Cristovam Buarque*
Em entrevista ao blog do Magno Martins, respondi que, em breve, poderia surgir uma proposta de plebiscito para decidir se o Brasil deseja ou não um Parlamento aberto. A dimensão tomada pela divulgação desta frase, no blog, permite algumas lições. A primeira é de como uma frase, por telefone, se espalha por todo o Brasil. Há alguns anos, uma frase demoraria tanto a se espalhar que chegaria morta.
Essa lição nos mostra que os políticos, como eu, não estamos preparados para os novos tempos das comunicações universais e instantâneas.
Apesar da instantaneidade universal das informações e das imediatas manifestações de vontade da população, nossos projetos de lei demoram anos, ou décadas, para chegarem ao fim do processo – até a aprovação ou a rejeição. O Legislativo ficou um poder atrasado, em relação ao Executivo.
A segunda lição é que nenhum dos críticos à minha frase levantou a hipótese de que o plebiscito chegasse ao resultado favorável de manter o Congresso. Todos tomaram a idéia do plebiscito, como se a resposta do povo fosse um claro e rotundo apoio ao fechamento, não à manutenção. Os formadores de opinião demonstraram sua convicção de que o povo deseja fechar o Congresso. Caso contrário, teriam se prendido à idéia de um momento da afirmação do Congresso, que receberia o apoio popular.
Outra lição é como as frases se transformam e passam a carregar algo que não estava na sua origem. Eu quero abrir o Congresso, não fechá-lo. As pessoas já esqueceram que, durante os 21 anos do regime militar, o Congresso só esteve fechado por poucas semanas. Ficou aberto todo o tempo, mas era irrelevante, desrespeitado pela opinião pública. Isso durou até 1978, quando novos parlamentares começaram a falar contra o regime e a articular o fim da ditadura. Imediatamente, receberam respeito e reconhecimento do povo. Vale lembrar que a emenda das Diretas foi recusada pela maioria dos congressistas. Naquela época, por plebiscito, o povo teria aprovado as eleições diretas, mas o Congresso derrubou-a.
Não adianta imaginar que a crise na relação do Congresso com o povo será resolvida sem levar em conta o que o povo deseja. Até recentemente, o povo ficava silencioso entre as eleições. Mas agora, a imprensa, com seus meios modernos, põe o povo em manifestação na “rua virtual”. Não vai demorar até que essa “rua” se manifeste. Talvez isso aconteça de forma eleitoral, substituindo os atuais parlamentares em final de mandato, como eu. Talvez de formas não eleitorais, ainda desconhecidas, porque ainda não sabemos como vai se comportar, no futuro, a “rua virtual”.
Não há forma de manter aberto um Congresso que não seja respeitado nem esteja em sintonia com a opinião pública. Há golpes barulhentos e silenciosos; golpes que fecham o Congresso e outros que o mantém aberto – mas irrelevante, sem sintonia com o povo.
Esse golpe silencioso está em marcha, por culpa de nós próprios, parlamentares – todos nós, não coloquemos a culpa em apenas alguns. E uma das culpas é o silêncio. Mas é melhor passar a aparência de golpista, apontando o risco de o golpe acontecer, do que manter a imagem de democrata em silêncio omisso, ante ao golpe que poderá acontecer.
Uma última lição é de que o político hábil é aquele que não corre risco dizendo frases polêmicas. A polêmica pode levar a desgastes de dimensões fatais, do ponto de vista eleitoral. Essa lição eu não vou seguir. Não vale a pena ver os problemas sem fazer deles o alarde que deve ser feito, que deve ficar na história.
*Cristvam Buarque é Senador da República pelo PDT.
Essa lição nos mostra que os políticos, como eu, não estamos preparados para os novos tempos das comunicações universais e instantâneas.
Apesar da instantaneidade universal das informações e das imediatas manifestações de vontade da população, nossos projetos de lei demoram anos, ou décadas, para chegarem ao fim do processo – até a aprovação ou a rejeição. O Legislativo ficou um poder atrasado, em relação ao Executivo.
A segunda lição é que nenhum dos críticos à minha frase levantou a hipótese de que o plebiscito chegasse ao resultado favorável de manter o Congresso. Todos tomaram a idéia do plebiscito, como se a resposta do povo fosse um claro e rotundo apoio ao fechamento, não à manutenção. Os formadores de opinião demonstraram sua convicção de que o povo deseja fechar o Congresso. Caso contrário, teriam se prendido à idéia de um momento da afirmação do Congresso, que receberia o apoio popular.
Outra lição é como as frases se transformam e passam a carregar algo que não estava na sua origem. Eu quero abrir o Congresso, não fechá-lo. As pessoas já esqueceram que, durante os 21 anos do regime militar, o Congresso só esteve fechado por poucas semanas. Ficou aberto todo o tempo, mas era irrelevante, desrespeitado pela opinião pública. Isso durou até 1978, quando novos parlamentares começaram a falar contra o regime e a articular o fim da ditadura. Imediatamente, receberam respeito e reconhecimento do povo. Vale lembrar que a emenda das Diretas foi recusada pela maioria dos congressistas. Naquela época, por plebiscito, o povo teria aprovado as eleições diretas, mas o Congresso derrubou-a.
Não adianta imaginar que a crise na relação do Congresso com o povo será resolvida sem levar em conta o que o povo deseja. Até recentemente, o povo ficava silencioso entre as eleições. Mas agora, a imprensa, com seus meios modernos, põe o povo em manifestação na “rua virtual”. Não vai demorar até que essa “rua” se manifeste. Talvez isso aconteça de forma eleitoral, substituindo os atuais parlamentares em final de mandato, como eu. Talvez de formas não eleitorais, ainda desconhecidas, porque ainda não sabemos como vai se comportar, no futuro, a “rua virtual”.
Não há forma de manter aberto um Congresso que não seja respeitado nem esteja em sintonia com a opinião pública. Há golpes barulhentos e silenciosos; golpes que fecham o Congresso e outros que o mantém aberto – mas irrelevante, sem sintonia com o povo.
Esse golpe silencioso está em marcha, por culpa de nós próprios, parlamentares – todos nós, não coloquemos a culpa em apenas alguns. E uma das culpas é o silêncio. Mas é melhor passar a aparência de golpista, apontando o risco de o golpe acontecer, do que manter a imagem de democrata em silêncio omisso, ante ao golpe que poderá acontecer.
Uma última lição é de que o político hábil é aquele que não corre risco dizendo frases polêmicas. A polêmica pode levar a desgastes de dimensões fatais, do ponto de vista eleitoral. Essa lição eu não vou seguir. Não vale a pena ver os problemas sem fazer deles o alarde que deve ser feito, que deve ficar na história.
*Cristvam Buarque é Senador da República pelo PDT.
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