terça-feira, 13 de maio de 2008
VIVA A LIBERDADE, A DEMOCRACIA E A EDUCAÇÃO!
*Marilene Fernandes de Souza
Os discursos vinculados aos temas liberdade, democracia e educação são atrativos e sempre comentados, mas trazem também a ilusão, o engodo, a tergiversação. E certamente nos atrai porque nos faz pensar em novas perspectivas, assim como na esperança de um tempo melhor seja no campo econômico, cultural, político e educacional.
Temos vivido cercados por manobras políticas. Enquanto sociedade, nos comportamos como se estivéssemos vivendo um estado letárgico, são poucos que se manifestam, opinam e se propõem a subverter tais situações.
Hoje dia 13 de Maio, comemoramos o dia da libertação dos escravos no Brasil, nos propomos a uma reflexão histórica deste feito e outros atrelados a ele, pois em documentos oficiais da nação, a escravidão acabou, mas recentemente numa reportagem na Rede Record de televisão, assistimos uma criança de 12 anos de idade trabalhando em uma fazenda no Estado do Pará, na qual tem sido cravado o selo quente na pele, o mesmo usado para marcar gados, tendo no seu corpo queimaduras de 2° e 3° graus. Seu patrão alegou tratar-se apenas de uma brincadeira, e o caso, muito lentamente, vem sendo analisado por autoridades locais.
Porém, as atrocidades deste nível ocorrem diariamente. E nos questionamos por que em pleno século XXI ainda presenciamos atitudes como esta?
Que responsabilidade nós temos daquilo que se tem feito em nosso país? A pobreza econômica tem alimentado a pobreza política em nosso país, se justifica pela renitência daqueles que detém o poder fazendo uso de atividades que recriam a subserviência, o esmoler, a troca de comida pelo cabresto, culminando na depredação persistente da cidadania brasileira.
Ser pobre não é apenas não ter, mas ser tolhido da possibilidade de ter, ou seja, ao passo que a população vicia-se nestas práticas de troca de alimentos e favores, distancia-se da liberdade, da democracia e da educação capazes de desenvolver o senso crítico, que forma indivíduos criativos e capacitados de lutar pela cidadania igualitária, por isso a pobreza vem sempre acompanhada da humilhação, da subserviência e não apenas da fome.
A realidade salarial, de moradia e de sonegação a educação básica camuflam nossa essência, de um povo que viveu a intolerância dos colonizadores, de um solo que foi palco de morticínios e de um longo período de escravidão. Ganhamos fama de povo pacífico, principalmente pela ótica oficial da história transmitida nos livros didáticos, a qual mostrar um país que não vivenciou guerras civis de grandes proporções ou com bombas (deixando no segundo plano as várias revoltas e lutas em favor da liberdade neste país). Mas a realidade não nega, presenteamos ainda guerras de poder, guerras do narcotráfico, guerra contra nossos índios e guerras de demais interesses que no fundo trazem a marca da subserviência, nos calando para não parecermos violentos.
Lutar por um país melhor, onde àquilo que está nos papéis, prescritos em leis seja legitimado é um exercício de cidadania, pois, se os direitos não forem conquistados, não se realiza algo que é o cerne da cidadania: o saber, a capacidade de produzir, construir com iniciativa própria uma nova realidade. Não podemos nos eximir de nossa responsabilidade, seja com organização civil, seja com sindicatos, na escola e fora dela, visto que, a educação é difusa, sendo essencialmente política e provida de ferramentas que podem mudar a realidade de um povo.
É fundamental cercar o Estado pela cidadania organizada, não aquela partidária que defende interesses próprios, mas a que traz em seu bojo perspectivas, resultados e oportunidades a todos que formam a sociedade, independente de classes.
* Pesquisadora do NCPAM e discente do curso de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas.
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