É impossível ter poder parlamentar quando se fica apenas dois dias por semana no Congresso, não mais que poucas horas no Plenário, raríssimas vezes em sessões plenárias, e nunca em sessões nas quais dialoguemos, discutamos, parlamentemos. O maior de todos os escândalos é o fato de que, no Brasil de hoje, nós, parlamentares, não parlamentamos.
Cristovam Buarque*
Neste ano, o Brasil completou 24 anos da redemocratização. Tempo suficientemente longo para que comecemos a nos esquecer de como foi a ditadura. Porém, tempo insuficiente para consolidarmos a democracia. Já não há mais medo da ditadura, mas ainda não existe confiança na democracia.
O poder ditatorial se mantém por meio de armas nas mãos dos ditadores; o poder democrático, pela credibilidade dos parlamentares junto ao olhar público. E pela capacidade de se reciclar, atraindo os melhores quadros para a vida pública.
A atual crise de confiança que atravessa o Senado Federal está provocando dois fenômenos que ameaçam a democracia: a descrença da opinião pública e a perda do entusiasmo dos jovens pela vida pública. As pesquisas mostram um Senado com baixíssima credibilidade, e quem anda entre jovens percebe que não há renovação da vocação política. A juventude despreza os políticos e a política. Pior, a sensação é de que os jovens que desejam seguir a carreira política estão mais interessados nos benefícios e vantagens do que em servir ao país.
Por isso, nós que fazemos parte do parlamento de hoje, nós que somos o centro dos escândalos, temos de pensar não só na honra pessoal ameaçada, mas na nossa responsabilidade com a consolidação da democracia.
Temos idade para nos lembrar dos males da ditadura, e obrigação de senti-la ameaçada. Por isso, precisamos reagir.
Primeiro, precisamos entender nossa culpa e responsabilidade.
Mesmo que a imprensa possa exagerar, a notícia é sempre despertada, nunca inventada. Ela é o alarme de que precisamos para corrigir erros que às vezes não vemos em nós ou ao nosso redor. Por isso, a primeira ação deve ser garantir transparência em todos os atos, gestos e gastos. Não se comete crime e pecado do lado de lá de um vidro limpo, sob o olhar do público. Crimes e pecados são cometidos entre paredes fechadas, por trás de cortinas grossas. O Senado precisa assumir a transparência, tornar tudo público, como deve ser em uma instituição de eleitos pelo povo.
A segunda ação é aumentar nossa produtividade. O que mais deve incomodar a opinião pública é o fato de não ver, ao lado das notícias de escândalos, o resultado concreto do nosso trabalho para melhorar o dia-a-dia do povo brasileiro. Somos um poder irrelevante diante das medidas provisórias e das decisões judiciais, espremidos entre o Executivo e o Judiciário. Por nossa ausência, Executivo e Judiciário se assenhorearam do poder de toda a República.
Já que nossa Casa não aparenta produção concreta, além de discursos, salvo uma ou outra lei de interesse público, o povo nos vê apenas como despesa. Devemos recuperar o poder que temos a obrigação de ter, revertendo as leis que dão mais poder ao Executivo, definindo as regras de como o Judiciário deve legislar. Na democracia, a Casa do Povo é o Congresso, ou não há democracia.
Para isso, precisamos de uma terceira ação: temos de mudar radicalmente nosso comportamento.
É impossível ter poder parlamentar quando se fica apenas dois dias por semana no Congresso, não mais que poucas horas no Plenário, raríssimas vezes em sessões plenárias, e nunca em sessões nas quais dialoguemos, discutamos, parlamentemos. O maior de todos os escândalos é o fato de que, no Brasil de hoje, nós, parlamentares, não parlamentamos.
A quarta ação é renovar o compromisso com a agenda do povo.
Mesmo nossos discursos são raramente centrados nos problemas reais da nação brasileira, no futuro do Brasil. Gastamos muito tempo debatendo generalidades, enquanto o Brasil enfrenta uma crise estrutural e outra conjuntural, e precisa enfrentar as duas.
O Brasil espera de nós mais do que estancar escândalos. Quer que demonstremos nosso poder de mudar o país, fazendo um Congresso que orgulhe a todos os brasileiros, que faça as mudanças que o Brasil espera há séculos, e sobretudo que justifique e consolide a democracia, atraindo os jovens para a vida pública em vez de afastá-los, como hoje acontece.
*Senador da Republica e Professor da UNB
Fonte: Arigo publicado no jornal O Globo de sábado, 28 de março.
4 comentários:
Realmente a democracia se mantem com um parlamento forte, mas ultimamente este parlamento só mostrou fraqueza e impotencia politica. O que gera na juventude ou em qualquer cidadão brasileiro descredito político, já que uma boa parte parlamentares estão mais preocupado com as vantagens e recompensas que o cargo publico pode oferecer, desta maneira reproduzindo na juventude que pretende ingressar na política.
....e assim ao invés de termos uma juventude que briga com esses políticos por seus direitos - já não os veem mais como bandidos - e sim como fontes de inspiração para galgar um cargo com privilegios e a tão sonhada estabilidade financeira...
Brasileiro pagou R$ 5.572,00 em tributos em 200
Brasileiro pagou R$ 5.572,00 em tributos em Novo presidente do Banco do Brasil terá que aumentar volume de crédito, diz Mantega
Daniel Lima e Kelly Oliveira
Repórteres da Agência Brasil
Brasília - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje (8) que a novo presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, deve buscar aumentar o volume de crédito liberado pela instituição. “Vai ter uma política agressiva, liberando mais crédito que é um problema da economia [por conta da crise financeira internacional].”
Mantega também afirmou que é preciso ampliar a concorrência. “A concorrência é incipiente e é um dos motivos do spread se manter elevado”, disse. “Neste momento de falta de crédito, de dificuldades financeiras, os bancos públicos podem desempenhar um papel fundamental”, completou.
Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a redução do spread bancário virou um "obsessão" para o governo. O spread é o ganho que os bancos têm num empréstimos.
Em fevereiro deste ano, a taxa média de juros era de 52,7% ao ano para as pessoas físicas. Desse valor de 52,7%, uma parcela de 11,2 pontos percentuais se refere à taxa média que as instituições financeiras pagam para obter dinheiro no mercado e, depois, emprestrar aos clientes. A fatia restante de 41,5 pontos percentuais é o chamado spread, que inclui o lucro do banco, os impostos a pagar, as despesas administrativas e os custos para cobrir a inadimplência de outros empréstimos.
O ministro elogiou o trabalho de Antonio Francisco de Lima Neto, que vai deixar o cargo. “O crédito do Banco do Brasil aumentou consideravelmente, atendeu as várias áreas de atividade da economia brasileira”. Segundo Mantega, houve aumento do credito, redução da inadimplência e incorporação de instituições financeiras.
“O banco continuou sendo um dos maiores do Brasil. Voltará a ser [o maior] pelo trabalho que vem sendo feito.” Ele disse ainda que vai convidar Lima Neto para “nova atividade dentro das atribuições que foram o glomerado do Banco do Brasil”.
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