sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

ATÉ O TUCUPI DE BOSSA NA PRAÇA

Ellza Souza (*)

A chuva fina andou ameaçando mas nada atrapalhou o glamour e a magia da última noite de 2010 do Tacacá na Bossa no Largo São Sebastião. A muito boa iniciativa do casal Joaquim e Gisela Melo do Tacacá da Gisela que já dura cinco anos de sucesso merece ser copiada com outras empreitadas do gênero por exemplo com uma dessas bancas com sucos regionais bem gelados de buriti, açaí, taperebá, côco, sapotilha, cupuaçu, guaraná. Apesar da variedade de frutas saborosas que temos na Amazônia ninguém se habilita ao trabalhoso oficio de manipulação das mesmas que resultam no agora quase desconhecido refresco ou rala-rala antes tão comum em nossas ruas.

Olhando de cima do muro do Teatro Amazonas e vendo as pessoas andando pelo calçadão de paralelepípedos ao lado na Rua José Clemente observo vida, animação, um povo que se preza. Ali algo ficou da belle époque. O romantismo, o povo circulando sem pressa, os casarões, os benjamizeiros, as ondas do Negro e Solimões na calçada ao redor do monumento, os bancos à espera de uma boa conversa, a vontade de ser feliz. Pena que o espaço é pequeno e se restringe a alguns eventos que por ali acontecem. Eventos sensacionais sem dúvida como o Tacacá na Bossa e o Auto de Natal mas acho que qualquer espaço público precisa se integrar mais ao cotidiano das pessoas. Às vezes passo na praça fora da época de festa e acho-a triste, sem movimentação e com pouca iluminação. Nesse entorno precisa, na minha míope visão, de um bom restaurante português ou uma padaria Bijou com pães bicudos e beirudos para tomar com o gelado refresco de maracujá. Já estou sonhando gente. Isso é impossível. Volto à noite do tacacá da Gisela.

Tantos artistas esplêndidos que temos e nessa noite o público teve a oportunidade de apreciar em rápidas apresentações pois tinha hora para “entregar o largo” e desocupar as cadeiras. Claro que deve haver organização e regras para certas coisas mas sem exageros. O que interessa é que o show começou com a banda Máquina do Tempo que fez as “cocotinhas” de ontem e a “galera” de hoje vibrar com a música dos Beatles.

O Imbaúba com sua música orgânica e oportuna enterneceu muitos corações. Roberto Lima e Sofia Amoedo, atualmente duas das vozes mais lindas que conheço, encantaram a todos na praça. O poeta Chico da Silva foi bastante aplaudido e o povo não se conformou com apenas duas músicas interpretadas pelo cantor, exigiu mais uma e ele cedeu ao clamor popular. Lucilene Castro e sua voz exuberante deu uma amostra de seu novo cd de sambas tupiniquins a ser lançado em janeiro. Tantos outros bons músicos como o Cileno, Nely Miranda, Simone Ávila que demonstraram sua versatilidade e talento naquele recanto lotado de pessoas felizes que entre uma cuia e outra esborrando de caldo verde e camarão, davam aquelas balançadinhas ao som de um canto verdadeiramente poético. Todos que fizeram dessa noite um momento especial dando a sua “palinha” estão de parabéns. Para o público foi um presente raro. Quem viu e ouviu registrou nas páginas de sua história.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

Foto: Blogdorocha

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