domingo, 27 de janeiro de 2013


“E O GATO COMEU...”

Além do roubo, estes salteadores do nosso povo deixam os municípios inadimplentes, impossibilitados de usufruir dos recursos dos programas federais e muito menos conveniar novas ações com os entes federados.

Ademir Ramos (*)

Andei circulando pelo interior do Amazonas e pude ver de perto o desencanto dos moradores com alguns prefeitos que meteram a mão no dinheiro do povo, deixando a conta das prefeituras zeradas, acelerando ainda mais o sofrimento do povo. Além do roubo, estes salteadores do nosso povo deixam os municípios inadimplentes, impossibilitados de usufruir dos recursos dos programas federais e muito menos conveniar novas ações com os entes federados.

O fato tem sido recorrente. O prefeito que ganha quando vai assumir é uma dor de cabeça porque o que está na prefeitura não comparece para passar as pastas ao seu sucessor. Tem prefeito que arrombou as portas da prefeitura para poder iniciar os trabalhos e assim cumprir com o seu dever. E depois de assumir começa a repetir os mesmo expedientes do anterior e tudo parece ser normal para aqueles que não conhecem outra prática a não ser a corrupção, o vício e apropriação indébita do patrimônio público.

E assim a Democracia se faz no chute e no grito sob o mandonismo dos caciques políticos que se fazem representar no parlamento estadual e no congresso nacional. Ainda mais quando contam com o apoio do poder executivo estadual passam a afrontar até mesmo os órgãos de controle externo.

Para se safar dessas tramoias esses “caciques dos beiradões” gastam os tubos junto à justiça, contanto que não percam a boquinha para continuar mordendo o recurso público. É um verdadeiro circulo vicioso, empobrecendo, sobretudo, o povo que além de excluído sente-se impotente frente às negociatas armadas por esses larápios.

Imediatamente não se tem a quem recorrer com ressalvas ao modus operandi da Controladoria-Geral da União (CGU), que junto com a polícia federal, tem agido firme em cumprimento a sua missão. O Ministério Público tem sido também um aliado importante, mas a médio e ao longo prazo. Da mesma forma o Tribunal de Contas, este por sua vez tem sofrido de toda forma de influencia, obliterando cada vez mais os seus objetivos, caindo no pagode.

O que pesa muito mais ainda é o voto de cabresto que ainda impera nos sertões do Brasil, não sendo tão diferente do nosso Amazonas. Esta prática é que legitima o poder desses corruptos que não se bastam apenas com o consentimento do povo, querem se perpetuar no poder direta ou indiretamente elegendo filhos, mulheres e outros parentes consanguíneos, deixando o povo desarticulado e cabisbaixo.

O poder legislativo, com ressalva, tem sido puxadinho da prefeitura. E o dinheiro do povo que deveria ser aplicado em políticas públicas é reduzido para satisfazer os apetites dos novos ricos, que passam a usufruir de carros importados, lanchas potentes, compras de terrenos e outras práticas ilícitas desenfreadas.

E no carnaval, os bacanas passam a cantar e dançar no ritmo de “mamãe eu quero... mama” e se por acaso alguém lhe perguntar cadê o dinheiro, então eles cantarão em coro que “o gato comeu...”, que o povo exploda. E assim caminha nossa pobre e inculta Democracia.

(*) É professor, antropólogo e coordenador dos projetos Jaraqui e do NCPAM/UFAM. 

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