sábado, 1 de agosto de 2020

AS MÁSCARAS DE MANAUS


Como se sabe a desigualdade social é uma marca do capitalismo quase sempre ofuscada pelo discurso da dominação dos políticos e dos intelectuais proxenetas do poder que, embora não sejam os senhores do capital prestam relevantes serviços às oligarquias regionais, produzindo e difundindo suas concepções como se fossem verdades verdadeiras.

Ademir Ramos (*)

Estou convencido que a cidade é uma construção política, a começar por suas múltiplas representações sociais, culturais e econômicas. É política porque a sua forma decorre de um processo de ocupação que pode ocorrer de forma compulsória ou dirigida, em obediência a um determinado regramento vindo da rua ou dos palácios.

Esta trajetória ocorre de forma diferenciada, não só em relação às cidades como também a sua própria geodemografia. Digo isso para que se entenda que a cidade é uma construção e esse fenômeno resulta de interesses em conflitos assentados no direito de propriedade assegurando aos “bacanas” o bem bom, o resto fica para ser disputado entre os trabalhadores e os invisíveis sociais.

É incrível notar que tal situação é recorrente, sabendo que, em alguns territórios, onde a economia é mais concentrada nas oligarquias familiares a exclusão e o preconceito social é mais violento, principalmente, quando tais famílias apoderam-se do poder de Estado.  

Manaus não é diferente, como se sabe a desigualdade social é uma marca da sociedade capitalista quase sempre ofuscada pelo discurso da dominação dos políticos e dos intelectuais proxenetas do poder que, embora não sejam os senhores do capital prestam relevantes serviços às oligarquias regionais, produzindo e difundindo suas concepções como se fossem verdades verdadeiras, com a pretensão de inculcar em nossa população um ideal muito mais do passado do que do presente, com firme propósito de fazer a nossa gente desistir de lutar pelo reconhecimento de seus Direitos numa perspectiva de afirmação das igualdades sociais.

Para esta gente, a cidade é a morada dos “bacanas”, como se fosse um banquete, sobrando apenas para os trabalhadores e os invisíveis sociais o resto, a sobra, que disputarão entre si. A cidade e sua organização social, politicamente, quase sempre está de acordo, com a cara e o vício dos governantes, motivados às vezes por representações alheias as culturas de nossa gente, que para eles parecem  exóticas, bucólicas e até anticivilizadas.
   

MANAUS MOSTRA A TUA CARA: Para se entender tamanha arrogância das oligarquias regionais e dos novos ricos aliados a esta classe dominante local é necessário compreender a nossa própria história, a história do Amazonas, que tem seu berço nas culturais indígenas, que dominavam o fogo, a arte da cerâmica e da guerra, como bem faz os seus descentes até hoje, em defesa dos seus territórios. No entanto, por força do processo colonial foram conquistados e reduzidos a condição de escravos dos portugueses, vivendo sob o mando dos colonizadores, que além de reprimir, explorar e dominar politicamente faziam de tudo para negar e apagar a história de nossa gente, obrigando a rezar, contar e falar em português.

Não bastasse isso, saqueavam suas riquezas e abusavam de suas mulheres para que nunca mais pudessem reordenar suas forças sociais através de suas organizações políticas e culturais numa perspectiva de enfrentamento contra o os colonizadores e conquistadores portugueses. Todos esses atos de barbárie foram consumados com a benção da santa Madre Igreja em articulação com a Coroa Portuguesa.

Manaus traz em seu nome, as determinações e significados históricos que os colonizadores de ontem e de hoje não conseguirão apagar, embora cinicamente destratem das línguas e da história desta gente que se identifica como Manauara, das terras dos Manaós, recepcionando outras  nacionalidade e culturas como os nordestinos, Judeus, Sírios, Libaneses e demais cidadãos do mundo, contribuindo diretamente para a formação social, cultural e política desta cidade situada às margens do Rio Negro circundada pelas Florestas Tropicais da nossa Amazônia.


AS MÁSCARAS DE MANAUS: A história é a ciência por excelência, desvela e denuncia a nudez do Rei, o cinismo da classe dominante e a servidão dos intelectuais proxenetas, que em momento cívico são chamados a narrar à grandeza do passado para ludibriar os tolos enquanto cantam a sagacidade dos dominantes como senhores da história. Em suas narrativas históricas, tais intelectuais comportam-se como mediador da prostituição e também como bobo da corte, fazendo os senhores palacianos rirem do povo, anunciando aos quatros cantos suas proezas e maracutais eleitorais, seus embates com a magistratura seguido de “agrados e promessas”, bem como as pernadas dadas em seus adversários, as alianças partidárias e empresariais que resultaram em volumoso recurso financeiro alimentando o caixa 2 das campanhas eleitorais dos partidos políticos e os caprichos palacianos.

A narrativa é hilária provocando risos e gargalhadas dos aduladores. O pior de tudo é quando começam a falar de suas obras, que fez isto ou aquilo: “foi eu que fiz”. Nesta conjuntura, o povo é absolutamente excluídos da história e toda a sua magnitude passa a ser reduzida as representações monumentais das obras de grande porte que os governantes construíram na cidade estilo Teatro Amazonas, a Ponte Rio Negro, Palácios e Avenidas, motivando até alguns filhotes políticos desta safra a anunciarem também que foi ele também que fez a Ponte Negra e se duvidar até mesmo o Encontro das Águas e tais sandices se repetem nos meios de comunicação social envenenando a nossa gente.

As máscaras começam a cair das caras dos governantes e de seus filhotes, quando com atitudes o povo quebra a corrente da ignorância e passa a questionar a riqueza desta gente, seus privilégios e suas mordomias, exigindo explicações convincentes quanto aos investimentos destinados à melhoria de vida do povo da cidade e do interior referente à educação, saúde, segurança, moradia, cultura e outras demandas sociais como lazer, esporte e entretenimento assentados no meio ambiente saudável, em atenção às comunidades, combatendo a praga da corrupção e da impunidade a favor da Democracia.

(*) É professor, antropólogo, coordenador do NCPAM/UFAM e do Projeto Jaraqui. E-mail: ademiramos@hotmail.com

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