segunda-feira, 6 de abril de 2009

QUATRO AÇÕES

É impossível ter poder parlamentar quando se fica apenas dois dias por semana no Congresso, não mais que poucas horas no Plenário, raríssimas vezes em sessões plenárias, e nunca em sessões nas quais dialoguemos, discutamos, parlamentemos. O maior de todos os escândalos é o fato de que, no Brasil de hoje, nós, parlamentares, não parlamentamos.

Cristovam Buarque*

Neste ano, o Brasil completou 24 anos da redemocratização. Tempo suficientemente longo para que comecemos a nos esquecer de como foi a ditadura. Porém, tempo insuficiente para consolidarmos a democracia. Já não há mais medo da ditadura, mas ainda não existe confiança na democracia.

O poder ditatorial se mantém por meio de armas nas mãos dos ditadores; o poder democrático, pela credibilidade dos parlamentares junto ao olhar público. E pela capacidade de se reciclar, atraindo os melhores quadros para a vida pública.

A atual crise de confiança que atravessa o Senado Federal está provocando dois fenômenos que ameaçam a democracia: a descrença da opinião pública e a perda do entusiasmo dos jovens pela vida pública. As pesquisas mostram um Senado com baixíssima credibilidade, e quem anda entre jovens percebe que não há renovação da vocação política. A juventude despreza os políticos e a política. Pior, a sensação é de que os jovens que desejam seguir a carreira política estão mais interessados nos benefícios e vantagens do que em servir ao país.

Por isso, nós que fazemos parte do parlamento de hoje, nós que somos o centro dos escândalos, temos de pensar não só na honra pessoal ameaçada, mas na nossa responsabilidade com a consolidação da democracia.

Temos idade para nos lembrar dos males da ditadura, e obrigação de senti-la ameaçada. Por isso, precisamos reagir.

Primeiro, precisamos entender nossa culpa e responsabilidade.

Mesmo que a imprensa possa exagerar, a notícia é sempre despertada, nunca inventada. Ela é o alarme de que precisamos para corrigir erros que às vezes não vemos em nós ou ao nosso redor. Por isso, a primeira ação deve ser garantir transparência em todos os atos, gestos e gastos. Não se comete crime e pecado do lado de lá de um vidro limpo, sob o olhar do público. Crimes e pecados são cometidos entre paredes fechadas, por trás de cortinas grossas. O Senado precisa assumir a transparência, tornar tudo público, como deve ser em uma instituição de eleitos pelo povo.

A segunda ação é aumentar nossa produtividade. O que mais deve incomodar a opinião pública é o fato de não ver, ao lado das notícias de escândalos, o resultado concreto do nosso trabalho para melhorar o dia-a-dia do povo brasileiro. Somos um poder irrelevante diante das medidas provisórias e das decisões judiciais, espremidos entre o Executivo e o Judiciário. Por nossa ausência, Executivo e Judiciário se assenhorearam do poder de toda a República.

Já que nossa Casa não aparenta produção concreta, além de discursos, salvo uma ou outra lei de interesse público, o povo nos vê apenas como despesa. Devemos recuperar o poder que temos a obrigação de ter, revertendo as leis que dão mais poder ao Executivo, definindo as regras de como o Judiciário deve legislar. Na democracia, a Casa do Povo é o Congresso, ou não há democracia.

Para isso, precisamos de uma terceira ação: temos de mudar radicalmente nosso comportamento.

É impossível ter poder parlamentar quando se fica apenas dois dias por semana no Congresso, não mais que poucas horas no Plenário, raríssimas vezes em sessões plenárias, e nunca em sessões nas quais dialoguemos, discutamos, parlamentemos. O maior de todos os escândalos é o fato de que, no Brasil de hoje, nós, parlamentares, não parlamentamos.

A quarta ação é renovar o compromisso com a agenda do povo.

Mesmo nossos discursos são raramente centrados nos problemas reais da nação brasileira, no futuro do Brasil. Gastamos muito tempo debatendo generalidades, enquanto o Brasil enfrenta uma crise estrutural e outra conjuntural, e precisa enfrentar as duas.

O Brasil espera de nós mais do que estancar escândalos. Quer que demonstremos nosso poder de mudar o país, fazendo um Congresso que orgulhe a todos os brasileiros, que faça as mudanças que o Brasil espera há séculos, e sobretudo que justifique e consolide a democracia, atraindo os jovens para a vida pública em vez de afastá-los, como hoje acontece.

*Senador da Republica e Professor da UNB


Fonte: Arigo publicado no jornal O Globo de sábado, 28 de março.

4 comentários:

Anônimo disse...

Realmente a democracia se mantem com um parlamento forte, mas ultimamente este parlamento só mostrou fraqueza e impotencia politica. O que gera na juventude ou em qualquer cidadão brasileiro descredito político, já que uma boa parte parlamentares estão mais preocupado com as vantagens e recompensas que o cargo publico pode oferecer, desta maneira reproduzindo na juventude que pretende ingressar na política.

Anônimo disse...

....e assim ao invés de termos uma juventude que briga com esses políticos por seus direitos - já não os veem mais como bandidos - e sim como fontes de inspiração para galgar um cargo com privilegios e a tão sonhada estabilidade financeira...

Anônimo disse...

Brasileiro pagou R$ 5.572,00 em tributos em 200

Anônimo disse...

Brasileiro pagou R$ 5.572,00 em tributos em Novo presidente do Banco do Brasil terá que aumentar volume de crédito, diz Mantega

Daniel Lima e Kelly Oliveira
Repórteres da Agência Brasil






Brasília - O ministro da Fazenda, Guido Mantega, afirmou hoje (8) que a novo presidente do Banco do Brasil, Aldemir Bendine, deve buscar aumentar o volume de crédito liberado pela instituição. “Vai ter uma política agressiva, liberando mais crédito que é um problema da economia [por conta da crise financeira internacional].”

Mantega também afirmou que é preciso ampliar a concorrência. “A concorrência é incipiente e é um dos motivos do spread se manter elevado”, disse. “Neste momento de falta de crédito, de dificuldades financeiras, os bancos públicos podem desempenhar um papel fundamental”, completou.

Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que a redução do spread bancário virou um "obsessão" para o governo. O spread é o ganho que os bancos têm num empréstimos.

Em fevereiro deste ano, a taxa média de juros era de 52,7% ao ano para as pessoas físicas. Desse valor de 52,7%, uma parcela de 11,2 pontos percentuais se refere à taxa média que as instituições financeiras pagam para obter dinheiro no mercado e, depois, emprestrar aos clientes. A fatia restante de 41,5 pontos percentuais é o chamado spread, que inclui o lucro do banco, os impostos a pagar, as despesas administrativas e os custos para cobrir a inadimplência de outros empréstimos.

O ministro elogiou o trabalho de Antonio Francisco de Lima Neto, que vai deixar o cargo. “O crédito do Banco do Brasil aumentou consideravelmente, atendeu as várias áreas de atividade da economia brasileira”. Segundo Mantega, houve aumento do credito, redução da inadimplência e incorporação de instituições financeiras.

“O banco continuou sendo um dos maiores do Brasil. Voltará a ser [o maior] pelo trabalho que vem sendo feito.” Ele disse ainda que vai convidar Lima Neto para “nova atividade dentro das atribuições que foram o glomerado do Banco do Brasil”.