ITAPIRANGA
- ENTRE A FÉ E A NATUREZA
Ellza Souza (*)
“Pobre de quem diz que viu, sem ver”, algo mais ou
menos assim disse o padre Raimundo da Prelazia de Itacoatiara, durante o sermão
na missa do dia 02 de maio no local considerado santo por muitos fiéis na
cidade de Itapiranga, a mais de duzentos quilômetros de Manaus. Pela minha
observação o padre vai lá, dá a sua benção, o seu apoio, respeita os romeiros,
mas a posição da Igreja católica é de cautela.
A fé é algo que não se discute. Cada um a sente de
seu jeito e pronto. Precisava conhecer Itapiranga, a pequena cidade de umas 9
mil almas que há dezoito anos está envolvida num astral religioso de grande
repercussão popular. Edson Glauber, 34 anos, itapiranguense, atualmente morando
na capital, formado em jornalismo diz ver Nossa Senhora, a mãe de Jesus e relata
que “Nossa Senhora apareceu numa pequena nuvem branca suspensa envolta num
manto dourado. Sua pele é morena, cabelos escuros e olhos azuis”. Sua altura é
um pouco mais baixa que o rapaz que não deve passar de 1,70 m. Desde 1994,
portanto há dezoito anos, o lugar no centro da pequena cidade, se transformou
em ponto de encontro dos que acreditam ou têm vontade de acreditar na presença
de Maria entre nós. Primeiro foi sua mãe que afirma ter visto a Virgem e depois
as aparições continuaram para seu filho, o que acontece até hoje.
Fui a convite da minha irmã e seu esposo e fiquei
muito feliz por isso. O lugar está sendo considerado santo, pois muitos
acreditam que naquele local e entre pequenas árvores e vegetação de um verde
muito vivo, ocorreram várias aparições da mãe de Jesus. Ao fundo descortina-se
o lindo rio Urubu que praticamente envolve toda a cidade, construída numa
espécie de colina. Ao percorrer o caminho que leva à capelinha
construída onde Maria apareceu pela primeira vez na cidade, senti um suave
cheiro de flores quando ao redor só via o verde do mato e flores de plástico
que algumas pessoas prendem nos troncos das árvores.
A cidade recebe nos primeiros dias de cada mês uma
leva de romeiros de várias cidades amazonenses inclusive da capital.
Pacata, Itapiranga ainda não tem estrutura para receber tantos visitantes. Os
moradores estão se qualificando na área do turismo para atender melhor os
visitantes que chegam de ônibus, de carro e até a pé vindos das proximidades. O
lugar se prepara, com a ajuda dos fiéis, para construir um santuário dedicado a
Nossa Senhora do Rosário que é como ela quer ser chamada, segundo o vidente.
“Aqui não tem ladrão e nem miséria” dizem os
moradores. Dando um passeio na pequena cidade vi um funeral a pé com os acompanhantes
de sombrinhas, pois o tempo estava chuvoso. A pesca é a atividade mais forte do
município. Com tantos rios nas redondezas o peixe é farto. Tambaqui, matrinxã,
pirapitinga, piranha, curimatá e tantos outros. O mercado, sujo e mal cuidado,
é cercado de urubus fazendo o seu papel de limpar o meio ambiente já que o ser
humano não é capaz disso.
Pra todo lado é funcionário de empresas que fazem
pesquisa e prospecção no lugar que tem lá suas potencialidades em petróleo, gás
e outros minérios. Mas as torres trazem a energia elétrica do meu Pará bem mais
eficiente nesse quesito. Zé Manuel ou simplesmente Zé Bombom, 56 anos, é um
personagem que faz questão de contribuir com o desenvolvimento da cidade e de
seus habitantes sem ambições políticas. Dono de hotel, mercadinho e da rádio
comunitária diz que não quer ser prefeito, mas não se omite quando alguém
precisa de sua ajuda.
Fiz meus pedidos e meus agradecimentos, renovei a
minha fé com orações e cânticos, assisti a Santa Missa, andei em procissão e
saí de Itapiranga praticamente de alma lavada já que olhar pra tanta fartura de
água doce me inspira e me acalma. Em frente da cidade tem também um Encontro
das Águas, rio Urubu e rio Paraná. Um lugar esplendoroso para recompor as
energias espirituais. E viver cada um a seu modo, a sua fé.
(*) É escritora, jornalista e articulista do
NCPAM/UFAM.
Saiba mais: http://www.santuariodeitapiranga.com.br/
Saiba mais: http://www.santuariodeitapiranga.com.br/
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