sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

AVE, CHEIA DE GRAÇA

Senhora mãe de Jesus, que manifesta em sua face a dor da morte, do sofrimento e do perpétuo socorro a prestar aos filhos perseguidos Amor e Justiça. Bela e virgem se fez mulher para gerar ao mundo o Filho do Altíssimo, que se fez homem, nascido entre os pobres como sinal de contradição para mundo. O mistério da salvação estende-se por todo o século encontrando resposta muito mais na Fé do que na História. Contudo, a estrela como flecha certeira indica que o caminho de luz é Jesus Cristo, o Menino Deus, nascido de Maria com paternidade de José, o carpinteiro. A Alegria dessa Senhora do povo, segundo os Evangelistas, pode ser notada em variados momentos de celebração familiar, exaltando o rosto sagrado de Deus na face de seu filho que passa a exercer o seu apostolado, contrariando as ordens instituídas do domínio local. Maria, pouco sabe, mas compreende, a trajetória do filho porque é Senhora da Graça e esta virtude se faz celebrar em comunhão familiar no amplo conceito da anunciação do Cristo que se fez luz no mundo para redimir os pecados sociais e transformar os aflitos e excluídos em sujeitos da história ungidos da esperança e do amor fraternal. Confira o valor de Maria nessa interface dos mistérios gloriosos na História.

Ellza Souza (*)

Ave, Cheia de Graça, com esta saudação o arcanjo Gabriel anunciou a vontade de Deus, a vinda de Jesus ao mundo para nos salvar. Por tudo que depreende desse fato, o dia de Natal sempre vai ter um significado de alegria, de renascimento, de fraternidade. Uns até esquecem o que se festeja no dia de natal. Mas já se vão mais de dois mil anos de enternecimento com essa data tão importante para os cristãos. Crer em Jesus sem envolver sua família, Maria e José, especialmente escolhida por Deus para a sua vida terrestre, é como viver sem parâmetros para a sua salvação celestial.

A fé nos encaminha para a solução de muitos mistérios que a nossa vã inteligência não consegue captar. Segundo a fé e a história que não se abalam com o tempo, Jesus nasceu na manjedoura, pobre, perseguido, com problemas como qualquer um de sua época. Cresceu ao lado de seus pais (pai é o que cria, que dá amor) e foi alimentado por muito amor e carinho.

Não podemos esquecer nunca a história de Jesus. E nem apequenar o papel de Nossa Senhora em relação ao nascimento de seu filho. Maria veio para acolher, para sublimar, para possibilitar, para dar um toque feminino ao Criador de todas as coisas. Quem tem histórias para contar não morre nunca. Como sabiamente os índios fazem, é de boca em boca que vão passando seus credos, seus costumes, suas experiências e descobertas. Sempre foi assim na humanidade e quando as pessoas ficarem surdas e mudas e não compartilharem mais as suas vivências, aí realmente o mundo pode estar no fim.

Maria como qualquer mãe cumpriu a sua missão. Calada e apaziguadora, fez a sua parte e deixou uma marca indelével na humanidade. Em pesquisa para sua tese de doutorado, Auricléa Neves encontrou na pintura, na literatura, no teatro amazônico elementos próprios que se destacam em nossa cultura. No livro de orações e salmos do poeta Max Carphentier chamado Nossa Senhora de Manaus, Maria é a mediadora “que roga a seu filho proteção às matas, aos rios, a fauna e a flora; pede paz e segurança aos ribeirinhos e aos habitantes da cidade”. Nessa obra surge o termo ecoespiritualidade onde o poeta pede a Virgem Maria sua intercessão pela salvação da natureza. No quadro de Moacir Andrade também chamado de Nossa Senhora de Manaus, a pesquisadora encontra uma Virgem Maria regionalizada.

A pesquisadora Auricléa afirma que “de Belém a Manaus, da ocupação da bacia amazônica à exploração de leste a oeste da Amazônia, a Virgem foi sempre louvada”. E apresenta dados importantes. Até a primeira metade do século 20, das nove igrejas da capital amazonense, cinco tinham Maria como padroeira: Conceição (1659), Remédios (1873), Perpétuo Socorro (1941), Aparecida (1943) e Nazaré (1948).

Como qualquer um de nós, temos apenas uma mãe. Nossa Senhora, como carinhosamente a chamamos, só existe uma. Mas Nossa Senhora, vez por outra nos dá sinais de sua existência e ao longo dos tempos vem nos mostrar caminhos para reforçar a nossa fé. Foi assim em Lourdes, pequena cidade da França, onde apareceu para uma menina de 13 anos chamada Bernadete que implorou a Nossa Senhora que lhe revelasse seu nome. Após três pedidos a Virgem lhe respondeu: “Eu sou a Imaculada Conceição”. Uma aparição dessas e um milagre para serem considerados verdadeiros são necessários anos de estudos. Não basta dizer precisa ter a comprovação histórica.

Com as belas palavras do poeta Carphentier em sua Missa Planetária, encerro a empreitada no Ncpam em 2010 com alegria e sempre esperançosa em um mundo mais pacífico. A benção mãe santíssima.

“Senhor do nosso cantar,

as nossas vozes são almas,

as nossas almas são beijos,

grinaldas da tua fronte.

No coro ou entre as panelas,

a ti cantamos no tom

do rouxinol da janela”.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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