quarta-feira, 22 de abril de 2009

CARTA ABERTA AO PRESIDENTE LULA



Manaus, 22 de abril de 2009

Senhor Presidente,

A luta por aqui não está fácil, mas continuamos investindo na possibilidade de reunir novas forças para barrar as ameaças que fragilizam o povo do Amazonas e, em particular, as comunidades da Colônia Antonio Aleixo, zona leste de Manaus, que fica às margens do Lago do Aleixo, na confluência do nosso magnífico Encontro das Águas.

Presidente, como nos velhos tempos quando reuníamos com a igreja, índios, estudantes, trabalhadores, professores e com os metalúrgicos do Amazonas, sob a direção do companheiro Ricardo Moraes, para se definir a organização do partido e fortalecer, ainda mais, a luta do movimento social contra o autoritarismo e os oportunistas a saquearem os cofres públicos em nome do “milagre brasileiro”, cujo santo era o povo a pagar promessa, carregando a cruz da dívida externa e do ufanismo da transamazônica.

Tempo difícil, mas cheio de vida e esperança porque acreditávamos na nossa força solidária para enfrentar os mandantes do poder amparados pela grade do pensamento único, que “prendia e arrebentava” contra as forças democráticas, que exaltavam a liberdade, a justiça e a igualdade social. Lembramos de vários companheiros que tombaram a nossa frente acreditando, que somente unidos e organizados seríamos capazes de promover a transformação social e democratização em nosso País.

Chico Mendes é um deles, que foi sacrificado no empate contra os predadores da floresta, fazendo ver o quanto é importante para o planeta conservá-la em pé, com sua beleza e seus recursos naturais. Lembramos também daquele dia que tanto o Chico quanto o companheiro Lula juntos chegaram a Manaus para ser julgados no Comando Militar da Amazônia.

Nós todos, Amecy Souza, Marlene Pardo, Marilene Corrêa, Aloísio Nogueira, Oswaldo Coelho, Márcio Souza, H Dias, Perrone, Deco, Graça Barreto, Bernadete Andrade, Públio, Ricardo Bessa e tantos outros companheiros ficaram na torcida aguardando à hora do veredicto para soltar o grito de liberdade, o que foi documentado pelas lentes de Rogélio Casado.

Somos testemunha ocular da história pela democratização de nosso País, expressão maior que se faz notar na Constituição de 1988, proclamada pelo saudoso Dr. Ulisses Guimarães, assegurando a revitalização da República e a soberania da Nação brasileira.

Na oportunidade, saudamos ao velho companheiro, Presidente da República, que se fará presente em Manaus a partir desta segunda-feira (27), para inaugurar obras do Governo Federal relativo à saúde, transporte e habitação. Saiba Presidente, que nesse território além de ser querido o senhor é ovacionado nas ruas e nas urnas, dispensando qualquer formalidade para sustentar o verdadeiro diálogo com o nosso povo.

A sua presença entre nós muito nos orgulha, principalmente porque o Senhor estará no bairro da Colônia Antonio Aleixo, que foi um dos maiores leprosários do norte do Brasil, onde os cartolas da política se recusam a entrar por ignorância e discriminação.

Recentemente, o Senador João Pedro, que também é nosso companheiro, esteve reunido com os comunitários da Colônia Antonio Aleixo, quando foi delegado por suas lideranças para articular junto ao Gabinete da Presidência da República, espaço na Agenda de Manaus do Presidente, garantindo um “dedinho de prosa” com as líderes locais, que representam mais de 40 mil pessoas.

Companheiro Lula, essa população tem sofrido todo tipo de males, principalmente a exclusão das políticas públicas e o racismo ambiental. Para completar, a SUFRAMA e o Governo do Estado resolveram afiançar a construção do Porto das Lajes, em terreno da União, que segundo consta foi legalizado pela Presidência da República através de Medida Provisória em favor da empresa Juma Participação, cujos beneficiários respondem também pelo Grupo Simões representantes da coca-cola no Amazonas. O empreendimento estimado em 220 milhões é capitaneado pela Log-In Logística Intermodal, contando com o capital da Bovespa e da Vale do Rio Doce, por meio de uma empresa controlada chamada Lajes Logística S/A.

As razões da construção do Porto não se discutem porque somos favoráveis a este empreendimento. O que não aceitamos é a construção do Porto na confluência do Encontro das Águas, onde se inicia o rio Amazonas em terra brasileira. Para isso criamos um movimento chamado S.O.S ENCONTRO DAS ÁGUAS, com a participação de parlamentares, sindicalistas, donas de casas, intelectuais, ambientalistas, estudantes e outras representações sociais, que participam efetivamente no apoio as comunidades do Lago do Aleixo contra a construção do chamado Porto das Lajes.

Os empresários recusam-se a discutir com os especialistas e até mesmo com as comunidades vizinhas ao empreendimento, apostando unicamente no peso do governo e na massiva propaganda que vem sendo feita pelos meios de comunicação do Estado, apelando para oferta de emprego e outras benesses que a empresa diz que vai oferecer como ação mitigadora. Ora, por que esses benfeitores do povo não escolhem outra área que não leve risco nenhum ao meio ambiente e não ameace de morte o nosso Encontro das Águas? - Pergunta está que eles se recusam a responder.

Presidente Lula, o que está em jogo é o interesse público. Não se trata de briga de ambientalistas insanos que pretendem barrar o progresso. Não, o que se pretende é salvaguardar o monumental Encontro das Águas, sua beleza natural e todo seu complexo ecossistema como patrimônio do nosso povo. Pois, assim como, é impossível conceber a Grécia sem sua mitologia, imagine o senhor visitar o Amazonas sem o Encontro das Águas tabulado com o universo mítico e o imaginário social de sua gente, é inconcebível.

Presidente, para o nosso companheiro Márcio Souza, de renomado saber, o Desenvolvimento Local, necessariamente, deve inserir em seus objetivos e metas a natureza como valor cultural, onde uma árvore derrubada é como uma palavra censurada e, um rio poluído é como uma página rasurada. Ademais, Senhor Presidente, todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, impondo ao poder público e as organizações sociais, o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.

Senhor Presidente, destemido companheiro, aceite o convite dos comunitários da Colônia Antônia Aleixo e faça constar em sua Agenda o Encontro com as lideranças para conhecer e decidir sobre o futuro da nossa Amazônia.

José Ademir Gomes Ramos
Coordenador Geral do Núcleo de Cultura Política da Universidade Federal do Amazonas e militante do Movimento S.O.S Encontro das Águas.



Saiba tudo sobre a tramóia do Porto das Lajes aqui

Nenhum comentário: