A CONDESSA BARRAL E A NOBREZA PALACIANA
A desenvoltura da
Condessa na Corte era bastante saliente mostrando força e grande influencia
junto aos subalternos, era o que diziam os cronistas palacianos. A sua presença
era tão marcante que para mostrar desapego aos bens matérias doava suas
próprias vestes e pertences valiosos que ornavam o seu corpo consumado pelo
Imperador e desejado pela plebe rude dos arraiais palacianos.
Ademir Ramos (*)
Não se deve dar crédito aos cronistas da Corte.
No entanto, como estamos na Folia de Momo, a loucura é tanta que voltamos ao
Império com ar de nobreza sonhando ser o rei ou a rainha deste carnaval. O fato
é que a história da vida privada tem se pautado em leituras documentais que vão
da alcova aos diários de viagem, passando pelos relatos dos serviçais que
ousaram contar a terceiros as manias comportamentais dos homens e mulheres da
nobreza a quem serviam com resignação.
Dom Pedro II (1825-1891) é um dos personagens
mais citados nas narrativas referentes à história do Brasil, principalmente,
quando os cartolas das escolas de samba resolvem fazer enredo com a vida dos
“mitos fundadores” nacional, querendo exaltar na avenida do samba a vida e os
amores desses personagens de nossa história. Missão quase impossível valendo-se do reino da imaginação, onde se rompe a métrica para alcançar o coração do povo. Aí
o bicho pega e o sambista “vareia” rimando alhos com bugalhos e outros
trocadalhos.
E
a Condessa Barral, personagem do primeiro plano, trata-se de Luísa Margarida de
Barros Portugal (1818-1891), conhecida também como Condessa do Brasil por ser
uma das concubinas do imperador Dom Pedro II. Esta linda mulher, segundo os
recentes arquivos digitalizados do jornal Irlandês The Irish Times, que registrou a
passagem da comitiva do Imperador por Belfast, em 7 de julho de 1877,
percorrendo os quatro continentes com jornada de 16 meses.
A
desenvoltura da Condessa na Corte era bastante saliente mostrando força e
grande influencia junto aos subalternos, era o que diziam os cronistas
palacianos. A sua presença era tão marcante que para mostrar desapego aos bens
matérias doava suas próprias vestes e pertences valiosos que ornavam o seu
corpo consumado pelo Imperador e desejado pela plebe rude dos arraiais
palacianos.
Em
troca o seu benfeitor ofertava mais e muito mais lhe cobrindo de seda e ouro. E
assim, a Condessa do Brasil ganhava a simpatia dos negros, mulatos e das próprias
famílias religiosas, a quem cabia organizar e promover o Bazar ou Tenda da Caridade,
valendo-se da sacristia das Igrejas com aval dos ordinários do lugar.
A
nobreza palaciana da Condessa, por outro lado, era vista pelos caricaturistas
da imprensa republicana como afronta ao povo, porque não aceitavam a perversa
desigualdade social vivida pelos homens e mulheres da paróquia enquanto a
nobreza e seus comparsas viviam no bem bom a comer e a vestir o do melhor. Arrogância
desta gente é desmedida, naturalizando seus gestos como manifestação de piedade
e de amor ao próximo, o que não passa de uma cínica conduta a merecer dos
protagonistas uma sonora reprovação em favor da Justiça Social e da Solidariedade. Eis uma boa lição para os tempos modernos.
(*)
É professor, antropólogo, coordenador dos projetos jaraqui e do
NCPAM/UFAM.
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