quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

A POLÊMICA DO PORTO DAS LAJES


Ademir Ramos*

V
iver em comunidade é participar da tristeza e alegria. É construir laços de parentesco ou vizinhança mediado por trocas, favores, encontros, debates, compadrio, confrontos e outras formas de se relacionar pautadas na tolerância, reciprocidade, no respeito, confiança e sustentabilidade.


A afirmação e o reconhecimento desses valores transformam os comunitários em elo de uma cadeia produtiva imaterial comportando-se como membro de um corpo, a reclamar unidade frente as ameças, que por ventura venham tentar dividir ou enfraquecer esse organismo social.


Os primeiros estudiosos dessa matéria tentaram identificar a comunidade como manifestação circunscrita a uma tradição rural, condenando esses homens e mulheres ao glebarismo social, em contraponto a modernidade das cidades e metrópoles. No entanto, suas conclusões em “preto e branco” estavam inteiramente equivocadas, porque tanto no campo como na cidade a luta social tem sido históricamente relevante, a começar pelas revoluções campesinas na Russia, no México, Nicarágua, entre outras nações.


Em Manaus, é digno de registro, o comportamento dos comunitários da Colônia Antonio Aleixo, situada na Zona Leste da Cidade, que sentindo-se ameaçados pelos empreendimentos empresariais construídos desordenadamente às margens do Lago do Aleixo, recorrem as lideranças e suas organizações como parte do movimento social, articulando forças para garantir a todos, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e socialmente justo.


Nos dias atuais, segundo o Relatório de Fiscalização do IBAMA/AM (2008), o Lago do Aleixo abriga inúmeras madeireiras, além de indústria de papel e celulose, indústrias de destinação de resíduos, distribuição de produtos químicos, entre outros empreendimentos, que depredam o meio ambiente pondo em risco a vida em sua plenitude.


Indignados, essas lideranças comunitárias participaram na segunda-feira (19/1), no Sindicato dos Jornalistas, em Manaus, da reunião de trabalho da Associação dos Amigos de Manaus (AMANA) para dar ciência a todos da luta que eles vêem travando contra alguns empresários do Parque Industrial da Zona Franca de Manaus, que reduzem o desenvolvimento em ações imediatas predadoras, pretendendo transformar o Lago do Aleixo em esgoto a céu aberto.


O golpe fatal desse complexo dar-se-á com a construção do Porto das Lajes situado à margem esquerda do Rio Amazonas, na foz do Lago do Aleixo, na confluência do Encontro das Águas do Rio Negro com Solimões. Neste mesmo lugar, por incrível que possa parecer, pretende-se construir o mirante do Encontro das Águas, projeto da Prefeitura assinado pelo renomado Oscar Niemeyer, assim como também, a implantação do Programa Água para Manaus (Proama) do Governo do Amazonas, que visa à captação e tratamento de água para ampliação do sistema de abastecimento das Zonas Leste e Norte da cidade apoiado pelo Governo Federal.


O projeto de construção do terminal portuário é movido por interesse privado, contando com o aval do Governo do Estado do Amazonas e da SUFRAMA. O mega-projeto, inicialmente, terá um investimento de mais de 220 milhões de reais, para construir um pátio com mais de 100 mil metros quadrados de área, com capacidade para atender 250 mil unidades de contêiner. À frente do empreendimento encontra-se uma corporação empresarial criada para a captação de recurso, na qual a Log-In Logística Intermodal S.A. composta pela BOVESPA e Vale do Rio Doce detém 70% do capital. Os demais 30% são da Juma Participações S.A., empresa sediada em Manaus, acionista do Grupo Simões, que é o responsável o pelo envasamento dos produtos Coca-Cola no Norte do Brasil.


O jogo é pesado, a voracidade do capital que motiva as ações tem recorrido a várias artimanhas, principalmente, em se tratando de desmobilizar a organização, buscando dividir forças na comunidade para reinar em beneficio e interesse privado. No entanto, os comunitários sabem e tem consciência, que mais do que nunca precisam estar unidos para enfrentar essas “aves de rapina”, ampliando suas parcerias e definindo novas estratégias para se garantir o futuro dos filhos e netos como cidadãos do planeta. Está luta não é só dos comunitários do Lago do Aleixo, mas de todos que sonham por um mundo verde e ecologicamente sustentável.


* Professor, Antropólogo, coordenador do NCPAM e membro da AMANA

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