sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

MANAUS: CAPITAL DAS VAIAS

Gilson Gil (*)

Há alguns anos, durante uma inauguração do Prosamin, se me recordo bem, o prefeito de então, Serafim Correa, foi vaiado pelo público presente. Aquilo marcou sua trajetória, pois mostrou o descontentamento de parte da população com sua gestão e expôs a insatisfação que havia.

Na última semana, também durante um evento com a presença do ainda presidente Lula (quando ele será ex?), o atual prefeito, e opositor de outrora, Amazonino Mendes, levou uma vaia do público. Curiosamente, foi consolado justamente por Lula, que elogiou de seu passado vitorioso.

Por que tantas vaias? Amazonino era visto como um redentor. Alguém que iria consertar os supostos “defeitos” de Serafim, que sofria pesado bombardeio da mídia local, a qual apontava seguidamente possíveis erros de sua administração. E agora? O que ocorre?

Manaus padece com problemas crônicos. A seguida falta de energia é real. Não adianta o presidente afirmar que os “apagões acabaram”. Só para celebrar a fala presidencial, em minha rua, por exemplo, o domingo foi sem luz, como que para contestar as afirmações de Lula. O gasoduto, obra orçada em R$ 1,5 B, a qual já chegou (segundo a imprensa) a R$ 2,5 B, demora a mostrar resultados. Apesar de ser constantemente “inaugurado” por Lula (será que a sua sucessora também virá “inaugurá-lo”?), ele não resolve, nem para as casas nem para as indústrias, a questão do apagão. Lula falou em problemas nos anos 90, mas ele, provavelmente, não foi informado que no dia 1 de outubro deste ano Manaus sofreu um black-out.

Outro problema que incomoda e vem passando “batido” é o trânsito. A mobilidade em Manaus é ínfima. O tempo gasto nos deslocamentos é desumano. Quem pega ônibus é um sofredor, que vem sofrendo nesta vida por várias provações passadas. E, para piorar, não há alternativas. Monotrilho, BRT, metrô, ciclovias e balsas não existem, pelo menos por ora. Os buracos que tanto atormentaram Serafim continuam a perturbar o alcaide atual. O asfalto parece de açúcar, derretendo às primeiras gotas de chuva. O trânsito é sanguinário, batendo recordes nacionais em acidentes, mas parece que ninguém se incomoda com isto. O que fazer?

Isto sem falar nos meninos de rua e nos pedintes, que, conforme os relatos
oficiais, “não existem”, pois as obras “sociais” deste novo Brasil já teriam acabado com eles. Enfim, Manaus cresce, mas sem ordem, sem lei e sem qualidade. A vaia é um sintoma. Porém, vamos ser francos: esses governantes foram votados. Até aonde vai a cumplicidade?

(*) É professor doutor da Universidade Federal do Amazonas e articulista do jornal Em Tempo.

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