domingo, 26 de agosto de 2012


POESIA NO MORRO

Ellza Souza (*)

Nunca tinha subido o morro. O nosso morro da liberdade. Como gosto de terrenos acidentados e elevados, achei bonito logo de cara. Um pouco maltratado pelo lixo e desarrumado talvez mas me causou uma boa impressão. A noite era de poesia, algo que não desperta tanta atenção pela maioria da população. Não é fácil ser poeta. Saber usar as palavras em qualquer texto é poético mas não é pra qualquer um. Precisa ter talento, inspiração, paixão e muita, muita leitura.

A idéia do recital na quadra da Escola de Samba Reino Unido da Liberdade faz parte de um projeto chamado “Poesia Solta na Rua” onde alguns escritores como Tenório Telles e José Maria Pinto se esforçam para não deixar morrer em nossa cidade, onde já se lê e se escreve tão pouco, a poesia. Os “apresentados” da noite foram os poetas Celdo Braga, benjaminzense (tô certa ou tô errada?) e Renato Farias de Carvalho, nascido no bairro dos Remédios em Manaus e hoje morando em Niterói no Rio de Janeiro.

Os dois fizeram belas explanações de seus trabalhos, cada um no seu estilo e as palavras fluiam ouvidos a dentro da platéia fazendo naquela noite uma faxina mental e emocional em nossas vidas dali pra frente. Acostumados a ouvir na televisão palavras rudes e amargas legendando imagens trágicas e incoerentes do cotidiano, naquela noite quem estava na quadra da Reino Unido saiu de alma lavada.

Pela coerência dos textos, dos sentimentos aflorados nas belas palavras, na eloquência dos autores. No palco a presença de Roberto Lima com seu canto e seu violão, deu um toque especial igualado somente ao brilho do luar naquela noite quente de verão. O momento foi de felicidade para nós que assistimos ao recital. Pelo menos na minha cabeça voam curiós e rolinhas, deslizam canoas, peixes saltitam na piracema. Sei lá é uma profusão de Amazônia e de alegria.

(*) É escritora, jornalista e articulista do NCPAM/UFAM.

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