quinta-feira, 13 de maio de 2010

COPA DO MUNDO: PROJETOS ALARMANTES E ESCANDALOSOS

Márcio Souza*

Quando escolheram Manaus como uma das subsedes da Copa do Mundo de 2014 considerei aquilo como uma meta para a cidade superar seus principais problemas, bastando atender às exigências da Fifa. A capital amazonense, embora uma das mais ricas do país, com um orçamento municipal maior que de muitas capitais brasileiras melhores estruturadas do ponto de vista urbano, estava rapidamente resvalando para a indigência, alimentando os índices de atraso nas estatísticas oficiais do Brasil. E sem a Copa, e os investimentos que eventos desse porte acabam carreando, não havia nenhuma outra possibilidade de reverter o processo de degradação.

Mas os projetos que até agora foram apresentados publicamente por aqui são no mínimo alarmantes e escandalosos. Não tenho simpatia pelo Vivaldão, acho até que o Severiano Porto deveria excluir de seu currículo. O Vivaldão é o Teatro Amazonas da Ditadura Militar, produto da era Médici, que espalhou monstrengos desse tipo pelos estados. Nunca teve uso verdadeiro, já que o futebol aqui não tem público. Ter estádio, no entanto, é condição para recebermos a Copa, que fazer? Pena que o projeto da Arena da Amazônia ainda é mais patético que o Vivaldão, no seu plágio explícito do “Ninho de Pássaros” de Beijing.

E eu me pergunto, porque Manaus tem de sofrer com a pior e mais medíocre arquitetura que se faz no Brasil? Os centros culturais construídos pelo governo estadual, bem como o Centro Cultural dos Povos Amazônicos, por exemplo, mais parecem postos de gasolina com elefantíase. São pesados, agressivos e opressivos, com aquela estrutura de ferro pendendo sobre as cabeças dos freqüentadores. E os arquitetos que perpetraram tal abominação, deixaram explícita a própria ignorância crassa, já que entregaram salas de dança de pé direito baixo e teatros sem coxias e camarins. Nem sei onde o governo foi encontrar esses imbecis.

Falo de arquitetura porque o monotrilho também ameaça ser um péssimo exemplo. Este, além de propor um trajeto que se executado vai destruir uma parte substancial da memória da cidade, o que não vamos aceitar, também padece da mesma síndrome do posto de gasolina. As estações são absolutamente horrendas. Um telhado curvo que deve ter sido inspirado no nojento mafuá que a administração Alfredo Nascimento criou na Constantino Nery, parece querer esconder o desprezo que os arquitetos têm pelos usuários. Os trens correrão numa pista elevada, e o acesso será através de rampas em elipses, verdadeiros calvários para os cadeirantes e idosos, nada de escadas rolantes ou elevadores. O pior é que essas estruturas grotescas serão espalhadas ao longo do trajeto do monotrilho, multiplicando o escárnio contra as boas soluções arquitetônicas.

É notório que elevados desse tipo, por onde passam, degradam os arredores, como aconteceu com o Minhocão do Maluf, em São Paulo. O rasgo do trajeto do monotrilho provocará feridas graves numa malha urbana já degradada pela leniência da Prefeitura. Os proprietários de imóveis nas imediações do monotrilho que prestem atenção. Na verdade qualquer sistema de transporte de massas não deveria atingir mais o centro histórico de Manaus.

O centro poderia ser restaurado e sua atividade econômica redirecionada. O comércio atacadista que atende o interior do estado seria mantido, mas no centro restaurado seria estimulado o comércio de serviço e de entretenimento. É uma pena como a questão da Copa está sendo conduzida. A arquitetura tem servido para valorizar cidades na Europa, como Bilbao, na Espanha, com o seu museu. Aqui, é praticada para avacalhar mais a cidade. O projeto do monotrilho agride duplamente nosso patrimônio, é feio e ainda quer demolir nossos velhos casarões. Nenhum amazonense pode aceitar isso passivamente.

* É escritor, dramaturgo e articulista de a Crítica com reconhecimento editorial internacional.

Um comentário:

Anônimo disse...

ridículo. fácil é criticar e difícil achar soluções. o márcio souza já escreveu melhor.