quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

PAPAI NOEL EXISTE

Ellza Souza (*)

Essa é a época que o dinheiro aparece. De ricos e pobres as ruas e shopings de Manaus estão cheios. A zona leste, apesar do seu próspero comércio, desce inteirinha para o centro da cidade. Apesar do 13º salário. acho que o aumento do consumo nas festas de final de ano se deve mais aos apelos dos chatos “recadinhos” das apresentadoras de TV, de anúncios ruinzinhos mas eficientes, das facilidades do cartão de crédito e dos bancos com seus empréstimos e cheques especiais.

Todas essas artimanhas que visam pegar o freguês pelo gogó, são verdadeiras armadilhas para desavisados e lisos. Quando muito em janeiro é hora de acordar. Com matrículas, IPTU, imposto de renda e outros penduricalhos da vida real que se juntam às faturas por conta do natal. Aí o bolo fica grande e não é nenhum panetone. É apenas dor de cabeça para o final de janeiro. As boas festas, o nascimento de Jesus, a solidariedade, tudo foi esquecido em prol do consumo exacerbado e estressante.

Nas ruas do centro da cidade, impossíveis de circular como nos velhos tempos quando ainda existiam belas lojas com produtos de qualidade, não existem calçadas como em qualquer cidade que se preze. Agora o espaço público tem dono e o dono é “espaçoso”, mal educado e só tem a oferecer produtos caros e piratas sem origem conhecida. Isso significa que o contrabando tomou conta do comércio da cidade. Sob as horrorosas lonas vermelhas encontram-se objetos que não valem a pena ser comprados nem por um vintém quanto mais pelo “valorizado” real. E tudo aí sob a forte luz do sol amazônico, sem regra nenhuma a cumprir, parecendo até uma terra sem lei e sem governante.

Nesse caos todo onde está a dignidade do ser humano, do trabalhador honesto, do cidadão que paga seus impostos com dificuldade? É normal o aumento de pessoas no comércio na época natalina mas não é saudável essa paranóia que assola a maioria e que se deixa levar pela ânsia do consumo desenfreado para mais tarde chorar a falta do leitinho em casa. A sociedade está dando um nó em sua própria vida quando se deixa levar por tantas armadilhas e lá na frente o prejuízo é todo seu. Quem perde mesmo é o lado mais fraco, o justo, o trabalhador, o eleitor, as classes b, c e d. Todos os que só querem viver em paz. Para isso precisamos respirar fundo e pensar antes de comprar qualquer penduricalho que pode estar financiando as barbáries que vêm acontecendo por aí.

Enquanto a população só pensa nas compras de natal, um “presente” daqueles estava sendo enviado para Manaus em criativa embalagem. Quilos da malfadada cocaína eram transportados num singelo barquinho vindo do interior amazonense dentro de caroços de tucumã. Interceptado pela polícia foi presa uma mulher que talvez nem soubesse o que estava transportando. Os responsáveis mesmo estão por aí na cidade, lavando desenfreadamente o dinheiro ilícito que ganham.

Que o papai Noel antes só um bom velhinho tão ansiado pelas crianças volte a descer em nossos corações para preenchê-los com amor e sonhos. Como nos velhos tempos em que os carocinhos de tucumã eram só matéria prima das inocentes brincadeiras na infância. Será que não arranjamos um uso mais sustentável para os coquinhos deixados de lado após a retirada da polpa para o tão apreciado x-caboquinho? Pensa maninho, pensa....

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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