quinta-feira, 30 de abril de 2009

GAMBIARRA CIENTÍFICA NA BR 319

Manaus sediou na terça-feira (28), a quarta Audiência Pública sobre a pavimentação da BR 319 realizada no auditório privado do Studio 5 Mall, das 20 às 03 horas da manhã do dia seguinte, quando se discutiu o Estudo de Impacto Ambiental juntamente com o Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) referente à estrada Manaus (Careiro) a Porto Velho.

O evento foi coordenado pelo presidente do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis, Roberto de Messias Franco com a participaçào do Diretor de Planejamento Departamento Nacional de Infra-estrutura de Transporte (DNIT), Miguel de Souza, para quem a pavimentação da estrada “é uma questão de honra, vindo a integrar ao território nacional Manaus, juntamente com Roraima, que permanece isolada”.

De acordo com o EIA-RIMA elaborado pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM serão criadas 40 unidades de conservação ao longo da rodovia, totalizando mais de 10 milhões de hectares da floresta amazônica preservados. Das 40 unidades de conservação, 11 delas já estão sendo demarcadas por meio de convênio da autarquia com o Exército, que também atuará nos postos de fiscalização. Equipes multidisciplinares cuidarão não só da proteção ambiental, mas da circulação rodoviária, do controle sanitário e da ocupação fundiária, além da fiscalização da região.

Apresentação do EIA/RIMA foi feito pelo coordenador do estudo, professor Alexandre Rivas, dando ênfase a geopolítica militar quanto à integração territorial da região conjugada com a governança ambiental.

Os debates prolongaram-se pela noite adentro, quando se discutiram o modelo de desenvolvimento em foco. A discussão trouxe a baila o processo de militarização da Amazônia, quando o coordenador do EIA/RIMA teve que explicar essa estreita relação com as estratégias implementadas pelos militares na década de 70, período em que foi iniciada a construção da obra.

Para quem não sabe, nos tempos da ditadura, o Ministério do Transporte foi o berço das frentes militares na Amazônia, provocando danos materiais irreparáveis. Tal entulho autoritário ainda se mantém presente no Ministério por meio do DNIT, quando solicita da UFAM estudo nessa perspectiva da geopolítica integracionista.

Os pesquisadores da UFAM, agindo de forma subalterna, não problematizaram o protocolo inicial do EIA/RIMA, estimado em NR$ 1.500.000,00 (hum milhão e quinhentos mil reais), o que compromete a autonomia institucional e relativiza os paradigmas da ciência em favor dos interesses privados.

Dessa feita, cumpriram a “ordem do dia”, fazendo uma gambiarra cientifica buscando conciliar a militarização com as práticas democráticas da governança ambiental, que contempla a participação efetiva da sociedade organizada na gestão do território e de toda sua sociobiodiversidade.

Dessa forma, os pesquisadores da UFAM, sobretudo a coordenação do EIA/RIMA, para agradar o patrão e satisfazer seus interesses privados, cumpriram as ordens do DNIT, contrariando a cientificidade do projeto à luz de uma política de desenvolvimento social com responsabilidade ambiental, transformando dessa feita os autores em bobos palacianos para desgraça da UFAM.

FARSA E REALIDADE

O senso comum adverte: quando a esmola é demais até o santo desconfia. A empresa Log-In Logística Intermodal à frente do projeto de construção do Porto das Lajes, buscando aliciar os manauaras menos atentos aos impactos pesticidas da pretensa construção do Porto, na confluência do Encontro das Águas, resolveu investir na mídia eletrônica, gerando imagem virtual sobre a idealização do empreendimento ancorada numa prática ecologicamente correta. No entanto, a farsa se desfaz quando confrontada com a realidade dos fatos descritos no EIA/RIMA: ”trata-se de um complexo portuário denominado Porto das Lajes, a ser implantado em área localizada próxima ao Distrito Industrial de Manaus, com cerca de 800 metros na margem esquerda do Rio Amazonas. O futuro complexo portuário terá instalações na Retroárea suficientes e adequadas à operação de um Terminal de Contêineres (Carga Geral)”.

A realidade do EIA/RIMA, objeto de avaliação pública, faz cair à máscara dos farsantes desvelando a verdade dos fatos: “O cais flutuante será composto de 04 (quatro) flutuantes de 65 metros de comprimento e 30,00 metros de largura (boca) e 4,00 metros de altura (pontal) cada um, perfazendo uma extensão total de 260,00 metros. O tabuleiro do cais, composto pelos conveses dos flutuantes, terá estrutura ortotrópica [...]. O sistema de ancoragem do cais terá quatro linhas por flutuante. Cada linha será composta de amarra, sendo talingada a uma poita em concreto/aço. Na extremidade oposta. Cada linha será tracionada por um molinete do tipo de tensão constante [...]. Consta também “a construção de duas pontes (Pontes I e II), que farão parte do sistema da vias de acesso. Estas serão construídas em aço de alta resistência. Serão também dotadas de aparelhos de apoio e dispositivos de segurança fixada às mesmas e no bloco de concreto (lado em terra) e nos flutuantes de apoio de cada uma delas. “Cada uma das duas pontes terão um vão de 65 metros, dupla faixa de tráfego, com 7 metros de largura total de pistas e passarelas laterais para pedestres com largura de 1,20 metros”. Eis a morte anunciado do nosso Encontro das Águas.

HOMENAGEM AO TRABALHADOR BRASILEIRO

É sabido que determinado indivíduo, dotado de perfil empreendedor, cria as condições necessárias para superá-la ou, no mínimo, atenuá-la, uma vez que, para o empreendedor a crise apresenta-se como oportunidade de negócio, momento em que este observa as potencialidades para isso. Seguindo a perspectiva de Peter Drucker, os empreendedores são aqueles que aproveitam as oportunidades para criar as mudanças, mobilizando recursos externos, valorizando a interdisciplinaridade do conhecimento e da experiência para alcançar seus objetivos.

Khemerson de Melo Macedo*

Tempos atrás, escrevi um artigo para esta página falando sobre a importância do trabalhador para o protagonismo social, econômico, cultural e político de nossa sociedade. Naquele contexto, escrevi: “Os verdadeiros protagonistas da História (...); são anônimos, estão nos recônditos dos mais diferentes espaços geográficos, esquecidos pelos historiadores e lembrados apenas pela memória de seus pares; (...); são trabalhadores, as forças motrizes da História”. Retomo, pois, deste ponto, para mais uma vez homenagear o trabalhador brasileiro, incluindo outras perspectivas que contemplem o tema em questão.

Naquele momento específico, era meu interesse demonstrar o valor do trabalhador a partir de seu protagonismo histórico, muitas vezes esquecido pelos discursos oficiais. Agora, retomo esta tese analisando a importância do trabalhador para a sociedade, que, certamente é muito mais preciosa do que simples mão-de-obra para o grande capital. Evito, contudo, a armadilha de analisar o trabalhador a partir da sua força de trabalho para as grandes corporações (algo que os marxistas certamente fariam bem melhor e mais exaustivamente do que eu) e lanço luz a outro aspecto bastante interessante: o empreendedorismo.

Termo apropriado por Joseph Schumpeter desde os anos 1950 como sendo uma pessoa criativa capaz de fazer sucesso com inovações, o empreendedorismo que, mais tarde, foi designado por Robert Hirsch como sendo o processo de criar algo diferente e com valor, dedicando tempo e os esforços necessários, assumindo os riscos financeiros, psicológicos e sociais correspondentes e recebendo as consequentes recompensas da satisfação econômica e pessoal, o empreendedorismo entra em voga no cenário nacional, uma vez que o empreendedor surge como alternativa viável neste contexto de crise, onde o capital internacional rearticula-se e forja novos cenários.

É sabido que determinado indivíduo, dotado de perfil empreendedor, cria as condições necessárias para superá-la ou, no mínimo, atenuá-la, uma vez que, para o empreendedor a crise apresenta-se como oportunidade de negócio, momento em que este observa as potencialidades para isso. Seguindo a perspectiva de Peter Drucker, os empreendedores são aqueles que aproveitam as oportunidades para criar as mudanças, mobilizando recursos externos, valorizando a interdisciplinaridade do conhecimento e da experiência para alcançar seus objetivos.

Este aspecto no entanto não está restrito somente ao campo da economia ou da administração. Ser empreendedor é, de modo geral, ter atitude empreendedora, com habilidade para visualizar situações e determinar as melhores estratégias para alcançar seus objetivos, assumindo os riscos necessários para isso. Esta orientação, como consequência, vem sendo adotada cada vez mais no campo intelectual, a partir do momento em que os grupos de trabalho inseridos em instituições de ensino, pesquisa e extensão passam a adotar este novo modelo de organização, planejamento e gestão.

Desta forma, retomo a discussão inicial, acrescentando que o valor do trabalhador, assim como do intelectual ou do gestor, está na atitude que este adota em relação ao seu trabalho, a partir da concepção deste acerca dos caminhos a serem percorridos até os objetivos serem plenamente alcançados. Desta forma, a homenagem que faço reside justamente naquilo que o trabalhador tem de mais precioso: sua força de vontade e disposição para apreender e empreender, algo que deveria ser cultivado em todas as instâncias da sociedade moderna.


*Antropólogo e coodenador de pesquisa do NCPAM

Miracharge



Diante de tanta badalação internacional, nem Chico Caruso hesitou, na primeira página de O Globo, em esquecer momentanemente o guardião da doutrina da fé e até retratar a previsível reação do mais notório pavão deste e outros continentes.

OS NOVOS RUMOS DA LITERATURA AMAZONENSE

Durante tanto tempo ocupada em retratar, principalmente, o universo do ribeirinho, do caboclo ou do indígena e suas angústias na luta de sobrevivência frente à floresta amazônica, como fez com tanta maestria pelo natural de manicoré Arhur Engracio, e alcançou o seu ápice em rigor estético com o português Ferreira de Castro, foi nada mais que uma arte fruto de uma estrutura social “ruralizada” e tradicional outrora predominante na Amazônia. Mas esse tema, que para muitos foi alvo de preconceito, tem perdido cada vez mais importância, ou pelos menos cada vez de dividir seu espaço com uma literatura mais urbana (como disse o escritor Max Carpentier), que só agora ganha mais espaço em nossa cena literária.

Ricardo Lima*

Karl Marx, no seu magistral A Ideologia Alemã, ao analisar como as estruturas econômicas exerciam uma influência avassaladora sobre a mentalidade dos indivíduos, produziu uma teoria de tamanho impacto sobre o século XX que boa parte dos sociólogos a partir dele se ocuparam em negar ou ratificar suas idéias.

De fato, as condições econômicas influenciam a vida espiritual de um povo, muito embora o fator econômico não seja determinante. Isso Marx já afirmara no Capital. Infelizmente muitos daqueles que tanto criticarem-no tenham esquecido, ou mesmo desconheça por completo, que ele tenha, na sua obra mais importante, reformulado muitas das idéias do materialismo histórico.

Quando se fala em vida espiritual, não se engloba apenas a concepção de religião ou as crenças morais, se inclui também a produção intelectual, a arte e, portanto, a literatura. Então, tomando esse direcionamento, o escritor, como qualquer outro cidadão, é alguém que sente a angustia, as aspirações e idéias de seu tempo, ou seja, é influenciado por esta “produção material” que Marx descobrira; um dos fatores que impulsiona a evolução do fazer literário é a dialética da sociedade, tendo por conseqüência nestes homens, escritores e sujeitos da história, a ânsia por resolver e entender a dinâmica do meio onde vivem, e não simplesmente uma necessidade de superar seus mestres, como afirma o teórico literário Harold Bloom; que o diga então Emile Zola, que tentou criar uma escola literária capaz de equipara-se ás conquistas científicas de seu tempo, o resultado foi o Naturalismo.

Mas onde pretendo chegar com essa explanação é decifrar o novo rumo que a literatura amazônica está tomando; durante tanto tempo ocupada em retratar, principalmente, o universo do ribeirinho, do caboclo ou do indígena e suas angústias na luta de sobrevivência frente à floresta amazônica, como fez com tanta maestria pelo natural de manicoré Arhur Engracio, e alcançou o seu ápice em rigor estético com o português Ferreira de Castro, foi nada mais que uma arte fruto de uma estrutura social “ruralizada” e tradicional outrora predominante na Amazônia. Mas esse tema, que para muitos foi alvo de preconceito, tem perdido cada vez mais importância, ou pelos menos cada vez de dividir seu espaço com uma literatura mais urbana (como disse o escritor Max Carpentier), que só agora ganha mais espaço em nossa cena literária.

O progresso, esta força inexorável, que destrói as antigas relações de produção para criar uma outra, racional e competitiva, recomeçou no Amazonas, depois de décadas de torpor após a decadência da borracha, nos anos sessenta. As condições materiais de existência, em constante urbanização, “em suas disparidades e antagonismos” (para usar uns termos de Octavio Ianni), chama cada vez mais atenção desses escritores, principalmente os da nova geração. Os temas típicos de grandes metrópoles, crimes, narcotráfico, desemprego, a miséria das periferias — no nosso caso a problemática das invasões... O desespero do cidadão frente a um modelo social que tende a relegá-lo ao anonimato, estranho tanto para com os outros quanto para consigo mesmo, incapaz de gerir relações com base emocional, enfim, o homem que estes novos escritores, enfocam é um ser individualista que tem por base o cálculo em suas relações com o outro, enxergando os homens como meios que, se bem aproveitados, se pode chegar a um fim especifico...

Mas esse processo de urbanização não ocorre de maneira tão mecânica como se pode imaginar, com a simples substituição do tradicional pelo moderno. Como já foi constatado por estudiosos da urbanização na América Latina, como Rubem Oliven, Gilberto Velho e Florestan Fernandes, o desenvolvimento no nosso continente foi desigual, tardio, dependente e combinado, portanto, as estruturas modernas convivem de forma hora tensa, hora harmônica, com o tradicional.

A mesma tensão entre tradicional e moderno ocorre em nossa região, com a cultura cabocla dividindo espaço com formas culturais e econômicas racionalizadas. Estes novos escritores, entre os quais eu me incluo, mostram em seus textos esta referida ambigüidade do entrelaçamento entre a cultura tradicional amazonense e o impulso capitalista vindo dos grandes centros.

A nova literatura amazonense começou a mostrar sua face na década de 70, época em que o clube da madrugada dava sinais de esgotamento; entre um de seus primeiros registros é a obra “O Tocador de Charamela” do já falecido Erasmo Linhares, volume de contos que, embora com algum toque de prosa rural, já mostrava a tônica do que viria ser uma nova tendência dos artistas “barés”, o enfoque de um “mundo cruel, mesquinho e desumano,” como escrevera Tenório Teles no prefácio da obra.

Na ânsia de compreender a mutação social da sociedade amazonense, os novos escritores acabam, mesmo que inconscientemente, também por desenvolver uma nova forma de linguagem artística para interpretar o mundo amazônico.

*Editor e pesquisador do NCPAM

A FUNÇÂO DO SENADOR DA REPÙBLICA

Lamentavelmente, a função de senador da República não vem sendo bem entendida. Alguns consideram que o senador pelo DF deve limitar suas ações ao DF, e não deve se envolver — nem gastar seu tempo, viajar — na defesa de problemas nacionais. E, por isso, alguns têm defendido que os senadores pelo DF devolvam as passagens que o Senado oferece mensalmente aos demais senadores. Não sabem que essas passagens não são recebidas, elas são usadas ou não, conforme o pedido do senador, para cumprir suas obrigações de visitar suas bases eleitorais e de defender e mudar o país.

*Cristovam Buarque


Em 2002, 674.086 eleitores deram-me seus votos para senador da República pelo Distrito Federal. Durante a campanha, eu disse que Brasília só teria futuro se o Brasil fizer uma revolução pela educação. E que, além de defender o DF, o papel de um senador da República seria lutar por essa revolução em todo o país.

Coerente com essa posição, logo no início do mandato aceitei o convite do presidente Lula para ocupar o cargo de ministro da Educação. Seria uma contribuição para o Brasil e o DF: fazer a revolução de que o Brasil precisa, fazendo escola de qualidade para todos, com o filho do trabalhador na mesma escola que o filho do patrão. E eu tentei. Nos poucos meses em que fiquei como ministro, apresentei projetos das leis necessárias para a revolução. Essa era uma função de senador da República, pelo DF.

Desde 2004, de volta ao Senado, mantive meu compromisso de representar o DF lutando pelos direitos de nossas cidades brasilienses, mas sem deixar de lutar pelo Brasil todo. Desde então, junto com outros parlamentares da bancada de Brasília, estive presente em todas as lutas que interessaram ao Distrito Federal. E estive presente em todos os grandes debates nacionais, como um senador da República.

Foi como senador da República que consegui aprovar o projeto de lei — que já foi sancionada e está em vigor — que estabelece o piso nacional do salário do professor; e também a lei que assegura a cada criança vaga na escola mais perto de sua casa, a partir do dia em que fizer quatro anos de idade. Além desses, já transformados em leis, apresentei mais de 100 projetos, quase todos voltados para os interesses de todo o país. Tudo isso me faz dizer que sou um senador por Brasília e um senador de toda a República brasileira. Assim, disputei a Presidência da República, em 2006, sabendo que não teria chance de ser eleito, mas poderia levar a voz do DF ao cenário nacional, defender uma revolução brasileira e colocar a educação na agenda nacional.

Lamentavelmente, a função de senador da República não vem sendo bem entendida.

Alguns consideram que o senador pelo DF deve limitar suas ações ao DF, e não deve se envolver — nem gastar seu tempo, viajar — na defesa de problemas nacionais. E, por isso, alguns têm defendido que os senadores pelo DF devolvam as passagens que o Senado oferece mensalmente aos demais senadores. Não sabem que essas passagens não são recebidas, elas são usadas ou não, conforme o pedido do senador, para cumprir suas obrigações de visitar suas bases eleitorais e de defender e mudar o país.

É importante que todos os brasileiros saibam quantas passagens foram usadas, por quem e com que finalidade. Por isso, apresentei ao presidente Sarney a sugestão de divulgar quais passagens são emitidas pelo Senado, para que passageiro, com que destino e finalidade, autorizadas por qual senador. Tudo de modo transparente.

Somos senadores da República, e por isso temos a obrigação de cuidar do que acontece em todo o país. Cada uma de minhas leis mereceram e continuam merecendo serem defendidas em todo o país, mesmo ao custo (e desgaste) de dezenas de viagens por nosso imenso país. Nenhuma delas aconteceu por diversão ou lazer. Essas, obviamente, o Senado não deve financiar para senador nenhum, do DF ou de qualquer outro Estado.

É preciso saber se as passagens foram usadas para benefício pessoal ou para o trabalho: o debate de idéias, a defesa de projetos, a tentativa de despertar a população nacional para a necessidade de fazer a revolução de que o Brasil precisa.

Como senador da República, quando tomo um avião, sinto-me como um enfermeiro em uma ambulância, indo atender a um doente chamado Brasil, ou como um jornalista indo cobrir uma pauta para seu veículo de comunicação. Cumprindo minha obrigação como Senador da República.

É uma pena que muitos, inclusive alguns bem informados, vejam o senador como mais um vereador da sua cidade, não como um senador para toda a República. De fato, muitas noites, terminado meu trabalho no Senado, costumo assumir o papel de vereador, visitando cidades, conversando com a população, defendendo interesses específicos, porque essa é uma condição necessária para atender aos eleitores diretamente e viabilizar a continuação de minha vida na política. Mas esse esforço adicional só se justifica se, depois de eleito, também lutar pelo nosso Brasil. Inclusive, fazendo o esforço que exigem as viagens necessárias. Sendo um senador de toda a República, pelo DF.

*Senador da República pela PDT


Artigo de Cristovam Buarque publicado em 25/4/2009 no jornal Correio Braziliense

MUITO VÍCIO E POUCA VIRTUDE NA JUSTIÇA BARÉ

Sem dúvida, o cidadão, que espera uma resposta da Justiça de nosso Estado detém, hoje, um sentimento de que foi desrespeitado, de que foi infringido na sua esperança pelo justo.

Renan Martins*

A Justiça amazonense certamente está manchada, a indistinção e indiferença com que foi tratada a coisa pública refletem a amplitude de uma crise institucional sem precedentes. Uma breve análise sobre o relatório divulgado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), nesta última terça-feira, nos impulsiona a debruçarmos sobre questões imprescindíveis em relação ao bem público, como os valores e princípios constitucionais dedicados ao interesse coletivo ou de todos.

Inevitavelmente, quando pensamos o espaço público abrigamos, por assim dizer, a idéia ou noção de que direitos e deveres de todos os cidadãos ali estarão contidos.

Isso porque, do homem mais simples ao intelectual ou agente formador de opinião, far-se-á presente o imaginário coletivo de que aquele espaço não pertence a um interesse particular e, mesmo que arranhado ou comprometido, gritará o peito indignado e o coração político, como já asseverava o termo aristotélico homo zoom politikon, “homem animal político”.

Não se trata somente de ilegalidade, trata-se de quem deveria combatê-la. Não se fala somente de moralidade, fala-se de quem a deveria tê-la como trunfo. Não se pesa somente a injustiça, mas, sobretudo, de quem da justiça deveria ser guardião.

O relatório de que se trata este comentário, disponível no sitio do CNJ (www.cnj.jus.br), apresenta uma série de irregularidades dentro do Tribunal de Justiça do Amazonas, tanto na capital quanto no interior do Estado. De maneira que, as informações contidas impressionam pelo sentimento patrimonialista com que foi tomado o Judiciário amazonense, em uma terra que parece ainda estar sob a égide dos “coronéis”, tal manifesto o provincianismo.

Além da demora no tramite processual, irregularidades como o pagamento de diárias indevidas, o excesso de cargos comissionados em detrimento do quadro efetivo do Tribunal, a quantia exorbitante (caso em que chegou até R$18.000,00) recebida como vencimentos por alguns policiais militares que exerciam suas funções junto ao TJ/AM, bem como alguns aspectos obscuros relacionados ao concurso público realizado no ano de 2005 são alguns pontos expostos pela Corregedoria do CNJ.

Esse quadro desnorteia todo e qualquer princípio ostentado por nossa Constituição Federal, promulgada em 1988, para reger a Administração Pública A conduta tomada pelo Judiciário do Estado do Amazonas, como revelada pelo Conselho Nacional de Justiça, não foi impessoal, moral, proporcional e muito menos razoável.

Sem dúvida, o cidadão, que espera uma resposta da Justiça de nosso Estado detém, hoje, um sentimento de que foi desrespeitado, de que foi infringido na sua esperança pelo justo.

Muito embora seja ingenuidade ou utopia ver a esfera pública como a esfera da virtude, que o público e o privado sejam encarados como campos distintos pelos homens de nossos tempos, a luta por esta distinção, a peleja pela virtude e o combate pela justiça será sempre de caráter secular, estará não apenas na esperança, mas, realizada na vida de todo homem de bem.

Administrador Público pela Universidade do Estado do Amazonas - UEA

terça-feira, 28 de abril de 2009

OS PARADOXOS DA CIÊNCIA POLÍTICA NO AMAZONAS

Diferentemente da diversidade temática de outras regiões brasileiras, às vezes tenho a impressão que as pesquisas em ciências sociais na região norte (em um caso especial, o Amazonas) se resumem a sustentabilidade floral e a cultura dos ditos povos da floresta (conforme a nova rotulação). Espero estar completamente equivocado e que este equívoco não esteja imperiosamente na pauta acadêmica. Penso que para além da sustentabilidade floral e cultura dos ditos povos da floresta, os homens da região amazônica são agentes racionais e fazem política em organizações e em instituições políticas.

Breno Rodrigo de Messias Leite*

Em todos os países centrais e em grande parte do Brasil, a subárea da Ciência Política tem dado galopes importantes em direção à sua institucionalização científica e à sua profissionalização no campo das Ciências Sociais. De forma contrária, é importante que se relate também, ainda que na contracorrente de certa tendência universalista, e certamente isso se aprofunda em algumas regiões do país, em geral aquelas afetadas pela matutice intransigente, a subárea sofre duros percalços e dolorosas derrotas.

Não estou com dubiedades tão presentes nas falas e nas escritas de meus pares. Não é necessariamente isso. O que quero dizer, de fato, é que ao contrário da Sociologia e da Antropologia, a Ciência Política, passa por zonas azuis que favorecem seu desenvolvimento, e por zonas cinzentas, que em pouco ou nada se aproximam de uma construção autônoma do campo acadêmico e profissional. É precisamente aí que quero chegar.

Mas, por incrível que pareça, as coisas estão mudando em diferentes ritmos e, é claro, de forma desigual do ponto de vista regional. Nas Regiões Sul e Sudeste, por exemplo, a discussão já está em alto nível: teorizações sofisticadas, produção científica de qualidade internacional, acentuada desmarginalização dos profissionais da área e outras coisas do tipo são sinais claros de que aos poucos a Ciência Política vem conquistando espaços importantes em todos os níveis da vida pública e política do Brasil (estas e as outras informações que se seguirão podem ser confirmadas pelo ranking das Pós-Graduações da CAPES ou no site da Associação Brasileira de Ciência Política, ABCP).

Na Região Nordeste, que concentra os estados de pior IDH do país, de forma inédita, a Ciência Política avançou significativamente, em especial na última década. Em todos os estados, sem exceção, já produzem quer nas graduações das universidades públicas, quer nas pós-graduações, extensa literatura tocando em temas como democracia, participação política, clientelismo, coronelismo... Dou um destaque especial a dois estados. Primeiramente, Pernambuco que já tem um programa de mestrado e doutorado em Ciência Política consolidado e reconhecido internacionalmente pelas análises sobre questões militares e políticas públicas; e o estado do Piauí que já está na sua segunda turma de mestrado acadêmico.

Quanto à Região Centro-Oeste, infelizmente, não possuo os dados e as leituras necessárias e suficientes para uma análise mais pontual. Por isso, poupo o leitor de informações distorcidas que escapam da probabilidade racional mínima e dos fatos que fundamentam a construção de um argumento razoável.

Na Região Norte, saímos definitivamente das zonas azuladas e entramos de igual forma nas zonas acinzentadas em termos de desenvolvimento da Ciência Política. A dinâmica da Ciência Política aqui nos trópicos úmidos passa por uma crise de natureza improlífica. Para além da crise improlífica, passa também por uma crise intelectual. Este tipo de comportamento pouco tem contribuído para a solidificação da subárea.

Com exceção da Universidade Federal do Pará, que já possui um mestrado acadêmico e outros programas de especialização em Ciência Política, todos os outros estados da região estão passando por problemas gravíssimos neste campo de conhecimento tão importante para as ciências sociais no Brasil. O que ainda há de esperança é o fato de a Universidade Federal do Amapá ter feito contratações de alguns professores de Ciência Política; e a Universidade Federal de Rondônia, em função da extensa zona fronteiriça com a Venezuela, ter criado uma graduação e um programa de pós-graduação interinstitucional em Relações Internacionais.

Diferentemente da diversidade temática de outras regiões brasileiras, às vezes tenho a impressão que as pesquisas em ciências sociais na região norte (em um caso especial, o Amazonas) se resumem a sustentabilidade floral e a cultura dos ditos povos da floresta (conforme a nova rotulação). Espero estar completamente equivocado e que este equívoco não esteja imperiosamente na pauta acadêmica. Penso que para além da sustentabilidade floral e cultura dos ditos povos da floresta, os homens da região amazônica são agentes racionais e fazem política em organizações e em instituições políticas. E que estas organizações e instituições importam no debate acerca da otimização da democracia política, para a arrancada do desenvolvimento econômico regional e para a inclusão social. Creio novamente estar completamente equivocado, mas avalio que estes estudos muitas vezes – para não dizer sempre – se limitam a descrever as conseqüências e não as causas de nossos dilemas. Pior ainda: com um exagero retórico (passional, superficial e vulgar) e uma protomilitância que afeta diretamente os resultados, o que rompe com toda a cadeia lógica de uma boa pesquisa.

É óbvio que a permanência desse tipo de pauta acadêmica viciada pela especulação financeira das agências de financiamento de nada contribui para o potencial crescimento da Ciência Política. Pelo contrário, incentiva seletivamente o eixo temático para outras problemáticas e grupos de interesse. A política torna-se apenas um tema transversal: política cultural, política indígena, políticas afirmativas etc. Em suma: a política subtraída das instituições políticas.

A ausência de uma pauta de problemas e de temas da Ciência Política (presidencialismo, federalismo, sistemas partidário-eleitoral, judicialização da política, cidadania, decisão do voto, políticas públicas, formação de governos e a separação dos poderes, relação Executivo-Legislativo, teoria política, política internacional, conflitos de fronteira etc.), de pesquisadores e professores com sólida formação na área, como é natural, inviabiliza qualquer tipo de crescimento da subárea.

Este é um problema grave nas ciências sociais no Amazonas. A mesma ciência social que se diz multidisciplinar ou interdisciplinar (nunca sei a forma correta!), mas que na prática funciona como um alucinado mantra monodisciplinar.


Que fazer? Não temos outra saída: só a contratação urgente de professores-pesquisadores com formação na área e correr atrás do tempo perdido. Espero que a nova gestão da reitoria resolva este problema de uma vez por todas. Aqui fica uma sugestão.

*Mestrando em Ciência Política pela UFPA e bolsista da CAPES
.
UNIVERSIDADE FEDERAL DO AMAZONAS-UFAM
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS-ICHL
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS SOCIAIS - DCIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIOLOGIA - PPGS

O Programa de Pós-Graduação em Sociologia convida

Palestras

• 29 de abril (quarta-feira, 10 horas)
Palestra: Metodologia para estudos de grupos familiares: aspectos da sustentabilidade
Professora: Dulce Whitaker (UFPa)
Local: Mini-Auditório PPGS e PPGSS – ao lado da secretaria do PPGS.

• 30 de abril (quinta-feira, 10 horas)
Palestra: Gênero, meio ambiente e trabalho
Professora: Maria Ângela D’Incao (UFPa)
Local: Auditório Rio Solimões – Instituto de Ciências Humanas e Letras - ICHL

O CONGRESSO QUE NÓS QUEREMOS

Intensamente repercutidas por toda a mídia, as reportagens publicadas nas últimas semanas pelo Congresso em Foco sobre a farra das passagens aéreas no Congresso Nacional chocaram o país.

Revelamos descaminhos desse quilate não porque queremos destruir o Congresso, como chegaram a afirmar em plenário alguns deputados na última quarta-feira (22). O teatro e as grosserias dos supostos ofendidos por nosso conteúdo não podem enganar ninguém. Ora, eles sabem que, se acaba o Congresso, acaba a razão de existir deste site. E sabem que, desde 2006, cometemos a ousadia de premiar os melhores parlamentares federais, numa eleição na qual os jornalistas políticos de Brasília têm total autonomia para definir os nomes dos congressistas que, numa segunda etapa, são submetidos à votação dos internautas.

Os constantes "furos" deste site e o prêmio são faces diferentes de uma mesma aposta: a aposta na ampliação do conhecimento sobre o Poder Legislativo, no incentivo ao acompanhamento de suas atividades por parte da sociedade e, sobretudo, a aposta na elevação da qualidade da representação política no país.

Defendemos com unhas e dentes a existência do Congresso, com a plena garantia de suas prerrogativas constitucionais. Batalhamos por um Parlamento forte. Mas, sim, queremos um Congresso muito melhor do que o atual ou do que os imediatamente predecessores. Um Congresso que tenha compromisso com a nação, jamais com interesses menores de parlamentares, assessores, amigos ou parentes que perdem a noção do limite dos privilégios que a população considera aceitável.

A farra das passagens aéreas não é uma exclusividade da Câmara dos Deputados, como já mostramos. Aquela Casa paga um alto preço por estar hoje - por incrível que pareça - mais próxima do que o Senado Federal das aspirações de moralização da política, reiteradamente expressas pelos brasileiros. A Mesa Diretora provou isso ao propor ao Plenário na última sexta-feira a redução do valor da cota em 20% e restrição do uso do benefício pelo próprio parlamentar para viagens nacionais . A iniciativa merece reconhecimento, e oferece à Câmara a possibilidade de se reconciliar com os eleitores. Apelamos para que os deputados tenham bom senso e aprovem a medida nesta terça-feira, dia 28.

Em número crescente, deputados produzem outro fato alvissareiro: muitos já admitiram ter errado ao usar a cota de passagens para pagar viagens pessoais, de si ou de terceiros, e afirmam que ressarciram ou irão ressarcir os gastos indevidamente pagos pela Câmara. Apoiamos tais gestos e reconhecemos neles o que pode ser o germe de uma mudança profunda na política brasileira. Também felicitamos os parlamentares que, convencidos da necessidade de virar o jogo, abrem suas contas, possibilitando a total transparência dos pagamentos feitos pela Câmara de viagens aéreas.

Gastos com deslocamentos aéreos, ou qualquer despesa pública feita para os deputados e senadores exercerem adequadamente seu mandato, só se justificam pela ótica do interesse público. O dinheiro é do povo, não do parlamentar, e muitos congressistas parecem ainda não ter compreendido isso. Doença na família, visitas a filhos que moram no exterior, necessidades circunstanciais de amigos não podem servir de amparo à utilização de verbas públicas. Quando enfrenta situações semelhantes, o cidadão comum banca a conta, ele não concorda que a regra para os parlamentares federais seja tão generosa quanto foi nos últimos anos.

Por isso, defendemos que todos os gastos do Congresso Nacional sejam públicos e transparentes. O Senado precisa seguir o exemplo da Câmara e abrir a assustadora caixa preta em que se transformou.

Também não aceitaremos que sejam escondidas debaixo do tapete as irregularidades que revelamos. A afirmação de que "a farra das passagens pega todo o Congresso", insistentemente ouvida em Brasília, não pode servir de pretexto para a hipocrisia. Se todos usaram mal, o que ainda está por se confirmar ou não (nossa lista aponta 261deputados até agora), nem todos usaram do mesmo jeito.

Não podem ser tratados igualmente os que usaram a cota de passagens para obter recursos criminosamente, vendendo os créditos aéreos no mercado paralelo ou transportando artistas para reduzir os custos de negócios privados, e aqueles que, baseados em uma interpretação errada da lei, acreditaram que poderiam custear com o dinheiro dos contribuintes viagens não relacionadas diretamente com o exercício do mandato. O episódio traz, portanto, duas dimensões, uma ética-legal e outra criminal, que devem ser enfrentadas separadamente.

A crise do Congresso traz uma oportunidade única para mudar os costumes políticos no Brasil. Não venham dizer que sempre foi assim e sempre será. Não é verdade.

Políticos são seres humanos e, como tal, estão sempre sujeitos a erros. Mas é imensa a quantidade de parlamentares que chegaram às duas Casas do Congresso, ontem e hoje, e que se destacaram por terem produzido muito mais acertos do que erros. A luta heróica de Ulysses Guimarães e tantos outros no enfrentamento da ditadura militar, a ação coletiva do Parlamento na elaboração da atual Constituição Federal e o comportamento de diversos congressistas durante o processo de impeachment do então presidente Collor são exemplos de que, em vários momentos da história, o Poder Legislativo brindou as aspirações democráticas dos brasileiros com um sopro de alívio e esperança.

No passado, e durante décadas, repetiu-se que o Brasil jamais teria capacidade para se tornar um país com inflação baixa. Quebramos esse tabu. Precisamos quebrar outro, o de que é impossível reduzir os níveis de corrupção, assistencialismo e desfaçatez que se verificam nos três poderes. É possível, sim! Para isso, é fundamental a vigilância permanente da sociedade.

O Congresso em Foco, cioso do peso de suas responsabilidades, continuará a fazer a sua parte, produzindo bom jornalismo, sem as amarras de quaisquer interesses que não sejam o de cobrir o Congresso e a política de forma competente, exclusiva, criativa e ética.

Mas, confiantes na credibilidade e na imensa audiência deste site, queremos ir além.

Sabemos que a internet é o maior fórum de debates públicos do Brasil democrático, mobilizando mais de 60 milhões de pessoas que já acessam regularmente a rede. Essa força pode ser usada não apenas para constatar problemas, proferir xingamentos ou, o pior dos equívocos, manifestar-se pelo fechamento do Congresso. Pode ser a semente de uma discussão madura sobre os caminhos que podemos dar ao Parlamento no país.

Com humildade, porém consciente da influência que hoje tem, o Congresso em Foco conclama todas as forças políticas democráticas a se unirem naquilo que elas puderem convergir, de modo a encontrar um rumo transformador, e dentro do Estado de Direito, para a crise do Legislativo. Nesse aspecto, queremos nos dirigir a todas as entidades que nos ajudam a viabilizar a cada ano o Prêmio Congresso em Foco, mas dirigimos uma palavra em especial a uma delas, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). A OAB valente do inesquecível Raymundo Faoro foi fundamental para nos trazer a democracia. Ela tem agora a chance de contribuir para dar à nossa democracia legitimidade e decência.

Convidamos leitores, entidades de representação profissional, líderes populares, empresários, intelectuais, artistas e formadores de opinião a darem sua cota pessoal - esta sim, cota digna de admiração - para virar a chave da política brasileira. Podemos não fazer tudo, mas podemos fazer muito. O primeiro passo nessa direção é acreditar nisso. O Congresso em Foco acredita e quer a companhia de quem deseja mudar o Brasil para melhor. Vem você também, manifestando-se como puder, inclusive por meio deste site. Sem a pressão popular, as alterações no Congresso e na política serão superficiais.

Entendemos, também, que há um amplo espaço para os próprios parlamentares nesse movimento de renovação do Congresso. Mesmo que tenham incorrido em erro no passado, os congressistas podem agora acertar o rumo, convencendo seus pares a se renderem à voz das ruas (e da rede).

Mudar o Congresso é possível, desde que cada um - inclusive nós, eleitores - tente desempenhar melhor o seu papel. O que estamos esperando?

Editorial do site Congresso em Foco, Brasília

ARTICULAÇÃO DO MOVIMENTO SOCIAL

No domingo (26), o movimento social S.O. S Encontro das Águas esteve reunido em Manaus, no Tropical Hotel, com a equipe de articulação do governo Lula, sob a coordenação da Fátima do Carmo, para informar e encaminhar questões referentes ao posicionamento das comunidades do Lago do Aleixo contra a construção do Porto das Lajes. Na oportunidade, o padre Orlando Barbosa foi porta-voz dos comunitários da Colônia Antonio Aleixo, formalizando a entrega do dossiê, que denuncia a tramóia do grupo da coca-cola – Juma Participações - beneficiado por Medida Provisória quanto à “legalização” das terras na confluência do Encontro das Águas, servindo de contrapartida do grupo da coca-cola na negociata com a Log-In Logística Intermodal S/A, empresa responsável do projeto de construção do Porto privado das Lajes. As articulação foram feitas pelo Sindicato dos Pescadores e pela Central Única dos Trabalhadores. O Presidente Lula, segundo os assessores, já tinha sido informado pelo Senador João Pedro (PT) sobre a questão, mas a decisão virá de Brasília por meios dos ministérios afins.

O flagrante das lentes registra também o momento em que a assessoria do governo lê com atenção a Carta Aberta publicada pelo NCPAM, solicitando atenção e respeito ao Movimento S.O.S Encontro das Águas. O documento foi peça introdutória do Dossiê Contra o Porto das Lajes, com ampla articulação junto à Secretaria Geral da Presidência da República, aqui representada por Geraldo Magela, Secretário-adjunto. As articulações continuam em processo, visando o fortalecimento do movimento social contra a privatização do nosso Encontro das Águ
as.

AÇÕES DE EXTENSÃO NO MONTE DAS OLIVEIRAS IDENTIFICAM EMPREENDEDORES

Participam ativamente do Programa de Ação Empreendedora em Santa Etelvina/ Monte das Oliveiras cerca de cinqüenta comunitários, entre jovens e adultos, distribuídos em dois projetos distintos. Ao efetivarem pesquisa de campo na própria comunidade com o intuito de diagnosticar ações empreendedoras, os comunitários inscritos nas atividades passaram a compreender na prática a importância do Programa, comprometendo-se com os objetivos do projeto e desenvolvendo estratégias de ação, promovendo a cooperação, o associativismo e a participação.

Khemerson Macedo*

Os projetos desenvolvidos pelo Núcleo de Cultura Política do Amazonas em Santa Etelvina/ Monte das Oliveiras estão a todo vapor. Depois de duas oficinas iniciais ministradas nos dias 04 e 11/04, para sensibilizar os comunitários acerca dos temas de empreendedorismo comunitário e digital, as equipes retomaram as atividades neste último sábado, dia 25, após breve pausa utilizada pela comunidade para pesquisa de campo, cujo intuito era identificar na comunidade iniciativas empreendedoras de destaque, dando luz aos negócios desenvolvidos no âmbito comunal.

Seguindo esta dinâmica e após definidas os grupos de trabalho, os comunitários foram estimulados a exporem a pesquisa feita, discutindo com os facilitadores os resultados obtidos. Cada grupo de trabalho identificou no processo as demandas já desenvolvidas na comunidade, tais como catadores de lixo, pequenos comerciantes, artesãos, costureiras, dentre outras. Entre os jovens envolvidos com a temática do empreendedorismo digital, identificaram-se as iniciativas virtuais na comunidade, discutindo-se a importância da internet no saber-fazer comunitário.

Participam ativamente do Programa de Ação Empreendedora em Santa Etelvina/ Monte das Oliveiras cerca de cinqüenta comunitários, entre jovens e adultos, distribuídos em dois projetos distintos. Ao efetivarem pesquisa de campo na própria comunidade com o intuito de diagnosticar ações empreendedoras, os comunitários inscritos nas atividades passaram a compreender na prática a importância do Programa, comprometendo-se com os objetivos do projeto e desenvolvendo estratégias de ação, promovendo a cooperação, o associativismo e a participação.

Para a próxima ação, a ser realizada no próximo sábado, dia 02/05, os facilitadores do NCPAM estimularão os comunitários a desenvolverem produtos típicos das suas atividades, como: materiais recicláveis, crochês, artesanato, marcenaria, bijuterias para exposição. Após exposto, os materiais desenvolvidos serão cadastrados em fichas técnicas e constarão como acervo a serem divulgados no blog comunitário que, paralelamente, vem sendo desenvolvido pela equipe de empreendedorismo digital que, para a próxima oficina, trabalhará com seu público a produção de textos para internet, capacitando-os quanto à reflexão intelectual.


Dessa forma, espera-se cada vez mais o envolvimento dos comunitários no processo, sensibilizando-os ainda mais quanto à prática do empreendedorismo na respectiva comunidade.


*Antropólogo e coodenador de Pesquisa do NCPAM

LITERATURA NA AMAZÔNIA

No Grão Pará a economia era fundada na produção manufaturada, a partir das transformações do látex. Era uma indústria florescente. Produzia objetos de fama mundial, como sapatos e galochas, capas impermeáveis, molas e instrumentos cirúrgicos, destinados à exportação ou ao consumo interno. Baseava-se também na indústria naval e numa agricultura de pequenos proprietários. O marquês de Pombal nomeara seu próprio irmão, Xavier de Mendonça Furtado, para dirigir a colônia, com o intento de reter o processo de decadência do Império português que dava mostras de ser incapaz de acompanhar a evolução do capitalismo da I Primeira Revolução Industrial.

Márcio Souza*

Começo por duas afirmações necessárias. Não há uma literatura amazônica. E na origem, a Amazônia não era Brasil. No que diz respeito à primeira afirmação, o que há é uma literatura que se escreve na Amazônia, e que faz parte – quando merece - do corpus da Literatura Brasileira. Quanto à segunda afirmação, na verdade os portugueses tinham duas colônias na América do Sul. Uma descoberta por Cabral em 1500,que se chamava Vice Reino do Brasil. A outra se chamava Grão Pará, descoberta por Vicente Iañes Pinzon em 1498.

Esses dois Estados Coloniais se desenvolveram distintamente até 1823, data em que o então Império do Brasil decidiu enviar mercenários ingleses para promover a invasão e a anexação do seu vizinho de língua portuguesa. A violência era naquela altura a única via possível, tão diferentes eram as estratégias, a cultura e a economia dessas duas colônias. O Grão-Pará era um sonho de país independente e não uma fronteira econômica. E nem se chamava Amazônia: esta é uma invenção do Império que foi retomada pela República.

No Grão Pará a economia era fundada na produção manufaturada, a partir das transformações do látex. Era uma indústria florescente. Produzia objetos de fama mundial, como sapatos e galochas, capas impermeáveis, molas e instrumentos cirúrgicos, destinados à exportação ou ao consumo interno. Baseava-se também na indústria naval e numa agricultura de pequenos proprietários. O marquês de Pombal nomeara seu próprio irmão, Xavier de Mendonça Furtado, para dirigir a colônia, com o intento de reter o processo de decadência do Império português que dava mostras de ser incapaz de acompanhar a evolução do capitalismo da I Primeira Revolução Industrial.

Nesse contexto, os escravos tinham uma importância menor do que nos outros lugares.

O Grão-Pará desfrutava, além disso, de uma cultura urbana bastante desenvolvida, com Belém construída para ser a capital administrativa. Ou a sede da Capitania do Rio Negro, Barcelos, que conheceu um importante desenvolvimento antes de Manaus, e para a qual recorrera-se ao arquiteto e urbanista de Bolonha, Antônio José Landi. Em compensação, a colônia chamada Vice Reino do Brasil dependia amplamente da agricultura e da agroindústria, tendo, portanto uma forte proporção de mão-de-obra escrava. Em meados do século XVIII, tanto o Grão-Pará quanto o Brasil conseguem criar uma forte classe de comerciantes, bastante ligados à importação e exportação, senhores de grandes fortunas e bastantes autônomos em relação à Metrópole.

Mas enquanto os comerciantes do Rio de Janeiro deliberadamente optaram pela agricultura de trabalho intensivo, como o café, baseando-se no regime da escravidão, os empresários do Grão-Pará intensificaram seus investimentos na indústria naval e nas primeiras fábricas de beneficiamento de produtos extrativos, especialmente o tabaco e a castanha-do-pará.

A invasão e a anexação do Grão-Pará marcaram o começo de um novo processo e provavelmente, aos olhos das elites do Rio de Janeiro, só poderia ser a força. Para as elites do Grão-Pará, íntimas dos ideais da Revolução Francesa, adquirida na tomada e ocupação de Caiena, logo perceberam que a via da república era mais adaptada à América que um regime monárquico. Os ministros do jovem e impetuoso Imperador brasileiro não podiam admitir tal coisa.

E entre 1823 a 1840, o que vai se ver é um processo de provocação deliberada seguida pôr uma severa convulsão social e a conseqüente repressão. Se me permitirem a comparação audaciosa, foi como se a Guerra da Secessão nos Estados Unidos tivesse sido vencida pelo Sul atrasado e escravagista. Com a guerra civil e a repressão a Amazônia perdeu 40% dos seus habitantes. A anexação destruiu todos os focos de modernidade. Entre o Império e as oligarquias locais, nenhum diálogo era então possível.

*Escritor amazonense ganhou reconhecimento internacional pela originalidade de suas obras, que passaram a ser traduzidas em diversos países do mundo: “Galvez, Imperador do Acre”, “Mad Maria” e tantas outras. http://www.marciosouza.com.br/

sábado, 25 de abril de 2009

MOBILIZAÇÃO CULTURAL NA COLÔNIA ANTONIO ALEIXO

Neste domingo (16), a praça principal da Colônia Antonio Aleixo, na zona leste de Manaus, será a referencia da cultura para celebrar a arte solidária dos artistas que exaltam o paisagismo natural do Encontro das Águas e seu valor cultural para a identidade do povo do Amazonas.

O cenário é perfeito para representação do auto de Ajuricaba, herói mítico do Amazonas, que lutando contra os colonizadores rompeu as amarras jogando-se nas profundezas do Encontro dos rios Negro e Solimões, formadores do caudaloso Amazonas, morrendo em liberdade.

Ajuricaba, herói amazônico, tem sido a grande motivação dos manauaras (Manaós –ara), que traduzido da Língua Geral Amazônica significa “terra dos Manaós”, para lutarem contra os invasores, oportunistas e corruptos que pretendem se apropriar da força de trabalho de seus filhos e do patrimônio cultural de nossa gente.

Para tarde de domingo a partir das 14h até as 19h, os comunitários do Aleixo juntamente com os jovens pesquisadores, estudantes do Instituto de Pesquisa da Amazônia, das Universidades Federal e Estadual mais o Movimento SOS Encontro das Águas, convidam a todos os amantes da cultura e homens e mulheres de bens do Amazonas a participarem desta mobilização cultural contra a poluição do Lago do Aleixo e pela preservação do nosso magnífico Encontro das Águas. A caravana sairá às 12h30 do Posto BR da Bola do Coroado.

Os internautas poderão participar enviando suas mensagens, que serão lidas no corpo das apresentações do trabalho. A mobilização cultural concentrará no Espaço Cidadão de Arte e Educação (ECA), contando com a realização de oficinas de educação ambiental com foco na importância socioambiental do Encontro das Águas, discutindo a questão da qualidade e gestão recursos naturais, bem como as Áreas de Preservação Permanente, oficina de reaproveitamento de óleo para fazer sabão, oficina de desenho, oficina de instrumentos e malabares com material reciclável e apresentação/exposição dos cartazes produzidos pelos alunos que participaram da I Conferência Infanto-juvenil do Meio Ambiente. Mais espetáculos de danças, teatro, música (Cabocliolo) e recital de poesia com a participação dos presentes.

As luzes se apagam com a sonoridade dos versos do poeta Quintino Cunha (1875-1943), nascido no Ceará, mas embriagado de paixão pelo nosso Amazonas, o que se manifesta no poema Encontro das Águas:

Encontro das Águas

Por Quintino Cunha

Vê bem, Maria aqui se cruzam: este
É o Rio Negro, aquele é o Solimões.
Vê bem como este contra aquele investe,
como as saudades com as recordações.


Vê como se separam duas águas,
Que se querem reunir, mas visualmente;
É um coração que quer reunir as mágoas
De um passado, às venturas de um presente.


É um simulacro só, que as águas donas
D'esta região não seguem o curso adverso,
Todas convergem para o Amazonas,
O real rei dos rios do Universo;


Para o velho Amazonas, Soberano
Que, no solo brasílio, tem o Paço;
Para o Amazonas, que nasceu humano,
Porque afinal é filho de um abraço!

Olha esta água, que é negra como tinta.
Posta nas mãos, é alva que faz gosto;
Dá por visto o nanquim com que se pinta,
Nos olhos, a paisagem de um desgosto.

Aquela outra parece amarelaça,
Muito, no entanto é também limpa, engana:
É direito a virtude quando passa
Pela flexível porta da choupana.

Que profundeza extraordinária, imensa,
Que profundeza, mais que desconforme!
Este navio é uma estrela, suspensa
Neste céu d'água, brutalmente enorme.

Se estes dois rios fôssemos, Maria,
Todas as vezes que nos encontramos,
Que Amazonas de amor não sairia
De mim, de ti, de nós que nos amamos!...

NA TERRA DOS MANAÚS

Ademir Ramos*

A narrativa mítica sustenta que no tempo que foi, não muito distante, existia um povo de porte pequeno, com os olhos oblíquos, cabelos lisos, com extrema beleza, que se mostrava alegre e risonho por tudo que lhe faziam de bem ou de mal. Esta gente-miúda vivia na floresta e banhavam-se todas as horas num grande rio, onde amava e germinava sua prole, na esperança de assim como rio crescer e se expandir como um povo sábio, senhor da ciência da terra, do mar e do infinito mundo.

Num certo dia, vindo não sei de onde, boiou entre eles, um moço com aparência diferente, trazendo consigo um caniço na mão e um longo cipó em forma de escada. No princípio nada dizia, mas exalava um cheiro doce das flores contagiando homens e mulheres.

O nome do moço o povo queria saber. No entanto, ele continuava em silêncio. Então, coube a curuminzada da aldeia, a tarefa de tentar descobrir o nome do belo moço que tinha uma marca nas ancas, sendo desproporcional aos humanos. Como ele não se manifestava, então começaram a chamar por variados apelidos, tendo por referência seus predicados corporais.

Além do nome, o povo queria saber o que significava também aquele caniço, bem como a escada de cipó. Era sem dúvida um mistério pra aquela gente. Mas, num certo dia uma das mulheres que voltava da roça viu aquele moço com as ancas avantajadas se transformar em cobra e entrar no tronco do pau. Quando de lá saiu veio acompanhado com outra gente, barulhando pelo mato à dentro.

Com bastante medo correu e conseguiu avisar a todos da transformação do belo moço.

Foi o tempo suficiente para que o pajé fizesse desaparecer a gente-miúda, protegendo todo mundo das cobras criadas no seu próprio reino.

Passado luas, o pajé recorrendo aos deuses da floresta conseguiu decifrar o que a gente-cobra queria. Aí começou a entender a razão do caniço, que tinha por fim pescar homens e mulheres para fazer parte da corte das cobras, como presa fácil, para alimentar os seus interesses e os grandes negócios no mercado do infinito mundo, se beneficiando da vontade geral.

E o cipó escada? – Demorou mais o pajé depois de longa viagem a paricá decifrou a armação do belo moço, que se transformava em cobra durante o dia e a noite virava morcego – andirá – para chupar o sangue daquela gente.

A escada trazida pelo moço era para dar rapidez aos seus saltos enquanto homem fosse. Assim, procurou de imediato dar as devidas rasteiras em seus adversários, buscando abrigo nas instituições públicas para se tornar cada vez mais forte e dominar cada vez mais o povo gente-miúda.

Acuado em seu próprio território e sem muita alternativa, o povo gente-miúda, que muito sonhava caiu em si e começou a compreender que não era um só na floresta e que o pequeno clã cobra havia se multiplicado e se apossado do Porantim, o cetro do poder e a memória do seu povo.

A gente-cobra passou então a governar o povo, criando a figura do rei, a quem a todos deveriam obedecer cegamente. E assim, foram criando outros ninhos políticos para dominar cada vez mais esta gente-miuda com total referendo do patriarcado de Yurupari.

Triste e subjugado o reino dessa gente-miúda, apostando em sua juventude, começou a sonhar novamente, acreditando na possibilidade de criar um antídoto que pudesse barrar a esperteza do rei da gente-cobra. Assim, se valeram da força dos pajés, da irreverência da juventude, da sabedoria dos velhos e dos guerreiros para juntos mergulharem no buraco do tatu e trazerem pro meio deles a coragem do homem-gavião.

Começa então a luta dessa gente-miúda filho dos Manaús para sustentar a sua emancipação política, rompendo com as oligarquias regionais. O primeiro passo é evitar uma vez por todas que o dinheiro público seja drenado para os negócios dessa gente graúda, filhos de cobra, que usam do caniço para pescar gente, aliciando por meio de promessas e mentiras o povo.

O segundo é destroná-los de seu reinado, esvaziando suas forças por meio das urnas, provocando náusea em seu apetite eleitoral.

E finalmente, o reinado da gente-miúda, que vive no interior da floresta deve levantar sua cabeça e acreditar que unidos, com a coragem do homem-gavião, podem devorar as cobras e sustentar novas formas de governar, promovendo a alegria dos homens, com a firme determinação de distribuir e não de concentrar a riqueza nas mãos dos pouquíssimos graúdos, que reinam nesse território. A proposta dessa gente-miúda fundamenta-se na Justiça Social e no orgulho de ser amazonense.

E o nome do belo moço que durante o dia vira cobra e a noite é um morcego vampiro, quem saberá?

*Professor da UFAM, antropólogo e coordenador geral NCPAM

AS LETRAS NA PÁTRIA DOS MITOS

A literatura que se faz no Amazonas, seja a escrita pelos brancos quanto a escrita pelos índios, no sonho e na paixão de seus poetas e prosadores, parece nos dizer que se faz necessário reconhecer definitivamente que a natureza é a nossa cultura, onde uma árvore derrubada é como uma palavra censurada e, um rio poluído é como um poema proibido.

Márcio Souza*

Se o Brasil é geralmente dado no exterior como um país de emoções, de irracionalidade, um país primitivo ou até folclórico, não podemos esquecer, no entanto, que ele herdou da colonização portuguesa uma grande capacidade de organização e de planejamento, assim como uma preocupação com os detalhes, Os portugueses sempre fixaram objetivos para si mesmos. Previam cada um de seus passos no continente americano. Por isso mesmo, quando o Grão-Pará se transformou em Amazônia e passou a ser uma fronteira, a colonização portuguesa já tinha desenvolvido uma nova civilização nos trópicos, apta a se desenvolver como uma zona de cultura nacional abrangente, de língua portuguesa, num subcontinente onde se falava inglês, francês, holandês e espanhol, sem esquecer os inúmeros idiomas indígenas, dos quais 32 praticados apenas no Rio Negro.

Estava fecundado o terreno para uma futura cultura brasileira, hoje em plena expansão, que podia negociar com o outro lado da fronteira, com as culturas originais, pré-colombianas, sobreviventes do grande choque, culturas essas que, vale lembrar, estiveram muito tempo na frente da cultura européia, particularmente no conhecimento do eco-sistema regional, antes de serem submersas pela violência do processo colonizador.

Como vimos, a Amazônia é uma invenção do Brasil. Os moradores da Amazônia sempre se espantam ao ver que, talvez para melhor vendê-la e explorá-la, ainda apresentam sua região como habitada essencialmente por tribos indígenas, enquanto existem há muito tempo cidades, uma verdadeira vida urbana, e uma população erudita que teceu laços estreitos com a Europa desde o século XIX. Aliás, nisso residem as maiores possibilidades de resistência e de sobrevivência dessa região.

Com efeito, os povos indígenas da Amazônia logo descobriram que nada conseguiriam se não se apoiassem nesta população urbana que é a única que se expressa nas eleições e exerce pressão sobre a cena política brasileira. A Amazônia conta com uma população de dezenove milhões de pessoas e com nove milhões de eleitores, o que não é pouca coisa.

Embora o Brasil se orgulhe de ter conquistado a Amazônia, o povo amazônico soube resistir e preservar suas peculiaridades. Continua havendo uma cozinha, uma literatura, artes-cênicas, arquitetura, artes-visuais, música, uma cultura da Amazônia. Há uma maneira de ser do homem do extremo norte, que nunca será aniquilada. O que precisamos é intensificar as trocas entre as culturas regionais brasileiras, muitas delas com passados semelhantes, unidas pelo sentimento de brasilidade e irmanadas pelo agridoce idioma de Camões. É sobre uma dessas peculiaridades, a literatura que se escreve no Estado do Amazonas, o meu estado, que vou agora tentar vos apresentar.

Os primeiros europeus a escreverem sobre a Amazônia foram cronistas como Frei Gaspar de Carvajal, Cristobal de Acuña, João Daniel, Simão Estácio da Silveira e o padre Antônio Vieira. Durante a fase da conquista e da penetração, o relato pessoal e surpreendido dos viajantes desempenhou na cultura o papel que a economia das especiarias foi para o mercantilismo. Foram esses relatos que posteriormente serviram, em grande parte, na orientação, classificação e interpretação da região como literatura e ciência.

A Amazônia abria se aos olhos do Ocidente com seus rios enormes como dantes nunca vistos e a selva pela primeira vez deixando se envolver. Uma visão de deslumbrados que não esperavam conhecer tantas novidades.

A literatura colonial nos legou uma forma determinada de expressar a região, particularmente curiosa e assustadoramente viva. Perdendo a agressividade, essa literatura repete se hoje de maneira conformista e mistificadora. O espírito simulador da literatura colonial legou o velho e gasto conceito da “Amazônia, celeiro do mundo”. Sua permanência é hoje a comemoração do assalto indiscriminado meio ambiente, da transformação da grande hiléia em deserto e que pela retórica verga a espinha para os interesses econômicos internacionais.

Mas foi um soldado lusitano investido de poeta que inaugurou a literatura de língua portuguesa na Amazônia. E de uma maneira sintomática. ,A Muhraida, ou a conversão do gentio Muhra Henrique João Wilkens, autor de louvou a subjugação da nação Muhra pelas tropas portuguesas, criando uma poesia do genocídio. Além de ser a primeira tentativa poética da região, representa um documento histórico inestimável.

Publicado em Lisboa, pela Imprensa Régia, no ano de 1819, quase trinta anos depois de sua confecção, é o trabalho de um homem que se envolveu diretamente no contato com os Muhra, habitantes do rio Japurá, onde exercia o cargo de Segundo Comissário até 1787.

Canto de glória e certezas, nele já se pode observar todos os prenúncios da decadência interna da epopéia. Não apenas por se tratar de uma obra medíocre, fruto talvez de um coração arrebatado pelos ócios da caserna, e pela fidelidade muito típica do militar com pendores artísticos, o certo é que a obra carrega esta corrupção estilística.

Não podemos encerrar este passeio pelo nascimento das letras amazônicas, sem uma referência aos povos indígenas. Do outro lado da fronteira cultural que se formou com a destruição do Grão-Pará e a criação da Amazônia, nos espreita uma amplidão criadora, uma tradição milenar que produziu literatura de rara beleza e complexidade, fábulas de rara crueza, forte e sensível expressão de forças primevas, cuja elegância seduziu homens como o conde Er-manno Stradelli, que veio para a região em 1890.

Foi com este fidalgo, etnógrafo, rico, corajoso, um herói romântico típico da Amazônia, que a lírica dos povos indígenas começou a ser revelada dentro de uma compreensão artística antes que etnográfica. Seus livros, como Leggenda del Taria, coleção de contos e narrativas heróicas, ou La Leggenda Del Jurupary, um belíssimo registro da saga do grande legislador, antecedem Raul Bopp na reivenção literária do mundo amazônico. Leggenda del Taria, lembra muito o antigo romance de amor, um gênero literário que crava suas raízes na mais cara tradição literária italiana.

As descrições em versos do cenário, os gestos cavalheirescos, a renúncia final dos conten¬dores frente à carnificina, fazem desta saga uma fábula mi¬leseaca do rio Vaupés. Stradelli encontrou na narrativa fabu¬losa dos tariana uma linguagem apenas nascida, como é de nascimento o êxtase de Raul Bopp. E não é por pura associa-ção de idéias que Nunes Pereira, em 1966, intitula sua monumental obra de Moronguetá, um Decameron Indígena. Sem interferir na redação dos mitos, Nunes Pereira registra um estilo rico, ma¬tizado e sem grilhões.

Um registro de mito e comportamentos que para Lévi Strauss “estocam e transmitem informações vitais assim como os circuitos eletrônicos e a fita magnética de um computador o fazem”. Reconhecendo esta autoridade do mito, poetas como Stradelli defendem a primeira realidade da região, realidade maior e mais relevante, pela qual está determinado o próprio destino da Amazônia.

Conhecendo isto, estes “se¬gredos profundos, sedutores e envolventes como certos cipós que se cobrem de flores para fingir fragilidade”, como bem escreveu Câmara Cascudo a respeito de Stradelli, descobrimos que vivemos num mundo onde o mito ainda vive e o relacionamento do homem com a natureza é ainda o mesmo relacionamento dos deuses com a sua criação. Mas hoje os deuses foram banidos para a penitenciária da etnografia, o status ontológico do mundo está traduzido pelo potencial de energia elétrica.

O esforço de Stradelli se repetiu nas obras de J. Barbosa Rodrigues e Brandão de Amorim, autores de antologias como Lendas em Nheengatu e Português e Poramdubas Amazonenses. Mas foi somente em 1985 que um primeiro autor totalmente indígena pode responder o diálogo proposto pelo fidalgo italiano. Trata-se de Luis Lana, cujo nome em dessana é Tolomen-ken-jiri, autor de Antes o Mundo não Existia, narração precisa do mito cosmogônico de sua cultura, escrito em português e dessana, sob enormes dificuldades em sua aldeia do rio Tikiê.

Luiz Lana, que nasceu em 1961, filho do chefe de sua tribo, fez o livro preocupado com a preservação do mito da criação do universo, acabou se tornando o primeiro índio a escrever e ter seu livro publicado em 500 anos de história do Brasil. Antes o Mundo não Existia está traduzido para diversas línguas européias e estimulou o surgimento de outros escritores indígenas, que estão tornando vernáculo seus idiomas ágrafos, e são editados pela primeira editora indígena do país, propriedade da FOIRN – Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro.

Como podemos ver, a Amazônia é uma das pátrias do mito, onde ainda existe uma unidade entre a natureza e a cultura numa permanente interação de estímulos e afirmação.

A literatura que se faz no Amazonas, seja a escrita pelos brancos quanto a escrita pelos índios, no sonho e na paixão de seus poetas e prosadores, parece nos dizer que se faz necessário reconhecer definitivamente que a natureza é a nossa cultura, onde uma árvore derrubada é como uma palavra censurada e, um rio poluído é como um poema proibido.

*Escritor amazonense ganhou reconhecimento internacional pela originalidade de suas obras, que passaram a ser traduzidas em diversos países do mundo: “Galvez, Imperador do Acre”, “Mad Maria” e tantas outras.


Acesse o Site do Escritor Amazonense Aqui.

quinta-feira, 23 de abril de 2009

BAIXARIA NA SUPREMA CORTE DE JUSTIÇA DO PAÍS

"É lamentável a discussão pública e pessoal de ministros da Corte Suprema, pois apenas serve para aumentar a desconfiança do cidadão brasileiro em relação ao Poder Judiciário". A afirmação é do presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar Britto, ao comentar a áspera discussão travada na sessão Plenária desta tarde do Supremo Tribunal Federal (STF), entre o presidente do Supremo, Gilmar Mendes, e o ministro Joaquim Barbosa.

Durante a discussão, o ministro Joaquim Barbosa acusou o presidente da Corte de estar "destruindo a credibilidade da Justiça brasileira". - Vossa Excelência está destruindo a Justiça deste país. Saía à rua ministro Gilmar - disse Joaquim Barbosa. - Estou na rua - respondeu Gilmar Mendes. O ministro Joaquim Barbosa retrucou: - Vossa Excelência não está na rua, Vossa Excelência está na mídia, destruindo a credibilidade da Justiça brasileira. Vossa Excelência não está falando com seus capangas do Mato Grosso.- Vossa excelência me respeite - disse Gilmar Mendes.

A pergunta que não quer calar: o que está por traz da zanga das excelências? - Conheça a trama e as peças de acusações da baixaria na Suprema Corte de Justiça do Brasil, o resto é café pequeno, confira:

Gilmar Mendes - O tribunal pode aceitar ou rejeitar, mas não com o argumento de classe. Isso faz parte de impopulismo judicial.

Joaquim Barbosa - Mas a sua tese deveria ter sido exposta em pratos limpos. Nós deveríamos estar discutindo....

GM - Ela foi exposta em pratos limpos. Eu não sonego informação. Vossa Excelência me respeite. Foi apontada em pratos limpos.

JB - Não se discutiu claramente.

GM - Se discutiu claramente e eu trouxe razão. Talvez Vossa Excelência esteja faltando às sessões. [...] Tanto é que Vossa Excelência não tinha votado. Vossa Excelência faltou a sessão.
JB - Eu estava de licença, ministro.

GM - Vossa Excelência falta à sessão e depois vem...

JB - Eu estava de licença. Vossa Excelência não leu aí. Eu estava de licença do tribunal.

Aí a discussão é encerrada e os ministros começaram a discutir outra ação. E foi retomada mais tarde com Mendes, na hora que proclamou o pedido de vista de Carlos Ayres Britto. A sessão esquenta e só é encerrada depois que o ministro Marco Aurélio Mello interfere na discussão.

GM - Portanto, após o voto do relator que rejeitava os embargos, pediu vista o ministro Carlos Britto. Eu só gostaria de lembrar em relação a esses embargos de declaração que esse julgamento iniciou-se em 17/03/2008 e os pressupostos todos foram explicitados, inclusive a fundamentação teórica. Não houve, portanto, sonegação de informação.

JB - Eu não falei em sonegação de informação, ministro Gilmar. O que eu disse: nós discutimos naquele caso anterior sem nos inteirarmos totalmente das conseqüências da decisão, quem seriam os beneficiários. E é um absurdo, eu acho um absurdo.

GM - Quem votou sabia exatamente que se trata de pessoas...

JB - Só que a lei, ela tinha duas categorias.

GM - Se vossa excelência julga por classe, esse é um argumento...

JB - Eu sou atento às conseqüências da minha decisão, das minhas decisões. Só isso.

GM - Vossa excelência não tem condições de dar lição a ninguém.

JB - E nem vossa excelência. Vossa excelência me respeite, vossa excelência não tem condição alguma. Vossa excelência está destruindo a justiça desse país e vem agora dar lição de moral em mim? Saia a rua, ministro Gilmar. Saia a rua, faz o que eu faço.

GM - Eu estou na rua, ministro Joaquim.

JB - Vossa excelência não está na rua não, vossa excelência está na mídia, destruindo a credibilidade do Judiciário brasileiro. É isso.

Ayres Britto - Ministro Joaquim, vamos ponderar.

JB - Vossa excelência quando se dirige a mim não está falando com os seus capangas do Mato Grosso, ministro Gilmar. Respeite.

GM - Ministro Joaquim, vossa excelência me respeite.

Marco Aurélio - Presidente, vamos encerrar a sessão?

JB - Digo a mesma coisa.

Marco Aurélio - Eu creio que a discussão está descambando para um campo que não se coaduna com a liturgia do Supremo.

JB - Também acho. Falei. Fiz uma intervenção normal, regular. Reação brutal, como sempre, veio de vossa excelência.

GM - Não. Vossa excelência disse que eu faltei aos fatos e não é verdade.

JB - Não disse, não disse isso.

GM - Vossa excelência sabe bem que não se faz aqui nenhum relatório distorcido.

JB - Não disse. O áudio está aí. Eu simplesmente chamei a atenção da Corte para as conseqüências da decisão e vossa excelência veio com a sua tradicional gentileza e lhaneza.

GM – Aaaaah (riso) é Vossa Excelência que dá lição de lhaneza ao Tribunal. Está encerrada a sessão.


21 A 23 de outubro / Campus da UFMG

PRORROGAÇÃO DO PRAZO PARA SUBMISSÃO DE PROPOSTA

Devido à grande procura por parte dos alunos, o Comitê Executivo decidiu prorrogar o prazo para submissão de trabalhos para o I Forum Brasileiro de Pós-graduação em Ciência Política.

Os participantes poderão enviar seus resumos até o dia 27 de abril de 2009 (segunda-feira)

Consulte o site do evento: www.cienciapolitica.org.br/forum

quarta-feira, 22 de abril de 2009

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE LULA



Manaus, 22 de abril de 2009

Senhor Presidente,

A luta por aqui não está fácil, mas continuamos investindo na possibilidade de reunir novas forças para barrar as ameaças que fragilizam o povo do Amazonas e, em particular, as comunidades da Colônia Antonio Aleixo, zona leste de Manaus, que fica às margens do Lago do Aleixo, na confluência do nosso magnífico Encontro das Águas.

Presidente, como nos velhos tempos quando reuníamos com a igreja, índios, estudantes, trabalhadores, professores e com os metalúrgicos do Amazonas, sob a direção do companheiro Ricardo Moraes, para se definir a organização do partido e fortalecer, ainda mais, a luta do movimento social contra o autoritarismo e os oportunistas a saquearem os cofres públicos em nome do “milagre brasileiro”, cujo santo era o povo a pagar promessa, carregando a cruz da dívida externa e do ufanismo da transamazônica.

Tempo difícil, mas cheio de vida e esperança porque acreditávamos na nossa força solidária para enfrentar os mandantes do poder amparados pela grade do pensamento único, que “prendia e arrebentava” contra as forças democráticas, que exaltavam a liberdade, a justiça e a igualdade social. Lembramos de vários companheiros que tombaram a nossa frente acreditando, que somente unidos e organizados seríamos capazes de promover a transformação social e democratização em nosso País.

Chico Mendes é um deles, que foi sacrificado no empate contra os predadores da floresta, fazendo ver o quanto é importante para o planeta conservá-la em pé, com sua beleza e seus recursos naturais. Lembramos também daquele dia que tanto o Chico quanto o companheiro Lula juntos chegaram a Manaus para ser julgados no Comando Militar da Amazônia.

Nós todos, Amecy Souza, Marlene Pardo, Marilene Corrêa, Aloísio Nogueira, Oswaldo Coelho, Márcio Souza, H Dias, Perrone, Deco, Graça Barreto, Bernadete Andrade, Públio, Ricardo Bessa e tantos outros companheiros ficaram na torcida aguardando à hora do veredicto para soltar o grito de liberdade, o que foi documentado pelas lentes de Rogélio Casado.

Somos testemunha ocular da história pela democratização de nosso País, expressão maior que se faz notar na Constituição de 1988, proclamada pelo saudoso Dr. Ulisses Guimarães, assegurando a revitalização da República e a soberania da Nação brasileira.

Na oportunidade, saudamos ao velho companheiro, Presidente da República, que se fará presente em Manaus a partir desta segunda-feira (27), para inaugurar obras do Governo Federal relativo à saúde, transporte e habitação. Saiba Presidente, que nesse território além de ser querido o senhor é ovacionado nas ruas e nas urnas, dispensando qualquer formalidade para sustentar o verdadeiro diálogo com o nosso povo.

A sua presença entre nós muito nos orgulha, principalmente porque o Senhor estará no bairro da Colônia Antonio Aleixo, que foi um dos maiores leprosários do norte do Brasil, onde os cartolas da política se recusam a entrar por ignorância e discriminação.

Recentemente, o Senador João Pedro, que também é nosso companheiro, esteve reunido com os comunitários da Colônia Antonio Aleixo, quando foi delegado por suas lideranças para articular junto ao Gabinete da Presidência da República, espaço na Agenda de Manaus do Presidente, garantindo um “dedinho de prosa” com as líderes locais, que representam mais de 40 mil pessoas.

Companheiro Lula, essa população tem sofrido todo tipo de males, principalmente a exclusão das políticas públicas e o racismo ambiental. Para completar, a SUFRAMA e o Governo do Estado resolveram afiançar a construção do Porto das Lajes, em terreno da União, que segundo consta foi legalizado pela Presidência da República através de Medida Provisória em favor da empresa Juma Participação, cujos beneficiários respondem também pelo Grupo Simões representantes da coca-cola no Amazonas. O empreendimento estimado em 220 milhões é capitaneado pela Log-In Logística Intermodal, contando com o capital da Bovespa e da Vale do Rio Doce, por meio de uma empresa controlada chamada Lajes Logística S/A.

As razões da construção do Porto não se discutem porque somos favoráveis a este empreendimento. O que não aceitamos é a construção do Porto na confluência do Encontro das Águas, onde se inicia o rio Amazonas em terra brasileira. Para isso criamos um movimento chamado S.O.S ENCONTRO DAS ÁGUAS, com a participação de parlamentares, sindicalistas, donas de casas, intelectuais, ambientalistas, estudantes e outras representações sociais, que participam efetivamente no apoio as comunidades do Lago do Aleixo contra a construção do chamado Porto das Lajes.

Os empresários recusam-se a discutir com os especialistas e até mesmo com as comunidades vizinhas ao empreendimento, apostando unicamente no peso do governo e na massiva propaganda que vem sendo feita pelos meios de comunicação do Estado, apelando para oferta de emprego e outras benesses que a empresa diz que vai oferecer como ação mitigadora. Ora, por que esses benfeitores do povo não escolhem outra área que não leve risco nenhum ao meio ambiente e não ameace de morte o nosso Encontro das Águas? - Pergunta está que eles se recusam a responder.

Presidente Lula, o que está em jogo é o interesse público. Não se trata de briga de ambientalistas insanos que pretendem barrar o progresso. Não, o que se pretende é salvaguardar o monumental Encontro das Águas, sua beleza natural e todo seu complexo ecossistema como patrimônio do nosso povo. Pois, assim como, é impossível conceber a Grécia sem sua mitologia, imagine o senhor visitar o Amazonas sem o Encontro das Águas tabulado com o universo mítico e o imaginário social de sua gente, é inconcebível.

Presidente, para o nosso companheiro Márcio Souza, de renomado saber, o Desenvolvimento Local, necessariamente, deve inserir em seus objetivos e metas a natureza como valor cultural, onde uma árvore derrubada é como uma palavra censurada e, um rio poluído é como uma página rasurada. Ademais, Senhor Presidente, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo ao poder público e as organizações sociais, o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Senhor Presidente, destemido companheiro, aceite o convite dos comunitários da Colônia Antônia Aleixo e faça constar em sua Agenda o Encontro com as lideranças para conhecer e decidir sobre o futuro da nossa Amazônia.

José Ademir Gomes Ramos
Coordenador Geral do Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas e militante do Movimento S.O.S Encontro das Águas.



Saiba tudo sobre a tramóia do Porto das Lajes aqui

MEDITANDO SOBRE A VIDA E A MORTE

Não podemos esquecer que Deus sabe valorizar a imprensa. Quando da passagem de Jesus Cristo pela terra, Ele convocou uma equipe de assessores - os 12 apóstolos -, para registrar tudo o que aconteceu durante a sua trajetória neste planeta. Agora é possível que Ele esteja chamando novos assessores, talvez porque vai aumentar a carga de trabalho ou porque os antigos já estejam aposentados, quem sabe cansados ou até mesmo desatualizados. Será?

Manoel Marques*

Pensei muito antes de escrever esta resenha e, depois de meditar bastante sobre o tema, decidi fazê-la por acreditar que meus saudosos amigos e camaradas que galgaram o plano superior da vida recentemente, estão felizes e saberão entender o propósito desta iniciativa burlesca, que visa tão somente manter acesa a chama de suas lembranças em nossos corações.

Foi durante meditação sobre a vida e a morte dos ex-companheiros Sebastião Reis, Ernesto Coelho e Aguinelo Oliveira, contemporâneos do extinto jornal A Notícia da época do também saudoso Andrade Neto, que me ocorreu esse insano pensamento de que esses valiosos jornalistas, especializados em matérias esportivas, tenham sido convocados por Deus para compor a equipe celestial de cronistas esportivos.

Lembrei que em algum tempo atrás o Homem já havia convocado dois dos melhores narradores esportivos do rádio amazonense: Carlos Carvalho e João Bosco Ramos de Lima. Chamou também os abalizados comentaristas Jaime Rebelo e Belmiro Vianez. Levou ainda o chargista Miranda, do jornal A Crítica, o chefe de cerimônia Paulo José, que militou no rádio e na televisão, e o discotecário Crisanto Jobim, que trabalhou durante anos na rádio Difusora.

Além desses, os jornalistas/empresários Umberto Calderaro (A Crítica) e Andrade Neto (A Notícia) também já estão lá, assim como vários outros valiosos militantes da imprensa amazonense, entre eles Francisco Pacífico, Altair Rodrigues, Sinval Gonçalves, os fotógrafos José Thiago, Clóvis Eugênio e outros que já desfrutam do ambiente celestial.

Diante desse quadro, surgiram várias interrogações: Qual será o projeto Divino para esses bravos jornalistas? Será que Deus está preparando uma grande Conferência Celestial para discutir o aquecimento global e o futuro do mundo, do nosso planeta e da Amazônia em particular e por isso está convocando a imprensa para fazer a cobertura desse grandioso evento? Será que quer debater sobre a possibilidade de Manaus/AM ser uma das sedes da Copa do Mundo de 2014? Ou será que Ele vai promover um supercampeonato esportivo celestial, o Copão Interplanetário, e por isso convocou os mais experientes?

Não podemos esquecer que Deus sabe valorizar a imprensa. Quando da passagem de Jesus Cristo pela terra, Ele convocou uma equipe de assessores - os 12 apóstolos -, para registrar tudo o que aconteceu durante a sua trajetória neste planeta. Agora é possível que Ele esteja chamando novos assessores, talvez porque vai aumentar a carga de trabalho ou porque os antigos já estejam aposentados, quem sabe cansados ou até mesmo desatualizados. Será?

Voltando para o plano terrestre, uma coisa é preocupante para os jornalistas que continuam suas missões no Brasil: o julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da Lei de Imprensa e do processo contra a exigência do diploma de formação superior em jornalismo para o exercício legal da profissão. É hora de união em defesa dos interesses da categoria. Espera-se que os coleguinhas que já passaram para o plano superior da vida, dêem aquela ajuda necessária para que tudo aconteça da melhor forma possível. Acredite!

*Jornalista SRTE/AM00112JPI da Diretoria do Sindicato dos jornalistas do Amazonas
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