quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O MISTÉRIO SOB O RIO

Ellza Souza (*)

A seca desse ano, uma das maiores em décadas, mostrou algumas curiosidades. Além dos desenhos nas pedras das Lages no Encontro das Águas que veio caracterizar a aura de mistério e história que envolve aquele lugar, no igarapé de São Raimundo que separa a colina dos ex-bucheiros do bairro de Nossa Senhora Aparecida dos Tocos, apareceram centenas de imensas toras de madeira de lei do tipo Itaúba que pela sua durabilidade é muito usada na carpintaria naval.

Segundo moradores de São Raimundo, a madeira era jogada no rio pelas duas serrarias que ficavam na margem ainda sem ponte, do lado da Aparecida. Muita gente está aproveitando esse material que há pelo menos 50 anos está debaixo da água e ganhando alguns trocados. Essas pessoas cortam as tábuas com a moto serra, ali mesmo nos bancos de areia que estão à mostra e as vendem no local. Madeira dura essa...

Era uma vez nas Lages

Lages da minha infância
Lages das minhas lembranças
Era o passeio de domingo
Nas Lages se respirava mistério
Era um lugar lindo
Não sei dizer por onde
Meu pai nos levava
Mas tinha as pedras, tinha lago
Tinha castanheiras e palmeiras
Tinha o abraço dos rios
Tinha o meu pai junto com a gente
Com a seca apareceram os traços
Comprovou-se a nossa história
E quase a perdemos
Foi por um triz
A natureza avisou
A água sumiu e a arte ficou
Respiramos aliviados.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

Foto: Valter Calheiros

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