sexta-feira, 3 de abril de 2009

AMAZON SAT OUVE EMPRESÁRIO DA LAJES E O DEBATE CONTINUA

A entrevista nada esclareceu, pelo contrário foi de um oportunismo canibal, tentando desqualificar os concorrentes para se afirmar no mercado local. Em certo momento o entrevistado chegou até agradecer ao apresentador por lembrar sobre a resposta de determinada pergunta. Gabizo, como ex-superintendente adjunto da SUFRAMA, falou do modelo Zona Franca e a possibilidade de sua auto-sustentação, imaginando que com a obra do porto essa possibilidade seria viável.

Ademir Ramos*

A empresa Lajes Logística S/A, que representa os interesses da Companhia Vale do Rio Doce no Amazonas, participou do programa Encontro com o Povo nesta quinta-feira (2), para dar explicação sobre as razões que levaram a empresa a formular uma proposta para construção do complexo portuário na confluência do Encontro das Águas.

O Encontro das Águas dos rios Negro e Solimões, formadores do rio Amazonas em terra brasileira, é uma das maravilhas naturais da Amazônia, do Brasil e do mundo. Esse ícone é reconhecido, internacionalmente como patrimônio da humanidade, devendo ser preservado para que os povos no presente e no futuro desfrutem dessa beleza natural, marca representativa da identidade cultural do Amazonas.

O programa Encontro com o Povo, que há trinta anos vai ao ar pela Rede Amazônica de Televisão, repetidora da Rede Globo no Estado, é transmitido pelo Amazon Sat, canal temático, aberto para todo o mundo, se propõe a discutir as questões amazônicas na perspectiva do desenvolvimento regional. O apresentador titular do programa é o comunicador Humberto Amorim.

O convite a diretoria da Lajes, que é uma das empresas controladas pela Log-In Logística Intermodal S/A, com sede no Rio de Janeiro, se deu após a entrevista dos representantes do Movimento Social SOS Encontro das Águas, que foi ao ar na quinta-feira, 19 de março passado.

Na oportunidade, como participantes do Movimento SOS Encontro das Águas, denunciei a falta de transparência do projeto e a arrogância dos empresários em anunciar o cronograma de obra sem sequer contar com a aprovação dos Estudos de Impacto Ambiental (EIA/RIMA), bem como as impropriedades contidas nos Estudos, de onde os autores tiraram conclusões equivocadas, segundo o parecer técnico dos pesquisadores da Universidade Federal do Amazonas apresentado ao Ministério Público Estadual.

Fundamentado nesse e em outros pareceres técnicos e na própria vivência enquanto moradores, as lideranças comunitárias do Lago do Aleixo, em audiência pública realizada no Bairro Colônia Antonio Aleixo, na Zona Leste de Manaus, depois de ampla discussão com técnicos, assessores e com os próprios empresários da Lajes, manifestaram-se contrários a construção do chamado Porto das Lajes, provocando uma ampla discussão pelos meios comunicação e, sobretudo através da internet nos blogs da Associação dos Amigos de Manaus (AMANA) – Blog do Rogelio Casado – e pelo NCPAM.

Na abertura do programa, o apresentador Humberto Amorim contextualizou a entrevista fazendo referencia ao Movimento SOS Encontro das Águas que, segundo ele, havia “mostrado o lado negativo da construção do porto, apresentado pelo professor Ademir Ramos quando esteve aqui”, deixando entender que a entrevista com o executivo das Lajes, Sérgio Gabizo era “pra se ver o lado positivo da obra, o outro lado da moeda”. Além do diretor da Lajes no programa registrou-se também, a presença de José Maria da Silva, que se apresentou como presidente da Associação dos Moradores da Colônia Antonia Aleixo.

No programa, o diretor da Lajes recorreu a uma apresentação virtual do projeto de construção do porto tal como faziam os políticos em época de campanha, demonstrando intimidade com a Superintendência da SUFRAMA, Flávia Grosso e mais ainda com o Senador Artur Virgilio, que segundo ele, já havia procurado para conversar.

A entrevista nada esclareceu, pelo contrário foi de um oportunismo canibal, tentando desqualificar os concorrentes para se afirmar no mercado local. Em certo momento o entrevistado chegou até agradecer ao apresentador por lembrar sobre a resposta de determinada pergunta. Gabizo, como ex-superintendente adjunto da SUFRAMA, falou do modelo Zona Franca e a possibilidade de sua auto-sustentação, imaginando que com a obra do porto essa possibilidade seria viável.

A pílula foi tão dourada que Gabizo declarou que a construção do Porto que ele chama de verde serviria de exemplo para o mundo, com o seu diferencial ambiental e aí, cinicamente, declarou que a “obra preservaria o Encontro das Águas. E seria até um atrativo turístico”. Acredite se quiser, mas foi dito para todo o Brasil essa impropriedade.

Disse também, o diretor da Lajes que é obrigação dele prestar esclarecimento à população sobre as obras. No entanto, se recusou a participar do seminário realizado pela comunidade do Aleixo, com a participação dos senadores Artur, João Pedro e Jefferson Praia para expor sobre “as benesses do porto” prometidas pela Lajes. Assim como também não participaram a direção do IPAAM (órgão licenciador) e da Associação dos Moradores do Bairro. Esta por sua vez foi bancada pela Lajes para representar seus interesses nas interlocuções com a sociedade. Pois todos os custos cartoriais da Associação foram pagos pela empresa, conforme nos informou Isaque Dantas, liderança comunitária local.

Mas, o que não pegou bem para Humberto Amorim, segundo a liderança, foi na hora da rolagem dos créditos do programa o apresentador ficar passando o cartão para o empresário. O programa acabou pela 21h30, mas os debates continuam.

Estive na Rádio CBN de Manaus às 8h30, nessa sexta-feira com a representação comunitária para debater o projeto com o ex-diretor da SUFRAMA, José Alberto Machado, defendendo os interesses da empresa construtora. O que me chamou atenção foi à arrogância do debatedor, que começou o programa, fazendo uma leitura do meu currículo em relação ao dele para conferir quem tinha mais competência que o outro e a partir daí passou a justificar a construção do empreendimento.

Em contraponto a esta investida dos “doutos” informei à população que o EIA/RIMA foi reprovado pela Universidade Federal do Amazonas e pela própria comunidade, que em audiência pública disse não a construção do porto. É bom ficar atento para não entrar nesse jogo.

A estratégia da empresa Lajes é promover a contra-informação e tentar ganhar no grito, deslocando profissionais da área, inclusive parlamentares, para a defesa do projeto como se fosse a única alternativa para a viabilidade logística do Pólo Industrial de Manaus, chegando a prometer que acabariam todos os males, inclusive o aumento das taxas cobradas para as empresas.

A minha avaliação é que os estrategas da Lajes (Log-In) pretendem divorciar o nosso Movimento Social SOS Encontro das Águas, da força das comunidades do Lago do Aleixo, promovendo discussão tecnocrata, no estilo da ditadura. É bom lembrar que o diretor Sergio Gabizo é cria da ditadura, vindo servir na SUFRAMA a mando dos generais. Na verdade a SUFRAMA, no Amazonas, serviu de mangueira para esse e outros jabuti alados.


Leia aqui a matéria de Hermegarda Junqueira sobre a Porto das Lajes publicada no Blog do Holanda


*Professor da UFAM, antropólogo e coordenador do NCPAM

Nenhum comentário: