domingo, 23 de maio de 2010

TERRA, VIDA E IDENTIDADE PARA OS TERENA


MARCOS TERENA (*)

Da terra indigena de ontem e de hoje que o homem branco invasor insiste em tomar a luz de um novo tempo onde o índio exige respeito pela história como sementes do novo amanhã de paz, de respeito mútuo e de cumprimento dos acordos para o bem comum.

A Nação Terena sempre respeitou os códigos da natureza e o grande espírito da Terra, o Ituko-Óviti. São tradições, culturas e princípios que aprendemos com a força da oralidade e a capacidade e visão estratégica de nossas mulheres que com sabedoria, pacientemente e corajosamente nos ensinaram a força desses valores.

A Terra tradicional que é parte da nossa vida, nunca foi considerada como moeda de troca mas como fonte de vida e do bem viver.

Por isso nos anos de 1800, cansado de ver soldados brasileiros vindos dos centros urbanos que nada conheciam daquele ecossistema, a solidariedade Terena mais uma vez se manifestou ensinando, adestrando e mostrando a fonte de vida que é o Pantanal.

Assim o exército brasileiro e o governo brasileiro receberam uma força de luta baseada em conhecimentos tradicionais indígenas, como estimulo para avançar sobre os paraguaios, ao aprender como caminhar entre as trilhas dessa região de dificil acesso e assim, "ganhar" uma guerra miserável e inconsequentemente que feriu principalmente a própria Mãe Terra e empobreceu até hoje toda essa regiao do ponto de vista espiritual, exceto onde há comunidades indígenas.

Os Terena em nome da paz e da organização politica e territorial de um novo tempo e diante de novas promessas, de repente junto com o Pantanal, passaram a ser parte do territorio brasileiro onde antes, tudo era regiao indigena.

Com essa nova situação, acreditaram que assim, poderiam reconstruir a autonomia em que feliz viviam social, ecologica, economica e politicamente, mas agora junto com aqueles que chegavam em nome do desenvolvimento como os colonizadores politicos, religiosos e militares.

E então, tiveram que aceitar uma acomodação chamada "reserva indigena" de novo, em nome do bem estar, que eram terras diminutas e controladas pelo Estado Brasileiro em nome da proteção e do humanismo, para cuja missão foram delegados homens brancos especialistas em índios, geralmente paternalistas ou opressores.

Com isso chegaram os fazendeiros que nada sabiam e que tiveram que aprender com os cavaleiros Terena a construir aquilo que hoje se chama: carne verde.

Por isso, a agressão sofrida pelos irmãos da reserva de Bokóti em Miranda que requeriam apenas a obediencia da lei moral e historica de reconhecer o direito básico a terra diante da existencia de familias distintas e valorosas, foi considerada uma traição do homem branco e principalmente das autoridades judiciarias, politicas que no uso de uma força militar, feriram os principais e originários guardioes do principal valor do pantanal para a modernidade: água e água como fonte de vida.

A guerra estampada na face e no olhar de ódio daquelas pessoas, jamais amedrontaram gente acostumada a domar cavalos e bois bravos e a caçar onça em suas terras originais e a lei, que vagueia entre um balcao e outro, encontrará a verdade no olhar da familia Terena, como ja ocorre com diversos sulmatogrossenses e pantaneiros, vizinhos, compadres, irmãos de Igreja que se alimentam da mesma fonte: da terra indigena de ontem e de hoje que o homem branco invasor insiste em tomar a luz de um novo tempo onde o índio exige respeito pela história como sementes do novo amanhã de paz, de respeito mútuo e de cumprimento dos acordos para o bem comum.

(*) É um dos líderes indígenas com reconhecido valor internacional e membro escolhido da Cátedra Indigena - CII.

Nenhum comentário: