sexta-feira, 28 de maio de 2010

POLÍTICA E PARTICIPAÇÃO

Gilson Gil (*)

No dia 25, terça, participei de uma visita ao encontro das águas e à comunidade do lago do Aleixo, com vários estudantes, professores, jornalistas, comunitários e interessados, como Thiago de Melo e Tenório Telles. O objetivo foi mostrar a importância da luta pela preservação daquela área e incentivar seu tombamento, a fim de se evitar a construção de um porto naquele lugar. Sem desdenhar do crescimento econômico, que é vital à região, considero vital que as gerações futuras tenham o direito de visitar e contemplar aquela paisagem natural, sem monstrengos arquitetônicos.

É importante destacar, sem tocar no mérito da questão, para a qual remeto ao blog do Núcleo de Cultura Política do Amazonas (ncpam.com.br) da UFAM, o papel da sociedade civil na vida política da sociedade amazonense. É próprio de a cultura local crer que só se faz política dentro da máquina estatal. Somente a partir do aparelho de estado é que se faria ativismo político.

Nessa linha de pensamento, até a cooptação fica justificada. Quando a distribuição de recursos públicos, através de benesses orçamentárias e da formação de clientelas eleitorais, é a única maneira de fazer política, pouco resta à sociedade. Talvez por isso nos encontremos nesse grande silêncio pré-eleitoral. Os debates passam a ser insignificantes, nessa visão “chapa branca”. Ter ideias vira algo “chato”, pois o importante é dispor do poder distributivo e mobilizatório do aparato público.

A pobreza de nossa agenda pode ser explicada, entre outras razões, por esse “estatismo” em nossa concepção de política. Há tantos temas essenciais a serem discutidos, que espanta a nossa mobilização. É de se louvar, dessa forma, atitudes como a do NCPAM, que procuram levantar questões e mobilizar o governo e o Judiciário. Para sacudir esse “comodismo” das elites políticas locais, a promoção de ações politizadas pode estimular jovens, sindicalistas e intelectuais a promoverem debates, palestras, seminários e movimentações que dêem mais “sangue” à corrida eleitoral deste ano.

Torço para que a eleição não vire apenas um momento burocrático de nossa agenda pós-copa. Espero que tudo não se resuma ao horário eleitoral gratuito, no qual os marqueteiros exibem sua genialidade e o povo assiste passivo, ansioso para chegar a hora da novela.

Enfim, que esse ato, pequeno no concreto, mas enorme na dimensão simbólica, seja o pontapé inicial de uma campanha realmente política, com ideias, propostas e metas bem definidas.

(*) É Professor, pesquisador do Depto. de Ciências Sociais da UFAM e articulista do Jornal Amazonas em Tempo.
Foto: Valter Calheiros

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