O
ATIVISMO CIDADÃO
Estas manifestações
primárias pouco a pouco vão ganhando força, principalmente, quando esta é catalisada
por lideranças políticas moralmente responsáveis e politicamente sob controle
das forças populares e do movimento social.
Ademir
Ramos (*)
A
política
é uma Deusa bem dotada a exigir das pessoas participação, relação, cumplicidade
e domínio de si mesmo frente aos desafios que a sociedade apresenta. A todo o
momento a pessoa é posta à prova, contrariando ou não a sua vontade, devendo se
manifestar para garantir ou fazer concessão quanto a determinado direito que
lhe é intrínseco ou socialmente conquistado. Em não fazendo torna-se
fragilizada, permitindo que o outro se imponha pela retórica ou pela força.
Pode parecer fácil, mas, para aqueles (as) que sonham e lutam por ideais
coletivos e sociais a participação faz-se necessária para validação do direito
como instrumento de cidadania.
A participação evoca
relação, disputa para se garantir o direito e consequentemente afirmação e
reconhecimento do interesse público. Esta manifestação é socialmente
determinada, agregando forças originárias de variados segmentos sociais e
econômicos vivenciados por atores que sofreram e sofrem violações em seus direitos
fundamentais. Essas pessoas por algum momento sentem-se desprotegidas e
impotentes não tendo a quem recorrer para ecoar o seu grito de protesto e de
indignação. Alguns passam a desacreditar nas instituições e buscam resolver os
seus problemas de forma individual e particular, posicionando-se indiferentes
as questões sociais que mutilam milhares de homens, mulheres, crianças e jovens,
quando não, aceita a condição de subalternidade satisfazendo-se muito mais com
os favores porque são imediatos do que com o direito a ser conquistado e
assegurado por meio das lutas sociais.
O ativismo cidadão é o
estranhamento que essas pessoas provocam em si e no outro quando concebe e
percebe que há entre eles uma liga capaz de mover a si e o outro para o enfrentamento
contra o Estado e os seus agentes públicos pelo não cumprimento dos direitos
constitucionais; contra os políticos profissionais que usam da política para beneficio
próprio; bem como também contra o poder judiciário que se deixa corromper por
vendas de sentenças, obliterando a Justiça para que a impunidade reine e o
crime prevaleça.
Nesta perspectiva, as
manifestações de rua têm servido para demonstrar esta força. Assim como também
as barricadas que as populações periféricas das grandes cidades têm armado nas
ruas, ateando fogo em objeto inflamável, para denunciar os desmandos e descasos
que afetam diretamente essa gente que reivindicam segurança efetiva, água e luz
para todos, educação e saúde de qualidade, moradia e empregabilidade, acesso a
cultura, entre outros direitos violados.
Estas manifestações
primárias pouco a pouco vão ganhando força, principalmente, quando esta é catalisada
por lideranças políticas moralmente responsáveis e politicamente sob controle
das forças populares, visto que o mandato não é nem do candidato, nem do
partido, mas sim do povo. Para tal fim é necessário que o ativismo se converta
em organização, em prática estruturante agregando força, coragem, saber e
domínio estratégico para intervir na política como agente coletivo propositivo assentado
legitimamente nas estruturas colegiadas das comunidades e das demais
representações sociais que juntos lutam contra a corrupção, a impunidade, a
desigualdade e Justiça Social.
(*) É professor,
antropólogo, coordenador do projeto Jaraqui e do NCPAM-UFAM.
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