quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013




ZONA FRANCA, NADA A COMEMORAR TUDO A LAMENTAR

No momento em que a Zona Franca de Manaus (ZFM) completa 46 anos é hora de se denunciar a perversa acumulação da riqueza nas mãos de poucos criando a barbárie social.
Ademir Ramos (*)
Certa vez entrevistando o senador Jefferson Peres sobre a responsabilidade social da Zona Franca de Manaus, ele me dizia que o condenável não é o modelo em si, mas, a destinação que os governos dão aos tributos arrecadados. Só o governo do estado por ano arrecada mais de 10 bilhões de reais, deixando muito a desejar o retorno desses tributos à população local, que há muito reclama por políticas públicas de qualidade em atenção à saúde, educação, seguranças, cultura, ciência, meio ambiente, empregabilidade, entre outras ações. Contudo, no momento em que o Projeto Zona Franca de Manaus (ZFM) completa 46 anos é hora de se denunciar a perversa acumulação da riqueza nas mãos de poucos criando a barbárie social a se caracterizar pela extrema pobreza, bem como pelos males causados a saúde dos trabalhadores do polo industrial de Manaus.
A discordar do senador Jefferson Peres, afirmo que o projeto em si é condenável por não valorizar a força de trabalho local, centrando suas plataformas no trabalho manual que adestra homens e mulheres a corresponderem aos estímulos das esteiras de produção, reduzindo, por sua vez, estes atores culturalmente determinados em objetos de exploração econômica e dominação política.
A isenção fiscal no Amazonas exigida pelo modelo deveria ser convertida em empregabilidade, criando oportunidade para que homens e mulheres pudessem desenvolver suas potencialidade e habilidades, afirmando desse modo nossa soberania frente às ameaças que pairam sobre a Amazônia. Estrategicamente o projeto ZFM resulta da expansão do capitalismo em território brasileiro em conluio com o Regime Militar, estendendo suas práticas até o presente, tendo como fio condutor a exploração do trabalho, acumulação da riqueza e ocupação do território.
Nada a comemorar tudo a lamentar a começar pela inoperância da bancada federal em Brasília somado ao “bate estaca” dos governantes que nada, absolutamente nada, fizeram para redimensionar o modelo numa perspectiva sustentável assentada na potencialidade local, implementando as estruturas de indústrias flexíveis mediada por tecnologias ambientais, seguido da bioindústria compartilhada com o saber tradicional em favor dos seus agentes, bem como investindo no turismo, na economia criativa e na própria criação e inovação de tecnologias em atenção aos benefícios dos serviços ambientais. No Amazonas, esses recursos vêm sendo explorados por uma empresa privada que é a Fundação Amazônia Sustentável, o pior de tudo, com o aval do Governo do Estado. Durma-se com esse barulho.      
(*) É professor, antropólogo e coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.

domingo, 24 de fevereiro de 2013


CONFIRA VOCÊ TAMBÉM SE A ESCOLA DOS SEUS FILHOS CORRESPONDE AOS INDICADORES DE QUALIDADE DA EDUCAÇÃO NACIONAL

 

Os Indicadores de Qualidade na Educação foram desenvolvidos pelo Ministério da Educação/INEP, UNICEF, PNUD e Ação Educativa. Lançados em 2004, os indicadores devem ajudar a comunidade escolar na avaliação e na melhoria da qualidade da escola. Seja responsável confira você também se a escola dos seus filhos (as) ou da sua comunidade corresponde aos indicadores propostos. Não correspondendo procure os outros pais e mães, vizinhos e comunitários, levando a discussão para dentro da escola, da Igreja e outras associações. Saiba que o seu gesto é fundamental e determinante para a salvação escolar do seu filho (a) e dos  amiguinhos dele, zelando desta maneira pelo presente e garantindo o futuro dessas crianças e jovens.  Os indicadores têm sete elementos fundamentais – chamados de dimensões:


1.    Ambiente educativo – o respeito, a solidariedade, a disciplina na escola;
 

2.    Prática pedagógica – a proposta pedagógica da escola, o planejamento, a autonomia dos professores e o trabalho em grupo de professores, alunos;
 

3.    Avaliação – para além das provas e das formas tradicionais de avaliação: processos de auto-avaliação, por participação dos alunos em projetos especiais, etc.;
 

4.    Gestão escolar democrática – o compartilhamento de decisões e informações com professores, funcionários, pais e alunos, a participação dos conselhos escolares;
 

5.    Formação e condições de trabalho dos profissionais da escola – habilitação dos professores, formação continuada, estabilidade da equipe escolar;
 

6.    Ambiente físico escolar – materiais didáticos, instalações, existência de bibliotecas e espaços de prática de esportes, condições da sala de aula;
 

7.    Acesso, sucesso e permanência na escola – índices de falta, abandono e evasão escolar, defasagem idade-série.
 

Fonte: http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Pro_cons/aprobr.pdf

sábado, 23 de fevereiro de 2013


A GESTÃO CRIATIVA NO CONTEXTO DAS CIDADES

Para isso, é preciso que o prefeito Artur Neto repense a gestão como um todo, como unidade diretiva assentada na educação escolar e nas práticas sociais desenvolvendo plataformas de atuação que integre a escola a comunidade e vice-versa. 


Ademir Ramos (*)

Conectado com as ideias, conceitos e propostas trabalhadas pela professora Ana Carla Fonseca, economista, urbanista e uma das primeiras no Brasil a conceber e a formular políticas e estratégias para plataforma das cidades, sustentadas na prática das economias criativas baseadas na âncora da cultura, da história, do saber e do como fazer de nossa gente frente aos desafios impostos pela globalização, atrevo-me a repensar o processo de gestão publica tendo como referência a Prefeitura de Manaus na perspectiva de construir conectividade, inovação e a valorização da cultura como eixos de políticas públicas convertidas em valores e processos de formação da cidadania.

Inicio esta reflexão fazendo o seguinte chamamento: É mais eficiente construir do que comprar feito. A primeira atitude do governante gestor é trocar os óculos do neocolonizador pelas lentes dos agentes locais. Nada de transplantar modelos ou copiar determinadas práticas e até mesmo contratar agentes externos para a consecução dos projetos da cidade. Requer de antemão que o prefeito de Manaus e seus agentes mergulhem na história e na cultura local conectados com o mundo em permanente diálogo, na perspectiva de responder com determinação o fazer da cidade, respeitando à diversidade de suas formas e sentidos. É verdade que quatro anos passam rápido, mas nada justifica contratar projetos de cima pra baixo afrontando a tradição e a cultura de nosso povo para obter de pronto rendimento eleitoral. Esta visão imediata é profundamente prejudicial à política e pode conduzir o mandatário para o ostracismo e desencanto popular.

Outro chamamento que faço é relativo ao processo de gestão por competência e habilidade do poder descentralizado sob a direção moral e política do senhor prefeito. Em se tratando de política eleitoral, tendo à porta as eleições de 2014, as circunstancias se impõe, não devendo, contudo, reduzir os cargos e funções operacionais em moeda de troca, vindo desse modo obliterar o processo de governança. Particularmente, em se tratando de um governo do PSDB que deve bater chapa com os petistas e aliados, em disputa a Presidência da República. As alianças políticas são necessárias, mas, muito mais importante é assentar o governo na vontade popular, resgatando a credibilidade e a confiança daqueles que apostaram nas urnas em Artur Virgílio para prefeito de Manaus contra o mandonismo de Eduardo Braga (PMDB) e do próprio PT de Dilma e Lula.

A Cidade Criativa requer do mandatário e de seus agentes capacidades de repensar suas práticas criando pontes para religar as pessoas a si mesmo, oferecendo condições para que se desenvolvam moral e socialmente sentindo parte do problema da cidade enquanto pertencentes ao mesmo território e usuários do espaço público. De imediato, pode-se recorrer às campanhas educativas através das mídias sociais para sensibilizar os comunitários no que diz respeito à limpeza pública, a proteção ambiental, conservando e plantando novas árvores, o zelo pela coisa pública e a desobstrução das ruas, praças e áreas públicas, oferecendo os meios necessários para se viver com dignidade. Penso nesta hora, a humanização do trânsito, das praças, logradouros públicos e dos parques, devendo ser seguido da descentralização do poder enquanto presença marcante nos arredores de Manaus no formato de miniprefeituras com poder de interlocução junto ao povo para acelerar o projeto político do governo Artur Neto.

Como foi dito acima, criatividade requer inovação e profundo vinculo com a cultura (material e simbólica). Estas determinações encontram-se em processo na escola. Para isso, é preciso que o prefeito Artur Neto repense a gestão como um todo, como unidade diretiva assentada na educação escolar e nas práticas sociais desenvolvendo plataformas de atuação que integre a escola a comunidade e vice-versa, investindo na constituição do Conselho Escolar como ação estruturante de Estado, como capacidade de operar o sistema municipal de ensino em atenção às demandas locais. Para isso, é preciso repensar o modelo de escola, qualificar os professores, gestores e a equipe dirigente para atuarem como interlocutores junto à comunidade operando o monitoramento, os objetivos e metas do projeto político pedagógico discutido e aprovado por todos e todas em cumprimento a escola que queremos. Assim, a Escola se traduz em participação, primando pela criatividade como processo de formação tendo como base o capital local e os recursos disponíveis para a formulação de novos conceitos e projetos visando o processo da aprendizagem e o desenvolvimento cognitivo dos atores presentes na comunidade escolar de modo inovador, criativo responsável.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.


BARATA NA PIZZA


E assim caminha a humanidade, reduzindo os homens em baratas e ratos enquanto seus mandatários vivem na gastança, alimentando outros insetos nos aposentos palacianos.

Ademir Ramos (*)

O encontro é sempre uma grande descoberta para satisfazer vontade, querência e, sobretudo, o prazer de estar juntos, compartilhando da mesa e das ideias por meio de um diálogo fraterno e salutar. E por falar nisso, levei um baita susto esta semana, quando reunidos, aptos para o banquete, abrimos a caixa da pizza e deparamos com uma barata no pedaço. Total desconforto e constrangimento para a barata que esperava estar só em seu banquete. De pronto, foi perseguida pelos famintos chegando a óbito por ter violado o espaço dos humanoides e também por ter decepcionada aos convivas.

O que dizer da cena e como descrever na sua inteireza para melhor compreender a estranheza da barata, que por algum momento deve ter se achado a realeza da pizza, sendo perturbada pelas pessoas que pensavam serem também as únicas a usufruir daquele momento fraterno marcado por reciprocidade e ternura.

As especulações foram muitas sobre a origem da barata. O fato é que desde quando o mundo é mundo e os homens se transformaram em “bípedes implumes”, a barata está em fricção com os agregados humanos. Em algum momento se dá por vitoriosa e em outros é fatalmente perseguida reduzida a pó de mico ou como parte da cadeia alimentar de algumas culturas.

Esta por sua vez faz pensar na condição do homem como vetor. Visto que o automóvel não é só instrumento dos humanos é também locação das baratas e, não venha dizer que o ocorrido resulta da condição higiênica do carro. O fato é que a barata faz parte do habitat humano há séculos. No entanto, o processo civilizatório não contempla a cascuda em seu universo e assim a guerra foi declarada, requerendo da indústria química poderosos produtos visando o mal das baratas para o bem do mercado.

Na trama social, os excluídos, explorados e dominados sentem-se tão perseguidos quanto às baratas, pena que não podem fugir pelos esgotos porque já vivem em condições desumanas concorrendo com as baratas, ratos e outros indesejáveis do sistema. E assim caminha a humanidade, reduzindo os homens em baratas e ratos enquanto seus mandatários vivem na gastança, alimentando outros insetos nos aposentos palacianos, transformando a política em pizza e a resistência da barata povo contra os inseticidas da corrupção e da impunidade, vivendo de teimoso por acreditar que ainda é capaz de se emancipar da bolsa família e outras migalhas compensatórias instituídas para amenizar o ataque dos miseráveis contra o megainteresse do poderio econômico em conluio com os políticos de estado. Pior do que as baratas e os ratos são os governantes e políticos tipo net que se afirmam na ignorância, ganhando o povo pela boca e a classe média pelos favores.         

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.  

domingo, 17 de fevereiro de 2013


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013


VIVA O JARAQUI

Ellza Souza (*)

O carnaval 2013 passou. Como tudo na vida passa. Este ano passei fervendo. Fui em alguns blocos. E desci a avenida na Escola de Samba de acesso Ipixuna. Foi uma festa. Sem saber dançar, festejei a vida de cara limpa e feliz. Mas com uma bela fantasia, simples mas “falava” de música. Os blocos de rua e o carnaval de clube são os meus preferidos. A chuva enlameou um pouco a alegria dos foliões mas na avenida do Turismo ficou bem melhor a banda do Galo. Um dia a gente aprende a fazer carnaval de rua. Com ou sem chuva.

O bloco do pessoal do Jaraqui, movimento dos “antenados” e intelectuais da cidade que entre discursos e marchinhas foi um dos mais animados. O maestro Mário Lino comandava a banda que não saiu do ritmo do Zé Pereira e animou a todos que passavam na praça da Polícia, no Café do Pina, tradicional lugar de encontro de quem precisa falar de liberdade, de boas políticas para a população, de ensino de qualidade para todos, de qualidade de vida movida a alegria e criatividade. Do jeito que está, sem boas idéias, com tanta corrupção e impunidade nem sei para onde estamos indo.

Em tempos chuvosos a folia sempre acaba num bom toró e foi assim com o bloco do Jaraqui. Quando as baterias dos foliões já estavam bem quentes na praça, o maestro avisou que a banda ia parar por causa da água que vem do céu. “Os instrumentos não podem molhar”, disse. O professor da Ufam Ademir Ramos “puxava” a animação; o jornalista Deocleciano Souza e seu irmão Amecy Souza, cuja animação dos dois estava no olhar e nos confetes; a Margarida Campos que não parou um minuto de “pular”; o Luiz Prestes, paulista e médico que deu seus passinhos contribuindo para a alegria da festa. E a população ao redor olhando curiosa, fotografando a bela praça, o coreto com os músicos, os gigantescos bonecos, um pouco  acanhada, receosa, parecia ter medo da folia. Era uma manhã de sábado chuvosa –  sábado gordo - e o manauara ainda estava frio para saborear a festa embalado no ritmo da “invenção dos anjos entediados com a marcha celestial”, arrematados pelo jaraqui, “o peixe voluptuoso que seduz a todos para o reino encantado das festas mergulhadas no ensopado da alegria, do prazer e no consumado desejo impetuoso da sexualidade múltipla como sinergia da vida em sociedade”, diz a lenda segundo o estudioso Ademir. Não disse mas assino embaixo.

 (*) É jornalista, escritora e articulista do NCPAM/UFAM.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013


OLHO D’ÁGUA


Ademir Ramos (*)

Nesse mergulho quero viajar com os olhos fechados no imaginário das formas dos rios, buscando aprender com a tradição a cartografia que nos leva a compreender a formação humana impressa nesses corpos d’águas que, pela cultura ganharam a dimensão humana anatômica para explicar, não só a origem, mas a sua própria constituição relacionada à vida, como parte extensiva da formação das humanidades por todo o planeta. É verdade que nestas relações o homem se faz notar pela designação dada aos elementos da natureza comparando-a com a sua própria forma ou quem sabe, de acordo com o seu desenvolvimento linguístico tornam-se aptos a formular conceitos capazes de traduzir a diversidade contida na natureza como modo de domá-la e domesticá-la para seus determinados fins.

Além dessa materialidade expressa nas práticas culturais dessas sociedades por meio das relações de trabalho, os homens formularam também uma linguagem simbólica para representar o cotidiano, o futuro e o desconhecido. Essas linguagens foram representadas em diversos ícones, que ao longo do tempo serviram também para assentar estruturas de pensamento vindo mais tarde qualificar dos demais agregados humanos pela sua competência e habilidade frente à natureza e as outras culturas.

A beleza dessa diversidade se faz notar nas culturas humanas e consequentemente na natureza em que estão inseridas. É o caso explicativo do “olho d’água”, que brota da natureza multiplicando a vida e ganhando forma de corpo humano a se esparramar fogosamente pelos vales, planaltos e planícies (várzeas e terras firmes), nutrindo o ambiente com suas formas monumentais. Na Amazônia, essas formas, anatomicamente, são chamadas de braços, bocas e costas de rio, instituindo assim, uma estreita relação entre a natureza e as culturas humanas que aqui vivem. Em outras palavras, os rios e as florestas são culturalmente extensão do corpo humano, que para viver necessita do hálito das florestas.

O que passa a inquietar a todos é a reduz dos bens ambientais aos interesses econômicos de mercado. Esse processo ocorre de forma autoritária capitaneada por grupos poderosos que aparelham o Estado, comprando determinados políticos e lideranças sociais para satisfação de seus interesses imediatos cumulativos. Na Amazônia, a qualquer momento somos afrontados por projeto desse quilate que, valendo da perversa desigualdade social em que se encontra a nossa gente, prometem mundos e fundos para realização dos monstrengos ambientais, fragilizando muito mais o nosso povo e acelerando a devastação de nossas florestas e a morte dos espíritos visagentos que povoam o imaginário amazônico dando sustentação a vida em nosso planeta.           

(*) É professor, antropólogo e coordenador do projeto Jaraqui e do NCPAM/UFAM.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013


PARA 2013, O JARAQUI QUER CONQUISTAR NOVOS ESPAÇOS

        As lutas sociais ganham formas e cores diferentes em variados contextos. Em Manaus, o Jaraqui tornou-se uma confraria que tem por finalidade conquistar novos espaços para garantir as condições necessárias visando à realização de uma Revolução Democrática sob o primado da participação popular no controle das ações de governo e do parlamento. Estas ações, necessariamente, devem ser organizadas de forma estratégica sendo movidas pelos seguintes eixos programáticos (em discussão junto aos sócios):

1.           Articulação intensa com os Movimentos Sociais, fazendo crer que são capazes de enfrentar os problemas e juntos definir as ferramentas mais qualificadas para operar no campo político em favor dos interesses coletivos;

2.           Formulação das críticas sociais de forma clara e objetiva, buscando o convencimento de todos (as) quanto à situação em disputa, criando liga para dar unidade aos enfrentamentos;

3.           Compreensão do Partido Político como instrumento de Direito para se ampliar as forças dos Movimentos Sociais e garantir os espaços operacionais para que tenham acesso às políticas públicas como direito de todos (as);

4.           Discussão ampliada junto aos parceiros sobre os processos eleitorais, avaliando as oportunidades e definindo plataformas para atuar diretamente ou de forma coadjuvante para o parlamento como também para o poder executivo;

5.           Atuação firme em defesa da organização das Escolas, contando com a participação direta de lideranças estudantis, pais de alunos, professores, servidores e lideranças comunitárias, visando formar os Conselhos Escolares e influir no processo de gestão por meio do Projeto Político Pedagógico;

6.     Investimento para formação escolar e política de lideranças comunitárias para assessorar as lutas sociais e participar efetivamente no apoio as agendas das comunidades urbanas e/ou rurais em respeito a diversidade cultural e ambiental;

7.    Chamamento para discutir a produção dos trabalhadores do Polo Industrial de Manaus, questionando, sobretudo, as forças que atuam em favor desse processo de acumulação da riqueza, criadores de baixos salários e péssimas condições de vida;

8.        Valorização da cultura como motor formador da sociedade capaz de desmontar os discursos dominantes, mostrando que o dito não bate com os fatos, e por isso, deve semear outras verdades valendo-se das artes para se comunicar;

9.            Promoção dos meios necessários para qualificar os agentes que irão se articular com os meios de comunicação tanto presencial como virtual, pactuando ações de confiança na difusão dos fatos com respeito e compromisso;

10.       Capacitação continuada dos dirigentes comunitários dos Movimentos Sociais amparados no respeito às decisões colegiadas de suas organizações, valendo-se dos meios necessários para pressionar o poder instituído em favor dos explorados e muitas vezes expropriado de seus direitos pelos próprios agentes públicos;

11.   Organização da Confraria do Jaraqui está centrada nas decisões colegiadas dos sócios militantes e apoiadores sob o comando de uma coordenação diretiva que tem por dever dar visibilidades aos seus atos.

         Os eixos programáticos são questões geradoras que fazem parte da constituição da Confraria do Jaraqui, devendo servir de ponte para mediar nossas relações com os poderes instituídos e com os demais segmentos da sociedade civil, ampliando a participação popular nas decisões de Estado. 

  
Manaus, 11 de fevereiro de 2013


Da Coordenação

domingo, 10 de fevereiro de 2013


SUFRAMA FALA DO FATURAMENTO DO PIM E O IBGE APONTA QUEDA EM 2012


As empresas incentivadas do Polo Industrial de Manaus (PIM) fecharam o ano de 2012 com faturamento de R$ 73.448.393.473. O número está 6,39% acima do faturamento de 2011, com destaque para bens de Informática, que cresceram 26% entre os dois períodos, representando, sozinhos, 11,6% de todo o faturamento do modelo. O saldo de empregos foi de 116.950 postos de trabalho diretos em dezembro, com média anual de 120.056.

O comunicado está na página da Suframa http://www.suframa.gov.br/suf_pub_noticias.cfm?id=13954, merecendo dos analistas e dos formuladores de políticas públicas toda atenção devida. Sem muito malabarismo linguístico pode-se constatar que a lógica do modelo é concentrador, primando pela acumulação da riqueza nas mãos de poucos enquanto os postos de trabalho continuam no mesmo patamar, com perdas significativas, não só quanto aos números de empregos diretos, como também nos salários dos trabalhadores do PIM, contribuindo diretamente para a perversa desigualdade instalada na cidade de Manaus.

Para melhor entender esse processo recorremos a Unidade Estadual do IBGE no Amazonas, que de pronto nos atendeu repassando dados que podem sustentar outras leituras quanto à exaustão do Modelo Zona Franca de Manaus.

Saldo Negativo: Em dezembro de 2012, a produção industrial do Amazonas ajustada sazonalmente mostrou decréscimo de 0,5% frente ao mês imediatamente anterior, após registrar crescimento de 4,1% em novembro último. O índice de média móvel trimestral apontou variação negativa de 0,3% entre os trimestres encerrados em novembro e dezembro, reduzindo a intensidade de queda verificada no mês anterior (-1,0%). Ainda na série com ajuste sazonal, no índice trimestre contra trimestre imediatamente anterior, a indústria do Amazonas assinalou queda de 0,7% no quarto trimestre de 2012, eliminando parte do avanço de 2,4% registrado no terceiro trimestre do ano.

Na comparação com igual mês do ano anterior, o setor industrial do Amazonas registrou queda de 6,0% em dezembro de 2012. No fechamento do quarto trimestre de 2012, o setor industrial reduziu a produção em 7,2% frente a igual período do ano anterior. O índice acumulado em 2012 fechou em -7,0%, revertendo a expansão de 4,0% assinalada em 2011. A taxa anualizada, índice acumulado nos últimos doze meses, recuou 7,0% em dezembro de 2012, e permaneceu com a trajetória descendente iniciada em março último (4,1%).

Redução na Produção do PIM: A produção industrial do Amazonas recuou 6,0% em dezembro de 2012 frente a igual mês do ano anterior, nono resultado negativo consecutivo nesse tipo de comparação. Entre as onze atividades pesquisadas, seis atividades apresentaram redução na produção, com outros equipamentos de transporte (-38,8%) apontando o principal impacto negativo sobre a média global, pressionado em grande parte pela menor fabricação de motocicletas e suas peças. Vale citar também as influências negativas vindas de refino de petróleo e produção de álcool (-19,3%), material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-6,8%), borracha e plástico (-26,0%) e edição, impressão e reprodução de gravações (-9,2%), pressionados principalmente pela menor produção de gasolina automotiva, óleo diesel e outros óleos combustíveis, no primeiro ramo, telefones celulares e televisores, no segundo, peças e acessórios de plástico para indústria eletrônica e garrafões, garrafas e frascos de plástico, no terceiro, e discos de DVDs e CDs, na última. Por outro lado, a contribuição positiva mais relevante no total da indústria ficou com o setor de máquinas e equipamentos (10,0%) impulsionado, principalmente, pelo avanço na produção de aparelhos de ar condicionado.

No corte trimestral, observa-se que a indústria amazonense, ao recuar 7,2% no quarto trimestre de 2012, diminuiu ligeiramente o ritmo de queda rente aos resultados do segundo (-10,3%) e terceiro (-8,2%) trimestres do ano, todas as comparações contra igual período do ano anterior. O ganho de dinamismo verificado na passagem do terceiro para o quarto trimestre do ano foi observado em sete dos onze ramos pesquisados, com destaque para material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações, que passou de -12,8% para -1,8%, máquinas e equipamentos (de -2,1% para 15,5%) e equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros (de -5,4% para 8,4%). Por outro lado, a principal perda entre os dois períodos foi verificada no setor de alimentos e bebidas (de 13,3% para -5,6%).


Exaustão: O índice acumulado para o ano de 2012 assinalou recuo de 7,0% frente a igual período do ano anterior, com perfil generalizado de taxas negativas, já que nove das onze atividades pesquisadas apontaram queda na produção. A indústria de outros equipamentos de transporte (-21,4%) exerceu a maior influência negativa no resultado global, vindo a seguir os impactos registrados por material eletrônico, aparelhos e equipamentos de comunicações (-6,6%), refino de petróleo e produção de álcool (-17,0%), máquinas e equipamentos (-8,5%), edição, impressão e reprodução de gravações (-7,4%) e equipamentos de instrumentação médico-hospitalar, ópticos e outros (-5,6%). Nessas atividades sobressaíram, respectivamente, os recuos na produção de motocicletas e suas peças; telefones celulares; gasolina automotiva, óleo diesel e outros óleos combustíveis; fornos microondas; discos de DVDs; e relógios de pulso. Por outro lado, os dois ramos que apontaram crescimento na produção foram: alimentos e bebidas (2,8%) e produtos químicos (9,3%), impulsionados pela maior fabricação de refrigerantes e preparações em xarope e em pó para elaboração de bebidas, no primeiro setor, e de oxigênio no segundo.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013


POR UMA NOVA ORDEM SOCIAL


Ademir Ramos (*)

A banalização da política cria no cidadão comum à indiferença, justificando, inclusive, a corrupção de alguns cartolas que metem a mão no dinheiro público, fazendo acontecer obras faraônicas que pontificam os Rios e Mares, gerando uma expectativa de “desenvolvimento” voltada mais para os céus do que para a terra, onde vive mora e sofre o povo dessas localidades, particularmente, no norte e nordeste do Brasil. Não satisfeitos, pelo desencanto da política e pela alienação vivenciada, essa gente chega ao ponto de dizer que “todos os políticos são iguais”, em outras palavras “todos são corruptos” e, portanto, é melhor um ladrão amigo do que um estranho no comando do orçamento do Município ou do Estado.

O cinismo é contagiante, principalmente, quando se trata de uma prática governamental em atenção à perversa desigualdade presente na organização da sociedade. Esses agentes públicos agem de forma messiânica, aptos a oferecer benesses e a obrar milagres aos excluídos prometendo mundos e fundos. No entanto, a política é maior do que eles e por força de suas determinações encontra-se acima da vontade dos poderosos, suscitando, no primeiro momento, estranheza frente aos fatos e em seguida gerando indignação que se traduz na repulsa em direção à construção de uma República Social fundada na redistribuição de renda, em confronto as práticas da acumulação, que cria entre as classes sociais um abismo quase intransponível mitigado às vezes por políticas compensatórias formatadas em bolsas, em vez de assentadas nas políticas sociais sustentáveis fincadas em postos de trabalho com acesso à cultura, educação, ciência e cidadania.

Essa condição existencial é reparada no processo de conscientização, quando homens e mulheres passam a problematizar suas relações de trabalho se perguntando por que ele tem e eu não tenho se eu trabalho tanto quanto ele e, às vezes, em condições mais complexas. Pois é, quando acordamos do pesadelo da alienação os questionamentos se multiplicam buscando respostas que às vezes não somos capazes de responder imediatamente, mas, no curso de nossas lutas vamos montando o quebra cabeça e dando corpo a verdade dos fatos.

Esse processo é doloroso, sofrível e podem custar perdas irreparáveis. Requer coragem, determinação e profunda capacidade de associar os fatos à história, atentando para as contradições manifestas ente o dito (aparente) e aquilo que é. Parece óbvio, mas requer coragem, discernimento e aptidão para mudança. Às vezes nos encontramos em desvantagem e por uma situação estratégica temos que “engolir sapo” enquanto nos potencializamos, agregando força e criando condições matérias para que possamos avançar em favor do coletivo e do social. Nesse contexto, é importante que saibamos fazer uma avaliação da situação, definindo com clareza os caminhos a trilhar, as armas para lutar e rumos a tomar.

Esses ensinamentos não se aprendem nas Escolas e muito menos nas Universidades. É claro que o domínio desses conhecimentos ajuda, mas, não bastam. É preciso que façamos uma opção social e comecemos a trabalhar no fortalecimento de plataformas capazes de garantir determinados eixos na política, na sociedade, no comércio, nas corporações industriais, nas academias, nos movimentos populares, nos meios de comunicação social presentes e virtuais e demais segmentos que julgamos estratégicos para a construção de um projeto político solidário que transpasse o modelo partidário inaugurado pelos partidos instituídos tal como o PMDB, o PT, o PSDB e outros. 

É hora de se reinventar novas regras e formas da Democracia pautada no controle social, na participação e na soberania popular, descentralizando o poder pela força dos movimentos sociais na perspectiva de garantir os interesses republicanos assentados num novo reordenamento estruturante que seja socialmente justo e economicamente sustentável, combatendo as desigualdades regionais e a extrema pobreza reinante no Brasil.                      

(*) É professor, antropólogo e coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.         

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013


FOLIA DO JARAQUI NESTE SÁBADO


A folia é no sábado, dia 09 de fevereiro, sob a direção artística do maestro, Mário Lino, regendo seus batutas do samba, credenciado pela confraria do Jangadeiro. O encontro dos indignados contra a corrupção, as chantagens e outras enganações palacianas dar-se-á na República Livre do Pina, na Praça da Polícia, a começar a partir das 10 horas, entrando pela tarde gorda de carnaval.

Reza a lenda que o carnaval é uma invenção dos anjos endiabrados, estando eles entediados com a marcha celestial resolveram vivenciar o gozo eterno, deixando-se conduzir muito mais pelo poder carnal do que pelo norte da alma. Dessa feita, encarnaram em diversos personagens, passando por Dionísio, Baco e Jurupari, que por sua vez rima com Caxiri e arremata com Jaraqui, o peixe voluptuoso que seduz a todos (as) para o reino encantado das festas mergulhada no ensopado da alegria, do prazer e no consumado desejo impetuoso da sexualidade múltipla ou trifásica como sinergia da vida em sociedade.

Sei lá se é verdade. O fato é que o Jaraqui em sua metamorfose humana transforma-se em Piranha, Traíra e/ou Candiru e passa a morder, a coçar e forunfar no carnaval de Manaus deixando as formalidades de lado e partindo para os finalmentes. Não satisfeito, o brasileirinho – veja as cores no rabo do Jaraca - inaugura uma tribuna popular no Centro Histórico de Manaus, na Praça da Polícia, na República Livre do Pina, funcionando todos os sábados das 10 às 12h, com a boca no trombone contra os fichas sujas da política, corruptos contumazes e outros agentes façanhudos que metem a mão no dinheiro público valendo-se da vontade do povo e do conluio dos poderes.

No Carnaval de Manaus, o Jaraqui estreia este ano na Praça, relembrando as marchinhas do saudoso carnaval do passado, com os olhos abertos para as provocações do presente. O sarcasmo é a tônica presente confrontando-se com o cinismo dos políticos arrivistas que na cara de pau negam tudo e ainda juram por Deus e pela família que são inocentes e outras falsidades.

No Jaraqui botamos pra fora nossa indignação, fazendo valer o direito do povo contra os poderosos, cantando de forma uníssona o bota fora, passando a política a limpo no Brasil e, particularmente no nosso Amazonas.

A folia é no sábado, dia 09 de fevereiro, sob a direção artística do maestro, Mário Lino, regendo seus batutas do samba, credenciado pela confraria do Jangadeiro. O encontro dos indignados contra a corrupção, as chantagens e outras enganações palacianas dar-se-á na República Livre do Pina, na Praça da Polícia, a começar a partir das 10 horas, entrando pela tarde gorda de carnaval.

É o presente do Jaraqui para o povo de Manaus, que já vive de saco  cheio de promessas e mais promessas e nada de concreto se faz para salvar a cidade e o estado desses vampiros do povo. Fora, é o grito de ordem do Jaraqui, que boiou na Praça e não vai dar trégua para a malandragem seja do executivo, judiciário ou do legislativo, é preciso denunciar mostrando em praça pública a origem da riqueza dessa gente e as negociatas que foram armadas para assaltar o cofre público. Desperta Amazonas e vamos brincar o carnaval da cidadania.
       

Currículo, a Constituição da educação

O que é e qual a importância do currículo para a constituição da escola? Cabe-nos refletir sobre a função da escola, contemplando não só a normativa instituída, mas, sobretudo, assegurando as condições materiais para que os alunos se desenvolvam na plenitude de sua formação de acordo com os objetivos definidos no projeto político pedagógico da escola, avalizado pelos alunos, lideranças comunitárias, pais de alunos e demais representações presentes no conselho escolar sob a direção de uma gestão democrática. O currículo, chamado também de grade curricular, nos tempos da ditadura, é muito mais do que um conjunto de disciplinas ou de conteúdos, ele se qualifica pela função, objetivos e metas definidos e aprovados pelo conselho escolar de cada estabelecimento de ensino, predicando a escola uma identidade afirmativa vinculada ao processo das práticas sociais pautado na competência e habilidade dos formandos, em respeito à capacidade de cada um, bem como também na valorização dos trabalhadores da educação, na perspectiva de assegurar um  padrão escolar de qualidade de ensino, que desperte nos alunos sua potencialidade para criatividade, inovação e trabalho nos diversos campos do saber, das artes, ciência e cultura.    
  
João Batista Araújo Oliveira (*)

O Ministério da Educação (MEC) anunciou, com atraso considerável, que vai apresentar sua proposta de currículo. A Constituição de 1988 promoveu avanços notáveis em várias áreas, apesar de inúmeras disfunções criadas. Mas faltou uma visão de futuro mais clara e pragmática. Resta assegurar que, da mesma forma, a iniciativa atual não aumente ainda mais o nosso atraso.
A última decisão nessa área resultou nos desastrados "parâmetros curriculares nacionais". A maioria das iniciativas do MEC que envolvem questões de mérito tem sido sistematicamente cativa de mecanismos e critérios corporativistas e de duvidosos consensos forjados em espúrios mecanismos de mobilização. Tradicionais aliados do ministério, inclusive internamente, têm aversão à ideia de currículo e mais ainda de um currículo nacional. Documentos desse tipo, produzidos por alguns Estados e municípios em anos recentes, continuam vítimas do pedagogismo. Isso é o melhor que temos.
O assunto é sério demais para ser deixado apenas para os educadores e especialistas. Nem pode ser apropriado pelo debate eleitoral. O Brasil - especialmente suas elites - precisa estar preparado para discutir abertamente a questão. Aqui esboçamos os contornos desse debate.
O que é um currículo? Um documento que diz o que o professor deve ensinar, o que o aluno deve aprender e quando isso deve ocorrer. Em outras palavras, conteúdo, objetivos (o termo da vez é expectativas de aprendizagem), estrutura e sequência. Para que serve um currículo? Primeiro, para assegurar direitos: o currículo especifica o que o aluno deve aprender. É um instrumento de cidadania fundamental para garantir equidade e os direitos das famílias. Segundo, para estabelecer padrões, ou seja, os níveis de aprendizagem para cada etapa do ensino: atingir esses níveis é o dever, que cabe ao aluno. Terceiro, para balizar outros instrumentos da política educativa, como avaliações, formação docente e produção de livros didáticos, instrumentos essenciais em qualquer sistema escolar. Os currículos, sozinhos, não mudam a educação.
Por que ser de âmbito nacional? A experiência dos países mais avançados em educação, sejam federativos ou não, indica a importância de uma convergência. Depois do advento do Pisa, mesmo países extremamente descentralizados, como Suíça, Alemanha ou EUA, têm promovido importantes convergências em seus programas de ensino, até em caráter de adesão. Num município, um currículo básico permitirá que alunos transitem por diferentes escolas sem que se instaure o caos a que hoje submetemos nossas crianças e seus professores.
Como saber se um currículo é bom? A condição é que seja claro. Se o cidadão médio ler e não entender, não serve. Deve ser parecido com edital de concursos: você lê, sabe o que cai no exame e sabe como precisa se preparar. O currículo não é exercício parnasiano ou malabarismo verbal.
Deve também levar em conta os benchmarks, as experiências dos países que, usando currículos robustos, avançaram na educação. É preciso cuidado para não confundir os currículos que os países adotam hoje, depois de atingido o nível atual, com os currículos que os levaram a esse patamar.
A proposta deve ser dinâmica e corresponder às condições gerais de um sistema. O currículo não pode ser avaliado isoladamente de outras políticas, em especial da condição dos professores. Hoje a Finlândia, com os professores que tem, pode ter currículos mais genéricos do que há 15 ou 20 anos. A análise dos benchmarks sugere quatro outros critérios para avaliar um currículo: foco, consistência, rigor e referentes externos.
Um currículo deve ter foco, concentrar-se no primordial e só em disciplinas essenciais, cuidando de poucos temas a cada ano, sedimentando a base disciplinar e evitando repetições. William Schmidt, que esteve recentemente no Brasil, desenvolveu escalas comparativas que permitem avaliar o grau de focalização de currículos de Matemática e Ciências.
Deve ter consistência, isto é, respeitar a estrutura de cada disciplina. Isso se refere tanto aos conceitos essenciais que devem permear um currículo quanto à organização do que deve ser ensinado em cada etapa ou série. Por exemplo, um currículo de Língua Portuguesa considerará as dimensões da leitura, escrita e expressão oral, levando em conta o equilíbrio entre a estrutura e as funções da linguagem e contemplando o estudo dos componentes da língua (ortografia, semântica, sintaxe, pragmática).
Um currículo deve ter rigor, ser organizado numa sequência que evite repetições e promova avanços a cada ano letivo. Esses avanços devem observar a relação entre disciplinas e a capacidade do aluno de estabelecer conexões entre elas. Interdisciplinaridade e contexto não são matérias de currículo, são consequência deste.
Um currículo deve ter referentes externos claros. Um currículo de pré-escola deve especificar tudo o que a criança precisa para enfrentar com sucesso os desafios posteriores do ensino fundamental. Isso não significa tornar o pré uma escola antes da escola: currículo não é proposta pedagógica.
Já o ensino fundamental deve preparar o indivíduo para operar numa sociedade urbana pós-industrial. O Pisa não é um currículo, mas contém sinalizações que sugerem o que é necessário para a formação básica do cidadão do século 21. É uma boa baliza para o ensino fundamental. Os currículos do ensino médio, por sua vez, devem ser diversificados, contemplando diferentes opções profissionais e acadêmicas. Pelo menos é assim que funciona no resto do mundo que cuida bem da educação e se preocupa com o futuro de sua juventude.
Finalmente, o que um currículo não deve ser? Um exercício de virtuose verbal, um manual de didática, a advocacia de teorias, métodos e técnicas de ensino, uma vingança dos excluídos e muito menos um panfleto ideológico ou uma camisa de força. Muito menos deve ser o resultado de consensos espúrios.
O currículo definirá se queremos cidadãos voltados para a periferia ou o centro, para o particular ou para o universal.
(*) Presidente do Instituto Alfa e Beto  e articulador do Estadão.

Fonte:http://www.estadao.com.br/noticias/impresso,curriculo-a-constituicao-da-educacao-,817570,0.htm

terça-feira, 5 de fevereiro de 2013


REFLEXÕES SOBRE A ESCOLA EM TEMPO INTEGRAL

Ademir Ramos (*)


Os governantes por todo o Brasil estão investindo na construção de Escola em Tempo Integral, com objetivo de assegurar as famílias um padrão de qualidade que possibilite as crianças e jovens uma convivência solidária, afetiva, justa e responsável, visando o desenvolvimento das competências e habilidades fincado na autonomia criativa, na leitura do mundo, pesquisa e nos instrumentos laboratoriais das ciências, das artes e da cultura de nossa história.

Não tem jeito, a única saída que o novo mundo tem para se projetar no Fórum das Nações desenvolvidas é por meio da educação. Para isso é preciso que façamos algumas reflexões sobre esta onda da Escola em Tempo Integral, considerando de pronto, a conversão desta em políticas públicas estruturantes.

Para isso é urgente que se analise algumas determinações das práticas de uma Escola em Tempo Integral se quisermos ver prosperar o investimento destinado à escola pública tanto no Município como no Estado.

De início, gostaríamos de compartilhar com os interessados, em particular, com os especialistas alguns pontos que dizem respeito à constituição da Escola em Tempo Integral quanto à forma, proposta curricular, gestão democrática, práticas pedagógicas e inserção da escola na comunidade local, entre outras matérias que venham a ser apreciadas no curso dos debates.

O chamamento é para que possamos acordar frente ao fato e começarmos a participar desta discussão que pouco a pouco ganha corpo nos meios acadêmicos e queiramos nós que seja pauta dos meios de comunicação em suas variadas frentes.

Dessa feita, a pro-vocação se faz a partir das escolas construídas com 20 a 30 salas, matriculando entre mil, a dois mil alunos, criando uma situação quase insustentável para o processo de governança escolar. Quase, porque é preciso examinar o corpo técnico que a escola possui para cumprir com sua função de aprendizagem em sua integralidade. Outro quesito a ser debatido é a própria organização da Escola em articulação com os pais dos alunos, a congregação dos professores, lideranças estudantis e a equipe dirigente escolar.

A porposta curricular deve merecer total atenção porque altera a visão tradicional da escola e consequentemente do professor. Explico: Na Escola Integral o Estado toma para si total responsabilidade pela formação das crianças e jovens. Eles permanecem por oito horas na escola, trabalhando os conteúdos obrigatórios e optativos sob a orientação dos professores, pedagogos e seus assistentes. Para isso é necessário repensar também a carga horário do professor e acompanhar as suas práticas numa perspectiva orgânica, dialogando com as várias formas de saber de modo criativo e prazeroso, em cumprimento aos objetivos do projeto político pedagógico, assim definido no conselho escolar.

O desafio é grande e requer dos governantes coragem para assumir a responsabilidade, priorizando os investimentos na formação e gestão de pessoas; na valorização dos professores, pedagogos, gestores e demais trabalhadores que operam no sistema educacional buscando a excelência do nosso ensino.      

(*) É professor, antropólogo e coordenador do projeto jaraqui e do NCPAM/UFAM.

sábado, 2 de fevereiro de 2013


NA MINHA ALDEIA O CARNAVAL É O MELHOR

Ademir Ramos (*)

Ainda hoje (2), eu, o “Fula-mulelu”, o Paulo (Calango) e o Fernando (Arigó) nos encontramos no restaurante do Toti, em Manaus, para “molhar as palavras” e fazer circular as informações de nossa cidade querida, berço de José Veríssimo, Inglês de Souza, Saladino, Mário Andrade, Maria Ramos, Manelito, Pelelé,Tereza Muda, Azamor, Dona Cora, Dilseli, Denilson, Miguel Chaves, Max, tia Cecília, o Arara, o Mata-Onça e o tio Waldir, entre outros bambas, que nos lembram a mocidade, fazendo crer que somos maior do que aparentamos ser porque nos projetamos no mundo como sujeito de nossa história comunal alicerçada numa extensa rede de amigos a se multiplicar nas plataformas virtuais da sociedade da informação.

Assim somos porque vivemos intensamente a cultura do nosso povo. Lembro-me da paixão que a mamãe Zolima tinha pela política, chegando ao ponto de participar dos comícios, contrariando a vontade do velho Azamor. O papai, por sua vez, era pagodeiro, levava tudo na valsa, vendendo o almoço para comprar a janta, mas nunca nos faltou o que comer porque a mamãe fazia milagre multiplicando o pão. Só sei dizer que era muito trabalho para sustentar o clã dos Ramos e seus agregados.

As tardes me deslocava para o curro (matadouro) com o tio Waldir, que nos doava os miúdos dos animais abatidos, contribuindo em muito com o nosso pão de cada dia. Lembro-me ainda das tardes, do som da clarineta do Nascimento, tocando chorinho em seu quintal, imprimindo, dessa feita, na alma lembranças indeléveis de minha feliz infância marcada pela gratuidade e os afetos dos amigos da vizinhança, do Grupo Escolar José Veríssimo e do nosso Colégio São Francisco, sob a batuta do Frei Edgar.

Na Rua Dr. Machado (na Prainha), onde morávamos, vizinhança da Maria Ramos e da Tereza muda, o Sarau era constante, em épocas juninas tínhamos o Pau-de-sebo, as fogueiras, as comidas típicas e outras manifestações. A boa música era constante nos acordes do violão, no saxofone e no “boca de ferro”.

Mas, o quente era o carnaval, que o tio Waldir organizava, alugando os dominós (fantasia nos moldes do medievo), fazendo as máscaras e vendendo as bexigas de boi para os mascarados, que corriam atrás das crianças para bater nas cabeças. Numa dessas investidas, na década de sessenta, ainda criança, decepei o pé no fundo de uma garrafa, sendo cuidado pelo enfermeiro do Sesp.

O carnaval de Rua de Óbidos, no gogo do Amazonas, no Estado do Pará, foi e continua sendo uma grande onda, é maizena pra cá e pra lá, pintando de branco os passantes para alegria dos mascarados foliões. A festa é o carnaval, mas, a alegria maior é o encontro entre amigos, parentes e visitantes, confira e tecle enviando-nos as fotos ademiramos@hotmail.com porque estarei ausente nas terras dos Pauxis, neste reinado de Momo 2013.

(*) É professor, antropólogo e coordenador dos projetos Jaraqui e do NCAPM/UFAM.