segunda-feira, 6 de abril de 2009

NO ENCONTRO DAS ÁGUAS, NÃO!

Voltando à vaca fria: a insistência em construir no Encontro das Águas contraria mesmo a lógica mais elementar. Fosse eu ladrão, com certeza optaria por assaltar uma casa desprotegida a me aventurar na tentativa de entrada em uma guarnecida por um robusto e esperto ‘doberman’.

Felix Valois*

Li a nota explicativa publicada, no dia 1o de abril, pela empresa Lajes Logística na imprensa local. Impossível não lhe elogiar o redator, pois escorreito se mostrou no manejo da linguagem. E assim tem que ser, principalmente quando se busca justificar o injustificável.

O Encontro das Águas reconhece a nota, é patrimônio inalienável dos povos amazonense e brasileiro. Então, a pergunta é singela: por que não o deixa em paz no seu tranqüilo rolar contínuo de líquidos negro e barrento?

Interesses econômicos e conveniências logísticas, mais aqueles do que estes, já são nós bem conhecidos e sempre lembrados todas as vezes que olhamos a degradação a que chegaram os nossos igarapés e o deplorável estado em que se encontra a orla do Rio Negro.

Não é possível (desculpem-me os técnicos: sou apenas um amazonense leigo no assunto) que inexista outro lugar onde se possa construir um porto decente, com todas as comodidades, facilidades e vantagens que o atracar e zarpar de navios possa oferecer à nossa gente.Por falar nisso, quando é que o povo vai ter uma explicação convincente, se é que é possível, a respeito da paralisação das obras de modernização no velho e cansado porto flutuante de Manaus? Será que já terminou a briga por interesses mesquinhos em que se digladiam figurões de nossa política?)

Voltando à vaca fria: a insistência em construir no Encontro das Águas contraria mesmo a lógica mais elementar. Fosse eu ladrão, com certeza optaria por assaltar uma casa desprotegida a me aventurar na tentativa de entrada em uma guarnecida por um robusto e esperto ‘doberman’.

Vai daí que o Encontro está protegido. E, mesmo que não seja o caso de gatunagem, é melhor respeitar-lhe o sossego do que despertar a ira de seus protetores. No mínimo enfrenta-se de uma mordida nos calcanhares ou de uma desonrosa corrida com os fundilhos estraçalhados.

Não se trata, longe disso, de reação emocional, a se traduzir num sentimentalismo barato ou numa história ecológica. A verdade acho é que estamos cansados de ver tão pouco caso com o que é nosso tanta displicência com tudo aquilo que aprendemos a amar e a respeitar. Canseira de ver o chamado poder público parece não estar nem aí quando se trata do interesse coletivo e deixa as coisas, sejam eles quais forem fluírem como se aqui fosse terra de ninguém, habitada por mentecaptos e idiotas.

Não é. E por isso, só por isso, é preciso dar uma basta a essa novela. No Encontro das Águas, não!!!

*Articulista do jornal Diário do Amazonas, professor da UFAM, advogado criminalista, foi deputado estadual e ex-prefeito de Manaus

Um comentário:

Anônimo disse...

O descaso público é tanto que estão todos preocupados com seus interesses individuais, deixando de lado o interesse coletivo do povo amazonense. Assim, como o afirma o professor,não somos contra a construção de portos no Amazonas, já que é uma região que realmente necessita, mais só que o problema é com a responsabilidade ambiental, poderia escolher-se um outro local que não fosse prejudicial à natureza.
Não a destruição do patrimônio ambiental, não a destruição do patrimônio do povo amazonense!!!!!!