quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

SOB IMPULSO DAS SAPATADAS E BOTA-FORA


Ademir Ramos*

O grito que não quer calar vem das ruas, pressionando os poderes constituídos a cumprirem com dignidade o seu dever republicano. Nessa missão, o poder da mídia tem uma valiosa importância, bem como, todo instrumento de controle social participativo, atento ao cumprimento das leis e em defesa do patrimônio público contra os ladrões do Estado e do povo.

O certo é que a imoralidade, a corrupção e o desmando resultam da impunidade. Para tanto, os tribunais começam a ouvir o sonoro grito das ruas contra os picaretas e outros bandidos do colarinho branco, que se valem da política para se proteger dos crimes cometidos ou presumidos, recorrendo ao erário publico para beneficiar camaradas, parentes e a indústria do crime das notas frias, dos produtos falsificados, das licitações viciadas, entre outras.


Na Democracia o justiceiro é condenado tanto quanto o criminoso. Para tanto, o imperativo da Lei deve intimidar ricos e pobres, despertando nos magistrados uma participação destemida no cumprimento eficaz da Justiça. Ao contrário, quando se perde a fé pública nos aparelhos de Estado e, em particular, nos operadores da Justiça, tudo pode acontecer.


Nessa circunstância, a Política torna-se irrelevante, passando mandar a força do crime representada por corporações que manipulam os Partidos e o Estado, visando à concentração da riqueza na mão da bandidagem. Os beneficiados diretos desta prática originam-se do narcotráfico, do contrabando de armas, da prostituição infantil e de outros segmentos do crime organizado, que mobilizam bilhões de dólares no sistema financeiro internacional.

O jogo é duro. Por isso, o cidadão de bem não deve ficar de fora, pensando que: “não tenho nada haver com isso”. Saiba que a omissão é, sem dúvida, uma carta de aceite a esses políticos governantes que pensam que nós todos somos otários, lesos e neobobos.


Para este fim é necessário que estejamos atentos ao comportamento dos políticos conservadores quanto à gestão da coisa pública, combatendo os argumentos referentes à política enquanto negação do outro ou da prática diluviana sintetizada na máxima “antes e depois de mim”.

Este comportamento patrimonialista reduz o Estado ao interesse privado, delegando poderes aos parentes e afins, visando à multiplicação do patrimônio de sua empresa para “empinar” os negócios de família e também de seus laranjas testas de ferro. A corrupção se alastra quando o poder legislativo e o próprio judiciário são reduzidos aos interesses imediatos de grupos privados, contrariando os preceitos republicanos e constitucionais.

Nesta circunstância, gritamos por uma imprensa livre e por um ministério público atuante capaz de denunciar as tramóias do poder e de seus atores, fazendo valer o interesse público sob o império da Justiça. A ressonância deste grito deve mobilizar a sociedade organizada para garantir a efetividade do Direito e da Cidadania, condenando os corruptos a grades do esquecimento sob impulso das sapatadas e bota-fora.


*Antropólogo, professor da Ufam e coordenador do NCPAM.

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