quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

FELIZ NATAL: ENTRE O PASSADO E FUTURO

Ademir Ramos (*)

A mediação dessas estruturas complexas tem sido feita no curso da história pela política na perspectiva de uma concepção dirigente capaz de traduzir às vezes interesse múltiplo em políticas sociais, quando não, concentra toda força visando à acumulação da riqueza em mãos de poucos, gerando os miseráveis, despossuídos de bem e valor, em condições de subalternidade sob o mando de uma classe embrutecida pela ordem da dominação e exploração.

Tal ordem estruturante se fortalece na formação das sociedades e no instituto do Estado como aparato de sustentação de poder. Nesse contexto, as culturas se desenvolvem formulando valores, regras, comportamentos e práticas que justificam o modus operandi das formas de governo.

A formação e o desenvolvimento desses povos operam de forma diferenciada adequada as suas determinações culturais. Nesse caso, é relevante a capacidade das nações, que de forma cognitiva conceberam sistemas explicativos traduzidos em tecnologias geradoras de instrumentos aptos a mediar à relação homem e natureza em atenção aos problemas que se depararam na trajetória explicativa de sua formação social.

O passado e o futuro nessa conjuntura são mediados por um presente relacional que transforma as pessoas em sujeitos operantes de uma cultura que pela sua especificidade pode celebrar encontros e diálogos; pactos e contratos fundamentados no desejo, na vontade, na propriedade, na racionalidade, nas artes e representações espirituais.

A celebração do Natal, além de dar guarida a uma prática religiosa institucional de forma transversal entre Estado e Sociedade movido por interesse político hegemônico, serviu também para conquistar novos mercado simbólicos e materiais na perspectiva da somatória quantitativa da acumulação por meio do consumo, excluindo cada vez mais os expropriados da “santa ceia do capital” para o fosso do inferno onde vivem do subtrabalho empanado pela invisibilidade de sua existência social.

Sem pão e sem vinho, os excluídos da ceia vivem a vagar não só pela necessidade imperativa, mas, sobretudo pela desorganização política em que se encontram. A vinda do Messias nesse contexto significa não só o restauro da Unidade, mas também, o catalisador dos anseios e reclamos de um povo oprimido, excluído e serviçal das ordens institucionais seja ela romana ou brasileira.

O nascimento do Messias, portanto, revela por sua vez a grandeza do poder salvífico, que pouco a pouco vem sendo identificado na trajetória do Cristo Jesus. O Deus que se faz criança, nascido de uma mulher numa estrebaria, entre bichos e homens, torna-se um entre eles e se desenvolve na perspectiva da redenção, religando o passado ao futuro por meio de um projeto libertador exaltado por valores éticos, políticos e escatológicos abstraídos da história do Cristo Jesus à luz de sua missão apostólica.

A celebração do Natal encerra em sua ritualização vários significados que pode muito bem contribuir diretamente para o combate à desigualdade social, a arrogância dos poderosos, a fraternidade, o amor, a reciprocidade e o respeito às formas de vida. A prática pedagógica exaltada por Cristo é caracterizada pela visão teleológica, que transforma o principado celestial em morada dos homens, o que os cristãos conquistam no mundo entre vícios e virtudes balizado pela fé redentora em um Cristo libertador.

A Todos (as) um Feliz Natal e que o Menino Deus nos possibilite formular perguntas seguidas de novas atitudes, para que possamos celebrar a Paz comunal, exaltando o amor e a justiça enquanto condição de filhos de Deus.

(*) É professor, antropólogo e coordenador do NCPAM/UFAM.

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