POESIA NO MORRO
Ellza Souza (*)
Nunca tinha subido o morro. O nosso morro da
liberdade. Como gosto de terrenos acidentados e elevados, achei bonito logo de
cara. Um pouco maltratado pelo lixo e desarrumado talvez mas me causou uma boa
impressão. A noite era de poesia, algo que não desperta tanta atenção pela
maioria da população. Não é fácil ser poeta. Saber usar as palavras em qualquer
texto é poético mas não é pra qualquer um. Precisa ter talento, inspiração,
paixão e muita, muita leitura.
A idéia do recital na quadra da Escola de Samba
Reino Unido da Liberdade faz parte de um projeto chamado “Poesia Solta na Rua”
onde alguns escritores como Tenório Telles e José Maria Pinto se esforçam para
não deixar morrer em nossa cidade, onde já se lê e se escreve tão pouco, a
poesia. Os “apresentados” da noite foram os poetas Celdo Braga, benjaminzense
(tô certa ou tô errada?) e Renato Farias de Carvalho, nascido no bairro dos
Remédios em Manaus e hoje morando em Niterói no Rio de Janeiro.
Os dois fizeram belas explanações de seus
trabalhos, cada um no seu estilo e as palavras fluiam ouvidos a dentro da
platéia fazendo naquela noite uma faxina mental e emocional em nossas vidas
dali pra frente. Acostumados a ouvir na televisão palavras rudes e amargas
legendando imagens trágicas e incoerentes do cotidiano, naquela noite quem
estava na quadra da Reino Unido saiu de alma lavada.
Pela coerência dos textos, dos sentimentos
aflorados nas belas palavras, na eloquência dos autores. No palco a presença de
Roberto Lima com seu canto e seu violão, deu um toque especial igualado somente
ao brilho do luar naquela noite quente de verão. O momento foi de felicidade
para nós que assistimos ao recital. Pelo menos na minha cabeça voam curiós e
rolinhas, deslizam canoas, peixes saltitam na piracema. Sei lá é uma profusão
de Amazônia e de alegria.
(*) É escritora,
jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário