaus, vêm sendo assediado de toda forma para aceitar a construção do Porto das Lajes nas mediações do Encontro das Águas, cartão postal de nossa Amazônia. Os comunitários denunciam que a Superintendência da Zona Franca de Manaus (SUFRAMA) em conluio com a Empresa Lajes Logística, vem prometendo mundos e fundos para obter o aceite em favor do mega-projeto do complexo das Lajes.

Nos últimos dias, a Empresa Lajes Logística comprometeu até o SESC e o SENAI, alegando que estariam contatando de imediato os moradores das comunidades do Lago para capacitá-los e que, futuramente, iriam trabalhar diretamente no projeto. Além dessa promessa, o Vampirão das Lajes, como os moradores chamam os cartolas da Empresa Lajes e da SUFRAMA, andam prometendo também a realização de outros feitos mirabolantes.


No entanto, na quarta-feira (21/1) às 19h, no clube de mães, depois de uma ampla comunicação no bairro por meio de carro volante, os comunitários se reuniram e discutiram seus pontos de vistas, quando definiram suas formas de lutas contra o Vampirão das Lajes. Ficou acertado que iriam compor um Comitê Gestor Comunitário (CGC) representado por todas as organizações do bairro e, em última instância, para sanear dúvida e disputa de qualquer interesse, recorreriam a Assembléia Geral. Com esse ato, o CGC passa a ser legitimamente e legalmente o único interlocutor das comunidades do Lago do Aleixo, zona leste de Manaus.


Por fim, a estratégia dos “vampirão das Lajes” é promover Fóruns de discussões que venham empanar as Audiências Públicas. Sabe-se que a SUFRAMA deverá capitanear estas ações.


O bicho ta pegando

O Ministério Público (MP) Estadual do Amazonas deverá compor com o MP Federal no julgamento do Inquérito Civil Público instaurado para apurar a regularidade ambiental do empreendimento denominado Porto das Lajes, assim que os líderes comunitários do CGC souberam da notícia disseram que “o bicho ta pegando”. Entre os considerando apresentados no processo, o MP Federal justifica que “o mencionado empreendimento será construído no Encontro das Águas, que é um símbolo para o Município de Manaus, para o Estado do Amazonas e também para o Brasil”. Ainda mais: “que tanto o Rio Negro quanto o Rio Solimões são internacionais, de modo que o Rio Amazonas, resultante desse encontro, também o é, razão pelo qual são bens da União (art. 20, III, da Constituição Federal”. O processo está em curso aguardando o pronunciamento dos citados. O fato é que os demais processos movidos contra as indústrias e madeireiras que poluem o Lago do Aleixo também serão julgados nesta esfera.

Notificação do IPAAM a empresa

O Instituto de Proteção Ambiental do Amazonas (IPAAM), em respeito às manifestações dos comunitários, em Audiência Pública (14/11), dos especialistas e do MP do Amazonas, resolveu notificar a Empresa Lajes Logística S/A (Log-in intermodal S/A, Rio de Janeiro e Juma participações S/A, sediada em Manaus), por não cumprimento das exigências legais que deveriam está expressas na Análise de Impacto Ambiental (EPIA/RIMA), o que obriga os interessados a formular novos estudos complementares “esgotando tecnicamente os assuntos de impactos e as medidas mitigadoras”.


Nas conclusões do Parecer Técnico n.o 0101/08, do IPAAM, datado de 05 de dezembro passado, entre outros procedimentos, recomendados consta: “dar ciência ao interessado da necessidade de complementação do estudo ambiental, devendo ele observar a necessidade de sanear os aspectos técnicos das considerações acima, bem como a totalidade dos elencos de contribuição apresentadas pela 49a PRODEMAPH – MPE – CCA-UFAM E da SEMMA, observando o que preconiza a Legislação de licenciamento”. Enfim, os doutores da empresa Liga Consultorias S/A. responsáveis pela Análise do Relatório de Impacto Ambiental foram reprovados nas provas de exame da legislação pertinente e na análise dos fatos.


UFAM será interpelada


O Comitê Gestor Comunitário do Bairro Colônia Antonio Aleixo deverá interpelar juridicamente a Universidade Federal do Amazonas (UFAM) quanto à responsabilidade de autoria da Análise dos Relatórios de Impacto Ambiental da construção do complexo portuário das Lajes, porque os doutores da empresa Liga Consultoria S/A, responsáveis pelos relatórios, se identificam, quando conveniente, como da UFAM, o que pode ser comprovado na Ata da audiência Pública e no Parecer Técnico acima citado do IPAAM. O Pior de tudo é que os comunitários começam até acreditar no comprometimento da UFAM, pelo silêncio da reitoria e pelos atos de depredação que a direção da UFAM vem promovendo no Campus Universitário.

PORANTIM VELHO DE GUERRA

O Jornal Porantim foi criado em 1978, na cozinha da minha residência, em Manaus, depois da passagem encorajadora de Dom Tomás Balduíno e Dom Pedro Casaldáliga pela cidade. Dois anos depois, a redação foi transferida para Brasília, onde permanece até hoje, chegando ao seu número 300. Queríamos que ele fosse uma espécie de espelho, onde parte da população da cidade visse refletida não só a imagem dos povos indígenas, mas a sua pró­pria imagem.

*José Ribamar Bessa Freire

No final dos anos 60, no Rio de Janeiro, meus amigos im­ploravam: “vai para O Globo, vai”. Diziam isso por causa da minha fama de pé-frio. Todos os órgãos de imprensa, onde fui repór­ter, fecharam suas portas. Foi assim com dois diários alternativos O Sol e O Paiz, com a Agência de Notícias Asapress, com o Jornal de Vanguarda da TV Continental, com o semanário Poder Jovem e até mesmo com o cen­tenário Correio da Manhã.

No exílio, fui correspondente em Paris do Opinião, que também fechou. No seu programa Comitê de Imprensa da TV Câmara, Pau­lo José Cunha brincou me chamando no ar de “fechador de jornais”.

Um deles, porém, que eu ajudei a fundar, não fechou. O único: o Poran­tim. Ele foi criado em 1978, na cozinha da minha residência, em Manaus, depois da passagem encorajadora de Dom Tomás Balduíno e Dom Pedro Casaldáliga pela cidade. Dois anos depois, a redação foi transferida para Brasília, onde permanece até hoje, chegando ao seu número 300.

O nome escolhido contém forte carga simbólica: instrumento de trabalho, arma de combate, memória coletiva. O seu lançamento foi no dia 1º de maio de 1978, em plena ditadura militar. Nas comemorações do Dia Internacional do Trabalhador, os pro­fessores amazonenses, que fizeram uma manifestação tímida, tiveram uma surpresa. Durante o ato, foram distribuídos centenas de exemplares do primeiro número do Porantim: três folhas de papel tamanho ofício, mimeografadas, frente e verso. Pan­fleto sim, mas pretensioso.

O objetivo inicial do boletim do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), cujo comitê editorial era for­mado por Paulo Suess, Renato Athias, Ademir Ramos e o autor dessas linhas, era divulgar, em Manaus, informações sobre a questão indígena. Queríamos que o Porantim fosse uma espécie de espelho, onde parte da população da cidade visse refletida não só a imagem dos povos indígenas, mas a sua pró­pria imagem.

Apesar de dirigido preferencial­mente à população de Manaus, exem­plares do jornal foram logo enviados para as comunidades indígenas do Amazonas: missionários, agentes de pastoral e líderes indígenas, alfabeti­zados em português. A estrutura do Cimi nos forneceu uma vasta rede de correspondentes, espalhados pelas aldeias indígenas, que abasteciam o jornal com notas redigidas até em papel de embrulho.

O Porantim foi ganhando maior credibilidade e aumentando a tiragem. A rede de correspondentes e a distribuição do jornal se espalharam por todo o Brasil. O jornal passou a ser vendido em algumas bancas das cidades do Norte, dialogando com outros perió­dicos alternativos como o Varadouro, do Acre.

Ninguém podia imaginar, muito menos um “fechador de jornal”, que quase trinta anos depois o Porantim estaria firme e forte, combatendo o bom combate em defesa da causa indígena, mantendo sua postura crí­tica e de denúncia e tentando, como um pequeno David, lutar contra os preconceitos e a desinformação da grande imprensa.

Espero receber um convite, daqui a 20 anos, para escrever sobre meio século de vida do Porantim. A luta continua.

*Coordenador do Programa de Estudos dos Povos Indígenas da UERJ, um dos fundadores e primeiro editor do Porantim.

ROUPA NOVA AO VELHO IDIOMA

Embora eu, a lingua portuguesa, esteja um pouco mudada, a melhor maneira de me compreender ainda é lendo, lendo muito, lendo os grandes autores.

Frei Betto*

Vejam só: eu, a língua portuguesa, falada por pelo menos 230 milhões de pessoas de oito países que oficialmente me adotam, estou de roupa nova. Sempre foi assim, de tempos em tempos decidem auto-regular o modo como sou escrita, ou melhor, autorregular. Agora é assim, sabia?

Bom exemplo é o pronome você. Nasceu ‘vossa mercê’, virou ‘vossemecê’, derivou para ‘vosmecê’, reduziu-se a ‘você’, é falado ‘ocê’ ou ‘cê’ (cê vai lá?). Não duvido nada, daqui a pouco só se pronuncia o acento circunflexo...

Oficialmente meu alfabeto passa a ter 26 letras, com a inclusão de k, y e w. Ora, na prática isso já ocorria: km, yang e yin, show etc. Meio kafkiano, não?

Cai a coroa de certas palavras, o velho trema, tão frequente (agora sem trema) na tranquila (idem) sequência (idem) de vocábulos como linguiça. Qüinqüênio, duplamente coroado, agora é quinquênio. Também perco o acento no casal de vogais, conhecido por ditongo, em palavras paroxítonas, como alcateia, androide, boia, colmeia, celuloide.

Confesso que me sinto meio nua... Será paranoia? Ao menos me sobraram os acentos das oxítonas como papéis, heróis e troféu. E o Piauí ficou a salvo, como em toda oxítona terminada por i e u ou seguida de s.

Língua é também uma questão de elegância. Imaginem uma mulher descabelada numa festa em que todas as outras estão bem penteadas! É como me sinto nos vocábulos terminados em eem e oo. Adeus o chapeuzinho em creem, magoo, perdoo, veem (do verbo ver), voo, zoo. Será que abençoo tais mudanças?, pergunta o autor deste texto. Ou ele encara isso com certo enjoo?

Será que os leitores, sem o circunflexo (que belo vocábulo!), distinguirão facilmente o casamento da preposição com o artigo no vocábulo pelo do substantivo pêlo, que agora é pelo, assim pelado? Perdem o acento: pêra e pára. Num texto na nova ortografia, agora vamos ler que a moça gritou no carro para o namorado: “Para! Desço na esquina, seu hálito, de quem comeu pera podre, me dá enjoo”. “Pode descer”, dirá ele. Ela retrucará: “Como você pôde sair de casa sem escovar os dentes?”

Outra exceção é a preposição por e o verbo pôr. Por que será? Mas ao menos uma liberdade resta a quem redige: você pode ou não enchapelar forma quando se referir à vasilha de fazer bolos e escrever: “Qual a forma da fôrma do bolo?” Estará também certíssimo se redigir: “Qual a forma da forma do bolo?”

O hífen, coitado, foi o que mais sofreu nessa reforma ortográfica. Salvou-se frente ao h: super-homem, sobre-humano. Mas dançou quando o prefixo termina diferente do segundo elemento: aeroespacial, antiaéreo, extraescolar. Sobrou o vice: vice-presidente.

Sai de cena o hífen se o prefixo termina em vogal e o resto se inicia com r ou s. Neste caso, duplicam-se tais letras: antissocial, ultrassom, biorritmo. Estranho, né?

Há certas palavras com as quais é preciso cuidado, devido à sua carga ideológica. O hífen permanece para o i não beijar o seu clone: anti-imperialista, anti-inflacionário. Também quando o r ameaça arranhar o seu duplo: inter-racial, super-romântico. Superinteressante, não?

Se o prefixo sub topar com o r, que mantenha distância: sub-região, sub-raça. Pan-americano fica assim mesmo. Quando o prefixo terminar por consoante e o segundo elemento começar por vogal, una tudo: hiperativo, hiperacidez, interestadual.

Porém, mantenha distância se o prefixo for ex, sem, além, pós, pré: além-túmulo, ex-diretor, pós-graduação, pré-vestibular, recém-casado. E sem-terra (mas com muita garra na luta por reforma agrária).

E algo fantástico: o hífen é preservado se o sufixo tiver origem tupi-guarani (olha ele aí): capim-açu, amoré-guaçu. Supõe, evidentemente, que você saiba identificar o vocábulo como derivado do tupi-guarani.

Sei que não sou um idioma fácil. Além da correta ortografia, exijo perfeita sintaxe. E vivo provocando pegadinhas: aluvião, apesar do tom, é substantivo feminino. E imagina um estrangeiro me aprendendo: “Pedro bota e calça e, em seguida, calça a bota”. E manga? De camisa, a fruta, parte do eixo do carro e mais oito significados pelo menos. Banco então nem se fala: de praça, de guardar dinheiro, de areia, de sangue, e do presente do indicativo do verbo bancar.

Para fazer bom uso de mim só há uma receita: leia, leia muito, bons autores. E quanto à minha roupa nova, fique tranqüilo, pois este trema e todas as demais mudanças ortográficas têm (o circunflexo do plural dos verbos ter e vir foram salvos pelo gongo) prazo até 2012 para serem implementadas.

* Frei Betto é escritor, autor de “Alfabetto – Autobiografia Escolar” (Ática), entre outros livros.

O ACRE SOB O DOMÍNO DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

Foi no dia 11 de junho de 1901 que o governo boliviano arrendou o território do Acre para o Bolivian Syndicate, instituição formada por capitalistas norte-americanos e ingleses, como uma estratégia para estabelecer a soberania boliviana sobre aquele território e abrir um enclave de influência política e militar norte-americana na Amazônia.

*Roberto Monteiro de Oliveira

Poetas e boêmios guerreiros - Insatisfeito com a atuação do governo brasileiro, o governo do Amazonas interessado em receber os impostos sobre a vultosa produção da borracha financia outra expedição para retomar o território acreano para sua jurisdição.

Esta expedição constituída por boêmios e outros profissionais liberais de Manaus foi oficialmente chamada de Expedição Floriano Peixoto, mas ficou popularmente conhecida como Expedição dos Poetas que foi derrotada pelo exército boliviano em 29 de dezembro de 1900.

A Belle Époque - É bom lembrar que nesse período Manaus e Belém estão vivendo a Belle Époque, a chancelaria brasileira está cuidando também da questão do Amapá, a República brasileira está se estruturando, além do que, está ocorrendo a grande migração de nordestinos, com destaque para os cearenses, os arigós para a extração e defumação da borracha.

A comprovação das denúncias – Foi no dia 11 de junho de 1901 que o governo boliviano arrendou o território do Acre para o Bolivian Syndicate, instituição formada por capitalistas norte-americanos e ingleses, como uma estratégia para estabelecer a soberania boliviana sobre aquele território e abrir um enclave de influência política e militar norte-americana na Amazônia.

Os seringalistas acreanos prevendo as nefastas conseqüências da atuação do Bolivian Syndicate, com o apoio do Governo do Amazonas articulam nova resistência.

Plácido de Castro tendo organizado militarmente os seringalistas como oficiais e como combatentes os seringueiros inicia em Xapuri as novas batalhas no dia 06 de agosto de 1902.

No dia 24 de janeiro de 1903, Puerto Alonso é retomada e proclamada por Plácido de Castro capital do Estado Independente do Acre.

Os republicanos se posicionam – A partir desses fatos, sacudido pelo clamor dos brasileiros, Rodrigues Alves contrariando a posição das elites, acorda da letargia do Estado Brasileiro e nomeia o Barão do Rio Branco como ministro das relações exteriores que inicia as conversações que resultam no Tratado de Petrópolis.

Pelo tratado de Petrópolis a Bolívia reconhece a soberania do Brasil sobre aquele território e o Brasil reconhece a paternidade gentílica sobre os acreanos.

O Brasil retribui a Bolívia com dois milhões de libras esterlinas, constrói também a ferrovia Madeira/Mamoré para dar uma saída para os bolivianos para o Atlântico e, indeniza o Bolivian Sindicate.

Castigando uma região - Contrariando as aspirações dos revolucionários acreanos de ser mais um estado da nascente República Brasileira, Rodrigues Alves atendendo as pressões das elites da administração brasileira, no início de 1904 resolve que o Acre seria administrado diretamente pela Presidência da República, criando o primeiro Território Federal.

Nessa condição o governador do território era nomeado pelo presidente da república, o território não tinha constituição própria, não arrecadava impostos, enfim, uma total dependência do governo federal.

Dessa forma as elites burocráticas do Governo Federal tiravam do Governo do Amazonas a
arrecadação dos impostos sobre a produção da borracha e negavam aos revolucionários acreanos a autonomia tão desejada e, de sobra, criavam um enorme cabide de empregos bem remunerados para os amigos das figuras influentes da nova república.

Inicia-se assim uma fase dificílima para os acreanos em que os governadores do Território do Acre não tinham legitimidade nem representatividade dos acreanos e por isso mesmo não tinham nenhum compromisso com as aspirações daquele povo.

A luta continua - Foram 58 anos de resistência contra a corrupção de políticos premiada pela ausência do poder judiciário. Começava então, uma nova fase das lutas do povo acreano pela conquista da plena cidadania.

Em Xapuri, Rio Branco, Cruzeiro do Sul, Sena Madureira e em todas as localidades do Acre o povo se mobiliza para a luta política buscando a autonomia do Estado do Acre. São clubes políticos, organizações de seringalistas, de seringueiros que se unem buscando o objetivo maior daquela sociedade regional: participar plenamente da nação brasileira.

Até a conquista da plena cidadania os acreanos tiveram que enfrentar o autoritarismo do Estado Moderno Brasileiro que por algum tempo se sobrepõe às legítimas aspirações dos cidadãos acreanos em nome da ordem e da legalidade.

*Geógrafo do Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAZ) da Universidade de Brasília.

SENTENÇAS E INTERLÚDIOS


A política é uma delicada teia de aranha em que lutam inúmeras moscas mutiladas.

Alfred de Musset (1810-1857)

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

FATOS E REALIDADE

Foto: Kermeson Macedo

Sem transtôrno ou delírio, o que se investiga é se o governador do Amazonas, Eduardo Braga, assumiu compromisso com os empresários italianos suspeitos de envolvimento com a máfia, para construir o mega-projeto de um Porto privado em Manaus, que por acaso, situa-se nas Lajes, próximo ao Encontro das águas, patrimônio natural da Amazônia brasileira, integrando, dessa feita, o Brasil a estrutura logística dos empreendimentos de dom Gianni Punzo baseado em Nola, ao sul da Itália.

Outra questão a ser definida com transparência é a mediação da Fundação Amazônia Sustentável (FAS) nos processos de negociação internacional, seja na Itália, na Oceania ou na China. É preciso definir com clareza, a origem dos recursos e os sócios beneficentes da FAS e de que forma esses “bem feitores” se beneficiam diretamente desses investimentos. O que todos sabemos é que no capitalismo não há caridade e muito menos “sodariedade verde” em favor das comunidades tradicionais da nossa Amazônia.

Os fatos dão conta dessa realidade. O que está em discussão são as versões de seus atores, o que pode ser conferido a partir das ações das políticas em curso no Amazonas. Com a palavra do governador.

De Il Manifesto, 7 de Janeiro de 2009
Da Itália: Concluído o processo que relaciona Gianni Punzo aos líderes da Camorra – o empresário passa a ser apresentado ao mundo como um dos maiores empreendedores de Nápoles . O empreendimento construído em Nola é a quintessência do sul da Itália, juntando comércio, com velocidade de conexão e logística[..]

É difícil descrever o império Punzo. O que se sabe é que o seu coração bate forte e tem raízes profundas nas terras de Nola, ao sul da Itália. No entanto, como empresário, está voando longe no coração da selva,em direção a Manaus, na Amazônia brasileira [...].

O acordo com o Brasil reforça a posição de Punzo, expdandindo seus negócios para a Amazônia.

Pois, há alguns meses atrás, o governador do Estado do Amazonas, Eduardo Braga, veio a Nola para ver as maravilhas da planície de milagres [...]. O governador visitou o centro que abriga mil empresas, que produz mais de sete milhões de euros de receitas, um número que vem crescendo ano após ano. (Traduçào livre do Google) http://www.liblab.it/ita/Legalit%C3%A0/Mafie-in-

Italia/Da-Nola-a-Manaus).Fonte: http://rogeliocasado.blogspot.com/

Andrea Palladino

Yamamay em defesa da Amazônia
Corriere del Mezzogiorno, 8 de abril de 2008

Quarta-feira, o governador do estado brasileiro irá fazer uma etapa em Nola: estudará o interporto e "Vulcão Bom".

Nápoles – Eduardo Braga, governador do Amazonas, quer "pegar" o interporto e o Vulcão Bom de Renzo Piano para reconstruí-lo, em escala ainda mais gigantesca, em Manaus, capital do seu estado, no centro da maior bacia fluvial do mundo, onde se encontra o rio negro e Solimões dando vida ao lendário Rio Amazonas. É um projeto de extraordinária ousadia, mas, com certeza, possível. Eduardo Braga, acompanhado por Virgilio Vianna, presidente da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), chegará amanhã em Nápoles, depois de uma pequena parada em Milão, para visitar a implantações de Nola e encontrar Gianni Punzo para apresentar a ele a idéia e, possivelmente, envolvê-lo emocionalmente no processo.

O líder de Manaus será acompanhado pelo empresário Luciano Cimmino, proprietário da Yamamay, que é a primeira griffe do mundo a ter participado com uma contribuição econômica à constituição da FAS que tem como missão proteger o "pulmão verde" do planeta. para reforçar o apoio o empresário napolitano lançou uma campanha promocional de extraordinário impacto ambiental: em todas as lojas da rede yamamay será distribuída a bolsa de juta com o slogan: Use a juta. Salve a Amazônia". A proposta, como se entende, há um valor simbólico muito forte: a juta, de fato, é uma planta que cresce na água e, portanto, para cultivá-la não é necessário desmatar. Outra característica importante é a sua extraordinária usabilidade que permite extrair uma fibra forte, tenaz e útil que pode ser destinada a diversas quantidades de uso. O encontro de amanhã, quarta-feira, portanto, há um significado que vai muito além do objetivo de transplantar em Manaus o interporto e o Vulcão Bom.

A Amazônia, efetivamente, é um patrimônio único e irrepetível da humanidade: se expande por uma superfície de dois milhões de km2 e hospeda dois terços de todas as florestas tropicais e 30% de toda a água doce do planeta. Há algumas dezenas de milhares de espécies vegetais e animais cuja conservação é fundamental para o bem da humanidade. O projeto de haver uma infra-estrutura de grandes dimensões de impulso, como pode ser o interporto, que é o elemento fundamental da nova fase de processo de desenvolvimento da Amazônia que, pela primeira vez, não é considerada um problema para a economia brasileira, mas, pelo contrario, uma grande oportunidade de desenvolvimento. Apontando, finalmente, para a valorização dos imensos recursos do território. O programa do pequeno tour do governador Eduardo Braga, que será acompanhado pela esposa Sandra, prevê uma primeira etapa na cidade de Gallarate (Milão), na sede da direção da Yamamay, com uma série de encontros em Milão. O interporto deverá ajudar a grande zona franca de Manaus, onde já se encontram a Honda e a Som e muitas empresas de importância mundial e servirá de terminal intermodal para a Venezuela, o Peru e a Colômbia.

fonte : http://www.seplan.am.gov.br/clipping/Htmls/2008/abril/CLIPPINGDE090408.htm

AS CORES DE OBAMA


O fim da arrogância deve levar a uma postura de tolerância com a diversidade cultural.O presidente negro, para ser o primeiro do século XXI deve aceitar as variadas cores que há na sociedade planetária dos seres humanos, aceitar para seu governo e para seus cidadãos o respeito às cortes internacionais, e efetuar a inflexão do desenvolvimento pela economia do consumo material para poucos, em direção a uma sociedade do desenvolvimento do conhecimento para todos.


Cristovam Buarque*

O Presidente Obama já está na história como o primeiro presidente negro dos EUA. Mas, nem os EUA, nem o presidente Obama tiveram ainda a oportunidade de mostrar ao mundo que têm o primeiro presidente do século XXI.

Para ser o primeiro presidente do século XXI, Mr. Obama terá de fazer uma inflexão na política e no comportamento dos EUA.

A primeira inflexão será trazer a preocupação ambiental para o centro do debate e das decisões na economia, na sociedade, na ocupação da Terra pelos norte-americanos e demais cidadãos do mundo. Precisará começar por assinar o acordo de Kyoto, até hoje recusado pelos EUA. E ir além. Propor, inspirar, formular, aprovar dentro dos EUA e nos fóruns internacionais medidas que possam reverter a clara tendência suicida do projeto civilizatório. A economia tem que ser reorientada para um compromisso com o equilíbrio ecológico. Para ser considerado o primeiro presidente norte americano do século XXI é de esperar que Obama, além de presidente negro, seja um presidente verde também.

A preocupação social com a pobreza é uma segunda inflexão necessária para fazer de Obama um presidente do século XXI. A marcha da economia sem compromisso social tem que ser reorientada para uma economia comprometida com a redução da pobreza. O presidente do século XXI, além de negro e verde deverá ser também vermelho. Não no sentido de subverter a ordem econômica e romper as bases da economia, mas no sentido de criar os mecanismos para enfrentar o quadro de desigualdade em nos países e no mundo.

O abandono da postura de arrogância imperialista que caracterizou os EUA a partir do final século XIX e ao longo de todo o século XX também precisa ser revertida no século XXI. A partir sobretudo do final da Segunda Guerra, os EUA passaram a ver-se como os portadores do destino da humanidade e tentaram apropriar-se ao máximo dos mercados e recursos dos demais países, influir para fazer de cada um deles parte da economia norte-americana. Além de antagonismos, de injustiças, de desrespeito às soberanias de muitos povos, os EUA terminaram criando e apoiando sistemas autoritários e que, mesmo quando mais democráticos, criaram desigualdades ainda mais formidáveis do que havia antes. Sobretudo, impediu nestes países, especialmente na América Latina, a procura autônoma de seus próprios rumos, conforme seus recursos e suas vontades políticas. Neste sentido, o presidente do século XXI além de negro deve ter também a cor branca da paz. Como exemplo, deve reverter meio século de bloqueio e sabotagem em relação a países, como Cuba é um exemplo e um símbolo.

O fim da arrogância deve levar a uma postura de tolerância com a diversidade cultural. Os EUA do século XX tentaram impor visões e estilos do "american way of life" a todo o mundo. E grande parte do mundo aceitou por ver neste padrão um estágio superior de desenvolvimento. Hoje, além do choque entre este padrão e as possibilidades ecológicas, há uma resistência cultural que os EUA precisam entender e tolerar. O novo presidente deve respeitar plenamente a diversidade religiosa, cultural, e sobretudo de experiências como novos modelos econômicos, desde que dentro de valores humanistas definidos por instancias internacionais como as Nações Unidas. Por esta razão, o primeiro presidente do século XXI deve abrir diálogo com todos que desejam participar do concerto humano, desde que todos abram mão da violência, do terrorismo, muitas vezes como resultado de antagonismo às imposições norte-americanas. O presidente negro, para ser o primeiro do século XXI deve aceitar as variadas cores que há na sociedade planetária dos seres humanos.

Deve também submeter-se a valores morais internacionais. A democracia limitada a cada país, elegendo seus presidentes a cada quatro anos não vai permitir enfrentar os problemas de longo prazo e globais, planetários da humanidade. Os valores como limites ecológicos ao crescimento, limites éticos ao uso da ciência e da tecnologia, padrões de comportamento humanistas de respeito aos direitos humanos, deverão ser cada vez mais questões globais, internacionais, de toda a humanidade. O primeiro presidente do século XXI terá que aceitar para seu governo e para seus cidadãos o respeito às cortes internacionais.

Finalmente, o primeiro presidente século XXI deve ser um indutor da distribuição da educação, do conhecimento científico e tecnológico, da cultura ao redor do mundo. Depois da segunda guerra mundial, os EUA tiveram um papel fundamental na distribuição do capital econômico entre os países do mundo. O século XXI vai exigir a distribuição do seu novo capital: o conhecimento. Este capital conhecimento será capaz de quebrar a desigualdade que ocorreu com o desenvolvimento econômico do capital das finanças e das máquinas, vai liberar energias que estão sendo reprimidas em bilhões de cérebros humanos pela falta de educação. O presidente do século XXI deverá ser o defensor da visão do capital conhecimento como a base do futuro em cada nação e no mundo global e ser o promotor de uma revolução intelectual no mundo inteiro por meio da educação.

Deverá fazer a inflexão do desenvolvimento pela economia do consumo material para poucos, em direção a uma sociedade do desenvolvimento do conhecimento para todos. Um desenvolvimento que respeite a diversidade de modelos e estilos de vida; defina limites sociais inferiores a que ninguém será condenado e limites ecológicos superiores a que ninguém terá direito; aceite, sem constrangimento ético, a desigualdade de renda, mas ofereça a todos a chance de participar do desenvolvimento conforme o talento e esforço de cada um.


No meio destes limites uma desigualdade legitima e ética decorrente do talento, em um mundo onde todos tiveram os mesmos direitos de acesso, como aqueles que permitiram a um jovem negro se transformar no primeiro presidente negro dos EUA, criando a expectativa de que ele será o primeiro presidente do século XXI.

*Senador da República pelo PDT, ex-ministro da educação e militante das causas libertárias.

Publicado originalmente no jornal El País

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

MIRATINGA NELES!

Começou a Farra na Prefeitura

Com a desculpa de que o município de Manaus está em estado de calamidade pública, o negão decretou seis meses para que a prefeitura faça compras sem licitação. Contudo, para que o estado de emergência seja anunciado, é preciso haver algum desastre natural, contaminação das águas ou elevado número de mortos, coisa inexistente na cidade. Enquanto os amigos do Mazoca comemoram com a verba farta, nós, os manauaras, esperamos que ele implante aquele seu famigerado programa chamado Manaus Urgente, para resolver todos os problema de Manaus em noventa dias...

A crise pega a grande mídia

Esta crise está mesmo impiedosa, além de ter pego em cheio os grandes bancos americanos, que tiveram a sorte de serem socorridos pelo governo, e os trabalhadores, que não tiveram tanta sorte assim, ela também ameaça a grande mídia. O New York Times, o El país e o Christian Science Monitor estão numa crise aguda que nem com reza braba pode resolver. Cortaram redações pela metade, outros venderam seus prédios. O Christian Science tem a situação tão delicada que resolveu ficar só na internet. Esse buraco pode ser a oportunidade de a mídia alternativa conquistar o seu espaço e tornar a imprensa de massa mais plural - e para os grandes barões midiáticos tirarem mais dinheiro do governo.

Israel não aprende mesmo...

O Estado mais perigoso do mundo, depois dos E.U.A, resolveu dar masi uma mostra do seu poderio, quebrando o cessar fogo nesta terça feira passada (dia 27) depois que um soldado israelense morreu ao fazer patrulha em Gaza e outros dois ficarem feridos. Duas pessoas foram atingidas com a ofensiva aérea. “É um ataque sério. Não podemos aceitar, portanto responderemos a ele", declarou Ehud Barak, ministro da defesa. Já Tzipi Livni, ministra das relações exteriores, setenciou: "Não me interessa quem o fez. Israel tem que responder". Para a boa ministra é irrelevante que as retaliações, claramente desproporcionais ao poder de fogo do inimigo, matem civis inocentes, e crianças, que sofrem com o trauma da perda de algum ente próximo, tornando-se um futuro soldado HAMAS...

SÓ O GOVERNADOR PODE EXPLICAR


A coisa complicou mais ainda. Não sendo, o secretário da Fundação Amazônia Sustentável (FAS), Virgílio Viana, que articulou o encontro com os empresários italianos suspeitos de envolvimento com a máfia, como disse o Secretário de Comunicação do Governo do Amazonas, Hiel Levy, ao jornal A Crítica, então quem teria feito essa mediação? Quem se beneficiou com o encontro? E por que o governador aceitou?

O governador declarou ou não, que iria construir um novo terminal de cargas privado por meio da LOG-IN em parceira com uma empresa amazonense, conforme noticiou em sua página a Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Nordeste (FETRACAN) sob o título “Manaus desperta interesse de gigante italiana de logística” www.fetracan.org.br

Ninguém mais, só o governador pode explicar os fatos. Mas, segundo nota da FAS, Virgilio Viana, não representa o bobo da corte. Só e somente só o Eduardo Braga pode esclarecer o imbroglio. O que fará com certeza porque não é político de se esconder na aba de ninguém.

O positivo de tudo isso é que o assessor de comunicação da FAS, jornalista Antonio Ximenes declarou ao NCPAM, que “a construção do porto das lajes não é adequado a realidade de Manaus”. Com a palavra o governador Eduardo Braga...

DIREITO DE RESPOSTA


Esclarecimento ao site do Núcleo de Cultura Política do Amazonas

A Fundação Amazonas Sustentável (FAS) não tem e não teve nenhuma participação no projeto do Porto das Lajes. Destacamos também que nem a FAS nem o Professor Virgilio Viana, diretor geral da FAS, não fez nenhum tipo de intermediação junto ao empresário italiano Giovanni Punzo ou qualquer outro empresário, para investimentos no projeto Porto das Lages. Finalmente, não existe nenhum entendimento ou negociação entre a FAS e empresas ligadas ao referido empreendimento. Por fim, as atividades da FAS não possuem nenhuma relação com o empreendimento.

Esse esclarecimento é necessário e gostaríamos de ver publicado neste prestigiado site, por entender que as matérias veiculadas no dia 23 de janeiro citam a FAS dentro de um contexto que não condiz com a realidade dos fatos.

Atenciosamente, Antonio Ximenes, jornalista responsável pela comunicação da FAS.
antonio.ximenes@fas-amazonas.org
92-8159-1130

FALA GOVERNADOR...

O então secretário de estado Virgilio Viana, segundo o acessor de comunicação do Governo do Amazonas, presente na comitiva do governador a Itália, em 2007, Hiel Levy, declarou ao jornal A CRÍTICA, quem apresentou o governador Eduardo Braga para os mafiosos italianos foi Virgilio Viana, o atual secretário da Fundação Amazonas Sustentável (FAS), beneficiando diretamente a Fundação com recursos repassados da Yamamai, um dos braços de Gianni Punzo. A foto do Jornal Roma denuncia o encontro e exige do governador uma comunicação oficial para esclarecer esse imbroglio...

CONHECENDO OS ÍNDIOS DO TOCANTINS

Em resultado das investidas dos setores público e privado, ocorreram mudanças que afetaram de forma significativa o cenário sociocultural e ambiental da Amazônia, resultando na destruição da floresta, em grande impacto epidemiológico pela infestação de várias doenças que dizimaram centenas de indígenas que viviam e ainda vivem nessa região.

Aquiles Pinheiro*

Índios do Tocantins é o título da obra mais recente do professor Orlando Sampaio Silva, um dos mais competentes antropólogos do Brasil e também profundo conhecedor da paisagem sociocultural e ambiental da Amazônia brasileira. O conteúdo desta obra reúne – a partir de registros de campo – algumas impressões e reflexões antropológicas sobre as mudanças socioculturais que vem ocorrendo entre os índios em razão do contato com os não-indígenas e em razão do avanço das frentes de expansão da sociedade nacional.

Algumas dimensões da vida social analisadas pelo autor são: demografia, situação de contato, economia, territorialidade e projeto de desenvolvimento indígena, entre outros. Na análise antropológica dos fatos observados e registrados pelo autor, são utilizados os conceitos de “fricção interétnica” e “aculturação”. O recorte temporal está circunscrito às décadas de 70 e 80, e o contexto abordado refere-se às situações de contato marcadas por ações estatais protagonizadas pela FUNAI e pelas frentes de expansão agropecuária e extrativista com fins de ocupação do território e incorporação da mão-de-obra indígena numa perspectiva de integração e/ou inclusão dos indígenas à sociedade nacional.

Em resultado das investidas dos setores público e privado, ocorreram mudanças que afetaram de forma significativa o cenário sociocultural e ambiental da Amazônia, resultando na destruição da floresta, em grande impacto epidemiológico pela infestação de várias doenças que dizimaram centenas de indígenas que viviam e ainda vivem nessa região. Mas, o que mais chama atenção nos relatos etnográficos reunidos nesta obra é o efeito da influência da cultura do homem “branco” nos costumes, na tradição e na estrutura sociocultural das sociedades indígenas da Amazônia.

O primeiro grupo referido pelo autor é formado pelos índios Gavião. Originários dos campos maranhenses, esses índios foram levados para a Reserva Mãe Maria, localizada na zona tocantinense-paraense. Segundo o autor, “[...] a pressão das frentes extrativista e pecuária de um lado e a necessidade de adaptação às condições ecológicas da floresta tropical, levaram a mudanças significativas na sociedade e na cultura desses índios” (SILVA, 2009, p. 16).

O segundo grupo etnografado por Orlando é o Xikrin, moradores de uma aldeia localizada no sudeste do estado do Pará, próximo ao rio Cateté, afluente pela margem esquerda do Rio Itacaiúnas, tributário do rio Tocantins. Originariamente, os Xikrin são caçadores e coletores de alimentos de origem vegetal e animal, praticando, também, a pesca e o cultivo de batata-doce, cana-de-açúcar, arroz, mandioca e feijão. Entretanto, mais recentemente, o contato com os “brancos” despertou nos Xikrins o interesse por bens e produtos manufaturados, conforme salienta o autor: “O contato com os brancos gerou novas necessidades entre os Xikrin, tanto em termos de ferramentas de trabalho e vestimentas quanto no que tange à alimentação, setor no qual são parcialmente dependentes dos fornecimentos do Posto Indígena [...]” (SILVA, 2009, p. 57).

Os Suruí, terceiro grupo referido pelo pesquisador, ocupam tradicionalmente a área do Igarapé Sororozinho, afluente do Rio Sororó, tributário do Rio Itacaiúnas, no município de Marabá, no Pará, os Suruí Foram pacificados mediante sucessivas visitas catequéticas de Frei Gil Gomes, iniciadas em 1952. Esses índios encontram-se desde maio de 1976, direta ou indiretamente, em permanente contato com não-indígenas. Tradicionalmente, as funções e os papéis sociais na sociedade Suruí eram definidos em função da divisão clânica, onde ao clã Coati cabia a função de chefia, enquanto ao clã Pao cabia o papel de agricultores, podendo eventualmente, exercer a função de guerreiros.

Segundo Silva (2009), os grupos clânicos ainda apresentam “manifestações residuais” na atual sociedade Suruí que gradualmente se “cabocliza”, entretanto, as grandes casas comunais foram substituídas por casas construídas à moda dos regionais. O autor salienta ainda que “os contatos com a sociedade inclusiva provocaram expressivas mudanças na estrutura sociocultural dos Suruí e levaram a eles novas necessidades relacionadas a bens originários do mundo dos brancos, tais como: alimentos, roupas, sapatos, armas para caça etc” (SILVA, 2009, p. 71).

O quarto grupo mencionado por Orlando é formado pelos índios Parakanan (ou Parakanã), de língua filiada à família lingüística Tupi-guarani. Parte dos Parakanan foi “pacificada” há apenas seis anos, os demais continuam arredios resistindo às tentativas de atração da FUNAI. O grupo pacificado ocupa as proximidades do igarapé Lontra, da Bacia do Rio Tocantins, que a partir de Julho de 1971, foi convertida em Reserva Indígena. Ressalta o autor que o curto período de tempo decorrido desde que foram “pacificados” bem como o fato de estarem protegidos no interior de uma Reserva Indígena sob a administração da FUNAI, permite a este grupo conservar elementos da cultura tradicional, como as práticas xamânicas, a confecção de cerâmicas, adornos de penas e pintura corporal.

O quinto grupo contemplado pelo autor é o Asurini, que habita em uma reserva localizada à margem esquerda do Rio Tocantins à jusante da cidade de Tucurui. Tradicionalmente, caçadores e coletores de produtos vegetais e animais, os Asurini vêm gradualmente, adotando os costumes do branco, seja no uso de implementos agrícolas, seja no uso de “armas de fogo” em substituição ao arco e flecha.

Nesse sentido, o autor observa que os Akuáwa-Asuriní “Não usam mais arcos e flechas na caça. As técnicas indígenas tradicionais, que eram empregadas na caça no passado, foram substituídas pelo uso de armas de fogo, que alguns índios têm e que emprestam aos que não as têm”. Afirma ainda que “Os instrumentos de trabalho que empregam na agricultura são o facão e o machado, originários da sociedade inclusiva” (SILVA, 2008, p. 141).

À margem dos relatos e reflexões desenvolvidas pelo autor, cabe-nos refletir sobre as reais possibilidades de que, aos índios do Tocantins, seja assegurado o direito de continuarem sendo “índios”, conservando e manifestando livremente os traços distintivos de suas culturas, sem, no entanto deixar de serem também cidadãos brasileiros com direitos iguais a qualquer cidadão não-índio. Somente assim a expressão “sociedade inclusiva” se revestirá de seu verdadeiro sentido. O ser e o fazer antropológico têm no alcance desse objetivo uma grande parcela de responsabilidade.

SILVA, Orlando Sampaio, Índios do Tocantins – Notas do caderno de campo. (Coleção Memórias da Amazônia) Manaus: Valer, 2009.

* Cientista Social formado pela Universidade Federal do Amazonas - UFAM e pesquisador do Núcleo de Cultura Política do Amazonas – NCPAM.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

OS FANTASMAS DO PORTO DAS LAJES


Por trás do mega projeto de logística Porto das Lajes, articulado para ser construído no Parque Industrial de Manaus, ameaçando diretamente as diversas formas de vida do Lago do Aleixo, como também o cartão postal da Amazônia, o Encontro das Águas - Rio Negro e Solimões - há vários interesses. A nossa cordenação de pesquisa, em levantamento premilinar, identificou na internet várias notas que dão conta da complexidade deste empreendimento e suas relações internacionais, qualificando os atores, aliados e suas estratégias de negócio entre o público e o privado.

Manaus desperta interesse de gigante italiana de logística

Para Eduardo Braga, que recentemente anunciou um novo terminal de cargas privado em Manaus, a ser construído pela Log-In em parceria com uma empresa amazonense, o interesse da empresa italiana mostra a robustez da Zona Franca de Manaus.

A italiana Interporto Campano acena com interesse de instalar em Manaus uma estrutura semelhante à que mantém em Nápoles, no distrito comercial e logístico CIS-Interporto-Vulcano: uma gigantesca rede de galpões inteligentes ligada ao porto local por via ferroviária. É o que anunciou o presidente da companhia, Giovanni Punzo, à comitiva amazonense que iniciou no começo desta semana uma visita à Itália.

Visita - Segundo informações da agência de comunicações do estado, o governador Eduardo Braga passou por Nápoles na quarta-feira (9) a convite do empresário Luciano Cuccini, dono da Yamamai - maior rede de varejo italiana no ramo de lingerie e parceira do governo estadual na Fundação Amazonas Sustentável, a FAS. Lá, junto da comitiva, ele conheceu a operação da Interporto (foto, Agecom/AM).

Para Eduardo Braga, que recentemente anunciou um novo terminal de cargas privado em Manaus, a ser construído pela Log-In em parceria com uma empresa amazonense, o interesse da empresa italiana mostra a robustez da Zona Franca de Manaus. O governador deve receber nos próximos dias uma comissão liderada pelo próprio Punzo. Com informações da Agência de Comunicação do Estado do Amazonas.

Gigante - O distrito italiano de comércio e logística CIS-Interporto-Vulcano é um complexo de aproximadamente 5 milhões de metros quadrados que conta com terminal de contêineres, hub de carga aérea e ligação ferroviária com os principais portos da região centro-sul da Itália (Taranto, Gioia Tauro, Napoli, Salerno e Bari). Além do centro de distribuição atacadista da CIS, considerado o maior do continente europeu, e do centro de logística Nola Interporto, a estrutura abriga o centro de eventos e compras Vulcano: nada menos que 148 lojas e pontos de venda de varejo.

Fonte: Canal do Transporte; 10/04/ 2008.

OS FANTASMAS DO PORTO DAS LAJES II



Economia, il modello CIS - Interporto per l'Amazzonia

L’Interporto Campano di Nola entrerà a far parte della Fondazione per lo Sviluppo Sostenibile dell’Amazzonia. Lo annuncia il presidente Gianni Punzo durante la visita del governatore dello Stato dell’Amazzonia (Brasile), Eduardo Braga, al distretto Cis-Interporto-Vulcano Buono di Nola.

Sarà costituita una commissione di studi formata dai tecnici del Governo di Manaus, i rappresentanti della Fondazione per lo sviluppo sostenibile dell’Amazzonia e i responsabili dell’Interporto campano, per verificare in tempi brevi la possibilità di creare nella capitale dell’Amazzonia un sistema interportuale come quello del Cis di Nola.

L’Interporto a Manaus sarebbe destinato a diventare volano non solo per gli insediamenti della zona franca ma fungerebbe da terminal intermodale per tutto il Sud America.



10 aprile 2008

Fonte: Cometa

Link: http://www.consocometa.com/index.php?option=com_content&task=view&id=1378&Itemid=110

OS FANTASMAS DO PORTO DAS LAJES III




Camorra e futebol, nega todas as Punzo



O Empresário Napolitano Gianni Punzo, preso na quinta feira, nega todas as denúncias com a alegação de que era sócio do ex mafioso da camorra Carmine Alfieri, que gerencia o CIS, uma das maiores redes do comércio de varejo da Itália, Ele nega as ligações com o mafioso e diz que tem sido vítima dessas denúncias.



Materia na Íntegra:

Interrogato dai magistrati l' ex vicepresidente di Ferlaino arrestato giovedi' , contro di lui le deposizioni del pentito Alfieri TITOLO: Camorra e calcio, Punzo nega tutto L' imprenditore: vittima dei boss, non volevo avere il Napoli. Nuova grana per il club, si dimette Moxedano NAPOLI. Nega tutto Gianni Punzo, l' imprenditore napoletano arrestato giovedi' con l' accusa di aver gestito insieme con l' ex capocamorra Carmine Alfieri, lo sviluppo del Cis: il piu' grande centro italiano di commercio all' ingrosso. Nega i rapporti con il boss e ripete che lui della malavita organizzata e' stato sempre una vittima. E nega anche di aver cercato di assumere il controllo del Calcio Napoli, la societa' in cui e' stato per circa 15 anni vice di Corrado Ferlaino. Ma sono stati proprio Ferlaino e Alfieri a raccontare ai magistrati episodi che dimostrerebbero l' interesse di Punzo a diventare il numero uno del Napoli. L' ex presidente ha riferito di aver ricevuto dal suo vice insistenti proposte affinche' gli affidasse un mandato a vendere la maggioranza delle quote. Punzo ripeteva di avere acquirenti gia' pronti a subentrare. Tutto, pero' , accadeva nel ' 90, proprio quando interessato al Napoli era Pasquale Casillo, l' imprenditore finito poi anch' egli in carcere per i rapporti con il clan Alfieri. E c' e' di piu' . E' lo stesso Alfieri, in una recente deposizione, a spiegare che "mi risulta personalmente che Gianni (Punzo, n.d.r.) ha sempre aspirato a far fuori Ferlaino e a sostituirlo alla presidenza del Napoli". Nel frattempo provvedeva a tenersi buoni gli amici camorristi. Racconta ancora Alfieri: "Punzo e Celentano (Dino Celentano, ex dirigente accompagnatore del Napoli, n.d.r.) mi regalavano ogni anno tre abbonamenti per il campionato. E, a mia richiesta, tutti i biglietti di cui avevo bisogno in occasione di partite importanti". Proprio sugli ingressi gratuiti scoppio' un altro scontro, quando Ferlaino decise di far stampare sui tagliandi omaggio i nomi dei consiglieri ai quali erano destinati. Cosi' sarebbe stato piu' rischioso per Punzo regalarli al boss. E percio' si ribello' apertamente a Ferlaino. Punzo nega tutto, ma se un giorno dovesse decidersi a parlare potrebbe raccontare anche episodi inediti sul passaggio di consegne tra vecchia e nuova dirigenza della societa' , oggi coinvolta in un' altra bufera. Solo venerdi' scorso una sentenza della Corte d' Appello aveva posto fine a una lunga crisi societaria durata oltre 18 mesi. Sembrava tutto finalmente sistemato, quando ieri il vicepresidente Mario Moxedano, uno dei tre azionisti di maggioranza, ha annunciato le dimissioni: "A distanza di 8 mesi . dice fra l' altro . devo amaramente constatare che un certo metodo comportamentale non e' stato apprezzato come immaginavo". Moxedano era entrato nel Napoli nel giugno scorso, coinvolto da alcuni amici del gruppo ultra' "Curva B". E' stato uno dei protagonisti della sofferta ricostruzione del dopo Ferlaino. Lascia proprio quando, sistemato a fatica il passaggio del pacchetto azionario, bisognava far fronte a notevoli impegni economici: quasi 20 miliardi tra leasing degli impianti, arretrati a Fonseca e Thern, ingaggi ai giocatori e stipendi ai dipendenti, quota Irpef. Le sorti del Napoli restano ora nelle mani dei Gallo (Ellenio, il presidente, e il figlio Luis, amministratore delegato) e dell' industriale veneto, Ettore Setten: prima sponsor poi azionista, dopo la vicenda Pinzarrone.

Fonte: Corriere della Sera (21 de maio de 1995)

Link:http://archiviostorico.corriere.it/1995/gennaio/21/Camorra_calcio_Punzo_nega_tutto_co_0_9501211968.shtml

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A POLÊMICA DO PORTO DAS LAJES


Ademir Ramos*

V
iver em comunidade é participar da tristeza e alegria. É construir laços de parentesco ou vizinhança mediado por trocas, favores, encontros, debates, compadrio, confrontos e outras formas de se relacionar pautadas na tolerância, reciprocidade, no respeito, confiança e sustentabilidade.


A afirmação e o reconhecimento desses valores transformam os comunitários em elo de uma cadeia produtiva imaterial comportando-se como membro de um corpo, a reclamar unidade frente as ameças, que por ventura venham tentar dividir ou enfraquecer esse organismo social.


Os primeiros estudiosos dessa matéria tentaram identificar a comunidade como manifestação circunscrita a uma tradição rural, condenando esses homens e mulheres ao glebarismo social, em contraponto a modernidade das cidades e metrópoles. No entanto, suas conclusões em “preto e branco” estavam inteiramente equivocadas, porque tanto no campo como na cidade a luta social tem sido históricamente relevante, a começar pelas revoluções campesinas na Russia, no México, Nicarágua, entre outras nações.


Em Manaus, é digno de registro, o comportamento dos comunitários da Colônia Antonio Aleixo, situada na Zona Leste da Cidade, que sentindo-se ameaçados pelos empreendimentos empresariais construídos desordenadamente às margens do Lago do Aleixo, recorrem as lideranças e suas organizações como parte do movimento social, articulando forças para garantir a todos, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e socialmente justo.


Nos dias atuais, segundo o Relatório de Fiscalização do IBAMA/AM (2008), o Lago do Aleixo abriga inúmeras madeireiras, além de indústria de papel e celulose, indústrias de destinação de resíduos, distribuição de produtos químicos, entre outros empreendimentos, que depredam o meio ambiente pondo em risco a vida em sua plenitude.


Indignados, essas lideranças comunitárias participaram na segunda-feira (19/1), no Sindicato dos Jornalistas, em Manaus, da reunião de trabalho da Associação dos Amigos de Manaus (AMANA) para dar ciência a todos da luta que eles vêem travando contra alguns empresários do Parque Industrial da Zona Franca de Manaus, que reduzem o desenvolvimento em ações imediatas predadoras, pretendendo transformar o Lago do Aleixo em esgoto a céu aberto.


O golpe fatal desse complexo dar-se-á com a construção do Porto das Lajes situado à margem esquerda do Rio Amazonas, na foz do Lago do Aleixo, na confluência do Encontro das Águas do Rio Negro com Solimões. Neste mesmo lugar, por incrível que possa parecer, pretende-se construir o mirante do Encontro das Águas, projeto da Prefeitura assinado pelo renomado Oscar Niemeyer, assim como também, a implantação do Programa Água para Manaus (Proama) do Governo do Amazonas, que visa à captação e tratamento de água para ampliação do sistema de abastecimento das Zonas Leste e Norte da cidade apoiado pelo Governo Federal.


O projeto de construção do terminal portuário é movido por interesse privado, contando com o aval do Governo do Estado do Amazonas e da SUFRAMA. O mega-projeto, inicialmente, terá um investimento de mais de 220 milhões de reais, para construir um pátio com mais de 100 mil metros quadrados de área, com capacidade para atender 250 mil unidades de contêiner. À frente do empreendimento encontra-se uma corporação empresarial criada para a captação de recurso, na qual a Log-In Logística Intermodal S.A. composta pela BOVESPA e Vale do Rio Doce detém 70% do capital. Os demais 30% são da Juma Participações S.A., empresa sediada em Manaus, acionista do Grupo Simões, que é o responsável o pelo envasamento dos produtos Coca-Cola no Norte do Brasil.


O jogo é pesado, a voracidade do capital que motiva as ações tem recorrido a várias artimanhas, principalmente, em se tratando de desmobilizar a organização, buscando dividir forças na comunidade para reinar em beneficio e interesse privado. No entanto, os comunitários sabem e tem consciência, que mais do que nunca precisam estar unidos para enfrentar essas “aves de rapina”, ampliando suas parcerias e definindo novas estratégias para se garantir o futuro dos filhos e netos como cidadãos do planeta. Está luta não é só dos comunitários do Lago do Aleixo, mas de todos que sonham por um mundo verde e ecologicamente sustentável.


* Professor, Antropólogo, coordenador do NCPAM e membro da AMANA

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

HOBBES EXPLICA!


Breno Rodrigo de Messias Leite*


Qualquer pessoa civilizada e razoavelmente racional sabe que mesmo em uma guerra alguns valores, como os direitos humanos e os tratados internacionais, devem ser respeitados. Estas mesmas pessoas, que presumo existirem no mundo real, também sabem os direitos humanos e os tratados são as primeiras vítimas a tombar.

O século XX (e o presente século segue o mesmo caminho) foi um grande laboratório de guerras. As sociedades entraram em conflitos armados para combater tiranias como foi o caso da luta contra o nazi-fascismo; para defenderem seus interesses nacionais como as lutas pela soberania popular e autodeterminação; e destruir valores de outros povos – as batalhas colonialistas e a guerra dos EUA no Afeganistão e no Iraque. Em geral, uma guerra é anunciação de violência desumana que tem acompanhado até hoje a evolução do homem, como bem retrata as cenas iniciais do filme 2001: uma Odisséia no Espaço, de Stanley Kubrick.

O final da Segunda Guerra Mundial arquitetou o cenário do que se tem chamado de “guerra infinita” no Oriente Médio. O conflito do mundo Árabe versus Israel, islamismo versus judaísmo (no modelo de “choque de civilizações” do recém-falecido Samuel Huntington) tem se colocado como um grande problema para a (des)ordem internacional, principalmente, na violação dos tratados internacionais e nos constantes desrespeitos aos direitos humanos.

Desde o ato de fundação do Estado do Israel (1948), que foi conquistado e legitimado por meio do lobby sionista e pelo impacto do holocausto sobre o povo judeu, os conflitos na região só têm de agravado em função da orientação expansionista das defensivas/ofensivas militares israelenses nos territórios árabes. E toda a expansão territorial tem sido acompanhada por mega-projetos de colonização judaica – outra violação explicita do direito internacional ou, pelo menos, do que restou.

Diante disso, vem um questionamento elementar: o que leva um país como Israel ser democrático na sua política interior e tão antidemocrático na sua política exterior?

Talvez a resposta da moderna teoria das relações internacionais seja uma importante ferramenta para tentarmos esclarecer este possível paradoxo. A teoria realista das relações internacionais diz que o sistema internacional é anárquico – como o estado de natureza da metáfora hobbesiana – e que os Estados comportam-se como indivíduos egoístas e cruéis em um mundo onde o “homem é o lobo do homem”.

A ausência de uma ordem internacional regulada por leis claras e universais – isto é, um ordenamento constitucional mínimo –, e uma autoridade política capaz de funcionar como um governo civil eficiente, faz com que estas arbitrariedade que assistimos pela TV, lemos nos jornais e acompanhamos pela internet continuem a se perpetuar. Nesse sistema, ninguém tem autoridade de dizer ao indivíduo-Estado de Israel: “cala e consenti. Se atacar o teu vizinho, sofrerá imediatamente a sanção da lei”. A única forma de domar este indivíduo-Estado é reação enérgica de um outro indivíduo-Estado com potencial bélico mais avançado, que nesse caso derrotaria Israel e faria leviatanicamente o armistício entre as partes.

Mas a atual ordem internacional não possui, como diria Max Weber, este monopólio legítimo da violência, a não ser quando lhe convém (basta lembrar a ação dos Blue Caps da ONU nos inúmeros episódios de genocídios na África ou da coalizão de países pró-EUA na Guerra do Kosovo). Todavia, em se tratando de uma potência militar do porte de Israel (a maior de todo o Oriente Médio), o máximo que uma organização internacional como a ONU pode fazer é suplicar uma trégua imediata e buscar construir vias diplomáticas para o consentimento.

A saída de Thomas Hobbes para por fim as guerras que refletem, ainda, o estado de natureza seria a criação de uma ordem internacional unipolar – um tipo de Leviatã mundial. Este governo mundial ofertaria a paz e pediria como contrapartida a liberdade dos indivíduos-Estados.

Certamente, isto pode parecer um absurdo para se compreender a mecânica dos Estados modernos, mas isto acontece cotidianamente no nosso mundo ordinário. Nós, cidadãos, de certa maneira, renunciamos a liberdade infinita (a liberdade que eu teria, por exemplo, de liquidar fisicamente todos os meus inimigos sem aturar nenhum tipo de represália legal) para aceitarmos um pacto de submissão e obediência em uma democracia constitucional. Nós trocamos a possibilidade de um reino da liberdade pelo potencial reino da paz.

Nesta terapia coletiva, Hobbes explica!

* Mestrando em Ciência Política pela UFPA e colaborador do NCPAM.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

MIRATINGA NELES!

O SANTO EXCLUÍDO DO LARGO DO ROBÉRIO

No passado, com a reforma da Igreja foi cassado dos altares vários santos que povoavam o catolicismo popular no Brasil, entre eles, o querido São Jorge, que faz alegria dos corintianos e do povo do santo. Desta vez, não foi o Papa e nem tampouco o Concílio dos Cardeais que excluiu São Sebastião do Largo do Robério, foi o próprio mandonismo do Secretário de Estado da Cultura, Robério Braga, que determinou o fim de uma tradição, proibindo, em janeiro, as quermesses e arraiais do santo na circunscrição da Praça, que depois de reformada pelo
próprio Secretário, passou a se chamar Largo São Sebastião. No entanto, com a exclusão do santo passa a ser canonizado de Largo do Robério.

GOLPE CONTRA UEA E SEU MITO FUNDADOR


Podes crer, no governo do Amazonas, tudo é verdadeiramente um jogo de cena. O governador do Amazonas, Eduardo Braga, que até hoje, não engoliu o ex-governador Amazonino Mendes, por ter criado a Universidade Estadual do Amazonas (UEA), resolveu ofuscar estas representações,
desqualificando um dos melhores produtos da UEA, que é o Programa de Formação e Valorização de Profissionais da Educação, o renomado PROFORMAR, que além de ser premiado pela UNESCO por ter formado mais de 16 mil professores no Estado, estava em negociação para ser implantado em Angola e outros países africanos, que demandavam tal formação profissional. O golpe do governador contra a UEA foi consumado, quando contratou, a peso de ouro, o Telecurso da Globo para promover o nivelamento dos alunos da reduane pública do Estado, promovendo a evasão de divisas e o esquecimento do mito fundador da UEA, que também foi o seu criador.

A ÚLTIMA DO ROBÉRIO


Durma-se com este barulho. Comenta-se na Imprensa do Amazonas, a fonte é quente, que o Secretário de Estado de Cultura, Robério Braga resolveu contratar uma polícia paralela para garantir as manifestações do Carnaval do Povo e o Carnaboi, espécie de circo dos lesos e desavisados, pela bagatela de R$ 116,6 mil. A empresa dublê contratada é a Vigilância e Segurança Patrimonial (VISAM) concorrente da Polícia Militar do Estado. É isso aí, enquanto os lesos dançam outros batem a carteira dos desavisados.

MiraCharge

Fonte:http://marxismo.files.wordpress.com

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

O NEGÃO DAQUI E O NEGÃO DE LÁ



João Fábio Braga*

H
á quem afirme a comparação do “Negão” Amazonino Mendes com o Negão Barack Obama.


Porém, sabemos, que o Negão Obama, presidente eleito e preste assumir o posto, está simbolizando a mudança, carisma aliado à poesia do discurso; paira sobre esta representatividade a ansiosa incerteza de como conduzirá o cargo.

O outro “Negão” que mais uma vez governa Manaus, dizem as más línguas o diabo o apelidou sob o símbolo da rosa e da cruz, o qual a história política os amazonenses conhecem, ao ponto de os fatos históricos serem riscados ou manipulados, isto é, os fatos tendem a ficar avessos escamoteando à idéia concreta de corrupção e escândalos do passado, tais ilicitudes são resignificadas na âncora da competência e da experiência, justificando o delírio da mudança e o retorno do mais do mesmo. Essa é grande verdade.


Assim como o diabo, ser devir de muitas mutações, o Negão Amazonino é uma metamorfose ambulante, especialmente quando se metamorfoseia de abelha à Negão (nem afro-brasileiro ele é, ou melhor, uma espécime de caboclo de Eirunepé), um homem adaptando-se aos novos tempos, carregando o tom de mudança e de trabalho. Lembro do velho Vargas, voltando ao braço do povo sob tais alegações ou qualquer comparação é inevitável à figura do Paizão, simbolismo mais que “louvável” e vocabulado nas expressões de carinho, de afeto, de identificação ao ser comum e igual, ou como dizem por ai: Negão é legal, Negão é a verdadeira mudança, Negão tem paixão pelo povo, etc.

O Negão; sabe-se, principalmente a justiça, que ele é o Todo-Poderoso, superior a todos os direitos, é intocável, é imaculado, assim faço refletir as palavras de Machado de Assis, quanto à ambição do Diabo de trazer as boas novas aos homens, construindo sua igreja na terra:

A venalidade, disse o Diabo, era o exercício de um direito superior a todos os direitos. Se tu podes vender a tua casa, o teu boi, o teu sapato, o teu chapéu, coisas que são tuas por uma razão jurídica e legal, mas que, em todo caso, estão fora de ti, como é que não podes vender a tua opinião, o teu voto, a tua palavra, a tua fé, coisas que são mais do que tuas, porque são a tua própria consciência, isto é, tu mesmo? Negá-lo é cair no obscuro e no contraditório. Pois não há mulheres que vendem os cabelos? não pode um homem vender uma parte do seu sangue para transfundi-lo a outro homem anêmico? e o sangue e os cabelos, partes físicas, terão um privilégio que se nega ao caráter, à porção moral do homem? Demonstrando assim o princípio, o Diabo não se demorou em expor as vantagens de ordem temporal ou pecuniária; depois, mostrou ainda que, à vista do preconceito social, conviria dissimular o exercício de um direito tão legítimo, o que era exercer ao mesmo tempo a venalidade e a hipocrisia, isto é, merecer duplicadamente.


A mera comparação do Negão daqui com o Negão de lá é espúria, é somente o verdadeiro apólogo à demagogia.

Coordenador Editorial do NCPAM e cientista social*

FONTE: fabiobraga.wordpress.com/

A DEVOLUÇÃO DO ACRE AOS BOLIVIANOS


*Roberto Monteiro de Oliveira

A reação boliviana
– O governo boliviano não se dá por vencido. Em 2 de janeiro de 1899, o ministro plenipotenciário boliviano, Dom José Paravicini, com o consentimento do governo brasileiro retoma a soberania boliviana sobre o Acre.

Paravicini se estabeleceu em um povoado nas terras do Seringal Caquetá que pôs o nome de Puerto Alonso, em homenagem ao então Presidente da Bolívia Severo Fernandez Alonso. Paravicini foi substituído depois por Moisés Santivanez.


O governo dos bolivianos
- Na verdade os prepostos bolivianos exerceram plenamente a soberania sobre o território acreano. Começaram arrecadar impostos sobre a produção da borracha, exigiram a demarcação e legalização das terras dos seringais, e atendendo às pressões do governo norte-americano proclamaram a abertura dos rios amazônicos ao comércio internacional e iniciam um relacionamento autoritário e violento com os seringalistas e seringueiros brasileiros.


A reação dos acreano-brasileiros
- Abandonados pelo moribundo império brasileiro o jornalista José Carvalho, no primeiro de maio de 1899, no Seringal Bom Destino, de propriedade de Joaquim Vítor reuniu outros seringalistas, seringueiros e mais brasileiros e, iniciou o que ficou registrado pela História como a Revolução do Acre.


Estes revolucionários assinaram um manifesto e instituíram a Junta Central Revolucionária que intimou as autoridades bolivianas a se retirarem daquele território o que efetivamente aconteceu sem nenhuma reação.


A grande armação
– Em Belém do Pará, o jornalista espanhol Luiz Galvez Rodrigues de Árias, em 03 de junho daquele ano de 1899, denunciou pela imprensa a existência de um acordo secreto entre o governo da Bolívia e os Estados Unidos da América do Norte, pelo qual os Estados Unidos em caso de guerra entre o Brasil e a Bolívia pelo território do Acre apoiariam militarmente a Bolívia.


Como sempre, os governos denunciados negaram veementemente. Mas os acontecimentos posteriores comprovaram a verdade das denúncias.
Patrocinado pelo governo do Estado do Amazonas, interessado em manter a soberania sobre aquele território, Luiz Galvez foi até ao Acre para conversar com a junta revolucionária.

O Estado Independente do Acre
– Considerando que as elites do governo brasileiro continuavam reconhecendo a soberania da Bolívia sobre o Acre, sem o conhecimento do que realmente se passava naquela base territorial, totalmente indiferente aos legítimos anseios do povo acreano que queria ser brasileiros, os revolucionários decidem criar o Estado Independente do Acre. “Já que nossa Pátria não nos quer, criamos outra”, diziam os revolucionários.


Efetivamente, no dia 14 de julho de 1899, aniversário da Queda da Bastilha, primeiro fato relevante da Revolução Francesa os revolucionários acreanos proclamam o Estado Independente do Acre com a capital na cidade do Acre, tendo Luiz Galvez Rodrigues de Árias como presidente.


O governo de Galvez
- Galvez foi tomando todas as providências necessárias para a organização do novo Estado. Deve-se observar, porém, que desde as primeiras reuniões entre Galvez e os revolucionários foi fixado o objetivo principal da revolução que era se libertar do domínio dos bolivianos e, logo a seguir se anexar ao Brasil como um Estado autônomo da federação brasileira com todos os direitos inerentes a essa condição.


Este sempre foi o ideal que irmanou seringalistas, seringueiros, homens e mulheres do Acre em busca da cidadania brasileira que lhes estava sendo negada por uma elite burocrática completamente legalista, indiferente aos anseios de um povo que lutava pela afirmação da própria identidade amazônica e brasileira.


Este ideal dos acreanos só será realizado plenamente em 1962 no contexto do governo do presidente João Goulart, após quase sessenta anos de lutas contra governos que continuavam negando aos acreanos a sua autodeterminação.


A deposição de Galvez
- Algumas das medidas adotadas por Luiz Galvez contrariaram interesses de seringalistas, aviadores e exportadores de Borracha de Manaus e Belém o que provocou a substituição de Luiz Galvez pelo seringalista Antônio de Souza Braga em 28 de dezembro de 1899. Mas em 30 de janeiro de 1900, Luiz Galvez volta ao poder convocado por Antônio de Souza Braga que se sentiu incapaz de administrar a situação.


Novamente o governo brasileiro
– Diante dessa situação, acompanhada com grande interesse pelo povo brasileiro e boliviano, o governo brasileiro manda uma força tarefa da marinha para o Acre e em 15 de março de 1900 devolve a soberania daquele território para o governo boliviano.


*Geógrafo do Núcleo de Estudos Amazônicos (NEAZ) da Universidade de Brasília.

sábado, 10 de janeiro de 2009

ISRAEL VIOLA COVENÇÃO DE GENEBRA



Maurício Reimberg e Tadeu Breda

A
s recentes operações militares de Israel na Faixa de Gaza configuram crimes contra a humanidade. Essa é a avaliação do norte-americano Richard Falk, relator especial das Nações Unidas para a situação dos direitos humanos nos territórios ocupados por Israel desde 1967 na Palestina. Em visita ao Brasil, ele concedeu uma entrevista coletiva nesta quarta-feira (7) organizada pelo Núcleo de Estudos da Violência da Universidade de São Paulo.

“Os ataques israelenses ferem a 4ª Convenção de Genebra primeiramente porque punem coletivamente os palestinos residentes em Gaza, não fazendo distinção entre alvos civis e combatentes”, diz Falk. Até o momento, estima-se que mais de 700 palestinos foram mortos e três mil feridos desde o início da invasão, no dia 27 de dezembro. Cerca de 25% das vítimas palestinas são civis.

Os israelenses contabilizam dez mortes, entre as quais estão quatro civis atingidos por foguetes lançados pelo grupo islâmico Hamas e seis militares caídos em combate – quatro deles vítimas de “fogo amigo”.

O relator da ONU diz que o bloqueio econômico mantido por Israel há 18 meses também está em desacordo com o direito internacional. “A Convenção de Genebra diz que o país ocupante deve prover à população da zona ocupada condições dignas de sobrevivência”, explica Falk. “No entanto, o bloqueio israelense vem impedindo a entrada de alimentos, combustíveis e medicamentos em quantidade suficiente para suprir as necessidades dos habitantes de Gaza.”

Falk lembra que Israel bloqueou totalmente as fronteiras da Faixa de Gaza e não permite sequer que os civis palestinos se refugiem em outros países. “Em todo conflito há um enorme número de refugiados. A proibição de Israel não tem precedentes nas guerras urbanas mundiais”. O relator da ONU diz ainda que o exército israelense utiliza força desproporcional ao atacar uma sociedade “sem condições de se defender”.

O relator acredita que a ONU deveria investir num cessar-fogo imediato entre as partes, na retirada de Israel e no fim do bloqueio contra Gaza, além de proibir o lançamento de foguetes Qassam contra o território israelense – justificativa oficial para a atual operação militar. “A partir dessas bases, as Nações Unidas podem buscar um caminho para definir a autodeterminação do povo palestino.”

O Conselho de Segurança da ONU ainda não chegou a nenhuma medida concreta para encerrar os combates em Gaza. Já o Conselho de Direitos Humanos se reunirá de maneira extraordinária na sexta-feira para emitir um pronunciamento sobre a situação da Palestina.

“A grande pergunta que se deve fazer agora é por que a comunidade internacional e a ONU têm feito tão pouco?”, pergunta Falk. E ele mesmo responde: “As Nações Unidas só atuam efetivamente por intervenção direta de seus cargos mais importantes, e os EUA têm se oposto à proteção dos palestinos e impedido a ONU de cumprir seus compromissos humanitários.

“Anti-Israel”


Considerado um dos maiores especialistas do mundo em direitos humanos, Richard Falk é professor emérito da Universidade de Princeton (EUA). Foi ele quem cunhou os termos “globalização de cima para baixo” e “globalização de baixo para cima”, referindo-se aos diversos movimentos sociais, ONGs e voluntários que tentam criar uma comunidade “além do Estado territorial” para enfrentar as injustiças produzidas pela nova ordem social.

No último dia 14 de dezembro, Falk foi expulso do território israelense no que seria sua primeira missão como relator especial – uma reunião com o presidente da Autoridade Nacional Palestina, Mahmoud Abbas. Apesar de estar em visita oficial, ele foi detido por 15 horas antes de ser retirado do país. O governo alega que o diplomata é “anti-Israel”.

“Minha expulsão é um claro aviso à ONU de que Israel não quer cooperar com relatores críticos à ocupação, e faz parte de uma política para excluir possíveis testemunhas oculares dos fatos que estão acontecendo em Gaza neste momento”, avalia, lembrando que jornalistas estrangeiros e observadores internacionais também foram impedidos de entrar nas zonas de conflito. “Pensei que minha objetividade como relator seria testada com base no relatório que produziria sobre o evento, e não julgada por antecipação.”

Atores políticos


Falk avalia que o Hamas não é o maior dos obstáculos para o fim das hostilidades na Palestina. “O maior problema são os políticos israelenses que não querem estabelecer uma paz justa na região.” Para ele, classificar os palestinos como “terroristas” é uma fuga da diplomacia e da negociação pacífica, e justifica o uso da força. Ademais, trata-se de uma tática antiga que já foi utilizada para isolar e enfraquecer Yasser Arafat (1929-2004), ex-presidente da ANP.

“Não é útil definir o Hamas como ‘grupo terrorista’, do mesmo jeito que não é útil dizer que Israel é um ‘Estado terrorista’, porque ambos são atores políticos. O terrorismo é uma desculpa para usar a força na tentativa de resolver um conflito que deve ser solucionado por ações políticas”, diz o relator da ONU.

O governo israelense se utiliza de dois argumentos para justificar os ataques e rechaçar um cessar-fogo. Os pronunciamentos oficiais insistem em que não há crise humanitária em Gaza e sustentam a tese de que Israel está agindo defensivamente contra o lançamento de foguetes. Falk acrescenta que nenhum israelense foi morto por foguetes Qassam disparados pelo Hamas nos últimos 12 meses que antecederam os ataques de 27 de dezembro. Os únicos feridos foram contabilizados após o início das ofensivas.

As eleições legislativas em Israel acontecem no dia 10 de fevereiro. Nelas será escolhido o próximo primeiro-ministro do país. Os principais concorrentes ao cargo hoje ocupado por Ehud Olmert são Ehud Barak – atual ministro da Defesa, filiado ao Partido Trabalhista – e Tzipi Livni, do Kadima, que desempenha o cargo de ministra das Relações Exteriores. Ambos negam que Gaza esteja passando por uma crise humanitária.

Território


Cerca de 45% da população de Gaza é composta por crianças com até 14 anos. Desde o início da ofensiva, mais de 100 delas já morreram. Segundo Paulo Sérgio Pinheiro, pesquisador associado do Núcleo de Estudos da Violência da USP, 1,5 milhão de pessoas vivem numa área de 360 km², o que configura a mais alta densidade demográfica do mundo: mais de quatro mil pessoas por km².

Um dos episódios que causaram mais revolta internacional foi o bombardeio à escola Al Fakhora, administrada pelas Nações Unidas, no campo de refugiados de Jabaliya, ao norte de Gaza. Os ataques foram realizados nesta terça-feira (6) e deixaram pelo menos 30 mortos e 55 feridos. A instituição abrigava civis refugiados. No mesmo dia, Israel atentou contra outro colégio mantido pela Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinos na cidade de Gaza. Três jovens morreram.

Sob pressão, Israel concordou em estabelecer um “corredor humanitário” que dará acesso temporário limitado a alguns pontos da região. O intuito é permitir que sejam levados suprimentos vitais para a população palestina, cujo estado de carência foi intensificado depois do fim da trégua de seis meses com o Hamas, que expirou no último dia 19. No entanto, o acordo já havia sido rompido por Israel, que no dia 4 de novembro matou seis palestinos em Gaza. “À revelia do que se pensa sobre o Hamas, ele tem buscado uma trégua duradoura com os judeus desde que Israel retornasse às fronteiras anteriores a 1967, proposta que foi ignorada.”

Retirado do Site www.cartamaior.com

O ASSALTO À EDUCAÇÃO


Por Maria Rachel Coelho

Depois de superarmos o Fernando I, “caçador de marajás” e “defensor dos descamisados” e o Fernando II, FHC, governo marcado pela privatização da Embraer, Telebrás, Vale do Rio Doce e outras estatais, e pela aprovação da emenda constitucional que autorizou a reeleição, surgiu nos últimos dias um novo garoto propaganda, para tentarem manter a “monarquia republicana brasileira” em 2010: o Fernando III.

De acordo com publicação do jornal O Globo de 28 de dezembro de 2008, a verba de comunicação e publicidade do Ministério da Educação para 2009 vai triplicar em relação a 2007. O MEC alega que precisa aumentar a divulgação de projetos do PAC da Educação. Mas alguns desses projetos, como o Brasil Alfabetizado, sofreram cortes de verba devido à crise. Mas mesmo com corte de R$ 1 bilhão no orçamento, a verba de publicidade vai triplicar em relação a 2007.


Ainda segundo Editorial de O Estado de São Paulo, publicado em 2 de janeiro de 2009, se ainda havia alguma dúvida quanto à tentativa do ministro Fernando Haddad usar o MEC para ganhar visibilidade e, com isso, fortalecer sua imagem política com vista à eleição de 2010, ela é desfeita quando se analisa o orçamento da pasta para 2009.

O orçamento para atividades-fim vai encolher enquanto os gastos com publicidade, propaganda e marketing vão crescer. O Editorial lembra, ainda, que desde sua nomeação, em julho de 2005, Haddad vem sendo lembrado por líderes petistas como um “nome” para as eleições de 2010. Nos últimos meses, inclusive, criou instituições federais de ensino superior em redutos eleitorais do PT.

Financiar propaganda eleitoreira com dinheiro público enquanto o Brasil ocupa um 7º lugar em analfabetismo, é uma afronta aos brasileiros. Opinião pública se faz trabalhando, ainda que em cima de propostas e projetos plagiados. Opinião pública se faz dando dignidade ao povo e não fazendo teatrinho na TV. Mas isso já é apelação de um governo que não engana mais ninguém, de tão deteriorado por sucessivos escândalos de corrupção que o fizeram cair no descrédito.

Uma política séria pensaria em erradicar o analfabetismo, em oferecer vagas para o ensino médio e torná-lo obrigatório e profissionalizante. Em recuperar e expandir o sistema público federal de educação superior em todo o território nacional, e não apenas em redutos eleitorais. Um sistema que ainda conserva modelo acadêmico e profissional superados tanto no aspecto acadêmico como institucional. A transformação é urgente pois ainda temos por base as reformas universitárias parciais e limitadas nas décadas de 60 e 70 do século passado.

A situação se agravada no vácuo existente entre a graduação e a pós-graduação, tal qual herdado da reforma universitária de 1968. Aliás, a atuação da CAPES já está reconhecidamente prejudicada com o corte no orçamento no valor de R$ 1 bilhão em 2009.
Estamos correndo o risco do isolamento nas esferas científica, tecnológica e intelectual em um mundo cada dia mais globalizado e inter-relacionado.

Mas qual será o slogan para 2010? Decerto Fernando III, não vai fazer cooper, dirigir jato supersônico, motocicletas super potentes ou jet sky, subir e descer a rampa do Palácio, comportamentos que exaltavam a suposta jovialidade, arrojo, combatividade e modernidade de Fernando I, hábitos expressos em sua notória frase "Tenho aquilo roxo".
Esse novo garoto propaganda também não tem tradição de idealizador, como Fernando II, idealizou o Plano Real. A tradição dele e de todo seu time é a de apenas dar continuidade as idéias dos outros.

Mas do jeito que começou seu reinado temos uma boa sugestão, já que gosta de artes marciais poderia ser: Fernando III, aquele que deu “um golpe nas crianças brasileiras” ou Fernando III “ o assaltante da educação brasileira”.

* Professora Universitária e Coordenadora do Movimento Educacionista