ZONA
FRANCA, NADA A COMEMORAR TUDO A LAMENTAR
No
momento em que a Zona Franca de Manaus (ZFM) completa 46 anos é hora de se
denunciar a perversa acumulação da riqueza nas mãos de poucos criando a
barbárie social.
Ademir
Ramos (*)
Certa vez entrevistando o
senador Jefferson Peres sobre a responsabilidade social da Zona Franca de
Manaus, ele me dizia que o condenável não é o modelo em si, mas, a destinação
que os governos dão aos tributos arrecadados. Só o governo do estado por ano
arrecada mais de 10 bilhões de reais, deixando muito a desejar o retorno desses
tributos à população local, que há muito reclama por políticas públicas de
qualidade em atenção à saúde, educação, seguranças, cultura, ciência, meio
ambiente, empregabilidade, entre outras ações. Contudo, no momento em que o
Projeto Zona Franca de Manaus (ZFM) completa 46 anos é hora de se denunciar a
perversa acumulação da riqueza nas mãos de poucos criando a barbárie social a
se caracterizar pela extrema pobreza, bem como pelos males causados a saúde dos
trabalhadores do polo industrial de Manaus.
A discordar do senador
Jefferson Peres, afirmo que o projeto em si é condenável por não valorizar a
força de trabalho local, centrando suas plataformas no trabalho manual que
adestra homens e mulheres a corresponderem aos estímulos das esteiras de
produção, reduzindo, por sua vez, estes atores culturalmente determinados em
objetos de exploração econômica e dominação política.
A isenção fiscal no Amazonas
exigida pelo modelo deveria ser convertida em empregabilidade, criando
oportunidade para que homens e mulheres pudessem desenvolver suas
potencialidade e habilidades, afirmando desse modo nossa soberania frente às
ameaças que pairam sobre a Amazônia. Estrategicamente o projeto ZFM resulta da
expansão do capitalismo em território brasileiro em conluio com o Regime
Militar, estendendo suas práticas até o presente, tendo como fio condutor a exploração
do trabalho, acumulação da riqueza e ocupação do território.
Nada a comemorar tudo a lamentar
a começar pela inoperância da bancada federal em Brasília somado ao “bate
estaca” dos governantes que nada, absolutamente nada, fizeram para
redimensionar o modelo numa perspectiva sustentável assentada na potencialidade
local, implementando as estruturas de indústrias flexíveis mediada por
tecnologias ambientais, seguido da bioindústria compartilhada com o saber
tradicional em favor dos seus agentes, bem como investindo no turismo, na
economia criativa e na própria criação e inovação de tecnologias em atenção aos
benefícios dos serviços ambientais. No Amazonas, esses recursos vêm sendo
explorados por uma empresa privada que é a Fundação Amazônia Sustentável, o
pior de tudo, com o aval do Governo do Estado. Durma-se com esse barulho.
(*) É professor, antropólogo
e coordenador do Jaraqui e do NCPAM/UFAM.
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