sábado, 25 de dezembro de 2010

MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS SOB NOVA DIREÇÃO

Álvaro Tukano (*)

Construído em 1987, o Memorial dos Povos Indígenas foi projetado por Oscar Niemeyer em forma de espiral que remete a uma maloca redonda dos índios Yanomami. O espaço tem área construída de 2.984,08m², com acesso principal através de uma rampa. Tem por objetivo mostrar a grande diversidade e riqueza da cultura indígena de forma dinâmica e viva. Com esse propósito, promove diversos eventos com a presença e a participação de representantes indígenas de diferentes regiões do país. No acervo, há, peças representativas de várias tribos, incluindo exemplares da coleção Darcy-Berta-Galvão com destaque para a arte plumária dos Urubu-Kaapor; bancos de madeira dos Yawalapiti, Kuikuru e Juruna, máscaras e isntrumentos musicais do Alto Xingú e Amazonas.

Meu irmão Pirakuman, durante as Comemorações dos 500 anos, nós Músicos e Curandeiros Tukano e Dessana nos encontramos por aqui, grandes Líderes Tradicionais do Xingu. Conhecemos de perto o Chefe ARITANA que foi homenageado por Governador Joaquim Roriz.

Na época o Memorial era dirigido pela Dra Sandra Wellington, inglesa. No tempo do ROBERTO ARRUDA foi dirigido por nosso parente MARCO TERENA e MARIA HELENA PARESI. Eu e você sempre estivemos juntos com MEGARON e RAONI para defender os direitos coletivos de nossos povos nos Auditórios da FUNAI e no Parlamento Brasileiro. Portanto, somos líderes do movimento indígena que iniciamos nesse país, e de fato conhecemos muito bem os líderes seríssimos que se encontram nas bases.

A minha indicação para direção do Memorial dos Povos Indígenas, certamente, não foi levado a sério pelas pessoas que debocham de nossa luta. Mas, hoje completam 55 dias de minha gestão, às vésperas do Natal e, em seguida, Ano Novo de 2111. Eu vim aqui com o apoio da Dra IONE DE CARVALHO que me conhece há mais de 30 anos no movimento indígena. Conhecemos o MÁRIO JURUNA e outros grandes líderes que já morreram. Sonhamos, pregamos Autodeterminação dos Povos Indígenas, Meio Ambiente, a Paz!... Conhecemos o Senador Darcy Ribeiro e outros ilustres brasileiros que sempre defenderam a causa indígena no Brasil e no mundo.

Hoje temos muitos ex-presidentes da Funai que muito contribuíram para demarcar as Terras Indígenas. Como vivo mais em Brasília, sim, tenho o trânsito livre no Parlamento Brasileiro, conheço os companheiros do meu partido e, hoje, temos o AGNELO QUEIROZ e Senadores, Deputados Federais e Distritais que conhecem e respeitam o nosso trabalho, a nossa luta.

Encontrei o Memorial dos Povos Indígenas (MPI) com bastante capim na parte interna por onde dançamos e cantamos. Peguei o cigarro e chamei os espíritos dos meus antepassados. Eles me atenderam. Ouviu-se barulho do trovão no céu, vimos raios e caiu a chuva. Peguei a enxada e limpei no fim da semana quando chovia. E, valeu o que aprendi com meu pai. Vasculhei por dentro, encontrei latas de tintas, muita sujeira e poeira.

Fiquei triste...Foi a primeira pancada, o desafio. Não esperei pelos outros, chamei os colegas, falei e começamos a fazer limpeza. Procurei companheiros profissionais para fotografar e digitalizar as 480 peças - poucas para tamanho do espaço físico e pela importância política de nossa dignidade.

Encontrei a Estação Digital Indígena Intercultural Mário Juruna que formou 13 alunos até o presente momento. Vamos melhorar para que o sonho de Mário Juruna se torne uma realidade para nossos povos. Li os documentos do MPI. Interessante, em nenhum momento a Questão Indígena foi tratada com respeito, segundo atestam os documentos. Não é mole ser dirigente do Memorial dos Povos Indígenas. Fiquei triste e pensativo...Muita coisa aconteceu por aqui.

O Memorial dos Povos Indígenas precisa de carinho, respeito e apoio incondicional dos chefes tradicionais, músicos, curandeiros, ervateiros, escritores, cantores e, sábios de modo geral. Não adianta esperar pelos outros. Procurei os dirigentes da IGUALDADE RACIAL. Fomos enganados, não obtivemos o apoio. Tinha gente dentro mais para sabotar os nossos projetos e mentir para o Lula. Levei reclamações aos respectivos Ministros, também, no Palácio do Planalto, ocasião em que fizemos a doação de Coleção de DVDs dos Séculos Indígenas no Brasil, obra do companheiro FRANK COE, 17 anos de luta ferrenha.

O Lula gostou muito de nosso projeto. Percebi, que muitas das vezes os "senhores-dos-índios" querem nos impor o limite de expressão, coisa que não posso aceitar. Fui na Secretaria de Cultura do GDF, para expor estes problemas...Estou por aqui, no MPI, pessoalmente, para acompanhar as obras de revitalização: - 1-) Substituição da fiação da parte de eletricidade interna e externa, para recebermos a exposição Séculos dos Povos Indígenas no Brasil, III Edição; 2-) Substituição da Película; 3-) Aquisição e redecoração das mobílias de exposição, e 4-) Pintura do Memorial.

Visitei o Diretor da Biblioteca Nacional - Professor Antonio Miranda, e fizemos a doação de DVDs desse projeto para imortalidade de nosso pensamento no Brasil. Durante a solenidade acadêmica que foi organizada pela Dra Ione de Carvalho, na Biblioteca Nacional, expressei para embaixadores e demais ilustres brasileiros sobre a importância do Memorial dos Povos Indígenas para Brasília e para todo Brasil. O nosso encontro foi maravilhoso. O mesmo fizemos na PUCRS, em Porto Alegre.

Ainda, em Brasília, realizamos os Módulos I e II para preparar mais de 750 Educadores do DF à Questão Indígena, envolvemos os estudantes indígenas da Universidade Nacional de Brasília, para serem monitores e líderes autênticos e destemidos. No Senado Federal, na Comissão de Direitos Humanos, com apoio do Senador Cristovam Buarque, falamos para o país sobre a importância da Lei Nº 11.645, de 8 de maço de 2008, lei sancionada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva inclui no currículo das escolas públicas e particulares de nível fundamental e médio o ensino obrigatório de história e cultura indígena, que começou vigorar nesse ano.

Enfim, meu irmão companheiro de luta, Pirakuman, quero agradecer a você e Aritana pelo apoio e conselho; agradeço ao companheiro Ailton Krenak, Nação Botudo, MG, que não perdeu a guerra. Nasceu mais um filho de nosso irmão Ailton Krenak, antes desse Natal. Quero agradecer aos Líderes da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, FOIRN, São Gabriel da Cachoeira, AM; agradecimentos aos líderes da ARPINSUL e tantos outros guerreiros e conselheiros para cuidar de nosso espaço político tradicional, Patrimônio Público Cultural que é O MEMORIAL DOS POVOS INDÍGENAS, em Brasília.

Juntos, tenho a certeza, de que não vamos decepcionar os Governos AGNELO QUEIROZ, Brasília, DF, e DILMA ROUSSEFF, Presidente do Brasil, para mostrar-lhes a nossa capacidade, habilidade e compromisso ético e moral para cuidar de nossas crianças índias e não-índias do nosso Brasil. Faremos, sim, a exposição sem medo. Vamos trazer chefes tradicionais e vou conversar pessoalmente, para mais de 50 mil alunos e professores entre Fevereiro a Julho de 2111. Teremos muitos visitantes. Eles vão dizer se somos capazes ou não para dirigir o nosso destino, o nosso futuro. Em nome da Equipe do Memorial dos Povos Indígenas e de Séculos Indígenas no Brasil, desejamos a cada um dos senhores, UM FELIZ NATAL!!!!!!! Sempre.

(*) É Tukano do Alto Rio Negro, no Amazonas. É direção do Movimento Indígenas do Brasil desde a década de setenta, quando articulado com lideranças nacionais lutou pela redemocratização do Brasil participando diretamente da construção da Nova Ordem Constitucional promulgada na Constituição Federal de 1988.

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