Márcio Souza*
Sempre me pergunto por que o Amazonas, que se arroga a ter a economia mais moderna do Norte do país, cultiva uma das políticas mais atrasadas do Brasil? No plano estadual, a administração pública ainda está atrelada ao controle cioso do governador, que faz do secretário de Fazenda o seu guarda cofre e os demais secretários como meros subalternos, já que a execução do orçamento aprovado pela Assembléia Legislativa não está sob a total responsabilidade de cada uma secretaria de estado.
Mensalmente os secretários ficam a mercê da Fazenda, que de sua parte espera que o governador aponte os felizardos que merecem receber e aqueles estigmatizados que receberão o castigo da demora.
Este centralismo emperra a máquina e aumenta os gastos, mas a lógica não é da eficiência republicana. O centralismo é o alicerce econômico do populismo e de outras manobras escusas. Aí esta, finalmente, o problema: populismo. Executivo e legislativo se unem em torno dessa bandeira, levando os partidos políticos na enxurrada pútrida das ofertas de cargos e renúncia ao espírito republicano, pavimentando de lama a história recente de nossa história política. É este “modelo gestor” do estado que mobiliza as facções políticas locais. Nenhuma das correntes propõe romper esse ciclo que vem infelicitando o amazonas nos últimos 50 anos, e que dotou Manaus do padrão de vida africano em que vivemos. O tumor maligno do populismo cleptocrata amazonense tem suas origens em Gilberto Mestrinho, que inaugura o processo de privatização do estado e a supremacia do continuísmo sobre os ideais democráticos e republicanos.
E desse tumor original saíram as metástases atuais, nesse momento divididas e disputando o controle do aparelho de estado. O partido dos Trabalhadores, que foi criado para fazer a diferença no quadro político nacional, aqui é uma espécie de sucursal do modelo carioca, o partido da boquinha, que não despreza nenhum carguinho porque ninguém é de ferro. O problema é que o PT que trai a sua própria história deu músculos ao populismo, que tomou corpo e coragem. Marchando na contramão de sua história, o PT se aliou a todos os grupos cleptocratas e se conformou em ser linha auxiliar, locupletando-se dos cargos que sobraram da mesa farta. A concepção moderna do PT sucumbiu ao fisiologismo tão condenável, e chegamos mesmo a assistir lideranças do partido vir de público fazer a defesa de alguns notórios políticos corruptos que estavam sob o fogo do Ministério Público e acabaram sem os mandatos. O pior é que as opções que o PT põe na mesa, não são de fato opções. Dois grupos se digladiam não para repor o partido em sua trajetória de luta, mas para ficar com a metástase populista que melhor lhes saciar a fome fisiológica.
Nos redutos do PSB, a lógica também não é diferente. Ali, nada mudou. Serafim Correa segue sem hesitar no seu propósito. Renunciou seu projeto político e vale qualquer aliança, desde que garanta a reeleição de seu pimpolho. O resto que se dane. O populismo já se apossou de tal forma do organismo político amazonense, que não parece mais ser operável.
Não há quimioterapia ou radioterapia que o salve. A oposição minguou, encruou e tomou chá de sumiço, além de sofrer também da síndrome do pimpolho. Até mesmo o sindicalismo abandonou sua independência em troca de benesses de um estado quase em coma pelo excesso de dívidas. Ainda assim, todos estão assanhados, pois sabem que o tumor populista é perfeito para usufruir da dinheirama que aqui aportará com a Copa do Mundo de 2014. Isto se Manaus continuar credenciada, pois se a cleptocracia é eficiente em seus propósitos, a FIFA é macaca velha. Nesse embate, quem sai perdendo é a cidade, que assim, tem seu futuro comprometido. Tenho pena do palanque que preparam por aqui para a Dilma. Ela que segure bem a própria bolsa.
* Renomado escritor amazonense, dramaturgo e articulista de a Crítica.
Sempre me pergunto por que o Amazonas, que se arroga a ter a economia mais moderna do Norte do país, cultiva uma das políticas mais atrasadas do Brasil? No plano estadual, a administração pública ainda está atrelada ao controle cioso do governador, que faz do secretário de Fazenda o seu guarda cofre e os demais secretários como meros subalternos, já que a execução do orçamento aprovado pela Assembléia Legislativa não está sob a total responsabilidade de cada uma secretaria de estado.
Mensalmente os secretários ficam a mercê da Fazenda, que de sua parte espera que o governador aponte os felizardos que merecem receber e aqueles estigmatizados que receberão o castigo da demora.
Este centralismo emperra a máquina e aumenta os gastos, mas a lógica não é da eficiência republicana. O centralismo é o alicerce econômico do populismo e de outras manobras escusas. Aí esta, finalmente, o problema: populismo. Executivo e legislativo se unem em torno dessa bandeira, levando os partidos políticos na enxurrada pútrida das ofertas de cargos e renúncia ao espírito republicano, pavimentando de lama a história recente de nossa história política. É este “modelo gestor” do estado que mobiliza as facções políticas locais. Nenhuma das correntes propõe romper esse ciclo que vem infelicitando o amazonas nos últimos 50 anos, e que dotou Manaus do padrão de vida africano em que vivemos. O tumor maligno do populismo cleptocrata amazonense tem suas origens em Gilberto Mestrinho, que inaugura o processo de privatização do estado e a supremacia do continuísmo sobre os ideais democráticos e republicanos.
E desse tumor original saíram as metástases atuais, nesse momento divididas e disputando o controle do aparelho de estado. O partido dos Trabalhadores, que foi criado para fazer a diferença no quadro político nacional, aqui é uma espécie de sucursal do modelo carioca, o partido da boquinha, que não despreza nenhum carguinho porque ninguém é de ferro. O problema é que o PT que trai a sua própria história deu músculos ao populismo, que tomou corpo e coragem. Marchando na contramão de sua história, o PT se aliou a todos os grupos cleptocratas e se conformou em ser linha auxiliar, locupletando-se dos cargos que sobraram da mesa farta. A concepção moderna do PT sucumbiu ao fisiologismo tão condenável, e chegamos mesmo a assistir lideranças do partido vir de público fazer a defesa de alguns notórios políticos corruptos que estavam sob o fogo do Ministério Público e acabaram sem os mandatos. O pior é que as opções que o PT põe na mesa, não são de fato opções. Dois grupos se digladiam não para repor o partido em sua trajetória de luta, mas para ficar com a metástase populista que melhor lhes saciar a fome fisiológica.
Nos redutos do PSB, a lógica também não é diferente. Ali, nada mudou. Serafim Correa segue sem hesitar no seu propósito. Renunciou seu projeto político e vale qualquer aliança, desde que garanta a reeleição de seu pimpolho. O resto que se dane. O populismo já se apossou de tal forma do organismo político amazonense, que não parece mais ser operável.
Não há quimioterapia ou radioterapia que o salve. A oposição minguou, encruou e tomou chá de sumiço, além de sofrer também da síndrome do pimpolho. Até mesmo o sindicalismo abandonou sua independência em troca de benesses de um estado quase em coma pelo excesso de dívidas. Ainda assim, todos estão assanhados, pois sabem que o tumor populista é perfeito para usufruir da dinheirama que aqui aportará com a Copa do Mundo de 2014. Isto se Manaus continuar credenciada, pois se a cleptocracia é eficiente em seus propósitos, a FIFA é macaca velha. Nesse embate, quem sai perdendo é a cidade, que assim, tem seu futuro comprometido. Tenho pena do palanque que preparam por aqui para a Dilma. Ela que segure bem a própria bolsa.
* Renomado escritor amazonense, dramaturgo e articulista de a Crítica.
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