segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

NOITE FELIZ

Ellza Souza (*)

O grupo Imbaúba fez primorosa apresentação no nosso teatro no dia 10 de dezembro. O trabalho apresentado que se constitui de um cd com treze músicas chamado Natal Amazônico tem detalhes singulares de uma obra pautada pela sensibilidade e muito estudo. De cara o cd à venda na entrada do teatro me fez parar e comprar pelo poder da ilustração na capa. Um beija flor em seu ninho e no galho me fez lembrar o documentário de um minuto que fiz cujo título diz tudo: “Na selva de pedra todos os fios são cipós” sobre a aventura de um passarinho desses na cidade. Mais uma vez a música me fez voltar no tempo e lembrar a maravilha de vida que temos e não percebemos.

Na visão do grupo musical, Jesus na Amazônia vem no bico de um beija flor. Somos então uns afortunados por Jesus, pelo beija flor, pela poesia, pela música, pelas delicadas flores que ainda resistem no mundo moderno afinal “há natais todos os dias nas orquídeas e nos tajás”.

Rosivaldo Cordeiro, Celdo Braga, Roberto Lima, João Paulo e Sofia Amoedo são músicos que valorizam a nossa cultura e não desistem perante as adversidades. Celdo, vindo de uma outra experiência de sucesso de mais de vinte anos deu ao grupo Imbaúba o brilho e a competência que um trabalho desses precisa. Não é só cantar e tocar coquinho, tem que ter o acabamento, o polimento, a pesquisa, a persistência e a criatividade. E ainda um toque de humildade em cada um dos componentes. Aí vai longe a iniciativa mexendo cada vez mais com a sensibilidade do ser humano. Esse é o papel da música, despertar emoções que no mundo moderno estão fora de moda. Também com “chupa que é de uva” e os rebolation que vemos por aí só dá pra despertar mesmo quem está “dormindo”. E olhe lá.

Um verso de Natal – Sonhos e Barrancos diz assim: “Sonhar um Jesus menino/ após as dores da cruz/ reconduzir o destino/ de quem se ausentou da luz/ é navegar na canoa/ que o nosso natal traduz”. O poema de Celdo Braga, cantado por Denise Bianca e trilha de Rosivaldo Cordeiro “tem a chama da esperança/ acesa ao sopro da fé/ e a certeza que o natal/ é sempre como Deus quer/ A mãe se pensa Maria/ e o pai se mira em José”.

Inundada nos belos poemas e na música orgânica do Imbaúba, a noite do espetáculo foi ficando cada vez mais envolvente. A platéia silenciosa prestava muita atenção. E ao final sabia reconhecer com os merecidos aplausos. Foi curto, foi lindo, foi bom. Apesar do sono e da vista míope, nada me faltou. Aqueles delicados sons iam muito além da materialidade. Nessa noite tomamos um banho de poesia.

O espetáculo além da música especial tinha também a dança e o teatro estampados no palco. Luzes, figurino, o presépio, os atores, os bailarinos, os instrumentos, formavam um conjunto integrado que veio para emocionar: Imbaúba, de todas as formas e jeitos.

Para encerrar mais um pedacinho do poema citado no início. “E na rede-manjedoura/ num embalo especial/ uma criança dormita/ sob o afago maternal/ nas barrancas do Amazonas/ todo dia é natal”.

Para ser feliz só isso. Um feliz Natal ao mundo.

(*) É escritora, jornalista e colaboradora do NCPAM/UFAM.

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