* Ademir Ramos
O Sindicato dos Jornalistas do Amazonas, em parceria com Tribunal Regional Eleitoral, estará realizando nesta terça-feira (27) às 14, no auditório da Justiça Federal, o Seminário sobre Jornalismo Político.
Na oportunidade, os especialistas irão discutir e analisar a legislação referente às eleições 2008, bem como a prática do jornalismo político, primando pela qualidade da informação e pela credibilidade dos profissionais da comunicação em respeito ao cidadão consumado pela notícia.
Entre os palestrantes, estarei representando o NCPAM, expondo sobre a complexidade do ofício do jornalismo quanto à questão política. Para esse momento preparei um Caderno de Notas, estilo Gramsci, para suscitar debate e apreciação, tendo como pedra de toque a afirmativa da pesquisadora da UNB, a jornalista Liziane Guazine, que sintetiza a matéria nos seguintes termos: “é preciso vencer o medo de desvendar a caixa-preta do jornalismo político sob pena de não construirmos efetivamente, uma sociedade democrática”.
A provocação requer que se esclareçam os fundamentos dessa assertiva, formulando questões prospectivas tais como: Quem tem medo? - Medo de quem? - O jornalista em si ou a indústria da informação? – Medo por quê? – O que tem de comprometedor nesta prática?
As indagações são múltiplas, exigindo que seja feita uma análise profunda, na medida do possível, compreendendo a micro-física do poder, que assenta a relação de interesses entre governo, indústria da informação e os interesses difusos da sociedade civil democrática.
Nessa perspectiva são importantes que se discutam os bastidores da prática do jornalismo político no Amazonas quanto à relação com as fontes, onde a disputa pelo furo pode comprometer a qualidade da informação por não checar a veracidade dos fatos. Dessa feita, o profissional é reduzido em garoto de recado dos interesses dominantes, aliados é claro, com os interesses da empresa de comunicação.
Mas, a pergunta que também nos fazemos é: Existe jornalismo político no Amazonas? Como a questão política eleitoral tem sido tratada nos meios de comunicação no Estado? - com autonomia, oportunismo, compadrio ou simplesmente uma mera negociata, minimizando o interesse público em favor do favoritismo político dominante. Quem ganha com isso?
A título de reflexão: Todos sabem que assim como o ex-Senador Jéferson Peres, o senador Artur Neto era articulista de a Crítica. No entanto as denúncias de malversações de verba pública, corrupção e outras falcatruas contra o dinheiro do povo praticado pelo governador Eduardo Braga, não receberam guarida nesse jornal, tendo o senador de migrar para o Diário do Amazonas.
Em discussão: O direito a informação, contrapondo aos interesses privados. Nessa circunstância, a eleição pode transformar-se numa grande oportunidade de negócio, sendo a piracema para os tubarões da imprensa.
Mas, o que tem sido feito para se vencer o medo enquanto prática organizacional? Quais os investimentos que podemos destacar nesse campo sejam eles oriundos da empresa de comunicação ou da categoria dos jornalistas?
Outros dirão: indagações como estas não procedem porque o jornalista é um assalariado e necessariamente deve garantir o seu tostão. Esse argumento centrado na necessidade reduz qualquer qualificação do profissional aos interesses imediatos.
No entanto, é necessário insistir que o jornalista, o profissional da comunicação, é um sujeito senhor da informação detém um capital simbólico que se traduz em credibilidade, em valor imaterial capaz de agregar força dissertativa e de sustentar o convencimento do leitor e do eleitor.
Nem tanto, dirão outros, o que se discute na prática são “a verdade efetiva das coisas”, os valores e as concepções ideológicas dos jornalistas, editores e proprietários dos meios. Enfim a cadeia produtiva do noticiário, suas múltiplas versões. Esse realismo político vivido em tensão com os fatos, as fontes, o interesse público e privado é determinante para construção de uma cultura profissional.
Reclama-se ainda, a falta do leitor, ouvinte ou telespectador capaz de operar criticamente, avaliando e condenando financeiramente as publicações e seus autores. Pois, na qualidade de consumidor o cidadão pode se manifestar, recusando-se a consumir o discurso da farsa e da corrupção, bem como também migrar de matutino ou mudar de canal.
Por exemplo: domingo eu quero ler o Diário do Amazonas porque preciso conhecer as falcatruas internacionais do Alibaba do Amazonas (avaliar, analisar, conferir e julgar). É uma opção, mas para isso é preciso ter informação, principalmente se tratando de um jornalista ou um analista da política local. Desconhecer tal fato e outros fantasmas da corrupção, que por hora ronda o estado, é se tornar um profissional “lacaio e obtuso”. Desses estamos fartos.
Ao contrário, tem se identificado no jornalismo local prática de jornalismo investigativo, que requer pesquisa, conferência das fontes e interesse público. Uma prática de convivência com o poder instituído com autodeterminação e credibilidade, transformando o jornalista em Educador Social, porque o acesso à informação faz do cidadão aprendiz da democracia, como bem afirmara Gramsci - Os Intelectuais e a Organização da Cultura/1979. Dessa feita, enaltece na prática a credibilidade, lealdade moral e intelectual contrapondo-se ao cinismo, arrogância e o esnobismo paroquial, que nada mais é do que o diabo da pavulagem.
Iniciativa como esta, promovido pelo Sindicado dos jornalistas denuncia a necessidade de se aprimorar cada vez mais a pena do profissional da política, sua capacidade intelectual e desenvolvimento de sua prática criativa (ferramentas de investigação, qualificação de suas fontes), assim como clarifica também sua compreensão quanto às relações de poder, porque o jornalismo político atua onde o poder instituído se manifesta.
Essa relação é tensa, verdadeiramente, e requer do profissional credibilidade e autodeterminação para superar as ciladas do jogo político do poder dominante. Assim, deixamos de escrever para satisfazer as fontes e nos afirmamos como um profissional de opinião, de armadura intelectual reconhecido.
Comprova-se tal prática quando tomamos consciência de que o jornalista em seu ofício deve necessariamente organizar e interpretar os fatos a partir da “verdade efetiva das coisas”. Trata-se de uma visão estratégica, que requer análise de conjuntura pertinente e visão de futuro capaz de influir nas determinações de poder junto aos seus agentes, numa perspectiva democrática de justiça social.
* Professor, antropólogo e coordenador do Núcleo de Cultura Política do Amazonas, Ciências Sociais, UFAM.