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terça-feira, 1 de setembro de 2009

E.U.A DE OLHO NO BRASIL, ARGENTINA E CHILE



Para o principal geoestrategista norte-americano do século XX, qualquer ameaça à hegemonia dos EUA na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile. Uma ameaça à hegemonia nesta região terá que ser respondida através da guerra, escreveu Spykman.


José Luís Fiori

O principal “geoestrategista” norte-americano do século XX, nasceu em Amsterdam, em 1893, e morreu nos Estados Unidos, em 1943. Era de origem holandesa, mas fez seus estudos superiores na Universidade da Califórnia, e foi professor da Universidade de Yale, onde dirigiu o seu Instituto de Estudos Internacionais, entre 1935 e 1940. Morreu ainda jovem, com 49 anos, e deixou apenas dois livros sobre a política externa norte-americana: o primeiro, America’s Strategy in World Politics, publicado em 1942, e o segundo, The Geography of the Peace, publicado um ano depois da sua morte, em 1944. Dois livros que se transformaram na pedra angular do pensamento estratégico norte-americano de toda a segunda metade do século XX, e do início do século XXI.

Nicholas Spykman não foi um cientista, foi um “geopolítico” e a geopolítica não é uma ciência, é apenas uma disciplina que estuda a relação entre o espaço e a expansão do poder, antecipando e racionalizando as decisões estratégicas dos países que exercem poder fora de suas fronteiras nacionais. É por isto, aliás, que só existe produção geopolítica relevante, nas chamadas “grandes potências”, e cada uma delas tem sua própria “escola geopolítica”, com suas preocupações, objetivos e racionalizações específicas. Como no caso clássico da “escola geopolítica alemã”, de Friederich Ratzel e Karl Haushofer, com a sua teoria do “espaço vital” e do “pan-germanismo”, que serviu de ponto de partida para explicar a “necessidade geográfica” de expansão alemã, na direção da Europa Central, e da Rússia/União Soviética. Ou também, como no caso da “escola geopolítica inglesa” de Halford Mackinder, com sua famosa tese de que “quem controla o “coração do mundo”( situado mais ou menos entre Berlim e Moscou), controla também a “ilha mundial” (a Eurásia), e quem controla a “ilha mundial” controla o mundo”. Teoria que serviu de base para justificar a política externa britânica durante todo o século XX, e seu permanente veto e bloqueio de qualquer aliança entre a Alemanha e a Rússia/União Soviética.


Dentro desta tradição, não há dúvida que Nicholas Spykman foi o pai da “escola geopolítica norte-americana”. Ele partiu das idéias de Halford Mackinder, mas modificou sua tese central: para Spykman, quem tem o poder mundial não é quem controla diretamente o “coração do mundo”, é quem é capaz de cercá-lo, como os Estados Unidos fizeram durante toda a Guerra Fria, e seguem fazendo até os nossos dias. Spykman escreveu seus dois livros antes da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, e por isto chama atenção a sua capacidade genial de prever o que aconteceria depois da guerra, tanto quanto a semelhança entre suas propostas estratégicas e a política externa que os Estados Unidos adotaram efetivamente, durante a segunda metade do século XX, na Europa, Ásia e América.


Em 1942, Nicholas Spykman defendeu a necessidade de uma aliança estratégica e de uma hegemonia conjunta, anglo-americana, para “gerir o mundo” depois do fim da Guerra, como de fato ocorreu, em São Francisco, em Bretton Woods, e na formulação da Doutrina Churchill-Truman da “cortina de ferro”. Além disto, Spykman defendeu a necessidade de que os Estados Unidos reconstruíssem e protegessem a Alemanha, depois da guerra, para facilitar a “contenção” da União Soviética, como aconteceu durante toda a Guerra Fria. E defendeu também a necessidade de reconstruir e proteger o Japão, para enfrentar a ameaça futura da China, que era na época o principal aliado asiático dos Estados Unidos. Por fim, Spykman se opôs ao projeto da unificação européia, e defendeu a manutenção do equilíbrio de poder europeu, tutelado pelos Estados Unidos, como vem acontecendo cada vez mais, depois da queda do Muro de Berlim.


E com relação à América, o que foi que previu e propôs Nicholas Spykman? Sobre este ponto, chama a atenção o grande espaço que ele dedica na sua obra à discussão da América Latina, e em particular, à “luta pela América do Sul”. Ele parte de uma separação radical, entre a América dos anglo-saxões e a América dos latinos. Nas suas palavras “as terras situadas ao sul do Rio Grande constituem um mundo diferente do Canadá e dos Estados Unidos. E é uma coisa desafortunada que as partes de fala inglesa e latina do continente tenham que ser chamadas igualmente de América, evocando uma similitude entre as duas que de fato não existe”(p:46). (1)


Em seguida, ele propõe dividir o “mundo latino” em duas regiões, do ponto de vista da estratégia americana, no sub-continente: uma primeira, “mediterrânea”, que incluiria o México, a América Central e o Caribe, alem da Colômbia e da Venezuela; e uma segunda que incluiria toda a América do Sul, abaixo da Colômbia e da Venezuela. Feita esta separação geopolítica, Spykman define a “América Mediterrânea como uma zona em que a supremacia dos Estados Unidos não pode ser questionada. Para todos os efeitos trata-se um mar fechado cujas chaves pertencem aos Estados Unidos. O que significa que o México, Colômbia e Venezuela (por serem incapazes de se transformar em grandes potências ), ficarão sempre numa posição de absoluta dependência dos Estados Unidos” (p: 60).


Donde, qualquer ameaça à hegemonia americana na América Latina deverá vir do sul, em particular da Argentina, Brasil e Chile, a “região do ABC”. Nas palavras do próprio Spykman: “para nossos vizinhos ao sul do Rio Grande, os norte-americanos seremos sempre o “Colosso do Norte”, o que significa um perigo, no mundo do poder político. Por isto, os países situados fora da nossa zona imediata de supremacia, ou seja, os grandes estados da América do Sul (Argentina, Brasil e Chile) podem tentar contrabalançar nosso poder através de uma ação comum ou através do uso de influências de fora do hemisfério” (p:64) E neste caso, conclui: “uma ameaça à hegemonia americana nesta região do hemisfério (a região do ABC) terá que ser respondida através da guerra”. (p: 62). O mais interessante é que se estas análises, previsões e advertências não tivessem feitas por Nicholas Spykman, pareceriam bravata de algum destes populistas latino-americanos, que inventam inimigos externos e que se multiplicam como cogumelos, segundo a idiotia conservadora.


(1) Spykman, N. , “America’s Strategy in World Politics", Harcourt, Brace and Company, New York,1942


José Luís Fiori, cientista político, é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro

Fonte: Vi o Mundo

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

OEA FRACASSA NA TENTATIVA DE RESTITUIR ZELAYA

A missão da Organização de Estados Americanos (OEA) fracassou na tentativa de diálogo com o governo interino de Honduras e deixa o país sem o compromisso de assinatura de um acordo que permita a volta do presidente deposto, Manuel Zelaya, à Presidência.

"A comissão lamenta que nesta ocasião não foi possível obter o apoio para o acordo de San José", disse o chanceler da Costa Rica, Bruno Stagno, ao ler um comunicado elaborado pela missão.

"A missão deve reconhecer que ainda não existe a disposição para a plena aceitação do acordo por parte do senhor (líder do governo interino Roberto) Micheletti e setores aliados", acrescentou.

Com o fracasso das negociações a agenda prevista pelo departamento de Estado dos EUA fica ainda mais difícil de ser cumprida.

Os Estados Unidos esperavam que o governo interino aceitasse um acordo para permitir o regresso do presidente deposto antes do dia 29, quando iniciará oficialmente a campanha eleitoral para as eleições presidenciais.

O comunicado divulgado pela OEA também reiterou a importância da assinatura do acordo "dado o eminente início" da campanha.

Desafio

A OEA fez um chamado a todos os setores da sociedade hondurenha a considerar o acordo de San José, pois na opinião da organização, o documento "contém os elementos necessários para o diálogo e a reconciliação, para a restauração da ordem constitucional e do estado de direito".

A missão, integrada pelos chanceleres da Argentina, Canadá, Costa Rica, Jamaica, México, Panamá e República Dominicana, liderada pelo secretario-geral da OEA, José Miguel Insulza, se reuniu com integrantes do governo interino, ministros do gabinete de Zelaya e com membros do Frente de Resistência Contra o Golpe.

Micheletti, por sua vez, durante o encontro com a missão da OEA, transmitido pela televisão estatal, reiterou que está disposto a renunciar à Presidência para permitir a ascensão interina de outro presidente. Ele insistiu, no entanto, que não permitirá que a comunidade internacional "imponha" o retorno de Zelaya.

O líder do governo interino desafiou a comunidade internacional, ao afirmar que convocará eleições para o dia 29 de novembro, independente da legitimação dos demais países.

"Haverá eleições, reconheçam ou não os países do mundo", afirmou.

O acordo de San José, rejeitado por Micheletti e seus aliados, prevê, entre outros pontos, o retorno de Zelaya à Presidência, a antecipação das eleições gerais agendadas para novembro e o abandono da proposta de consulta popular para convocar uma Assembleia Constituinte – medida que foi utilizada como argumento pela oposição para depor a Zelaya.


Fonte: BBC Brasil

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

ZELAYA RECEBE APOIO DE LULA

O presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, disse nesta quarta-feira, em Brasília, que os Estados Unidos podem fazer “mais” para evitar que o governo interino hondurenho permaneça no poder.

Fabricia Peixoto

“Honduras está sob uma ditadura. Os Estados Unidos têm que ser mais firmes para reverter esse processo de golpe de estado”, disse o hondurenho, logo depois de uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Zelaya tem visitado países da região em busca de apoio para que os Estados Unidos adotem medidas mais contundentes contra o governo interino liderado por Roberto Micheletti, que assumiu o poder em Honduras no dia 28 de junho.

Entre as medidas sugeridas estão, principalmente, sanções comerciais ao país latino-americano.

Cerca de 70% da economia de Honduras está de alguma forma ligada aos Estados Unidos. A avaliação do grupo de Zelaya é de que seus opositores não resistiriam à interrupção das relações comerciais com os americanos.

O governo brasileiro também concorda com a estratégia de “sufoco comercial” ao governo interino. De acordo com uma fonte do Palácio do Planalto, o presidente Lula teria se comprometido a conversar, por telefone, com o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, para reforçar a importância das sanções.

Zelaya disse aos jornalistas que pretende continuar com medidas diplomáticas e políticas e que espera não usar “outros meios” para voltar ao poder.

O presidente deposto disse ainda que recebeu um convite da secretária de Estado dos EUA, Hillary Clinton, para uma visita ao país, mas que a data ainda não foi acertada.

"Provavelmente na próxima semana", disse.

Legitimidade

Além de uma participação mais firme do presidente Obama, Zelaya disse também que está conversando com presidentes da região em busca de respaldo para uma nova resolução da Organização dos Estados Americanos (OEA) que desconheça as eleições de novembro – caso aconteçam sob um “estado ilegal”.

Uma medida como essa, no âmbito da OEA, daria maior peso ao processo de restituição de Zelaya ao poder, de acordo com o governo brasileiro.

“As ações devem ser conduzidas através da OEA porque, neste caso, dá legitimidade e, aliás, é o que faz com que o pedido de ação dos Estados Unidos não tenha nada a ver com intervenção”, disse o ministro Amorim.

“É preciso que os golpistas entendam que eles não têm futuro e quem pode dizer isso com todas as letras para eles são os Estados Unidos, que têm maior influência direta”, acrescentou o chanceler

Ainda de acordo com Amorim, o presidente Lula se dispôs a falar diretamente com o presidente Obama sobre o assunto.

Com isso, o presidente Lula passa a ter dois assuntos pendentes com Obama. Na segunda-feira, em Quito, Lula prometeu conversar com seu colega americano, por telefone, sobre a sugestão de um encontro com países da América do Sul para discutirem a presença militar americana na Colômbia.

Fonte: BBC Brasil

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

OEA TENTA RESOLVER CRISE EM HONDURAS

A Organização dos Estados Americanos (OEA) anunciou a retomada das atividades diplomáticas para tentar restabelecer o presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya, no cargo.

O Conselho Permanente da OEA autorizou, na quarta-feira, que o secretário-geral da entidade, José Miguel Insulza (foto ao lado), forme uma comissão de chanceleres.

A comissão viajaria para Honduras na tentativa de obter um compromisso do governo interino do país, liderado por Roberto Micheletti, para adotar o Acordo de San José, proposto pelo presidente da Costa Rica, Oscar Arias.

O plano não foi aceito em negociações no mês passado. O secretário-geral da OEA nega que a nova iniciativa seja uma mudança de estratégia."Esta iniciativa não é uma mudança, é uma continuação do que já se estava fazendo, assim espero que a comissão seja bem recebida e que possamos avançar", disse Insulza.

Zelaya em Washington

No entanto, ainda falta definir quais ministros formariam a comissão de chanceleres e é preciso saber se Micheletti estaria disposto a recebê-los.

"Agora cabe a mim formar a comissão. Buscar os nomes, conversar com os chanceleres, buscar um equilíbrio, inclusive um equilíbrio das datas, porque se trata de pessoas bastante ocupadas", disse Insulza.

Entre os diplomatas baseados em Washington, acredita-se que uma comissão como esta possa destravar os diálogos em Honduras, dependendo de quem for convidado para integrá-la.

No entanto, uma fonte da OEA disse à BBC que "do diálogo até um acordo existe uma distância" e que o governo interino hondurenho poderia usar esta nova iniciativa apenas para "ganhar tempo".

Estes analistas acreditam que Micheletti está esperando por novembro, quando serão realizadas novas eleições. Segundo os especialistas, Micheletti acredita que um novo governo contaria com o respaldo da comunidade internacional.

Muitos governos da região e a própria OEA, entretanto, já anunciaram que não reconhecerão as autoridades eleitas neste processo.

Fontes da embaixada de Honduras em Washington disseram à BBC que Zelaya pode viajar aos Estados Unidos nos próximos dias. Não está claro se ele seria recebido por alguma autoridade americana.

A Casa Branca reconhece Zelaya como presidente legítimo de Honduras e apoiou
medida de suspensão do país da OEA após o golpe, mas há sinais de que o governo americano não está fazendo tudo que poderia para garantir o retorno do presidente deposto a Tegucigalpa.


Fonte: BBC Brasil

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

BRASIL, AMERICA LATINA E OBAMA

Os jornalões, revistonas e redes campeãs de audiência no Brasil ignoraram um artigo publicado, dia 7 de fevereiro, pelo Wall Street Journal. Nele, está escrito: "Embora a economia brasileira rica em commodities, 10ª maior do mundo, deva ser afetada pelo declínio mundial, espera-se que tenha conduta melhor do que a maioria, mantendo crescimento enquanto EUA, Europa e Japão contraem, conforme previsão de economistas (…). O poder penetrante da diplomacia do Brasil é desdobramento benvindo para os formuladores da política externa dos EUA".

Argemiro Ferreira

Blogs progressistas ou que confiam mais nos rumos da economia do país criticaram nos últimos dias o fato de ter nossa mídia golpista - sempre atenta na busca e diligente na amplificação dos textos de fora com previsões sombrias de efeitos terríveis da crise internacional que ainda vão golpear o Brasil - ignorou uma avaliação recente, feita no sábado, 7 de fevereiro, pelo Wall Street Journal.

A impaciência dos blogueiros é compreensível: enquanto nossos jornalões, revistonas e redes campeãs de audiência faziam questão de ignorar o artigo do Journal, até a Câmara de Comércio Brasileiro-Americana (Brazilian-American Chamber of Commerce), ao fazer a convocação em Nova York para sua "2009 Brazil Summit", a ser realizada a 27 de abril no Hotel Pierre, usou como epígrafe estas frases do jornal tido como a bíblia de Wall Street:

"Embora a economia brasileira rica em commodities, 10ª maior do mundo, deva ser afetada pelo declínio mundial, espera-se que tenha conduta melhor do que a maioria, mantendo crescimento enquanto EUA, Europa e Japão contraem, conforme previsão de economistas (…). O poder penetrante da diplomacia do Brasil é desdobramento benvindo para os formuladores da política externa dos EUA".

A força da economia - e as intrigas

Até o título do artigo pode matar de inveja os tecnocratas sobreviventes do "Brasil Grande" do ditador Médici e tucano-demo-pefelês de FHC: "Economia alimenta ambições do Brasil além da América do Sul". E embora o Journal o tenha publicado sob a rubrica "Negócios", a análise estava no contexto da política externa - o governo Obama e o salto do Brasil, a partir da economia, e seu novo papel no mundo.

É sintomático esse reconhecimento vir do Journal, publicado pela Dow Jones, hoje parte do império Murdoch de mídia. Até porque grupos de reflexão mais à esquerda que debatem questões latino-americanas, como o COHA (Council on Hemispheric Affairs), há muito dizem a mesma coisa e insistem em escancarar o erro da ênfase dos EUA ao usar a Colômbia como ponta de lança na América do Sul.

O texto do Journal (assinado por John Lyons, de São Paulo; e com colaboração de Peter Millard, do México) começou assim: "Nos anos seguintes aos ataques terroristas, com o foco da política externa dos EUA desviado para o Oriente Médio, o Brasil e a Venezuela disputavam a posição de substituto dos EUA como principal negociador nos assuntos do hemisfério. Agora a queda dos preços do petróleo aponta o vencedor: Brasil".

Provavelmente não foi coincidência John Lyons ter passado pela Venezuela, onde acompanhou a eleição de novembro, antes de viajar a São Paulo e escrever aquele texto. Desnecessário reconhecer que ele escorregou, para variar, na imagem habitual disseminada pela imprensa dos EUA: reduziu o papel de Hugo Chávez no continente apenas à "diplomacia do talão do cheque praticada pela Venezuela".

Contrapeso à influência de Chávez?

Mas Lyons pareceu preciso ao assinalar que "as fontes da influência brasileira são mais diversificadas e menos vulneráveis às intempéries econômicas". Daí a observação de que os formuladores da política externa dos EUA deviam dar as boas vindas ao poder diplomático "penetrante" do Brasil. Também o governo Bush já via o Brasil como contrapeso relevante à influência venezuelana, ainda que incapaz de ousar alguma proposta a partir disso.

Nesse quadro, como deixar de admirar a competência da diplomacia brasileira, a cargo do chanceler Celso Amorim, ao usar o prestígio e a imagem do presidente Lula e, paralelamente, os êxitos inegáveis de nossa economia? Note-se que aí aparecem os alvos obsessivos da mídia golpista do país, tanto nos destemperados ataques cotidianos, como na obstinação da escolha daquilo que publica e daquilo que esconde.

Citando Michael Shifter, do Diálogo Latino-Americano, o Journal destacou que a cooperação com o Brasil é crucial para qualquer progresso na agenda hemisférica. "Maior exportador mundial de minério, carne, galinha, açúcar e café, o Brasil e seu carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva podem ajudar os EUA a reparar na região sua imagem gravemente danificada pelo governo Bush".

A diplomacia brasileira deixou claro, em episódios como o do ataque da Colômbia (apoiada por Bush) ao Equador, que repudia o velho jogo americano no continente. Ao mesmo tempo, o presidente Lula tem feito questão de ignorar as pressões e provocações dos EUA, com o respaldo de nossa mídia golpista, para intrigá-lo com Chávez e envolver o Brasil na aventura de Álvaro Uribe e seu sonho maluco de ser Israel na América do Sul.

A herança de Bush e Otto Reich

Muita gente queixou-se de que durante a campanha presidencial Obama ignorou o continente. A escolha da secretária de Estado, uma Hillary Clinton voltada para outras áreas, pouco ajuda representou em favor de uma mudança no quadro deixado por Bush, da versão americana da ALCA às escaramuças com Chávez - posições que, não por acaso, encantam a mídia. Mesmo assim o Brasil está agora em melhor posição para defender um diálogo franco.

O que Shifter disse pode parecer óbvio, até em razão da descoberta recente dos novos campos de petróleo pela Petrobrás num momento em que declinavam na Venezuela os investimentos no setor petrolífero. Mas estará o Departamento de Estado preparado? Permanece no cargo o secretário Assistente para o Hemisfério Ocidental, Thomas A. Shannon, agora subordinado ao novo sub-secretário para Assuntos Políticos, William J. Burns - ambos diplomatas de carreira.

Para a América Latina, soa como continuidade, não mudança. Shannon serviu nas embaixadas do Brasil (1989-92) e da Venezuela (1996-99), depois integrou o Conselho de Segurança Nacional na Casa Branca (governo Clinton), como diretor de Assuntos Interamericanos (1999-2000), foi embaixador alterno na OEA (2000-2001) e era adjunto do infame Otto Reich, secretário Assistente que encorajou e gerenciou para Bush o fracassado golpe contra Chávez na Venezuela em 2003.

Como o ideológico Reich viera do lobby cubano (nomeação política de Bush, no recesso do Congresso, para fugir do voto no Senado, onde havia o risco de rejeição), há razoável diferença entre os dois. Mesmo levando em conta que a mudança terá de ser decisão de cima e não da burocracia, ainda é um início pouco alentador para o continente. O telefonema do próprio Obama a Lula seria o fato positivo, mas até isso ainda espera versão definitiva, capaz de alimentar esperanças.

(*) Como jornalista, desde a década de 1980, Argemiro Ferreira escreve para o diário Tribuna da Imprensa, do Rio de Janeiro. É autor dos livros "Informação e Dominação" (edição do Sindicato de Jornalistas do Rio de Janeiro, 1982 - esgotado), "Caça às Bruxas - Macartismo: Uma Tragédia Americana" (L&PM, Porto Alegre, 1989), "O Império Contra-Ataca - As guerras de George W. Bush antes e depois do 11 de setembro" (Paz e Terra, São Paulo, 2004). Foi colaborador de Rede Imaginária - TV e Democracia (org. por Adauto Novaes, Companhia das Letras, São Paulo, 1991), Mídia & Violência Urbana (Faperj, Rio de Janeiro, 1994).

Blog do Argemiro Ferreira

UM DESAFIO PARA O FUTURO


O resultado do referendo abre uma pergunta e um desafio para o futuro da Venezuela, num contexto de crise internacional aguda e de baixa substantiva do preço de sua principal receita, o petróleo. Esta conjuntura pode alimentar a dependência do Partido Socialista Unido da Venezuela, de Chávez, ou pode, ao contrário, fortalecer o laço com as bases sociais que sustentam o governo, acentuando-se assim o processo de democratização e de redistribuição social, e tornando as mudanças que o país vive hoje menos reversíveis.

Gabriel Puricelli e Lucia Alvarez*

Desde que soube da convocatória para este novo referendo, a imprensa internacional insistiu em dizer que estávamos frente a uma eleição entre democracia e autoritarismo. A fórmula é conhecida e falaciosa. Há reeleições indefinidas em sistemas com altíssima concentração de poder no primeiro ministro e férrea disciplina de partido como Canadá, Reino Unido ou Austrália. Também funciona em regimes verdadeiramente autoritários e repressivos, alguns dos quais aliados estratégicos dos EUA, como o Egito, e esses se mantêm no poder por anos, sem que isso leve a um questionamento de sua classe dirigente.

Uma recontagem dos dez anos do governo bolivariano dá, ao contrário, um indício de sua vocação democrática. Chávez lidou com os embates e resistências da direita mantendo-se sempre dentro dos marcos institucionais e sua única derrota eleitoral foi reconhecida imediatamente, apesar da ínfima diferença que existiu entre o Sim e o Não à proposta de reforma constitucional, que significou um enorme reforço a sua legitimidade em nível nacional e internacional. Em troca, a oposição optou, até a reeleição presidencial de dezembro de 2006 apenas pelo caminho da violência e do enfrentamento. O golpe de estado de 2002, o "paro" petroleiro que deixou o país desabastecido por três meses e a abstenção na eleição parlamentar em 2005 são apenas alguns exemplos.

É certo, contudo, que hoje as condições já não são essas. A situação na Venezuela é muito diferente da da Bolívia e do Equador, países onde também estão sendo impulsionadas refundações políticas mediante reformas constitucionais. Chávez já não lida com a falta de base parlamentar própria, como Rafael Correa, ou com o desafio de uma direita golpista e secessionista, como Evo Morales. Nada o condiciona suficientemente senão para destinar energias em outro sentido que não seja o processo de mudança. A ênfase em manter Chávez para continuar a epopéia transformadora se trata talvez de uma subestimação do próprio processo.

O problema parece ser, então, que este novo intento de impulsionar a reeleição indefinida não faz mais do que reforçar um modelo de planificação estatal contrário ao que a revolução bolivariana determina em suas premissas. Em vez de buscar e armar possíveis candidatos que permitam alternativa, aposta-se numa crescente centralização. Em vez de outorgar ferramentas para o bom funcionamento dos conselhos comunais, as mesas técnicas de água e todas aquelas “instituições” da democratização que hoje têm problemas por conta das travas da burocracia ineficiente – e muitas vezes corrupta -, robustece os mecanismos de um Estado que não se alterou tanto e que permanece contudo um pouco imune ao processo de mudança.

O resultado desta eleição abre por isso uma pergunta e um desafio para o futuro da Venezuela, num contexto de crise internacional aguda e de baixa substantiva do preço de sua principal receita, o petróleo. Esta conjuntura hoje pode alimentar a dependência do Partido Socialista Unido da Venezuela de Chávez, com o risco de desgaste frente a um eleitorado que já mostrou em 2007 não ser incondicional. Ou pode, ao contrário, fortalecer o laço com as bases sociais que a sustentam, acentuando-se assim o processo de democratização e de redistribuição social, e tornando as mudanças que o país vive hoje menos reversíveis.

* Membros do Programa de Política Internacional e do Laboratório de Políticas Públicas

Publicado em CartaMaior

quinta-feira, 24 de julho de 2008

POR QUE LATINO-AMÉRICA?


Pedro Braga*


Estudos referentes à América Latina apontam inúmeros problemas que se caracterizam pela projeção de aspectos ambíguos em terminações conceituais, políticas, geográficas e culturais deste subcontinente. Dentre os quais afirma a permanência de um que, para especialistas da área, configura-se como eixo principal e, de certo modo, totaliza a natureza das análises sobre demarcações de fronteira, concepções políticas, pluralidades étnicas, culturais e identitárias; o conceito de Latino-América.

De acordo com historiadores, a dualidade do termo, fomentada através da mídia por países europeus e da América do norte, delimita uma diferença étnico-cultural cuja proposta contempla construções de identidades distintas entre localidades que, por muitas vezes, partilham de uma mesma ascendência comum. Outro contraponto é que o termo discorrido não define de fato a essência do povo latino-americano que, em contraste, não se compreende/enxerga como cidadão latino-americano.

Como falar, em exemplo, de uma américa homogênea culturalmente se em casos de fazermos analogia entre México e Brasil, ambos entendidos como paises latinos, encontramos no primeiro culturas que se diferem por demais das encontradas no segundo local, o Brasil? Ainda neste país, o que dizer de sua comunicação lingüística, o português, e das demais hispânico-americanas as quais são encontradas somente em paises de colonização espanhola?

Apóia-se em especialistas a resposta para tais questões. Representam a fragmentação cultural do continente americano. Fragmentada pela presença de linguagens distintas, sentimentos de pertencimentos nacionais plurais e pela falta de um pensamento unitário que encontre por essas terras a nova raiz de um povo.

Em se tratar de diversidades étnicas logo se faz fator relevante neste parecer o exemplo do Brasil, de cuja formação populacional provém de várias regiões do mundo, bem como, acredita-se, a grande maioria dos países possuidores de língua espanhola na América latina. Sendo assim, é posto diante de nós outro exemplo que persuade quanto à deficiência do conceito. Mediante Alain Roque (estudioso da questão proposta) O que é América Latina, é intrigante definirmos como sendo latina uma área continental que nada possui de latina.

São porventura latinos os descendentes de russos, alemães e árabes que vivem no sul do país e, por vezes, colocam-se em posição voluntária de lembrar da sua ascendência por meio da memória e, ordinário, da tradição oral? São latinos, por acaso, os argentinos que, sabe, orgulham-se por fazerem parte do país com maior número de brancos da américa do sul? São latinos os nativos mexicanos remanescentes da civilização Maia e outras de menor expressão, como também os nossos nativos? Entende-se que não.

Estes e outros povos que não foram citados por medida de espaço não são latinos. Pois compreende que latinos são aqueles que para cá vieram nos períodos coloniais e implataram suas instituições físicas e abstratas. Mais ainda estes que posteriormente consolidaram as classes elitizadas na região, subsidiando o modelo patriarcal familiar numa repassagem de poder a mãos inúteis, porém familiares.

As relações políticas e econômicas entre países latinos e norte-americanos merecem tangência neste escrito, uma vez que a partir de tais articulações entra em questão o problema que a “quinta fronteira” pode acarretar para os países latino-americanos.

Após a segunda guerra mundial houve uma política de dependência de paises latinos para com o norte-americano EUA. Apoiados nesta articulação política e sobre promessa de subsidio econômico, estadunidenses apossaram-se de alguns países latinos vizinhos, implantando bases militares e isufruindo da biodiversidade destes locais para a elaboração de pesquisas diversas.

Muito embora esta informação seja relevante, o que se pretende aqui é expor que com a efetivação de tais contatos o processo da influência comercial e cultural americana fora efetuado nestes países próximos. Localidades mais distantes como o Brasil, Argentina, Chile e demais da América do sul conseguiram o escape parcial desta política “imperialista” norte-americana através, pode-se dizer, da continuação de aspectos culturais da Europa nestas localidades sul-americanas.

De acordo com outras conclusões autorais, explana-se que a América Latina ainda compreende este lugar de passado marcado pela constante migração de povos – desde os primeiros homens, pelo Bering, a adentrarem no continente; até a atualidade, através de vias mais tecnológicas. E por razão disso, localidade conhecida por ser diversa tanto em aspectos sociais, culturais, quanto étnicos e políticos.


* Membro do corpo editorial do NCPAM e Discente do curso de História da Universidade Federal do Amazonas.