sábado, 22 de maio de 2010

CANTO DOS FILHOS DA MÃE TERRA


Verônica Manauara (*)

Oh Meu Deus!
Meu Deus, meu Alá, meu Tupã
Estou com medo dos invasores!
Invasores extra-terrestres
Invasores europeus
Invasores políticos
Estou com muito medo!
Invasores invisíveis
Na calada da noite, ou ao romper do dia
A céu aberto ou nas coxias
Sob os olhos dos Santos ou da Virgem Maria
Ninguém faz nada!
Estou com medo ou apreensiva?

Oh Meu Deus!, Oh Nhanderu!, Itwkov´ti! Deus de Abraão e de todos os mundos!
Tem invasores na Terra, invasores na água, invasores no ar, invasores no corpo,
Corpos estranhos, invasores epidêmicos, agentes multiplicadores
Invasores econômicos e economistas
Politiqueiros, vigários e vigaristas
Estou com medo!
Não sei se é medo ou repugnância
Consultas médicas, consultas fiscais, consultas públicas e mais generais
Procuro a minha sombra, procuro a minha perna que perdi na guerra
Procuro o meu chão
Procuro minha casa... procuro o meu nome certo.
Procuro minha terra – Dizem que só Deus quem sabe
Não sei que idade tenho.

Corro e me escondo. Porque invadiram o espaço aéreo, vejo pássaros cintilantes com olhos de fogo estrondando na natureza – invadindo meu teto aberto.
Corro e me escondo apavorada como peixes que fogem da invasão motorizada içando a rede para cobertura mortal.
Corro porque os invasores querem me agarrar, me descobrir dentro do meu corpo, invadir meu interior para violar e mutilar o sagrado berço do futuro

Quero correr, mas não posso, não consigo sair da rede, meus ossos estão fracos, minha voz está cansada, minhas idéias lacrimejam.
Que idade eu tenho? Qual é a idade da Terra? qual a idade sua Oh Meu Deus!
Deus da Força, Deus do Trovão, do Tufão e do Vulcão.

Grande Espírito, Criador de Tudo e de Todos
Ajude os invasores, eles perderam tudo – Eles perderam a origem, eles perderam a alma,
Perderam a cabeça, perderam a vergonha
Eles perderam o amor – ou foi perda congênita?

Hananim, Jeová, Javé, Yepá, Olorum!
Invadiram as casas vazias
Invadiram as casas cheias
Invasores na cabeça e bicho de pé na areia
Invasores na plantação, invasores na colméia
E minas diferentes por todo o chão
Invasores dos sonhos, invasores na floresta, invasores cibernéticos.

Oh Deus meu! – Meu Deus de tantos nomes!
Coloque em extinção os que extinguem nosso tudo
Os que extinguem a todos nós.
Eles, os invasores de tantos nomes, de tantos lugares, de tantos boicotes, de tantos anos...

E agora Javé?
A festa ainda não começou, o voto não adiantou, a promessa não ficou
E agora Javé?
É por toda a parte,
Na parte íntima e parte íntegra
Invasores de esquerda, invasores de direita
É de todo lado
São de todos os partidos... eles são tantos...
De uniforme ou de toga, de carteira ou de diploma, eles são tantos...

Oh meu Deus! Oh Aúra-Mazda, Ó Omama, O´ Zambi
Sujos ou perfumados, de gravata ou mascarados eles invadem
Invasores armados, borrados, robotizados.
Por que tenho medo e não tenho medo de nada?

Só tenho um trunfo, o trunfo para o Triunfo. Tenho a palavra tradicional guardada, Guardada desde o berço do ventre.
Sabemos quem somos. Conhecemos a tua promessa. Sabemos que somos donos. Sabemos que a última batalha nos legitimará como autônomos e livres, Filhos do Grande Espírito e da Mãe Terra. Seremos vitoriosos.

(*) É militante das causas socioculturais e esposa do lider Tukano Manoel Moura.

Nenhum comentário: