Na atual disputa por uma economia de baixo carbono, o Brasil poderia estar no topo do pódio e permanecer nele por muito tempo devido ao seu vasto potencial de energias renováveis. Mas, segundo especialistas, o país vem desperdiçando oportunidades de explorar fontes de energia limpa - o grande motor para o desenvolvimento em tempos de mudanças climáticas. “Ninguém tem dúvidas de que as energias renováveis vão dominar no futuro. É um processo muito demorado, mas irreversível”, afirma o economista e engenheiro Edmilson Moutinho dos Santos, professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
“Mas o Brasil, mesmo com todo seu potencial, pode ficar para trás se não investir mais nessa área de energia verde”, alerta o coordenador do Greenpeace, Ricardo Baitelo. China, Estados Unidos e alguns países europeus estão aplicando bilhões de dólares para expandir suas energias verdes, especialmente eólica, solar e de biomassa (produzida a partir de lixo orgânico e sobras agrícolas, como o bagaço da cana).
Na Europa, por exemplo, do total de novos mecanismos de geração de energia instalados no ano passado, 60% foram para renováveis. Um estudo do Pew Environment Group com países do G-20 mostrou que enquanto o investimento da China nessa área foram de US$ 34,6 bilhões em 2009, o do Brasil foi de US$ 7,4 bilhões.
Situação cômoda: A culpa dessa “lentidão” do governo pode estar justamente na situação confortável do Brasil, com seu imenso potencial hidrelétrico, que faz com que 47% das fontes de energia do país sejam limpas. No entanto, para os especialistas, esse índice não pode ser visto como um motivo para se acomodar.“Até há alguns anos, o país ainda tinha um grande potencial hidrelétrico a ser explorado. E o governo alegava que a Europa só investia em fontes renováveis por não ter esse potencial", diz Baitelo.
"Hoje, ele já percebeu as dificuldades ligadas a hidrelétricas e as vantagens da energias como a eólica." Para a professora de gestão ambiental da USP, Neli Aparecida de Mello, o problema não está nas hidrelétricas em si, mas na aposta que sempre se fez nas obras grandiosas, como Itaipu e Balbina, e também na sua localização. “Não é uma questão de banir o modelo, mas sim de mudá-lo. Em primeiro lugar, deveríamos construir hidrelétricas menores, mais locais”, diz.
“Também é preciso levar em conta que atualmente os novos projetos estão na Amazônia, como Belomonte. Além do impacto ambiental, temos de ver o grande problema de logística para controlar essas longas linhas de transmissão que trazem a energia para o Sudeste.” Outro desafio passa pelas emissões vindas do setor energético.
A meta do governo é permitir que esse tipo de emissão - que hoje representa 16,5% do total - dobre em dez anos. Segundo Baitelo, o governo usa a desculpa de que, como as emissões desse tipo são baixas, não há problemas em aumentá-las. “É um absurdo que se permita duplicar esse valor num país como o Brasil, com tantas alternativas energéticas”, diz.
Deslumbramento: Os especialistas também apontaram outro motivo para esse certo atraso do Brasil em investir nas fontes verdes: o pré-sal. “No início do governo Lula, o etanol era prioridade. Com o pré-sal, houve um deslumbramento e ele acabou sumindo um pouco do discurso”, afirma Baitelo, lembrando que o então ministro de Minas e Energia Edison Lobão chegou a dizer que queria ver carros de passeio a diesel. Santos destaca ainda que essa empolgação com pré-sal acabou tirando o foco de uma questão essencial: o destino do gás gerado pela exploração desse petróleo.
A projeção para essas emissões são tão altas que poderiam substituir as geradas pelo desmatamento, se esse fosse erradicado. “Para quem está pensando em sustentabilidade, é um absurdo não aproveitar bem esse gás”, diz o engenheiro, acrescentando que, aliado a outras fontes, o gás poderia ajudar no abastecimento de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Outro contrasenso indicado por Santos é não se incentivar ônibus movidos à gás - e sim a diesel e etanol. “Para suprir frotas grandes como a de São Paulo seria preciso plantar muito mais cana, tirando espaço de outro tipo de lavouras.”AvançosSegundo os especialistas, esses erros e políticas mal articuladas tiveram seu ápice há cerca de cinco anos. “O governo acabou sujando sua matriz energética ao incentivar as térmicas a óleo, que são baratas de se construir”, lembra Baitelo. Mas essa tendência vem se revertendo, ainda que em ritmo muito mais lento do que o esperado.
“Governo viu que o foco estava errado e passou a investir um pouco mais em outras energias, como a eólica”, diz o coordenador do Greenpeace. A participação da eólica na matriz elétrica nacional cresceu 5% em 2009. Mesmo assim, essa fonte corresponde a apenas 0,2% do total de energia gerada, enquanto tem potencial para gerar até três vezes mais do que o Brasil necessita.
Para mudar esse cenário, falta mais incentivo do governo: “O BNDES, por exemplo, fica financiando apenas as grandes obras, como estádios para a Copa e Belomonte”, afirma Santos.
Lucrando com o sol: Os especialistas também criticam o baixo investimento sem ciência e pesquisa, que acabam ficando mais concentrado em áreas ligadas ao petróleo e a biocombustíveis. “O discurso oficial sempre pendeu mais para ‘vamos esperar o preço cair’ do que para criar legislação que incentive essas energias renováveis”, diz Baitelo. Ele cita o fato de não haver produção nacional de painéis solares. “Se houvesse mais incentivos a esse tipo de negócio, poderíamos exportar essa tecnologia, como fazemos com o etanol.” Tarifas especiais para quem poupa energia também são raras no Brasil.
Em países europeus e asiáticos, essa iniciativa é corrente e vai além: o consumidor que usa energia solar pode vender de volta para o Estado o excedente, criando um ciclo virtuoso. “Incentivos e garantias ao consumidor é uma questão chave para se melhorar nossa maneira de usar energia”, afirma a professora da USP, fazendo uma comparação com os carros a álcool. “Demorou um tempo para se embarcar nesse mercado. Mas se a política for mantida aos poucos, o consumidor vai vendo que é algo viável, vantajoso e passa a comprar equipamentos que economizam energia, painéis solares.”
Foto: Lago de Balbina, no Amazonas. Um dos piores exemplo de cunstrução de Hidrelétricas na América Latina. No momento lutamos para desativá-la na perspectiva de se renaturalizar a área em beneficio direto dos waimiri-Atroari, do Amazonas e do planeta.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/12/101126_meio_ambiente_energia_mdb.shtml
“Mas o Brasil, mesmo com todo seu potencial, pode ficar para trás se não investir mais nessa área de energia verde”, alerta o coordenador do Greenpeace, Ricardo Baitelo. China, Estados Unidos e alguns países europeus estão aplicando bilhões de dólares para expandir suas energias verdes, especialmente eólica, solar e de biomassa (produzida a partir de lixo orgânico e sobras agrícolas, como o bagaço da cana).
Na Europa, por exemplo, do total de novos mecanismos de geração de energia instalados no ano passado, 60% foram para renováveis. Um estudo do Pew Environment Group com países do G-20 mostrou que enquanto o investimento da China nessa área foram de US$ 34,6 bilhões em 2009, o do Brasil foi de US$ 7,4 bilhões.
Situação cômoda: A culpa dessa “lentidão” do governo pode estar justamente na situação confortável do Brasil, com seu imenso potencial hidrelétrico, que faz com que 47% das fontes de energia do país sejam limpas. No entanto, para os especialistas, esse índice não pode ser visto como um motivo para se acomodar.“Até há alguns anos, o país ainda tinha um grande potencial hidrelétrico a ser explorado. E o governo alegava que a Europa só investia em fontes renováveis por não ter esse potencial", diz Baitelo.
"Hoje, ele já percebeu as dificuldades ligadas a hidrelétricas e as vantagens da energias como a eólica." Para a professora de gestão ambiental da USP, Neli Aparecida de Mello, o problema não está nas hidrelétricas em si, mas na aposta que sempre se fez nas obras grandiosas, como Itaipu e Balbina, e também na sua localização. “Não é uma questão de banir o modelo, mas sim de mudá-lo. Em primeiro lugar, deveríamos construir hidrelétricas menores, mais locais”, diz.
“Também é preciso levar em conta que atualmente os novos projetos estão na Amazônia, como Belomonte. Além do impacto ambiental, temos de ver o grande problema de logística para controlar essas longas linhas de transmissão que trazem a energia para o Sudeste.” Outro desafio passa pelas emissões vindas do setor energético.
A meta do governo é permitir que esse tipo de emissão - que hoje representa 16,5% do total - dobre em dez anos. Segundo Baitelo, o governo usa a desculpa de que, como as emissões desse tipo são baixas, não há problemas em aumentá-las. “É um absurdo que se permita duplicar esse valor num país como o Brasil, com tantas alternativas energéticas”, diz.
Deslumbramento: Os especialistas também apontaram outro motivo para esse certo atraso do Brasil em investir nas fontes verdes: o pré-sal. “No início do governo Lula, o etanol era prioridade. Com o pré-sal, houve um deslumbramento e ele acabou sumindo um pouco do discurso”, afirma Baitelo, lembrando que o então ministro de Minas e Energia Edison Lobão chegou a dizer que queria ver carros de passeio a diesel. Santos destaca ainda que essa empolgação com pré-sal acabou tirando o foco de uma questão essencial: o destino do gás gerado pela exploração desse petróleo.
A projeção para essas emissões são tão altas que poderiam substituir as geradas pelo desmatamento, se esse fosse erradicado. “Para quem está pensando em sustentabilidade, é um absurdo não aproveitar bem esse gás”, diz o engenheiro, acrescentando que, aliado a outras fontes, o gás poderia ajudar no abastecimento de São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo.
Outro contrasenso indicado por Santos é não se incentivar ônibus movidos à gás - e sim a diesel e etanol. “Para suprir frotas grandes como a de São Paulo seria preciso plantar muito mais cana, tirando espaço de outro tipo de lavouras.”AvançosSegundo os especialistas, esses erros e políticas mal articuladas tiveram seu ápice há cerca de cinco anos. “O governo acabou sujando sua matriz energética ao incentivar as térmicas a óleo, que são baratas de se construir”, lembra Baitelo. Mas essa tendência vem se revertendo, ainda que em ritmo muito mais lento do que o esperado.
“Governo viu que o foco estava errado e passou a investir um pouco mais em outras energias, como a eólica”, diz o coordenador do Greenpeace. A participação da eólica na matriz elétrica nacional cresceu 5% em 2009. Mesmo assim, essa fonte corresponde a apenas 0,2% do total de energia gerada, enquanto tem potencial para gerar até três vezes mais do que o Brasil necessita.
Para mudar esse cenário, falta mais incentivo do governo: “O BNDES, por exemplo, fica financiando apenas as grandes obras, como estádios para a Copa e Belomonte”, afirma Santos.
Lucrando com o sol: Os especialistas também criticam o baixo investimento sem ciência e pesquisa, que acabam ficando mais concentrado em áreas ligadas ao petróleo e a biocombustíveis. “O discurso oficial sempre pendeu mais para ‘vamos esperar o preço cair’ do que para criar legislação que incentive essas energias renováveis”, diz Baitelo. Ele cita o fato de não haver produção nacional de painéis solares. “Se houvesse mais incentivos a esse tipo de negócio, poderíamos exportar essa tecnologia, como fazemos com o etanol.” Tarifas especiais para quem poupa energia também são raras no Brasil.
Em países europeus e asiáticos, essa iniciativa é corrente e vai além: o consumidor que usa energia solar pode vender de volta para o Estado o excedente, criando um ciclo virtuoso. “Incentivos e garantias ao consumidor é uma questão chave para se melhorar nossa maneira de usar energia”, afirma a professora da USP, fazendo uma comparação com os carros a álcool. “Demorou um tempo para se embarcar nesse mercado. Mas se a política for mantida aos poucos, o consumidor vai vendo que é algo viável, vantajoso e passa a comprar equipamentos que economizam energia, painéis solares.”
Foto: Lago de Balbina, no Amazonas. Um dos piores exemplo de cunstrução de Hidrelétricas na América Latina. No momento lutamos para desativá-la na perspectiva de se renaturalizar a área em beneficio direto dos waimiri-Atroari, do Amazonas e do planeta.
Fonte: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2010/12/101126_meio_ambiente_energia_mdb.shtml
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