sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

SONS QUE AFAGAM A ALMA

Ellza Souza (*)

Nem entendo a nomenclatura que o maestro usa para falar sobre “a peça” a ser tocada. Confesso que a maioria dos nomes com os quais ele explicava o que seria apresentado soava estranho para mim. A noite no teatro parecia o prenúncio de um Natal verdadeiro e intenso. A casa estava lotada para apreciar a Orquestra de Câmara e o Coral do Teatro Amazonas. Mais de cinqüenta artistas de verdade preenchiam o palco sob o comando dos maestros Zacarias Fernandes e Marcelo de Jesus. Violinos, violoncelos, solistas e um coral inteiro exibiam talento, técnica e disciplina ainda pouco reconhecidos.

Ao público só restou aplaudir de pé. Jovens, adultos, idosos e até crianças se calaram para ouvir aquela música que entoava coração adentro de cada um na platéia. Não é uma música que se escute em nossas rádios, nas TVs, na maioria dos palcos, portanto fiquei surpreendida pelo sucesso que esse tipo de música fez naquela noite de louvor, um louvor que reconheci em “Aleluia”, um hino bastante entoado nas igrejas. Uma outra música que nem sei o nome mas ao ouvi-la recordei os filmes que assistia no Cine Ideal durante a sexta-feira santa sempre com aquela trilha sonora.

Música é isso. A boa música marca um tempo, um fato, uma história. Mesmo sem lembrar o nome fica eternamente aquele som tão encantador que não deixa a sua vida ficar monótona e cair no esquecimento. A falta de acordes executados por verdadeiros artífices da música como os dessa primorosa noite podem deixar a nossa existência assim, meio sem graça, com pendores para a banalidade, a mediocridade, a vulgaridade. Acredito que a maioria não gosta porque não conhece. As vozes poderosas dos solistas, o som refinado dos instrumentos de cordas e de sopro como o violino, o violoncelo e o trompete, os gestos certeiros do maestro, tudo ali formou uma orquestra mais que perfeita de emoções. Quando esse tipo de música chegar nas comunidades, nas escolas, nos pequenos palcos, o seu efeito enternecedor levará a juventude para o caminho da pacificação e do amor.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

Um comentário:

Anônimo disse...

Excelente percepção musical!

A música erudita amazonense se expande na cultura juvenil manauara. Isso é muito bom nesses tempos em que a informação corre com a velocidade da luz e pouco disponibilizamos de tempo para cultuar a música clássica. Ainda bem que esse aspecto cultural não está perdido.

Juscélia Castro.